Capítulo 3

Capítulo 3

Westeros, 297 AC

Ned Stark estava sentado em seu escritório, absorto nos papéis que preenchiam sua mesa. O peso da responsabilidade de governar o Norte estava sempre presente, e naquele dia, não era diferente. Seus pensamentos estavam focados em questões de abastecimento, visto que a comida sempre foi um problema no norte, quando uma batida firme na porta tirou sua atenção.

"Entre," disse Ned, sem desviar os olhos dos documentos à sua frente.

"Lorde Stark." A porta se abriu, revelando Jon Snow, que entrou calmamente no escritório. Ned levantou a cabeça, surpreso com a visita. Não era comum Jon procurá-lo em seu escritório, o que despertou a curiosidade de Ned.

"Jon," disse Ned, sua voz carregada de surpresa. "Você precisa de algo?"

Jon, com uma expressão calma e séria, se aproximou da mesa. "Gostaria de discutir algo com o senhor," começou ele, a firmeza em sua voz indicando a importância do que estava prestes a dizer. "Mas sei que o que tenho a dizer não lhe agradará."

Sentindo um leve desconforto no peito, Ned recostou-se na cadeira, seus olhos fixos no filho. "O que você precisa, Jon?" perguntou, uma preocupação velada em sua voz.

Jon respirou fundo antes de continuar. "A febre que tive há uma semana... Eu pensei que fosse morrer," disse ele, a lembrança ainda fresca em sua mente. "E isso me fez repensar meus planos para o futuro."

Jon olhou para Ned com uma determinação que fez o coração do Lorde Stark apertar. "Eu já tenho 17 anos, e acho que mereço saber quem é minha mãe," disse Jon, sua voz firme, mas carregada de uma tristeza contida.

Ned sentiu um desconforto imediato com a pergunta. Ele desviou o olhar por um momento, buscando uma resposta que pudesse proteger tanto Jon quanto as memórias dolorosas que carregava. "Jon... você é meu filho, e sempre será," começou Ned, tentando afastar o assunto. "Isso é o que importa."

Mas Jon não estava satisfeito com a resposta evasiva. Ele franziu a testa, e sua paciência começou a se esgotar. "Lord Stark," disse ele, deliberadamente escolhendo as palavras, o tom de sua voz refletindo a distância que sentia. "Mesmo que eu seja seu filho, eu nunca fui verdadeiramente parte desta família. Sempre fui Jon Snow, o bastardo de Eddard Stark, desprezado por sua esposa."

As palavras de Jon atingiram Ned como um golpe. Ele sabia que Jon estava certo em muitos aspectos, mas a verdade era algo que ele havia prometido a si mesmo nunca revelar. Antes que pudesse formular uma resposta, Jon continuou, seu tom mais firme, mas ainda assim carregado de uma profunda tristeza. "Tudo o que desejo saber é quem é minha verdadeira mãe."

Ned abriu a boca para responder, mas as palavras pareciam presas em sua garganta. Ele sentiu o peso da promessa que fez a Lyanna, a dor de uma memória que ele nunca conseguiu apagar. Finalmente, Jon, com um pouco de hesitação, acrescentou: "Pelo menos me diga... ela ainda está viva?"

O silêncio que seguiu foi quase palpável, cada segundo parecendo uma eternidade. Ned fechou os olhos por um momento, tentando encontrar forças para responder, mas sabendo que qualquer resposta poderia levar Jon a uma verdade que ele não estava pronto para ouvir.

Ned sentiu uma batalha interna se intensificar, seu rosto constantemente se contorcendo entre expressões de dor e tristeza. Cada vez que tentava responder a Jon, ele parecia ser confrontado por memórias e promessas antigas que não poderia quebrar. O escritório foi tomado por um silêncio ensurdecedor e desconfortável, enquanto a boca de Ned tremia, tentando encontrar palavras. Mas, no fim, ele fechou os olhos, suas mãos se apertando, e falou em um tom baixo e pesaroso.

"Eu amei muito sua mãe, Jon," começou Ned, cada palavra carregada de dor. "Mas... ela infelizmente já havia morrido. Ela morreu depois de lhe dar à luz."

Ned sabia que estava mentindo, mas sentia que não tinha escolha. A verdade sobre o nascimento de Jon era perigosa, e ele não podia arriscar. Revelar o que realmente aconteceu poderia trazer caos aos Sete Reinos e, acima de tudo, colocar a vida de Jon em risco. Mesmo assim, o peso da mentira parecia um fardo insuportável em seu coração.

Enquanto as palavras de Ned ecoavam pelo escritório, o olhar determinado de Jon pareceu se quebrar. Por alguns instantes, seu rosto se contorceu de dor e tristeza. Tristeza, mágoa, arrependimento, solidão... todas essas emoções se misturavam em seu peito, ameaçando esmagá-lo por dentro. Mas então, Jon sentiu algo inesperado—a mesma energia calmante que ele havia sentido desde sua recuperação, invadindo sua mente e acalmando-o. Ele fechou os olhos por um momento, permitindo que essa calma se assentasse em seu coração.

Respirando fundo, Jon abriu os olhos novamente e olhou para Ned. "Isso é uma pena," disse ele, sua voz controlada, mas vazia. O silêncio voltou a dominar o escritório, deixando ambos sem saber o que mais dizer um ao outro.

O silêncio desconfortável persistiu entre os dois por alguns instantes até que Jon, sentindo a necessidade de quebrá-lo, tomou a iniciativa. "Eu decidi sair de Winterfell e me aventurar mundo afora," disse ele, sua voz firme e resoluta.

Imediatamente, Ned saltou de sua cadeira, o rosto tomado por uma mistura de surpresa e preocupação. "Você é muito jovem para isso," começou ele, mas sua voz falhou em encontrar os argumentos necessários para sustentar sua afirmação. "Seu lugar é com sua família."

Mas Jon, com uma nova força que Ned nunca havia visto antes, respondeu com uma voz firme e inabalável. "Essa é minha decisão final." A determinação em sua voz fez com que Ned ficasse surpreso por um instante.

Jon continuou calmamente, seu tom controlado e seguro. "Eu amo meus irmãos, e aprecio o carinho e cuidado que teve comigo, mesmo sendo seu bastardo. Mas eu nunca serei verdadeiramente parte desta família, e Winterfell não é o meu lugar."

As palavras de Jon atingiram Ned como um golpe silencioso. Ele pareceu desmoronar em sua cadeira, a verdade finalmente se impondo sobre ele. Ele sabia os motivos de Jon, mesmo que tentasse não os admitir. Catelyn havia tratado o garoto com frieza desde sempre, o desprezo que ela sentia era evidente, e Jon havia suportado tudo isso em silêncio, nunca reclamando para não criar discórdia entre Ned e sua esposa. Jon nunca se sentiu digno de causar tal conflito.

Com uma voz fraca e resignada, Ned finalmente perguntou: "Para onde você pretende ir?"

Jon pareceu deixar seus pensamentos vagarem por um momento, olhando para a janela antes de responder. "Um dia, eu sonhei em fazer parte da Patrulha da Noite." Suas palavras animaram momentaneamente Ned, que pensou que, mesmo sabendo que Jon estaria em um lugar degradado como a Muralha, ele estaria seguro, longe do poder de Robert e do perigo que a coroa representaria se descobrissem sua verdadeira identidade.

Mas então Jon continuou, derrubando Ned de seus pensamentos. "Mas esse não é mais o meu sonho." A afirmação fez a esperança de Ned desmoronar. "Eu desejo ir mais longe, para um lugar onde meu legado não me assombre... para além de Westeros, do outro lado do Mar Estreito. Para Essos."

Ouvindo isso, Ned pareceu querer contestá-lo, seu coração tomado por um medo profundo. Ele temia pela vida de Jon, mas sabia, no fundo, que não podia continuar a restringi-lo, impedindo que ele abraçasse sua própria liberdade. As palavras de Jon ressoavam em sua mente, como um eco que não podia ignorar: a vergonha que sua mentira havia causado, e o fardo que Jon carregava como consequência.

Ned suspirou profundamente, seu corpo curvando-se levemente sobre a mesa, como se todo o peso do mundo tivesse caído sobre seus ombros. Ele parecia ter envelhecido anos em questão de segundos, e sua postura cansada refletia a batalha interna que acabara de travar. Reunindo a coragem que lhe restava, ele finalmente falou, sua voz baixa e resignada. "Se é isso que você deseja, Jon, eu não serei contra."

Com dificuldade, Ned levantou o olhar para Jon e perguntou: "Quando você planeja ir?"

"Em uma semana," respondeu Jon, sem hesitação. "Já que me decidi, não há por que protelar mais. Vou usar esse tempo para me preparar e me despedir dos meus irmãos."

Ned suspirou novamente, sentindo o peso da decisão de Jon como uma sombra que pairava sobre ele. "Entendo," disse ele, com um tom de aceitação e tristeza.

Jon, parecendo ter dito tudo o que precisava, curvou-se levemente em respeito. "Agradeço pelo tempo e pela compreensão," disse ele. "Agora, vou me retirar, preciso começar a me preparar."

Ned pareceu querer dizer algo mais, uma última palavra de conselho ou de carinho, mas as palavras se prenderam em sua garganta. No final, ele apenas acenou com a cabeça e disse: "Pode ir."

Jon assentiu, curvando-se novamente antes de sair do escritório, deixando Ned sozinho. Quando a porta se fechou, o Lorde de Winterfell permaneceu imóvel, a solidão e o cansaço estampados em seu rosto. Ele sabia que o tempo estava passando, e com ele, o menino que ele tanto tentou proteger agora estava pronto para trilhar seu próprio caminho, longe de Winterfell e de todos os segredos que ele guardava.