Capítulo 2

No dia seguinte ao despertar de Jon, o pátio de Winterfell estava repleto de uma energia vibrante. Jon e Robb estavam em posição, cada um empunhando uma espada de treino enquanto se preparavam para mais um spar. Ao redor deles, Sor Rodrick Cassel observava atentamente, acompanhado por Bran, Theon, e Rickon, todos ansiosos para ver o desenrolar do combate.

Robb avançava com a espada, seus movimentos precisos e meticulosos, resultado dos anos de treinamento sob a orientação de Sor Rodrick. No entanto, havia algo diferente naquela manhã. Seu rosto estava franzido, as sobrancelhas juntas em uma expressão de cansaço e surpresa. Ele e Jon sempre foram adversários equilibrados, suas habilidades quase idênticas, tornando suas lutas constantes e emocionantes. Mas hoje, algo estava fora do normal.

Era como se Jon estivesse em outro nível. Seus movimentos eram fluidos, quase graciosos, e cada golpe que desferia era preciso, atingindo exatamente os pontos fracos de Robb. Quando Robb tentava encontrar uma abertura, Jon estava sempre um passo à frente, bloqueando sua espada com facilidade. Jon parecia não se cansar, ao contrário de Robb, que sentia o peso da espada e da batalha crescendo a cada segundo.

Para Robb, a luta se transformava em uma experiência surreal. Era como se ele fosse uma criança tentando lutar contra um adulto; essa era a sensação que o dominava. Por outro lado, o rosto de Jon exalava uma tranquilidade inquietante. Às vezes, seus olhos pareciam vagar, como se ele estivesse perdido em pensamentos, mas mesmo assim, isso não impedia que ele dominasse completamente a luta.

Então, no momento em que Robb se preparou para desferir outro golpe, Jon fez algo inesperado. Seus olhos se aguçaram subitamente, e ele desviou a espada de Robb com uma precisão surpreendente, mudando a trajetória de seu próprio ataque. Em um movimento rápido, a espada de Jon estava apontada para o pescoço de Robb, encerrando o spar com um sorriso vitorioso.

Bran e Rickon exclamaram em uníssono ao ver a facilidade com que Jon derrotou Robb. O entusiasmo em suas vozes era inconfundível, e seus olhos brilhavam de admiração pelo irmão mais velho. "Uau, Jon!" gritou Bran, enquanto Rickon, ainda mais impressionado, repetia as palavras do irmão.

Jon sorriu para Robb, ainda segurando a espada, e disse em tom de brincadeira: "Parece que venci, meu lorde," com um sorriso cínico, claramente provocando o irmão.

Robb, finalmente saindo de seu estado de atordoamento, abriu um sorriso e balançou a cabeça em descrença. "O que você tem hoje, Jon? Você parece completamente diferente," comentou, ainda tentando entender o que havia acabado de acontecer.

Sor Rodrick Cassel, que observava de perto, também não pôde deixar de notar a diferença. "Seu manejo de espada estava perfeito, Jon," disse ele, sua voz carregada de uma mistura de aprovação e surpresa.

Apesar de compartilhar do sentimento, Theon Greyjoy manteve-se em silêncio. Ele e Jon nunca foram próximos, e a distância entre eles parecia ainda maior naquele momento. Mesmo surpreso, Theon recusou-se a comentar.

Jon, percebendo a atenção que havia atraído, deu de ombros e respondeu com humildade: "Acho que só tive sorte."

Mas tanto Sor Rodrick quanto Robb sabiam que Jon estava sendo modesto. A transformação em suas habilidades era evidente demais para ser fruto apenas de sorte. Algo havia mudado em Jon, e isso não passou despercebido por aqueles que o conheciam bem.

Ao contrário do que havia respondido, Jon sabia, em sua consciência, que algo nele realmente havia mudado. Desde o momento em que se recuperou da febre que quase o matou, ele se sentia completamente diferente. Sua mente parecia funcionar a uma velocidade vertiginosa, como se cada pensamento fosse processado com uma clareza e rapidez que ele nunca havia experimentado antes. Seus reflexos e o controle sobre seu corpo estavam além de qualquer coisa que ele já tinha sentido.

E havia mais. Seus sentidos estavam incrivelmente aguçados. Jon podia ver detalhes que antes passavam despercebidos, ouvir sons que antes eram abafados, e até mesmo sentir o cheiro das coisas com uma intensidade inédita. Foi assim que ele derrotou Robb com tanta facilidade; eles sempre tiveram quase o mesmo nível de habilidade, treinando juntos desde crianças. Mas agora, tudo parecia diferente.

Para Jon, Robb se movia lentamente, como se estivesse preso em uma espécie de areia movediça invisível. Ele conseguia ler cada movimento que Robb fazia, ver quais músculos estavam sendo ativados antes mesmo de Robb agir. E, até certo ponto, Jon era capaz de prever o próximo movimento de seu irmão antes que ele acontecesse. Era como se o mundo ao seu redor tivesse desacelerado, permitindo-lhe analisar cada detalhe em uma fração de segundo.

Jon não conseguia explicar isso para si mesmo, mas estava claro que algo dentro dele havia mudado profundamente. E, embora tentasse disfarçar e agir como se nada fosse diferente, ele sabia que sua vida nunca mais seria a mesma.

Enquanto Jon estava perdido em seus pensamentos, algo chamou sua atenção. Ele sentiu um olhar fixo em sua nuca, uma sensação tão palpável que o fez virar a cabeça automaticamente para procurar de onde vinha. Seus olhos logo encontraram o olhar gelado de uma mulher que observava a comoção no campo de treinamento de cima de uma varanda de madeira. Era Lady Catelyn, e a fúria em seu rosto era inconfundível. Era óbvio que o motivo de sua raiva era o fato de Jon ter vencido Robb em um duelo.

Sempre fora assim. Ele sempre foi a mancha na imagem perfeita de seu casamento, o lembrete constante da traição de Eddard Stark, o motivo de vergonha para a Lady de Winterfell. Jon sabia que, aos olhos de Catelyn, ele não passava de uma lembrança viva de que seu marido havia tido um filho fora do casamento. Em outros tempos, Jon teria tremido sob aquele olhar, baixando a cabeça em um gesto de submissão, mas hoje não. Ele não sentia mais medo, não sentia mais ódio. Apenas indiferença. Outra mudança que ele notou desde que acordara da febre.

Percebendo que Jon olhava para cima, Robb também notou sua mãe na varanda. Por um momento, sentiu-se envergonhado. Embora não compartilhasse do desgosto de sua mãe por Jon, ele sabia que ela esperava que, como futuro Lorde de Winterfell, ele nunca ficasse atrás de Jon em nada. Quando Robb percebeu que Jon não desviou o olhar, isso só pareceu enfurecer ainda mais Lady Stark. Com um resmungo irritado, ela se virou e saiu da varanda, deixando o campo de treinamento em silêncio.

Colocando a mão sobre o ombro de seu irmão, Robb falou em tom tranquilizador. "Não se preocupe com a mãe, Jon. Você venceu de forma justa. Eu só preciso treinar mais."

Jon assentiu com um sorriso calmo, respondendo suavemente, "Está tudo bem." Ele sabia que Robb estava tentando aliviar a tensão, mas a indiferença que sentia em relação ao olhar de Lady Catelyn ainda o surpreendia.

Enquanto Sor Rodrick retomava o treinamento, ele começou a falar com Robb sobre sua postura e técnica durante a luta, corrigindo detalhes e dando conselhos para melhorar suas habilidades. Jon, por sua vez, se voltou para Bran, ajudando-o a refinar seus movimentos básicos com a espada. Theon, que permanecia um pouco afastado, estava ocupado ajudando Rickon a praticar com um arco pequeno, uma tarefa que, apesar de sua habitual indiferença, ele realizava com certo cuidado.

Mais tarde naquele dia, Jon se encontrou sozinho, comendo em silêncio enquanto olhava para o céu de Winterfell. Os pensamentos sobre as mudanças em seu corpo e mente continuavam a rodar em sua cabeça. Ele se lembrava de sua vida desde que era pequeno, desde o momento em que começou a entender sua posição como o filho bastardo de Eddard Stark.

Os constantes abusos verbais de Lady Catelyn ecoavam em sua mente, lembrando-o de que, apesar de ser filho de Eddard, ele nunca havia sido realmente parte daquela família. Sempre seria o bastardo, a sombra de uma vergonha que Lady Stark nunca o deixaria esquecer.

Jon sempre sonhou com o dia em que iria para a Muralha, onde serviria à Patrulha da Noite. Fazer parte da honrada irmandade que protegia os Sete Reinos lhe parecia um destino nobre. Mas isso foi antes, quando ele era ingênuo, antes de suas percepções mudarem. Agora, com seus pensamentos mais claros e seu entendimento mais afiado, ele começava a ver a realidade por trás dos rumores e fofocas.

A Patrulha da Noite, outrora uma ordem honrada, agora era pouco mais que um refúgio para ladrões e estupradores que escolheram o exílio no Norte em vez da morte.

Jon começou a se perguntar se deveria usar suas novas habilidades para algo maior, para algo além da Muralha. Talvez houvesse um lugar onde ele não fosse o bastardo de Ned Stark, um lugar onde pudesse fazer seu próprio nome, onde pudesse ser mais do que o legado da desonra de seu pai.