Espadas e Mestres

A espada que ele carregava em sua mão esquerda era mais fina, mas sentia firmeza, mesmo de longe. Era afiada e extremamente chamativa. De imediato, vem uma lembrança de quando eu era criança. Eu lembro de já ter visto uma espada como essa na minha frente. Na vila, tínhamos um ferreiro que acabou morrendo um tempo depois. Enquanto estava vivo, ele gostava de fazer suas armas e trazê-las para todos verem. Em uma manhã, ele saiu de sua casa gritando. Em suas mãos estava esse mesmo modelo de espada. Eu fui o primeiro a ver a espada, e ele me entregou, dizendo que eu seria um grande espadachim e um dos maiores guardas reais que este mundo já viu, e iria mostrar ao mundo a arte de sua katana.

Agora, muitos anos depois, me vejo de frente para o mesmo modelo feito por ele. Sem hesitar, vou em direção a Hugo.

"Eu vou querer essa."

Enquanto digo isso, seguro, ainda em suas mãos, a katana que ele usa.

"Tudo bem. Eu já tinha combinado com Éder que a outra era dele, então iria ser sua de qualquer jeito."

Ele diz enquanto ri. Éder aparece logo atrás de mim, pegando a outra espada, que lembrava a de um clássico guerreiro.

"Bem, eu sempre preferi esse tipo de espada."

Ele termina dando uma gargalhada da situação.

"Bem, aqui está a bainha de sua espada, Lucas."

De trás dele, ele pega a bainha da espada e me entrega. A cor da bainha é branca, o que não me agrada à primeira vista, mas eu aceito sem reclamar. Em seguida, guardo a katana dentro dela.

Logo após isso, respiro fundo e olho para Hugo.

"Hugo, o livro que você me entregou é do seu mestre, certo? Ele também tinha a afinidade do tempo?"

Enquanto digo isso, vejo ele arregalar os olhos.

"Sim, Lucas. Você descobriu alguma coisa?"

Meu olhar fixa no dele e começo a dizer:

"Eu tenho a mesma afinidade que ele..."

Enquanto eu digo isso, vejo ele dar um pequeno sorriso.

"Então essa é a sua afinidade, Lucas?"

Ele fala isso, mas sinto um tom de tristeza em sua voz.

"Você descobriu como?"

Enquanto fala, se senta no meio da sala.

"Foi... Na vila, quando eu saí dela, foi quando despertei."

Ele se acomoda no sofá e responde:

"Isso se relaciona com a marca em seu pulso?"

Me assusto no mesmo momento em que ele fala isso.

"Eu acho que sim..."

Enquanto converso com ele, sua seriedade é inexplicável.

"Essa marca representa um contrato com um deus. E cada deus tem um símbolo. O seu é o de Dante."

Então, minhas suspeitas estavam certas...

"O que você pediu?"

Respiro fundo e olho nos seus olhos.

"Eu não sei... Ele veio até mim e pediu para eu recuperar a Vida Primordial. E quando eu reparei, estava cravado no meu pulso isso."

Enquanto eu termino de dizer isso, Hugo dá um pulo onde está sentado.

"Então, eles te procuraram? Que interessante."

Ele dá um sorriso para mim e vem na minha direção.

"Bem, você precisa esconder essa marca, rapaz. Algumas pessoas podem reconhecer."

Enquanto ele diz isso, se direciona a Éder.

"Éder, você ainda tem aquelas fitas que eu pedi para você guardar?"

Éder, que estava calado vendo tudo acontecer, se assusta um pouco.

"Tenho sim, senhor."

Por ser pego de surpresa, Éder acaba gaguejando.

"Vá pegá-las para mim."

Éder sobe rápido as escadas e volta no mesmo instante. Ele traz consigo algo que lembra um rolo de papel higiênico, mas em vez de papel higiênico, é outro papel, que mistura diferentes cores nele.

"Está aqui, Hugo."

Ele entrega nas mãos de Hugo, e ele vem até mim.

"Lucas, me mostre o seu pulso. Isso vai servir para camuflar a marca."

Ele enrola meu pulso com esse papel e, no mesmo momento, consigo ver o meu pulso normal, como se não tivesse nada ali, não tem mais marca ou papel.

"Pronto. Isso vai ajudar para a nossa viagem."

Enquanto ele termina de fazer isso, Éder arregala os olhos.

"Viagem? A gente vai para onde?"

Hugo dá um sorriso.

"Essa era a minha segunda novidade. Vamos ir até a casa do meu mestre."

Enquanto ele diz isso, vejo ele olhando para mim.

"Sim, Lucas. A gente vai lá para você entender melhor sua afinidade."

Não dá nem tempo de ele terminar o que diz, e começo a comemorar.

"Se acalme, garoto. Estamos indo lá, pois lá vamos encontrar alguns livros sobre sua afinidade e eu preciso visitar um amigo meu."

Enquanto ele fala isso, Éder só fica no canto vendo a situação.

"Vamos hoje ainda, iremos à noite. Por acaso, Lucas, no livro que eu entreguei, tem algumas informações sobre isso. Aproveite para ler."

Enquanto ele fala, ele sobe pelas escadas.

"Até daqui a pouco."

Enquanto ele sai, sinto alguém pondo a mão no meu ombro.

"Boa, cara! Queria eu ter essa sorte! Já pensou ter uma habilidade como o tempo, ter livros para compreender e intensificar ela. Deve ser incrível."

Sinto uma certa raiva vindo dele, e sinto ele apertando o meu ombro.

"Cara, isso tá doendo, para por favor."

No momento que eu falo isso, ele solta, e levanta a cabeça pra me olhar no olho.

"Você tá bem, cara?"

Ele dá um sorriso irônico ao ouvir isso.

"Se eu tô bem? É claro que eu tô bem, porra. Como eu não posso estar bem? Só porque desde o momento da minha infância eu nunca consegui ter afinidade, e graças a essa merda do roubo da Vida Primordial, só piorou. Mas enfim, você não tem nada a ver com isso, perdão."

Ele começa a subir as escadas, porém consigo ver ele apertar a sua mão.

"Não tô com fome, pode comer à vontade."

Diz ele, enquanto sobe as escadas.

"O que será que ele passou?"

Bem, eu não acho melhor falar com ele sobre isso agora, ele está bem irritado. Não sei exatamente quanto tempo falta para irmos para a missão, então, acredito que seria uma boa eu voltar a ler. Ao olhar para o lado, vejo a mesa com comida. Bem, não seria uma má ideia comer um pouco antes de ir.

***

Comi algumas coisas, e cara, que comida boa. Fazia tempo que eu não comia algo tão saboroso assim.

"Onde será que Hugo arruma essas coisas?"

Bem, ele tem um bom gosto, posso dizer. Melhor eu voltar a ler, não sei quanto tempo falta. Ao chegar ao meu quarto, deixo a minha katana perto da minha cama, enquanto pego o livro de Joseph e começo a ler.

"Bem, vamos lá. Para mais uma rotina de leitura."