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Sofredor de Afinidade

Após um tempo correndo, seguindo o meu ímã, finalmente me sinto seguro. Corri tanto que nem percebi que a chuva já tinha acabado. E quando me dei conta, estava seguindo numa estrada rodeada por árvores extremamente grandes. Respiro fundo, me apoio numa árvore e coloco Éder ao meu lado. Já é madrugada e não faço a menor ideia de onde estou. Estou seguindo um ímã que nem sei se está me levando para o caminho certo, carregando um garoto que conheço há menos de três dias. Como cheguei a essa situação? Acabei de passar por um reino onde todas as pessoas estavam mortas no chão, e acabei de ver um "conhecido" meu morrer na minha frente. Que merda está acontecendo?

Enquanto estava sentado ao lado da árvore, fecho os olhos e olho para o grande céu, que nessa noite está cheio de estrelas.

"Olha o lado bom, Lucas. Você está vivo."

Digo isso, mas sinceramente, eu preferia estar morto agora. Abro os olhos e apenas fico olhando para frente, refletindo sobre tudo que aconteceu. Enquanto isso, o frio da noite começa a agir sobre o meu corpo. Começo a tremer de frio, mas não tenho mais nada para impedir isso, a não ser continuar em frente. Me levanto, coloco a mochila nas costas e, quando olho para Éder, ele tinha acabado de acordar.

"Lucas, me diz que eu tô sonhando, me diz que eu tô ficando maluco. Me fala, por favor, que eu não vi o Hugo ser decapitado na nossa frente. Me fala que eu tô louco."

Ele estava encolhido perto da árvore, tremendo de frio, enquanto seus lindos olhos começavam a derramar lágrimas. Apenas fico em silêncio e desvio meu olhar dele.

"Lucas, me fala... Por favor. Eu tô maluco, diz."

Ele começa a se levantar do chão e me segura pelo casaco que Hugo tinha me entregado.

"Me diz... Por favor."

Ele olha para mim enquanto derrama rios de lágrimas.

"Ele realmente morreu, Éder."

Éder me solta, cai no chão e começa a chorar.

"É mentira, não é possível."

Talvez, era para eu estar da mesma forma que Éder, se conhecesse Hugo por mais tempo. Porém, eu não sentia nada. Aquelas pessoas que morreram na cidade provavelmente tinham família, e muitas devem estar igual a Éder, mas eu não sinto nada. Não me vem tristeza. Eu não consigo entender o lado das pessoas. Posso até simpatizar com elas, mas não consigo compartilhar do mesmo sentimento. Vou até Éder, que estava deitado no chão, e faço ele olhar para mim.

"Éder, a gente tem que continuar a nossa viagem. Não podemos perder tempo."

Ele olha pra mim com uma cara de irritação e tenta se levantar.

"Você não entende, Lucas? Como você pode continuar isso? Como se nada tivesse acontecido?"

Eu reviro os olhos quando ele diz isso.

"Você conhecia ele bem mais que eu, Éder. Peço desculpas por não compartilhar o mesmo sentimento. Mas no pouco tempo que estive com ele, eu tenho certeza que ele iria querer que a gente continuasse a viagem."

Éder limpa os olhos com o capuz cheio de lágrimas e tenta controlar o choro. Eu conseguia ver claramente que o nariz dele estava vermelho junto aos olhos. Ele estava acabado. Ele pega suas coisas e vai na minha frente. Vou logo atrás dele.

"Lucas, eu posso te contar algo?"

Eu não conseguia ver o rosto dele, mas, através da voz, conseguia escutar um ar de tristeza.

"Claro que pode."

Consigo escutar ele suspirar.

"Desde criança eu fui criado por Hugo, não conheço meus pais. Hugo foi minha mãe e meu pai ao mesmo tempo. Ele foi a melhor pessoa do mundo. Enquanto ele me ensinava sobre as afinidades na floresta, ele saiu e eu fiquei esperando ele voltar. Foi então que vi um coelho, ele era muito bonito. Sua cor era branca e ele ficou ali brincando comigo, e começou a me levar para outro lugar. Quando percebi, já estava perdido pela floresta e estava anoitecendo. Encontrei o mesmo homem de hoje vagando por lá, e o coelho parecia ser dele, pois ele foi de imediato até ele. Quando cheguei perto e perguntei se ele poderia me ajudar a voltar para Hugo, ele deu um sorriso e passou a mão na minha cabeça. Eu lembro detalhadamente, ele se agachou e ficou na minha altura, fez carinho na minha cabeça e, no mesmo momento, sacou sua espada e acertou bem no meio do meu coração. Eu gritei de dor enquanto ele sorria. E quando acordei, estava com Hugo, e ele me tratou. Era como se fosse um sonho."

Ele continua andando, mas dá uma pausa, soca a árvore e continua.

"Após despertar minha afinidade, eu dominava ela muito bem. No início, o fogo era muito quente e eu conseguia usá-lo várias vezes. Mas então, toda vez que eu me machucava, percebi que ele começava a ficar cada vez mais fraco. Hugo tentou fazer uma cura, mas nunca conseguiu. E bem... chegou aquele dia da cobra do Leste. Depois desse dia, eu não consegui mais usar minha afinidade. Ela foi se apagando, igual ao fogo. No começo era uma chama ardente, depois ficou um pequeno fogo, depois brasas e, no fim, restou apenas as cinzas do que um dia já foi um dos maiores fogos do mundo."

Me sinto um pouco culpado pela perda de sua afinidade, pois de certa forma, ele entrou na minha frente e recebeu o golpe da cobra. Talvez, se...

"Eu sinto muito, Éder. Eu não fazia ideia."

Ele olha para mim.

"Não se sinta culpado, Lucas. Só de você entender minha situação, já fico feliz. E é uma grande forma de mostrar que você ainda tem um coração dentro de você."

Eu dou um sorriso pra ele, e continuamos seguindo a nossa viagem.

***

Já estava amanhecendo e eu e Lucas até agora não comemos nada e nem dormimos nada.

"A gente tá próximo, Lucas."

Ao falar isso, vejo que a estrada que estava rodeada de árvores ao nosso redor estava finalmente chegando ao fim. E quando olhei para a frente, consegui ver uma casa de madeira ao fim dela. Agora que tudo já havia passado, senti uma calmaria no lugar, uma sensação de paz só de chegar perto dela.

"Que bom. Não aguentava mais andar."

Nesse meio tempo, eu tentei conversar mais com Éder para ele não ficar pensando muito na morte de Hugo. E acho que deu certo. Ficamos o caminho inteiro conversando sobre nossas vidas. Ele me deu umas dicas de como usar minha katana. Foi realmente incrível. Finalmente, chegamos perto dela. Toda a estrutura era de madeira, lembrava uma casa de lenhador, mas tinha um diferencial: não tinha aquele cheiro de madeira que toda casa como essa tem. Ela trazia consigo uma paz.

"Ela é bem bonita, né?"

Éder me fala, enquanto vai em direção à janela que estava ao lado da porta.

"Com certeza. Joseph, no seu livro, parecia ser uma pessoa bem organizada, então acho que faz sentido."

Ao olharmos para a janela, vimos uma sala extremamente bonita e organizada. Abaixo da janela, na parte de dentro, estava uma cadeira e uma mesa com um livro aberto e um lápis ao lado. Quando olhei um pouco para a direita do lápis, consegui ver a pulseira do ímã, e ele estava levantado, apontando para a gente. O chão era de madeira, mas tinha tapetes em alguns cantos, como de frente à porta, no meio da sala e outros dois que levavam para outros cômodos da casa. Além disso, no meio da sala, tinha um sofá verde de tamanho médio e, na sua frente, uma estante com alguns livros, mas em cima do sofá havia uma carta. Não conseguimos olhar muito, então resolvemos entrar na casa.

"Tá preparado, cara?"

Éder me dá um sorriso, esperando minha resposta.

"Nasci preparado!"

Após dizer isso, ele abre a porta da casa.

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