Desafios de Leitura

Ao acordar, não sei quantas horas se passaram, mas me sinto bastante revigorado. Enquanto me levanto da cama, que agora já está totalmente bagunçada, uma recordação me vem à mente. Sempre acordava, lavava os pratos e arrumava a minha casa. Agora que fui retirado de lá, me sinto desconfortável. Estou em outro lugar, sem as pessoas que conheço, e estou tendo que começar tudo novamente. É bom recomeçar, mas as coisas foram tão rápidas que acabo não conseguindo acompanhar, tudo isso por causa daquele livro. Olho no mesmo momento para o livro e vejo seus detalhes em dourado.

"Será que você tem alguma coisa especial ou é só mais um livro? Bem, esse é o momento perfeito para eu entender esse mundo de magia".

Vou até a estante onde ele estava e, junto dele, pego o outro livro que Hugo tinha me entregado. Analisando-o, sua cor é um vermelho escuro, com detalhes em preto no canto, formando estrelas.

"Onde será que ele consegue esses livros? A cor é bem bonita".

Me sento na cama e começo a ler o livro que ganhei quando fui embora da vila.

***

"Bem, acho que entendi como esse mundo funciona".

Nesse mundo, o que o rege são as afinidades. Elas são basicamente o poder de seu usuário. Cada usuário tem uma afinidade, mas nem todas as pessoas nascem com ela. Despertar a afinidade é algo natural, normalmente manifestando-se na infância ou em experiências de vida ou morte. Mas, caso a pessoa não consiga, ainda é possível despertá-la com um contrato com um ser Primordial.

"Contrato com um ser Primordial? Será que, quando aceitei recuperar a Vida Primordial para eles, acabei fazendo esse contrato, me fazendo despertar uma afinidade?".

Bem, continuando. Todo usuário que despertou deve, em algumas horas, descobrir o que ela traz consigo. Isso se relaciona com a parte de suas personalidades, emoções fortes ou momentos estressantes, fazendo liberar o seu poder. É possível encontrar pessoas com afinidades iguais. O que muda é a forma como você a utiliza nas situações. O uso excessivo delas faz com que a pessoa fique extremamente exausta e, dependendo, até debilitada.

"Bem, isso é só a teoria dela. Ainda tem uma parte que eu não li. Mas, até o momento, estou conseguindo compreender esse mundo".

Estou parecendo uma criança quando descobre que o mundo não é só engatinhar e brincar. Mas devo admitir, é bem interessante isso tudo. Melhor eu dar continuidade à leitura.

[Dependendo da sua conexão com o seu usuário, as afinidades podem mudar para algo melhor, mas ainda que corresponda aos seus sentimentos. Ou seja, uma pessoa que tem muita conexão com sua afinidade de fogo pode acabar mudando a mesma, tornando-se uma afinidade de magma. Isso apenas se houver uma conexão entre ambos].

[Caso haja pessoas prodígios e suas afinidades sejam opostas, tal pessoa terá extrema dificuldade para usar seu poder. Levando em consideração que os seus poderes são opostos, ambos se anulam. Caso a pessoa queira fazer algo contra isso, é interessante possuir uma relíquia que estabeleça o seu controle ou até mesmo conhecer pessoas que têm a mesma afinidade e entender como usar ambas as afinidades].

[Em relação à forma de criar conexão, a pessoa em questão deve usar a sua específica forma de concentração (ou algo parecido) para sua afinidade. Ressaltando que cada afinidade tem o seu método de criar conexão. Para entender mais sobre isso, é interessante, ao invés desse livro, ter um mestre que tenha a mesma afinidade].

Em outras palavras, eu estou perdido nesse mundo. Não conheço exatamente ninguém que possua o mesmo poder que o meu. Ao folhear as outras páginas, vejo apenas informações sobre alguns tipos de afinidades, nada que eu já não tenha visto. Me levanto da cama e deixo o livro em cima da estante.

"Depois eu leio o outro livro, quero tomar um ar".

Enquanto passava pelo quarto de Éder, consegui escutar algumas falas dele.

"Que merda... Eu me esforcei tanto para isso. E, no final, não adiantou nada. Que merda, que merda".

Eu consigo sentir raiva e tristeza saindo de sua voz.

"Se acalme, Éder. A culpa não é sua. Você não precisa se cobrar tanto, na verdade... Você não merece provar nada para ninguém, você é alguém admirável".

Pela voz, consigo identificar que se trata de Hugo falando com Éder sobre alguma coisa. Tento ficar o mais próximo da porta possível para escutar o que estão falando. Não que eu seja alguém fofoqueiro, só estou querendo saber o que está acontecendo. Coisas totalmente opostas... Eu acho.

"Eu vi o meu sonho escapar pelas minhas mãos, Hugo. Quanto mais eu dou esse sorriso, mais me sinto vazio por dentro".

Sinto um silêncio na sala. Será que eles estão vindo até a porta? Acho que fui descoberto. Tento voltar para o meu quarto, bem devagarinho, tentando não provocar muito barulho. Quando chego perto da porta, vou abrindo lentamente, quando de imediato vejo a porta de Éder se abrir. Meu coração salta, e com medo de descobrirem que eu escutei, tento fingir que eu estava saindo do quarto agora. Quando olho para o lado vejo Hugo.

"Olha só, pelo visto a princesa já acordou. Aqui estão as 200 moedas da missão. Eu fui no seu quarto antes, mas você estava dormindo".

Hugo estende a mão para mim com um saco cheio de moedas. Tento parecer tranquilo, mas consigo sentir que estou suando, com medo e nervoso.

"Ah, sério, Hugo? Muito obrigado!".

No momento que eu pego o saco de moedas e vou voltar para o meu quarto, escuto ele dizer.

"Está tudo bem, garoto. Você está suado".

Que merda, ele vai descobrir. Preciso pensar em algo rápido.

"Eu... Acabei de acordar. Estava indo tomar um banho".

Ele olha estranho, mas logo responde.

"O Éder te falou? Achava que você não sabia, mas na sala tem uma sala com banheiro, mas é difícil de ver, por causa que é basicamente da mesma cor da parede".

Eu olho pra ele, pensando em uma resposta extremamente rápida.

"Ah, sim. Ele veio aqui e me disse".

Ele dá um sorriso para mim e continua dizendo.

"Fico feliz, então. Bem, vou indo. Vou estar no meu quarto, caso precise de alguma coisa".

Ele começa a andar em direção ao seu quarto e adentra a porta. Entro rapidamente no meu quarto e coloco as moedas na estante.

"Nunca na minha vida fiquei tão nervoso. Que bom que deu tudo certo".

Respiro fundo e tento me acalmar. Bem, acho que o jeito é ir tomar banho, pelo menos descobri que nessa casa tem banheiro. Volto para a sala e, enquanto procurava a maldita porta, fico pensando sobre o que escutei do Éder. Será que é por culpa minha que ele está assim? Por causa do braço? O que ele disse "quanto mais eu dou esse sorriso, mais me sinto vazio por dentro". Eu sabia que ele estava triste, mas isso que ele disse...

Enquanto procurava no canto da sala, encontro a porta. Não tinha maçaneta, então foi necessário empurrar para eu conseguir entrar.

"Bem, hora de relaxar um pouco".