Treinamento

Dou apenas um sorriso, percebendo que consegui.

"Obrigado, Éder".

Digo a ele, enquanto ele começa a estalar os dedos.

"Você ainda precisa treinar com a espada. Nem sempre vai ter sua afinidade à disposição".

Ele diz, enquanto boceja.

"Você tem razão".

Concordo com ele e começo a me levantar da almofada.

"Você vai fazer o que agora?".

Pergunto a ele, pois ele não estava voltando para a área da sombra.

"Vou procurar algum riacho por aqui. Precisamos tomar banho. Quero falar algo com você depois".

Ele parecia extremamente sério. Será que é algo envolvendo os Espectros?

"Tudo bem".

Ele sai pela porta, levando sua camisa. Agora que ele saiu, comecei a notar que esse ambiente ocultava o mau cheiro dele. Afinal de contas, ele estava muito suado, e eu não consegui sentir o seu odor.

Bem, o livro dizia para eu testar a duração da minha habilidade, mas, como vou treinar meus movimentos de espada, posso fazer isso novamente.

Vou em direção à área da sombra, e a sombra reaparece na minha frente. Algo que eu não tinha percebido é que ela é literalmente igual a mim. Não percebi isso quando fui atacado pela primeira vez.

Ela porta a mesma katana que eu.

Dou apenas um sorriso e avanço até ela. No mesmo instante, ela já está na minha frente, e eu consigo ver que ela desce a lâmina pelo meu corpo, fazendo um corte extremamente profundo.

Caio no chão, assustado pelo que aconteceu, mas, quando coloco a mão no possível "machucado", não encontro nada, sinto apenas a minha roupa. A sombra já tinha sumido no mesmo instante.

"Acho que entendi como ela funciona".

***

Após um tempo treinando com a sombra, já estava um pouco mais rápido e consegui acertar dois golpes, mas não conseguia passar disso.

"Lucas! Eu voltei, achei um lugar para nós nos banharmos".

Estava deitado no chão, respirando fundo, quando escuto Éder me chamando.

"Achou? Que bom! Onde fica?".

Ele olha para mim, dando um sorriso, e continua.

"Me siga. Fica perto daqui".

Levanto-me da grama rapidamente. Odeio ficar fedendo, e esse era o momento perfeito para me banhar.

Até esse momento, estava cheio de suor.

***

Após sair junto de Éder, ele pega o caminho à direita da casa. Nesse momento, percebo que já está de noite e nem notei.

Passamos pela grande floresta que nos rodeava. Consegui ver alguns macacos brincando nas árvores e pássaros voando. Mesmo a noite atrapalhando a visão, chegamos ao rio, e percebo que era uma cachoeira.

"É uma cachoeira!".

Digo para ele, feliz com o que encontrou. Ela tinha uns dez metros de altura e pedras rodeando a água que caía. Estávamos na parte de baixo, onde a água caía, mas ela era linda. Parecia que desciam cristais de tão linda e brilhante era a água.

Eu e Éder tiramos a roupa e entramos na água. Era tão bom, consegui relaxar, descansar os músculos, deu vontade até de dormir enquanto estava ali.

Enquanto estava na borda, quase me deixando levar pelo sono, Éder começa a falar.

"Lucas, quero muito conversar com você".

Olho sério para ele.

"Pode falar, é a melhor hora".

Digo para ele, enquanto apoio minha cabeça na borda e deixo meu corpo inteiro abaixo da água.

"Quero ir atrás do corpo do Hugo".

Isso estragou completamente o momento. Não esperava que ele fosse dizer isso agora. Achava que era algo sobre os Espectros ou coisas do tipo.

"É muito perigoso, Éder. Entendo seus sentimentos, mas eles ainda podem estar por lá".

Éder, que estava do meu lado na água, começa a mostrar sua irritação.

"Eles já devem ter ido embora. Vamos olhar ao redor, pelo menos. Ele merece um enterro digno, Lucas".

Não vou mentir, mesmo após um dia de treino, seríamos massacrados por apenas um deles.

"Acho melhor não, Éder".

Ele dá um soco na água.

"Se você não for, irei sozinho".

Que merda ele tá dizendo. Era só o que me faltava.

"Calma, porra. Você vai se suicidar. Se for para nós dois irmos, é melhor ir daqui a, no máximo, três dias".

Ele começa a se levantar da água e vai até as suas roupas.

"Olha, Lucas, entendo que você não era muito próximo dele como eu. Mas, se você estivesse na mesma situação, faria a mesma coisa".

Começo a sair da água no mesmo instante e vou até minhas roupas.

"Cara, é quase certeza que eles ainda estão por lá. Você acha mesmo que o Hugo iria querer que você morresse para buscar o corpo dele? Vamos esperar a poeira abaixar, vamos esperar três dias. Até lá, já vamos estar preparados".

Ele termina de vestir suas roupas, mas consigo perceber sua irritação com o que eu disse.

"Tá bom, então".

Ele sai na frente, sem se preocupar em andar à noite.

"Era só o que me faltava".

Respiro fundo para não deixar meus pensamentos me dominarem.

Termino de vestir a minha roupa e começo a voltar para casa.

Ao chegar em casa, ele já estava dormindo no sofá, e novamente irei dormir na grama em cima da almofada. Bem, eu não acho ruim. É bem confortável.

Entro na "sala de treinamento" e começo a me preparar para dormir.

"O que será que Dante me reserva?".

Dou um suspiro enquanto olho para o meu pulso. Logo após isso, volto a dormir.

***

No outro dia, ao acordar e me encontrar na mesma situação anterior, com a cara completamente na almofada, olho para o lado e vejo Éder batalhando contra a sombra.

Rapidamente, começo a me levantar e volto ao treino de meditação.

***

Ficamos assim por três dias inteiros treinando. Não vou mentir, tive medo de Éder ficar maluco e sair à noite atrás do corpo de Hugo. O que, por sorte, não acabou acontecendo.

Em certos momentos do nosso treino, eu precisava treinar com a sombra. Éder passava basicamente todos os dias lá, mas tive sorte de, ao me aproximar, aparecer a minha sombra. Ou seja, era possível duas pessoas treinarem ao mesmo tempo.

Isso evitou bastante brigas entre a gente.

Éder parecia estar mais irritado do que nunca. Acredito que a decisão de esperar o fez ficar assim. Entretanto, o dia finalmente chegou. Nesse meio tempo, descobri que ao tocar no bracelete que ele havia nos entregado, ao trocar no ímã, ele mudava o seu alvo. Ou seja, era possível encontrarmos Hugo, mesmo se o corpo dele fosse levado. Isso me deixou com um pé atrás, pois, de certa forma, poderíamos acabar encontrando Lawrence por acaso.

Já tinha me levantado e estava do lado de fora da casa, sentado na grama, vendo a longa estrada que teríamos que percorrer. Já tinha informado Éder sobre o bracelete e já tinha mexido no meu ímã para apontar em outra direção que não fosse a de Éder e a do bracelete de Joseph.

"Vamos".

Escuto Éder bater a porta da casa e passar por mim, indo em direção a onde o ímã levava.

Vou atrás dele e tento puxar assunto durante o caminho, para que ele não fique tão fixado no assunto, mas todas as minhas tentativas foram em vão. Ele respondia seco e olhava apenas para frente, sendo guiado pela estrada.

Enquanto caminhamos, analisei cada detalhe do local por onde passávamos. Era cheio de floresta ao redor, e só havia essa estrada de pedras que separava as duas florestas.

Ao chegar ao final do caminho, tivemos que enfrentar uma floresta, que passei quando fugi do Espectro.

Talvez no momento de desespero, não olhei para onde andava e só comecei a correr.

Mas a floresta era bem pequena e igual à outra que atravessamos para chegar à cachoeira. Era bem verde e possuía poucos animais, mas compensava bastante com os grandes arbustos que dificultavam a nossa visão. Porém, quando finalmente passamos por ela, encontramos o corpo de Hugo na nossa frente no chão.

Éder vai até ele, e vou junto. Vejo ele dar socos no chão.

Ele se levanta e, ao olhar um pouco para o lado, encontra sua cabeça, com os olhos ainda abertos. Eu consigo notar sua tremenda raiva.

Ele pega sua cabeça e a traz até o corpo.

"Ei, vocês dois! O que estão fazendo?".

Dois garotos, provavelmente de nossa idade, vestindo roupas azuis com detalhes em preto, e além disso ambas as camisas têm um escudo do reino Ecrom, que era um dragão dando voltas em uma torre, e o fundo em amarelo.

Eles eram altos, ambos de cabelo preto, usavam espadas bem afiadas e tinham olhos amarelos. Eles, sem dúvida, eram gêmeos.

"O QUE!".

O outro irmão, ao ver nós dois perto do corpo de Hugo, começa a gritar.

"Vocês dois mataram este homem? Como ousam? Eu vou matá-los por isso! Pobre homem, provavelmente estava vivendo sua vida tranquila quando vocês bárbaros chegaram!".

Ele avança na minha direção.