Casa do Tempo

Ao abrir a porta, encontramos tudo o que já tínhamos visto, mas com uma diferença.

"Lucas, você sente isso também?"

Éder também consegue sentir. Ao pisar na casa, sentimos uma sensação de alívio, um sentimento muito bom. É o sentimento de felicidade, de paciência. É como se eu estivesse lendo o melhor livro do mundo.

"Sim, é tão bom."

Ao entrarmos, Éder fecha a porta. De imediato, sinto uma curiosidade em ver o que estava na carta, em cima do sofá.

"Vamos ver a carta, Éder."

Ele vem comigo até o sofá e agora consigo ver melhor. Ao lado da estante de livros, que está de frente para o sofá, há uma lareira, mais do outro lado. Pego a carta e, ao vê-la, noto que sua cor é verde e tem um broche no meio, onde se lê:

[Para Joseph, ex-Guarda Real].

"Lucas, eu acho que é sobre a sua convocação para a batalha contra os Espectros, que o Hugo... tinha falado."

Éder gagueja um pouco ao pronunciar o nome de Hugo.

"Deve ser. Como essa casa se mantém intacta depois de tanto tempo? E junto dessa carta? Parece que aqui tudo é novo."

Éder dá de ombros.

"Não sei, o cara aqui tinha afinidade com o tempo, né? Talvez ele fez alguma coisa para sempre ficar no melhor estado."

"Deve ser."

Começo a abrir a carta e encontro um papel com uma letra difícil de ser lida, mas com dificuldades consigo ler.

"Lê pra mim aí, Lucas! Não tô entendendo nada."

Quando olho para ele, ele está olhando para todo canto da folha, tentando entender algo.

"Tá, tudo bem."

Dou uma risada ao ver ele analisando a folha.

[Querido senhor Joseph Drafold, tendo em vista os ataques do grupo que se denomina "Espectros", queremos pedir que vossa pessoa compareça ao nosso reino. Precisamos de extrema ajuda neste momento, e sua participação seria de muita ajuda, nesse momento.]

Embaixo está assinado "Rei de Ecrom".

"É, como a gente esperava... E depois dele ter ido para lá... bem, a gente sabe o que aconteceu."

Digo isso enquanto seguro com força a folha. Éder se afasta um pouco e se senta no sofá.

"Lucas, eu prometo que vou exterminar esses caras da face da terra."

Enquanto ele diz isso, dá um soco no sofá.

"Que merda, cara."

"Se acalma. Vamos explorar o restante da casa. Como não tem mais ninguém por aqui, acho melhor a gente se separar."

Éder concorda comigo e de imediato se levanta de onde estava sentado.

"Eu posso procurar por essa sala, você pode olhar os outros cômodos."

Faço que sim com a cabeça, coloco o papel de volta na carta e deixo no mesmo lugar em que encontrei. Vou até a lareira, que estava próxima de mim, e vejo que tem uma porta ao lado. Decido entrar. Ao entrar, encontro um lugar bem espaçoso, mas diferente dos outros lugares da casa, o piso é de grama e, à minha esquerda, há uma almofada no chão e alguns livros. Quando caminho à frente, sinto algo saindo de mim e, ao olhar, vejo um ser igual a mim.

"Que merda."

Por reflexo tento atacá-lo, mas ele desvia e me dá um soco na cara, que me leva ao chão.

"ÉDER, ESTAMOS SENDO ATACADOS!"

Quando olho novamente para a frente, não há mais nada. Éder abre a porta com uma cara assustada.

"Lucas! Toma cuidado, aqui você vai enfrentar sua sombra."

Fico extremamente confuso com o que ele diz.

"Como assim?"

Ele, de longe, começa a dizer.

"Seguinte, cara. Eu tava lendo o livro que tava na mesa, aquela da janela, e parece que aqui é onde ele treinava. Para ele, a melhor forma de se manter em forma era batalhando contra ele mesmo."

Faço uma cara de confuso e começo a me levantar.

"Que merda você tá dizendo?"

Ele olha para mim e continua.

"Olha, cara. Se você olhar para o seu lado agora, ela vai estar aí, mas só vai atacar se você atacar primeiro."

Quando olho para o lado, vejo minha sombra em posição de luta, me encarando, mas não fazendo nada. Começo a me levantar e, caminho até onde Éder está e, quanto mais me afasto, mais ela some.

"Você entendeu agora, né?"

Faço que sim com a cabeça.

"Bem, acho que vou ver os livros, é melhor."

Enquanto passo por ele na porta, ele suspira e diz:

"Por acaso, só você consegue ver sua sombra. Da mesma forma que, se eu fosse para lá, você me veria lutando sozinho, mas para mim estaria minha sombra. Vou descansar um pouco. Boa leitura."

Ele fecha a porta, deita no sofá e começa a dormir.

Vou até a mesa que estava na janela, pego o caderno que estava sendo escrito e coloco na primeira página.

[Depois de sair da Guarda Real, vim para este lugar. Fiz este local para ficar sozinho. Só meus discípulos têm acesso. Entreguei três para cada, para caso eles perdessem os outros. Só consegui entregar uma para Lawrence. Quando fui entregar as outras, ele disse que era besteira isso. Ele anda muito diferente, e depois desse dia não o encontrei mais. Enfim, pedi para meu amigo Téo Margit uma magia conceitual para eu conseguir enfrentar a mim mesmo. Embora eu queira ficar sozinho, pode acontecer de precisarem de mim, e preciso estar em forma...]

***

Esse livro fala um pouco sobre a casa em si. Não parece que aqui há alguma armadilha, mas é interessante que ele decidiu fazer esta casa por um caminho reto. Qualquer pessoa chegaria aqui. Provavelmente deve ter algo por trás, mas não consigo achar nada por aqui. O sono está cada vez mais me chamando. Não dormi nada e nem sei se vou conseguir com aquelas imagens da noite passada, tanta gente morta. Porém, finalmente vou conseguir amplificar minha afinidade. Com certeza, em um desses livros da estante, deve ter algo falando sobre como ele a intensificou.

"Que merda."

Quando olho ao redor, vejo que não tenho onde dormir, a não ser no chão. Tento me deitar, mas mesmo aqui, trazendo um sentimento tão bom, não consigo dormir. Vou até a sala onde encontrei a almofada no chão, onde enfrentei minha sombra. Ao deitar na grama da sala, sinto um conforto. Pode parecer repugnante para algumas pessoas se deitar sobre a grama, mas se essas pessoas estivessem sentindo o que estou sentindo, não falariam isso. Pego a almofada e a apoio sobre minha cabeça. Quase instantaneamente, me vejo fechando os olhos e começando a descansar.