Ashleigh ficou em seu quarto pelo resto da noite. Sua experiência com Caleb a havia esgotado tanto emocionalmente quanto fisicamente. Não foi difícil convencer Corrine de que ela não estava se sentindo bem. Até seu pai perdoou sua ausência quando viu o estado dela.
Ashleigh se mexeu na cama, pensando na conversa que teve com seu pai quando eles chegaram à Lua de Sangue. Naquela época, tudo o que Ashleigh queria era se afastar e passar algum tempo com Granger.
Enquanto refletia sobre a memória, sua empolgação agora parecia quase risível.
"Eu entendo a importância do Encontro da Lua Sangrenta, eu entendo. Eu realmente, verdadeiramente entendo. Mas vamos ser honestos. Ao longo dos anos, tornou-se menos um evento cultural significativo e mais um... evento de encontros rápidos."
O homem sentado à mesa tossiu, engasgando-se com o vinho que mal havia passado por seus lábios. Finalmente, ele limpou a garganta e se inclinou para a frente. Seu grande corpo fazia a mesa parecer ser feita para uma criança. Os densos tufos cinza que formavam sua sobrancelha se juntaram, expressando sua irritação com o comentário que ela havia feito.
"Ashleigh," sua voz áspera saiu enquanto seus olhos âmbar escureciam.
"Pai, ouça, eu disse que entendo a importância. Eu. Mas os outros não," ela disse firmemente.
Ele limpou a garganta e se recostou na cadeira mais uma vez. O canto da sala em que estavam sentados era escuro. Ainda assim, a pequena luz que fluía da janela destacava suas tranças apertadas de cinza e branco. Sentado no topo de sua cabeça como uma coroa entrelaçada, servindo para enfatizar seu papel como líder de seu povo. Ele cruzou seus braços grossos sobre o peito, levantando o queixo em direção a ela.
"Ashleigh—"
"Tudo o que estou dizendo," Ashleigh começou, lambendo os lábios nervosamente. Levantando-se da mesa, ela andava de um lado para o outro enquanto falava. "É que, embora a base para este evento seja um momento importante em nossa história, o próprio evento tornou-se mais sobre tentar encontrar um parceiro. E desde que eu já—"
"Ashleigh!" ele gritou com raiva, batendo as mãos na mesa, causando uma rachadura na madeira.
Ashleigh parou seus movimentos e o encarou com cuidado.
"Sente. Se. "
"Sim, Pai," ela sussurrou enquanto voltava a seu assento. Ela olhou ao redor para as outras mesas na sala, certificando-se de que ninguém havia notado o surto.
"Definitivamente notaram", ela pensou consigo mesma, observando os olhos que desviavam o olhar desesperadamente. Como todos tentavam fingir que não haviam.
"Ótimo plano", ela suspirou internamente.
"Você é a filha do Alfa Wyatt da Alcateia do Inverno," ele afirmou firmemente.
"Sim, Pai," ela repetiu sua resposta.
"Você tem que representar nossa alcateia em todas as coisas. Tanto como membro dos Guerreiros Frios quanto como minha filha."
"Eu sei."
"Se você soubesse, então não teria feito um pedido tão ridículo!" ele rosnou.
Ashleigh estremeceu.
Seu pai era um alfa, não, o Alfa. Sua presença sozinha a fazia baixar a cabeça.
Ela não era mais uma filhote, não tinha ainda dezoito anos, mas suas habilidades eram avançadas para sua idade. Ela passou por sua transformação com apenas oito anos. Sobreviveu ao teste e ultrapassou aqueles que treinavam com ela. Quando tinha onze anos, já conseguia lutar com os membros mais velhos dos Guerreiros Frios sem qualquer hesitação.
No entanto, ali estava ela, encolhendo-se como uma criança enquanto seu pai gritava com ela.
"Além disso," ele disse, captando seu olhar, "não há sentido em seu pedido."
Ele se inclinou para a frente em sua cadeira mais uma vez, apoiando um cotovelo na mesa e encostando a boca em seu punho como se estivesse pensando, mas nunca perdendo o contato visual com ela. Suas sobrancelhas se juntaram em confusão enquanto ela via o que parecia ser brincadeira dançando em seus olhos.
"Eu já ouvi e rejeitei o pedido de Granger para ser dispensado."
O calor subiu por sua espinha e se espalhou pelo seu rosto. Ela desviou o olhar justo quando seu pai soltou uma risada rouca.
"Não precisa se envergonhar, minha garota. Eu entendo."
Com as bochechas ainda ardendo, ela sentiu que não tinha nada a perder num pedido descarado agora.
"Se você entende, então por que não—"
"Não," ele afirmou firmemente.
Ela se recostou na cadeira e cruzou os braços, olhando para longe dele.
"Ashleigh, eu reconheço o desejo em seu coração. Eu conheço o puxão de um parceiro. Eu entendo a emoção do amor jovem. Mas você ainda não tem dezoito anos."
"Quase," ela sussurrou.
"Mas ainda não!" ele rosnou. "Você conhece as tradições e leis de nossa alcateia mais do que ninguém. Depois de seu décimo oitavo aniversário, você será casada e emparelhada na lua cheia. Não antes."
"Eu sei," ela suspirou, "não é como se estivéssemos planejando fugir. Só queríamos passar algum tempo juntos."
"É um risco muito grande. A atração do parceiro é forte, especialmente durante a Lua de Sangue. Não gostaríamos de permitir que erros fossem cometidos."
Uma escuridão cobriu seus olhos enquanto ele terminava sua declaração. Ashleigh entendeu o que ele quis dizer. Ser emparelhada antes da primeira lua cheia de seu décimo oitavo ano dentro da Alcateia do Inverno seria uma ofensa grave. Poderia ser visto como um insulto direto à Deusa.
"Mas Pai!" ela gritou indignada, levantando-se da mesa para olhar para baixo em direção a ele, sem se importar se alguém visse ou ouvisse.
Sua única resposta foi um rosnado dele. Ela se sentou novamente e desviou o olhar.
"Me desculpe," ela sussurrou.
"Ashleigh, eu sou o Alfa desta alcateia antes de ser seu pai. Como seu Alfa, estou lembrando você mais uma vez que é seu dever que vem antes do seu coração." Seu tom severo foi enfatizado por sua presença Alfa.
"Sim, meu Alfa," ela respondeu, baixando a cabeça.
"Como tal, você permanecerá pelo resto do Encontro da Lua Sangrenta e fará oferendas à nossa Deusa."
Ashleigh repetiu, parecendo ainda mais abatida desta vez, "Sim, Alfa."
"E como seu pai, estou lembrando você para não ter tanta pressa para crescer."
Ashleigh olhou para seu pai mais uma vez. Ela esperava ver seu rosto severo, o Alfa severo que ele era. Mas, ela viu a bondade em seus olhos que ele raramente mostrava. Em vez disso, sua expressão estava suave e calorosa.
Ela inclinou a cabeça em direção a ele, não certa do que esperar. Seu pai estendeu a mão para ela, e ela a pegou. Ele esfregou o polegar nas costas de sua mão enquanto falava.
"Ashleigh, você será casada e emparelhada em breve, e embora você só pense em estar com quem você ama, você deve lembrar que um lobo só é emparelhado uma vez. Isso é para o resto da sua vida. Então, por mais que você ame o garoto e por mais que eu o receba bem, como seu pai, eu seria tolo se não lembrasse você de ter certeza de sua decisão."
"O quê?" ela perguntou, genuinamente confusa com suas palavras. "Mas ele é meu parceiro."
"Pode ser, mas não há pressa." Alfa Wyatt franziu a testa. "Para ser honesto, é bastante estranho que você tenha encontrado seu parceiro tão cedo."
"Eu não entendo." Ashleigh franziu a testa. "O que você está dizendo?"
Uma preocupação genuína começou a se instalar em seu coração, um pânico que ela não reconhecia surgindo profundamente dentro dela.
"Não é nada, minha garota. Pense nisso como seu pai não querendo ver sua menininha crescer."
"Mas—"
"Ashleigh," Alfa Wyatt suspirou, "o Encontro da Lua Sangrenta é um tempo sagrado. É quando honramos nossa Deusa e recebemos sua bênção. Como tal, você e Granger devem estar felizes por estarem aqui. A Deusa é quem nos dá nosso vínculo de parceiro. Não seria melhor receber sua bênção neste evento sagrado com seu casamento se aproximando? Isso não serviria apenas para fortalecer o vínculo que vocês compartilham?"
Ashleigh sentiu uma calma reconciliadora sobre seu pânico. Seu coração se acalmou.
Sua conversa chegou ao fim quando seu pai quis se apressar e encontrar sua mãe. Ele esperava que eles pudessem compartilhar uma ou duas danças antes que seus deveres impedissem seu tempo juntos. No entanto, Ashleigh foi deixada com uma apreciação calorosa e esperança de que ela e Granger encontrariam o mesmo tipo de felicidade juntos.
Nem dez minutos depois de falar com seu pai, o vínculo entre ela e Caleb se acendeu em um fogo que ainda a deixava dolorida.
Ashleigh rapidamente saiu da cama. Correndo para o banheiro para vomitar enquanto a realidade de sua situação caía sobre ela mais uma vez.
"Só mais algumas horas," ela sussurrou para si mesma enquanto jogava a água fria no rosto. "Mais algumas horas e então...."
Ashleigh levantou a cabeça e se encarou no espelho.
'E então o quê?' ela se perguntou. 'Ir para casa não muda nada.'
Houve uma batida na porta do banheiro.
Ashleigh segurou a pia e suspirou. Sua cabeça doía, e ela se sentia exausta. Ela alcançou a porta, esperando ver sua mãe do outro lado.
Quando ela abriu a porta, sua cabeça ficou leve, e então ela sentiu que estava caindo.
Ela ofegou enquanto duas mãos fortes seguravam seus ombros. Ela olhou para cima lentamente. A visão que a encontrou só adicionou às palpitações em sua cabeça.
Ele sorriu para ela com seus lindos olhos azul-pálidos. Era lindo.
Esse era seu verdadeiro parceiro. Não o Alfa Caleb.
"Me desculpe," ela sussurrou enquanto sua consciência escapava.