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capítulo 3

Após as aulas, dirigimo-nos à sorveteria e nos acomodamos em uma mesa disponível.

"UAU, que coisa boa!" exclamou Isaac, animado com a variedade de opções.

"Já decidi! Quero o de café com casquinha de biscoito", anunciei, pronta para desfrutar daquela combinação deliciosa.

"Eu quero caramelo e cereja, com casquinha de waffle", disse Liandra, indicando sua escolha.

"Também vou de baunilha e morango", completou Isaac, mostrando sua preferência.

Liandra se levantou para ir até o balcão e fazer o pedido dos sorvetes. Enquanto isso, aproveitamos para conversar um pouco, relaxando depois das aulas e desfrutando da expectativa de saborear aquelas delícias geladas. A atmosfera descontraída e o clima amigável da sorveteria ajudavam a aliviar a tensão do dia e proporcionavam um momento agradável entre nós.

Enquanto Liandra estava ocupada pegando os sorvetes, eu e Isaac aproveitamos para conversar um pouco.

"A Liandra é legal", comentei, buscando um ponto de partida na conversa.

"Isso porque ela odeia a Raíssa tanto quanto você", Isaac brincou.

"Algo assim", respondi, concordando meio hesitante.

Nós dois rimos, mas logo a conversa tomou um tom mais sério quando Isaac trouxe à tona o que estava realmente em jogo.

"Paula, você não pode agir assim com a Raíssa só porque ela gosta do Miguel. Ela não controla o próprio coração. Ela deve ter os próprios motivos para gostar dele, assim como você tem para gostar do Miguel", explicou Isaac de maneira reflexiva.

"Acho que você está certo. Não sei... desde o dia em que conheci o Miguel, algo mexeu com meu coração, mas eu não sabia exatamente o que era", compartilhei, abrindo um pouco mais sobre meus sentimentos.

Isaac revelou sua própria experiência: "Isso acontece com todo mundo. Quando comecei a gostar de alguém, senti o mesmo que você sente agora. No entanto, havia outra pessoa que também gostava dela, minha amiga Cathleen. Nós brigamos por um tempo, mas decidi deixá-los em paz. Embora tenha sentido algo estranho, fiquei feliz por eles."

"Me desculpe", ofereci meu apoio.

"Não se preocupe, está tudo bem. Às vezes, é melhor deixar essa coisa complicada chamada amor seguir seu curso", respondeu Isaac com sabedoria.

"Você está certo, amor é uma coisa boba", concordei, refletindo sobre a complexidade dos sentimentos.

Essa conversa talvez tenha sido uma das mais maduras que já tive com Isaac. Percebi que ele tinha razão em muitos aspectos, e isso me fez refletir mais sobre minhas próprias atitudes e emoções. A espera pela volta de Liandra trouxe um certo clima reflexivo e tranquilo entre nós, indicando que talvez essa não fosse a última conversa significativa que teríamos juntos.

Liandra retornou à mesa com os sorvetes, mas sua expressão não transmitia alegria. Seu semblante estava tenso, como se algo desagradável tivesse acontecido. Ela se sentou e, antes que pudéssemos degustar nossos sorvetes, revelou algo preocupante.

"Então, tenho uma péssima e uma péssima notícia", anunciou Liandra, com uma expressão tensa.

"Fala logo, estamos ansiosos para saber", disse, pressionando-a.

"Raíssa me ligou e disse que está vindo para a sorveteria", contou, aumentando a tensão no ar.

Lembre-se do que eu disse, que a Raíssa não pode arruinar minha diversão? Esqueça. Naquele momento, aquele sentimento de que ela poderia estar tramando algo contra mim voltou. Era como se ela estivesse tentando me provocar, tentando fazer com que eu me irritasse com ela. Seu olhar de menina mimada, cabelos curtos e encaracolados, e aquela expressão de amargura me causavam repulsa.

"Está bem, vamos esperar aqui", respondi, mantendo uma aparência tranquila, apesar da inquietação por dentro.

Liandra questionou minha decisão: "Tem certeza?"

"Claro", afirmei, tentando parecer confiante.

Ela podia tentar, mas eu não permitiria que ela arruinasse minha diversão ou minha felicidade. No entanto, a dúvida me atingiu. E se ela já tivesse feito isso? Raíssa tinha esse efeito sobre mim, me fazendo enlouquecer. Tudo o que eu queria naquele momento era que o dia acabasse logo, para que eu pudesse escapar desse turbilhão de emoções.

O tempo passou e, logo, Raíssa entrou na sorveteria acompanhada por sua amiga Júlia. Raíssa vestia um casaco do exército sobre uma camisa preta e um shorts curto, seu cabelo desgrenhado que mencionei anteriormente. Parecia que ela não se preocupava muito com sua aparência. Por outro lado, Júlia tinha um cabelo liso e belo, com pontas amarelas que pareciam convidativas, mesmo que sua expressão não denotasse uma personalidade de santinha. Ela usava um vestido azul, daqueles perfeitos para um piquenique. Talvez fosse a única capaz de aguentar Raíssa.

Raíssa se sentou e cruzou as pernas, começando a falar.

"Me dá um pouco desse sorvete aí", pediu, dirigindo-se a Liandra.

Liandra, com uma expressão que quase revelava sua vontade de estrangular Raíssa, cedeu um pouco do sorvete, mas claramente contrariada.

"Aí, primo, esse sorvete tá muito bom", disse Raíssa, em um tom casual.

Sorte dela que os sorvetes custavam apenas R$ 4,30. O clima na mesa estava tenso.

"Então, Raíssa, você se lembra de mim?", perguntei, tentando quebrar a tensão.

"Claro, a garota que estava com o Miguel", respondeu ela.

"É, você me empurrou", lembrei.

"Ai, me desculpa, me desculpa mesmo", disse Raíssa, tentando se redimir.

Ela me abraçou, mas o gesto pareceu forçado e insincero. Seu abraço não transmitiu verdade, assim como as palavras. Optei por sorrir forçadamente.

"Tudo bem, não se preocupe", respondi, tentando encerrar o assunto.

Aquele encontro parecia uma guerra de falsidade, um conflito que poderia aniquilar a humanidade. Quanto mais falsidade havia ali, mais se tornava evidente.

Liandra, notando a tensão pairando na mesa, decidiu mudar o assunto.

"Então, pessoal, ouviram falar que a Raíssa vai participar de um concurso de miss?" tentou animar o ambiente.

Fingindo interesse, respondi: "Nossa, sério? Que incrível."

Eu senti a necessidade de tentar me aproximar dela. Embora minha conversa com Isaac tenha sido esclarecedora, percebi que Raíssa precisava aprender algumas lições.

Júlia, surpresa, perguntou: "Você não me contou nada sobre esse concurso."

Raíssa riu forçadamente: "Porque era surpresa."

Não sei como ela conseguia lançar um monte de mentiras tão descaradas que as pessoas acreditavam. Mas algo em seu comportamento, suas palavras e até mesmo seu cheito pareciam inautênticos para mim. Era como se eu pudesse detectar a falsidade em suas atitudes.

O clima na mesa ficou tenso com o que Liandra havia mencionado sobre a surpresa do concurso de miss. A reação de Raíssa ao saber que Liandra sabia revelou um tanto sobre a relação entre elas.

Isaac, intrigado, questionou: "Mas como a Liandra sabia que era surpresa?"

Júlia, também curiosa, indagou: "É verdade, como?"

Raíssa justificou: "Porque ela é minha prima."

Fiquei surpresa ao saber que ela havia compartilhado essa informação com a melhor amiga. O clima ficou ainda mais tenso com o que Liandra havia revelado.

"Pensei que fôssemos melhores amigas", expressou Júlia, desapontada.

Raíssa respondeu rapidamente: "Somos, mas se eu te contasse, você ia espalhar para todo mundo."

"Falou a fofoqueira", rebateu Júlia, de forma sarcástica.

Eu quase soltei uma risada naquele momento. Apesar de ser uma situação séria, o comentário de Júlia foi tão perspicaz que foi difícil não rir.

"Eu não sou fofoqueira. Pelo menos eu guardo meus segredos. Diferente de você, que nem consegue guardar os seus para si mesma", retrucou Raíssa, antes de sair. A expressão preocupada de Júlia indicava sua inquietação com Raíssa, então ela saiu correndo atrás dela.

Naquele momento, os três que restaram na mesa nos entreolhamos e acabamos rindo muito da situação, quase nos acabando de tanto rir ali mesmo.

Foi um momento complicado, Liandra estava preocupada com possíveis consequências por ter contado sobre o concurso de miss para Júlia.

Isaac se despediu, agradecendo pela conversa. Eu o agradeci e expressamos um pouco de simpatia sobre o que ele havia mencionado anteriormente. Depois que Isaac saiu, restamos apenas Liandra e eu caminhando pelas ruas. Havia uma tensão no ar, e Liandra parecia querer dizer algo, mas estava relutante.

"Quer falar algo?" perguntei, tentando encorajá-la.

"Ah, não... ou, na verdade, sim. Sabe, Paula, você e o Isaac foram meus primeiros amigos de verdade no ano passado. Nos outros anos, eram todos falsos, mal sabiam disfarçar direito", confessou Liandra.

"Entendo. É difícil, mas agora estamos aqui. Somos amigos, e estou grata por conhecê-los. Foi incrível conhecê-la. Você é incrível e sempre será. Não importa o que aconteça, vamos nos ajudar mutuamente", respondi, tentando trazer um pouco de ânimo para a situação.

Liandra sorriu de maneira verdadeira, um sorriso tão genuíno quanto a luz do sol. E eu sorri de volta, um sorriso verdadeiro, não como os forçados que eu tive que dar antes. Foi como se eu não me divertisse há séculos. O carro de Liandra chegou.

"Ah, meu carro está aqui, tenho que ir. Obrigada por ser minha amiga, Paula", disse Liandra.

"Você também", respondi.

Ela entrou no carro e se foi. Aquele dia não foi tão ruim quanto poderia ter sido. Às vezes, um pouco de diversão e uma amizade genuína podem mudar a perspectiva de um dia. Voltei para casa, vi Ana dormindo, e fui me deitar, refletindo sobre o que o amanhã poderia trazer.

Continua...