Sonho do Perdedor

Visão de Éder:

Não sei quanto tempo se passou, ainda estou deitado no sofá, com uma dor de cabeça. Me levanto, começo a bocejar e estalo os dedos.

"Onde será que Lucas tá?"

Não, melhor não. Acho que ele foi dormir também. Volto a me deitar no sofá de barriga para cima. Enquanto olhava o teto da casa e percebia como sua cor era avermelhada, me vejo tão melancólico como nunca estive. Essa cor vermelha só me lembra o sangue, o momento em que ele foi decapitado, o seu sangue na minha cara. Porra, Hugo... Você não merecia isso.

Começo a sentir lágrimas descendo dos meus olhos. Eu não consigo manter esse sorriso falso o tempo todo, minha máscara está cada vez caindo. Estou muito abalado ainda. Porra! Tento olhar para a lareira ao meu lado e instantaneamente lembro de quando ele me levou para uma casa de campo e me ensinou como ligá-la e para que servia. É nesses momentos, que as nossas melhores memórias, se tornam as piores.

"Que merda! Todo lugar que eu olho, eu te vejo."

Isso não deveria estar assim, era para ser nós três aqui. Porém, você era bom demais para este mundo.

"E se eu fosse mais forte? Eu não consegui fazer nada contra aquele idiota, mas se eu fosse mais forte..."

Saio do sofá e vou direto para a parede à minha frente. Estou um misto de raiva e tristeza. Fecho a minha mão com toda a força e dou um soco na parede.

"Que dor!"

Que merda, por que eu fiz isso? Começo a balançar minha mão para os lados, até parar de doer.

"Quer saber? Eu vou treinar como ninguém nunca treinou na porra desse mundo. Eu não preciso de afinidade para mostrar que sou forte. Eu posso mostrar que apenas a minha determinação é necessária. Eu vou fazer isso por você, Hugo!"

Aponto para o céu com o dedo e depois coloco a mão sobre o peito. O mundo me tirou minha afinidade, e vou provar pra ele, que eu posso ser melhor do meu próprio jeito.

"Eu vou ser o melhor espadachim que este mundo já viu. Era isso que você iria querer. "

Hugo sempre foi muito bom espada, principalmente por causa, que após um tempo, ele não conseguia mais usar sua afinidade. Toda vez que ele usava um pouco, ele tossia sangue. Enxugo minhas lágrimas e vou até o lugar que Joseph usava para treinar. Ao abrir a porta, vejo Lucas:

"Lucas?"

Ele está dormindo no gramado, apoiando a cabeça no travesseiro. O seu corpo está todo bagunçado: sua mão embaixo da barriga, seu pé esticada, sua outra mão esticada. E para completar, sua cara, está enfiada no travesseiro.

"Ele deve estar com bastante sono."

Dou uma risada enquanto entro na sala, tiro minha capa e a deixo jogada no canto. Eu preciso treinar mais do que nunca, eu preciso ser forte! Saco minha espada e vou até a parte da frente, onde encontro minha sombra. Ela está de frente para mim, na mesma posição que eu. É literalmente uma cópia minha: cabelos amarelos, olhos castanhos e sem o braço esquerdo. Não mudava nada entre mim e ele.

"Bem, você vai ser o meu treino!"

Digo a ele enquanto corro em sua direção e desfero um golpe na diagonal até seu peito. Ele desvia perfeitamente, enquanto ele desvia, não conseguia parar de ver sua reação, era uma reação fria, ele não expressava nenhuma reação. E nesso momento, ele aproveitando que deixei a guarda aberta, me acerta no peito, fazendo-me cair no chão. Quando coloco a mão no meu peito, não sinto nenhum corte. Ao olhar novamente para frente, ele já tinha sumido.

"Que merda! Quer saber? Eu tô pegando leve comigo mesmo. Cada vez que eu cair no chão, vou fazer 30 flexões!"

Me levanto novamente e ele reaparece, mas o mesmo cenário se repete. Ao cair, começo a fazer as flexões. Por não ter um braço, é mais complicado, mas não conheço essa palavra. Eu preciso ser forte e não posso me esconder com desculpas. Ao dizer isso, me levanto e começo a batalhar com ele.

***

Termino de ser derrotado pela centésima vez, mas ainda não terminei. Termino as flexões e começo a batalhar contra ele novamente. Espero que ele dê o primeiro ataque. Ele, que estava na defensiva, vem até mim e tenta me acertar na barriga. Consigo esquivar do golpe e manter uma distância razoável. Olho para ele e é como se me olhasse no espelho. Meu maior inimigo sou eu mesmo, e ele que vai dizer se sou bom ou ruim. Seguro a espada firme, olho para ele como se olhasse para um animal selvagem que não come há dias. Miro especificamente no seu estômago, respiro fundo e, enquanto ele vem até mim, desvio e recuo. Quando, em um momento, desvio do seu golpe, me agacho e vou direto ao encontro do meu objetivo. O seu estômago. Consigo sentir a frieza do meu golpe. Era brutal, mas meu golpe expressava calma. Quando olho a consciência, sinto que tinha dilacerado seu estômago, mas minha espada não tinha sangue. Quando olho para trás, ele estava de costas e, ao se virar, não tinha nenhum machucado. Mas a resposta era óbvia, finalmente consegui desferir um golpe nele!

No mesmo momento, me agacho ao chão e finco minha espada no chão, apoiando o meu braço enquanto respiro fundo. Quando olho novamente, ele tinha sumido. Talvez por eu ter ficado no chão, tenha declarado vitória dele. Porém, para mim, isso é apenas o começo, e também o meu primeiro passo, para o que mais almejo. Eu me deito no chão e fico olhando para cima.

"Isso é só o começo!"

Digo em voz baixa para não acordar Lucas, que ainda não tinha acordado e parecia estar tendo um dos melhores sonhos de sua vida, pois, cada vez que eu olhava, conseguia ver um sorriso em seu rosto. Mas isso não interessa. Eu consegui acertar um golpe! Começo a rir enquanto fico sorrindo para nada, feliz com o meu feito. Enquanto me deitava sobre a grande e aconchegante grama abaixo de mim.

"Aqui é até bom para dormir."

Digo enquanto analiso o chão. Bem, ainda não acabou. Vou continuar aqui até desmaiar!