Antes do amanhecer já estava acordado, ainda com a luz de meu quarto apagada me levantei e comecei a arrumar minhas coisas, pois, seria hoje que os primeiros "pais" chegariam para nos escolher, após sua escolha eles nos levariam para casa e nos dariam uma nova vida, eu sinceramente estava um pouco ansioso com aquilo, seria como uma viagem surpresa, eu imaginava diversos desfechos para aquele dia, em grande maioria bons, não gostava de pensar em algo ruim, como não ser escolhido, para mim era impensável a possibilidade. Logo mais os primeiros raios de sol se espalharam pelas campinas desde trás das montanhas, abri mais a persiana, para deixar a luz do sol entrar, peguei em mãos o despertador para o desligar e ver a hora, seis e quarenta, abri a porta e fui para a esquerda em direção aos banheiros para me arrumar, escovei os dentes e arrumei rapidamente meus cabelos e sai do banheiro, abri a porta e dei de cara com outros três garotos que pareciam ter sido atropelados por um caminh��o, eu me esquivei deles e voltei para meu quarto para guardar minha escova de dentes. Desci até o salão e corri para a cozinha aonde fui ver o cronograma do dia para saber o horário da visita, duas e cinquenta, provavelmente depois da limpeza do almoço. Ainda era muito cedo, poucos da casa haviam se levantado, nem mesmo algumas monitoras tinham chegado, eu mesmo fui um pouco para o quintal de trás da casa tomar um pouco de ar, sai pelo porta de trás da casa, lá me deitei no chão de taco, aonde me deitei e fiquei olhando o céu, já não tinha o que fazer, tudo estava pronto, até mesmo minhas roupas eu já havia dobrado, só me restou deitar e relaxar, eu fitava as nuvens sempre mudando suas formas, aquele, como todos os outros dias era um dia com fortes ventos, e poucas nuvens no céu, aquele lugar não parecia ter chuvas a bastante tempo, mesmo com uma grande humildade no ar, que chegava tornar os troncos de madeira da casa verde, provavelmente a falta de chuva era proveniente das montanhas próximas, comecei a adormecer, me espreguiçar e me contorcer, mesmo sendo uma sólida madeira ela era deveras confortável, acabei adormecendo em meio ao vento.
Ao acordar eu levantei suavemente do chão, olhei em volta e entrei na casa, o cheiro de carne assada estava por todo o ar, fui para a cozinha, vi o relógio, e vi o horário, meio dia e meio, o almoço estava servido, juntei-me aos outros e comecei a comer. Ao bater das duas horas às moças que nos cuidavam começaram a arrumar o lugar, desmontaram a mesa do centro para os futuros pais entrassem, eu subi para meu quarto e coloquei uma roupa limpa que havia em cima da cama, provavelmente colocada ali pelas jovens, me troquei e desci para ver as pessoas, as cuidadoras nos passaram instruções, os adultos escolheriam alguma criança, ela contaria um pouco sobre sua vida e mostraria seu quarto, e após isso eles decidiram se gostaram ou não da criança, caso existissem duas pessoas que quisessem a mesma criança, a criança decidiria com quem iria, algo simples e fácil, estava meio ansioso.
Eles abriram a porta e deixaram os adultos entrar, eram mais ou menos doze pessoas, elas começaram a escolher as crianças eu fiquei de olhos fechados, para ter uma surpresa, porém, não ouvia nenhum nome meu, ou alguém me chamando, olhei para frente e ninguém me via, praticamente me ignoravam, as crianças estavam falando animadas sobre elas mesmas, algumas tinham até três pessoas com elas, e eu, ninguém, todos saíram para seus quartos, eu fiquei ali, no meio de um enorme saguão sozinho, olhei para a jovem que outrora conversará comigo e ela realmente não teve reação, veio até mim e me aconchegou em seus braços, eu em situação nunca vista não sabia como me comportar, sabia que de meus olhos saiam lágrimas porém eu não sabia o porquê, não sabia por que ficar triste, já que não conhecia nenhum desses e não sentia falta, porém havia uma amargura em meu coração, talvez, por imaginar que não me davam chances ou por desistirem de mim, algo assim, abracei a jovem forte e comecei a chorar de verdade, chegava a soluçar, bela manhã...
Noutro dia eu não tinha forças para me levantar da cama, não havia quase nenhuma criança comigo ali, mesmo os que ficaram pelo menos foram notadas, tiveram chances, e grande parte delas decidiu ficar por conta, então, eu realmente era a escória ali, meio merda fazer uma criança sentir isso, porém acho que eu não podia julgar, não é culpa deles estarmos ali, e acho que ninguém gostaria de ficar com uma criança que teve a espécie dizimada em conflito, assim me fazendo um alvo, realmente eu poderia ser fadado a ser caçado - Que merda... -.
Tomei coragem e me levantei para tomar café, já que não tinha mais ninguém na casa, e os que tinham era poucos sobraria bastante comida, então seria possível esbanjar, um pensamento um tanto quanto egoísta, porém apropriado, me troquei e desci para o salão, no salão estavam apenas três crianças, adolescentes era mais apropriado já que pareciam ser mais velhos ali, eu mesmo era uma criança perto deles, literalmente, Algumas moças estavam juntas comendo também, já era hora do almoço, eu dormi por muito tempo, Pus-me a mesa para almoçar, eu não tinha muita fome, provavelmente pelo tempo que dormi, comi pouco e sai da mesa, fui cuidar dos jardins do exterior da casa, as orquídeas deveriam ser tratadas todos os dias, e aquele era meu dia, fiquei algumas horas ali, quando o sol estava para começar a se por recolhi as coisas e fui entrar, porém quando estava pegando a minha pazinha eu vi um casal com uma criança chegando, eu imaginei que eles iriam dar ela ao orfanato, mas era estranho, ela parecia animada, ela me olhou um pouco com um olhar de administração e puxou a saia da mãe, não sei o que disseram, eu estava um pouco longe deles, mas consegui ver eles batendo na porta e a mãe fazendo um sinal de para que a filha "esperasse"? Não tinha muita certeza, mas acho que era isso, eles entraram, uma das jovens que estava lá dentro me chamou para entrar, provavelmente era por estar tarde, terminei de recolher as coisas do chão e lavei minhas mãos em uma torneira do lado de trás da casa, entrei por lá, subi ao meu quarto para trocar as roupas, já que as atuais estavam sujas com terra e barro, joguei as sujas em um cesto de vime que havia no chão do quarto, todo dias as jovens colocavam um igual em cada quarto, me troquei e coloquei um moletom, estava fazendo quase dez graus aquela tarde, desci para o café da tarde e aquela família estava lá, eu os observava da cozinha, enquanto preparava meu café, havia uma balcão que separava a cozinha do saguão, tomava o café olhando-os de canto, para que não percebessem, a garota, provavelmente folha deles pelas aparências era muito bonita, parecia ter mais ou menos minha idade, o que me fazia pensar mais ainda que a colocariam naquela casa, ela tinha um cabelo roxo longo, com algumas faixas mais claras, sua pele era clara, meio rosada, usava uma roupa de botões e uma saia, parecia com um uniforme de escola, não conseguia ver mais do que isso, o que me era agonizante, não pelas segundas intenções, algo que eu não pensava, mas por não poder ver seus pés, são os sapatos que, muitas vezes nos dizem da pessoa, sapatos limpos mostram que é bem cuidada e pensa na aparência, sapatos desleixados mostra que não se importa muito com a aparência e que provavelmente tem mais o que fazer, porém, sapatos novos, principalmente em tais tempos, mostram uma pessoa egoísta, que prefere sua aparência a que os outros. Era assim que eu pensava, eu vi a administradora do lugar dar um papel com foto de mim e os outros três garotos que ali estavam, não dava para ler o que estava escrito, porém havia nossas faces nele, a garota mais jovem rapidamente apontou para minha imagem e para a porta, os pais concordaram, ela me percebeu na cozinha, rapidamente me virei de costas - Droga.. O que tava escrito lá... - esperei um pouco, e quando me virei de volta eles tinham em mãos um papel marrom, que dizia em caixa alta atrás, Informa Guerrire, era se não me engano uma ficha que tinha minhas informações sobre quando me acharam, aquele tinha minha imagem na capa, em certa hora vi suas feições mudaram para algo mais assustado, eles discutiram juntos, não tinha certeza de nada, mas parecia que a mãe não havia gostado de algo que o pai disse, eu vi eles se levantarem e agradecerem a administradora, uma jovem veio até mim e me pediu para que pegasse uma caixa no galpão do fundo, provável para fazer alguma coisa, acho que era óbvio isso. Eu saí e fui para o galpão, peguei a caixa que me disseram e voltei para a casa e a deixei na passagem dos fundos, no lugar do chão de taco, entrei de volta e a administradora acabara de fechar a porta, olhou para mim, sorriu, e foi embora, eu no entanto subi para meu quarto e lá fiquei, sentado na minha cama moscando, já que não tinha tarefas para mim, e como só tinham quatro pessoas o lugar estava muito calmo, fui até a janela olhar para as campinas, e logo abaixo da minha janela os três outros garotos estavam ali, em pé jogando bola, olhei-os por algum tempo e decidi me deitar para dormir, decidi também que não jantaria aquela noite, só queria dormir.
Acordei de novo, só que ainda não era dia, peguei o relógio de meu quarto e vi, quatro da manhã, eu ouvia barulhos vindo da sala, saí de meu quarto e olhei pela sacada, era uma das trabalhadoras do lugar mexendo em alguns papéis, papéis de adoção, ela deveria estar fazendo os dos garotos, para que eles não ficassem sabendo que foram adotados e não pudessem negar, já que não saberiam, e também que estariam na segunda tentativa de adoção, a limite, lá existia um sistema assim, caso você fosse escolhido uma vez, poderia negar, na segunda você poderia se soubesse da adoção, caso não soubesse a negação era proibida e na terceira tentativa ele não podia negar de nenhum jeito, era um sistema bem brusco, porém útil, deixei para lá e voltei para a minha cama, deitei-me e dormi de novo.
De manhã eu fui acordado por um sorriso, uma das jovens me acordou cedo - Fire!, Alguém te escolheu - virei-me para ela e questionei como ela sabia e como aconteceu, ninguém veio falar comigo ou ver meu quarto, nada disso aconteceu, e ela respondeu - Ontem à tarde, um casal veio para adotar alguém, alguém com a idade da filha deles, você era a melhor opção, e a filha deles também fora cativada quando te viu, algo que acabou facilitando a escolha, nós demos a eles seus papéis para eles verem. - Estava entendo onde ela estaria a chegar - Mas e a parte da visita ao quarto? - ela respondeu subitamente - Sabe quando te pedi para pegar a caixa? Bom foi nesse momento que eles subiram.. - fiquei assustado, pois geralmente eu limparia meu quarto, para causar uma boa impressão - Mas eu nem limpei meu quarto! - ela acenou com a cabeça - Sim, nós queríamos isso, pois as outras crianças estavam mentindo no momento dos quartos, já que elas arrumavam antes, então, aquele não seria o quarto original delas, não seria o dia a dia dela, porém você seria, já que não havíamos te avisado, de um jeito que poderiam ver como é você, entende? - acenei de volta com a cabeça e ela deu uma última palavra antes de sair de meu quarto - Fire, mais uma coisa, arrume suas coisas, eles vem te buscar hoje, prepare-se para seu grande dia! Mais tarde virei te ajudar - ela saiu.
Eu pulei na minha cama super animado, uma excitação gratificante, eu me levantei e arrumei minha coisas, já que eles iriam me adotar, era bom deixar tudo arrumado, desci lá embaixo e pedi para a monitora mais próxima uma mochila, ou mala, ela disse que iria buscar uma mala, e que enquanto isso eu deveria tomar meu café, respondi que tudo bem, e fui para a cozinha, já estavam lá algumas empregadas fazendo o almoço, peguei uma caneca e fiz meu café, tomei calmamente para tentar aliviar minha mente, encostei no balcão e me inquietei, terminei o café e levei para a mesa, subi para o quarto, a mala já estava lá, terminei de guardar a minhas coisas, no fim já está quase hora do almoço, chuto que eles chegariam em mais ou menos uma hora, ou duas. - Tive uma ideia! -.
Fui até o galpão novamente e peguei um papel e um lápis, comecei a escrever uma simples carta para a próxima pessoa que morasse no meu quarto...
"Olá, meu nome é Fire Sky, eu gostaria de te deixar esta carta, morei neste quarto por pouco tempo, mais ou menos uma semana e meia, Quart. № 2, nesse quarto tive muitos sonhos e pensamentos bons, nada muito incrível mas legal, recomendo que mesmo por pouco o tempo que fique aí nesse quarto, por favor cuide, cuide bem dele, caso se sentir mal, ou que ninguém te quer, olhe pela janela, o vento nas campinas, passando pela relva, é realmente gratificante, muito bom.
Só cuide bem desse quarto, vai ser bom
- Fire Sky, O suposto último Sky de fogo."
A carta estava pronta, coloquei debaixo do travesseiro bem arrumadinha com uma mensagem em cima dizendo "Só abra se for viver aqui", deixei ela de lado e levei tudo o que sobrou para baixo, tranquei o quarto e desci para almoçar, chegando lá eu almocei junto com os outros três jovens e algumas das monitoras, eu comi até que rápido pela animação, já que provavelmente eles chegariam logo, tomei me a me arrumar e voltei ao saguão, aonde fiquei esperando. Passou se meia hora, a porta começou a ser tocada, dava para ouvir a maçaneta rodar, eu rapidamente corri para a cozinha de novo, para que não imaginassem que eu estava ali esperando todo esse tempo, quando entraram uma monitora estava junto deles, ela chamou por meu nome, sai da cozinha e olhei para ela - Fire, apresente-se para eles, eles serão seus novos "guardiões". - olhei para ela com um certo nervosismo e respondi - Olá, meu nome é Fire Sky, sou um Sky de fogo, é uma prazer conhecer vocês, como posso chamá-los? - eles me olharam com uma cara de apreciação, e me responderam - Pais, pode nos chamar como seus pais, querido... - assim, a suposta mãe respondeu, eu corei por alguns segundos, e olhei para a filha, ela correu em minha direção quando percebeu meu olhar e me abraçou - Bem-vindo... ... Irmão - senti algumas lágrimas escorrendo por meu rosto, algo até mesmo nostálgico. Eles pegaram minhas malas e colocaram no carro, eu dei uma última olhada em minha cama, e pela casa, olhei para Nath, ela estava no fundo do corredor corri até ela, chegando perto, ela começou a chorar, me aproximei, olhei fixamente para suas lágrimas e a abracei ela me apertou, quase que agressivamente e começou a soluçar, não trocamos palavras apenas nos olhamos, ela apontou com os olhos para o andar de baixo, dando o sinal de que eu deveria ir, quando fui me distanciar dela, ela se abaixou e beijou minha testa, nunca senti aquilo na minha vida, muito bom.
Finalmente desci a escada e me encontrei novamente com eles, nós estávamos nos distanciando da casa, olhei para os fundos, e uma chuva se aproximava, parecia-me um bom sinal, desde que cheguei ali, nunca antes tinha chovido, os ventos sopravam fortes e gelados, entrei no carro com eles e começamos a ir, eu olhava pela janela, vi as nuvens se mudarem, e a antiga vila sendo deixada para trás, sentia que algo seria bom naquilo, eu via minha nova família e me sentia completo, algo de bom viria de tudo isso. - Finalmente estou em algum caminho... -...