webnovel

18. Madelaine fez o que pôde...

LIZ

15 dias para o baile de inverno.

— Liz donde está su novio?

— No tengo. — Respondo a contra gosto, já tinham me feito aquela mesma pergunta alguma vezes até a manhã de Natal. Eu tinha que falar em espanhol ao menos com meus tios mais velhos que não falavam minha língua materna.

— ¿Ningún ficante?

— Ninguno, tía Janice. — Murmuro, estou estressada com minha família cubana. Não posso sair de casa e Maya só veio me ver nessa bagunça desde o dia do castigo por duas vezes.

— Pero querida, eres una chica tan bonita...

— No entiendo lo que habla, tía. — Uso a tática dos meus irmãos, depois de uns dois dias eles enjoaram das perguntas dos nossos tios mais velhos e passaram a fingir que não os entendiam o que eles falavam em espanhol.

— Mamá, ven aquí! — Uma das minhas primas, filha de tia Janice chamou. Joana mesma me disse que sabe o quão chata a mãe pode ser, ela é bem legal para ser filha da tia Janice.

Minha mãe passa por mim com os olhos estreitos, ela sabe o que meus irmãos e eu estamos fazendo, as vezes até meu pai faz isso mesmo sendo o rei da paciência.

Meus avos por parte de mãe já morreram, assim como minha avó paterna. Ainda tem o meu avô, ele vive no asilo e sempre vamos lá uma vez por semana ao menos, pelo menos quando ele está bem. Meu pai não gosta de vê-lo quando está mal, fica devastado com o estado debilitado do meu avô.

*****

Madelaine Becker

Quer ir à praia comigo?

Estou de castigo ainda...

Foda-se, vou passar aí daqui a pouco

Pegue seu biquíni

Está fazendo frio🤦‍♀️

Eu te esquento 🌚🤣

Há-há

Arrumo uma mochila pequena e visto meu biquíni mesmo que eu não esteja com intenção alguma de entrar no mar, o tempo está um pouco fechado e vento está a todo vapor do lado de fora, Madelaine está um pouco louca.

Procuro por meu pai e acho ele perto da churrasqueira.

— Los americanos no saben hacer barbacoa, sólo tiene hamburguesa en eso! — Meu tio Juan, irmão da tia Janice, reclama. A vovó nem de longe era chata feito esses irmãos dela. — Nosotros cubanos nos gusta es una buena carne gorda!

— Papá, minha amiga vai me levar para ver o vovô, eu não vou demorar... O senhor pode amenizar as coisas com a mamá?

Ele me olha e procura algum traço de mentira, eu não mentira sobre visitar meu avô, ele sabe.

— Maya vai te levar?

— Não, é outra amiga. — Respondo a sua indagação e sei que ele vai perguntar mais.

— Quem é?

— Madelaine Becker. — Ele vira alguns bifes na churrasqueira, esperando por uma explicação melhor. — Ela é uma nova amiga.

— Tudo bem pode ir.

— Obrigada.

Sorrio e beijo o rosto dele, tomando cuidado para não esbarrar na churrasqueira. A verdade é que eu estava disposta a ir ver meu avô mesmo que meu pai não deixasse. Do quintal vejo quando Madelaine parar o carro em frente à casa, saio correndo e até mesmo topo com minha mãe no caminho o que me faz correr mais.

— Vai logo! — Mando e Becker acelera animada.

— Estamos fugindo?

— Mais ou menos. — Sorrio um pouco tomada de adrenalina. — Eu preciso passar em um lugar se importa?

— Não, claro que não. — Madelaine fala e me olha por alguns segundos. — Faremos algo emocionante?

— Nenhum um pouco.

— Ah! — Ela finge está decepcionada. — Você só me dá desgosto.

— Para o carro?

Ela estranha minha pergunta do nada e encontra uma vaga para encostar.

— O que foi? — Mordo o lábio nervosa com o que se passa na minha cabeça. Madelaine está me olhando com curiosidade, me viro para ela, tiro o sinto de segurança e chego mais perto dela ficando sentada meio de lado. — Quer me beijar?

— Quero.

Madelaine me olha desconfiada, esse papel é meu se bem me recordo. Estou apenas alguns centímetros de seu rosto quando ela ri, sua boca num tom batom clarinho me chama atenção. Eu poderia perguntar qual é graça, mas aproveito para pegá-la de surpresa e lhe beijar.

Uma das minhas mãos vai para a nuca de Madelaine enquanto seus lábios estão sob o meu comando, ela me segura pela cintura e eu me afasto para sentar em seu colo.

Becker puxa meu quadril para frente um pouco forte demais e eu bato minhas costas no volante. Madelaine ri quando a buzina soa alto. Ela me olha e fala do nada:

— Pensei que estivesse gostando da Cecília.

— Acho que estou, mas não vai dar em nada. — Respondo e volto para o meu assento. — E eu só estava com vontade de beijar alguém, Madalaine, não vamos virar namoradas.

— Acho que essa fala é minha!

— Talvez... — Sorrio e volto para o assento do passageiro. — Você pode passar no lar de idosos comigo rapidinho para que eu veja meu avô?

— Claro.

*****

Meu avô estava um pouco melhor do que da última vez, por mais que ele estivesse dormindo no momento que fui vê—lo. Ele ainda estava em observação. Madelaine entrou comigo, mesmo que eu tenha dito que não precisava.

— Seu avô parece um velhinho muito gentil. — Becker sorri enquanto saímos do lar de idosos.

— Ele é, mas é muito ranzinza também. — Falo divertida, meu avô é um pouco reclamão, só que isso não afeta em nada pelo tanto que ele pode ser legal.

— Pelo menos você tem um avô legal.

— Você não tem? — Olho para Madelaine com atenção.

— Meus avos não se importam com ninguém. — Ela parece um pouco amargurada em tocar nesse assunto.

— Uau, que horrível.

— Sim. — Ficamos por algum tempo em silêncio enquanto Becker dirigia para praia, até que ela voltou a falar. — Meus avos são bem rígidos com meus pais e comigo, eles são sócios da mesma firma de advocacia... Por vezes até já cheguei a pensar que meus pais foram obrigados a se casar para manter a sociedade dos meus avos, mas isso é loucura porque meus pais não concordariam com isso.

— Loucura mesmo. — Sorrio para Madelaine quando ela ainda está balançando a cabeça em negação. — Seus pais não são como seus avos certo?

— Nem de longe, o que me surpreende bastante é eles não terem ficado iguais aos meus avos de tanto conviver com a maluquice deles. — Madelaine parece um pouco mais animada que antes. — Você deveria conhecer meus pais, eles iam adorar saber que...

Becker para de falar quando uma das minhas sobrancelhas se erguem em surpresa, ela fica envergonhada. Conhecer os pais dela? Somos amigas nesse nível já?

— Saber o quê? Continue.

Incentivo e Madelaine parece ficar com menos vergonha.

— Você quer ser advogada... — Ela termina sua fala anterior. — Meus pais vão ficar animados em saber que tenho uma amiga que vai seguir a mesma profissão que eu.

— Vai fazer advocacia? Sério?

— Liz, não me venha com estereótipos de profissão... Acha que eu faria o que da vida? Ser uma artista? — Madelaine é sarcástica comigo enquanto estaciona o carro na orla. Não é a mesma praia do dia anterior quando fomos apenas nos duas, é a praia de quando ela me obrigou a ir no luau.

— Ah... Eu não sei.

Madelaine ri e sai do carro, vou logo atrás. Está um dia nublado e o vento frio passa por nós.

— Vem, as meninas estão logo ali perto da pedra.

Ela aponta para o paredão de pedra e a baixo algumas pessoas conversando algumas de pé e outras nas cangas. Vejo duas garotas no mar, apenas elas arriscaram devido ao vento frio.

— Meninas? — Fico surpresa com a informação nova. — Pensei que fossemos só nós duas.

— Está querendo exclusividade, Liz?

Ela implica com abuso. Reviro os olhos e Madalaine gargalha.

— Você é hilaria, Mad.

— Mad?

— Não gostou? — Fico insegura sobre o apelido que nem ao menos foi planejado.

— Não disse isso. — Becker responde divertida. — Eu adorei que estamos amigas para apelidos.

Deixando a fala dela de lado, vejo que as meninas que Madelaine falou são apenas algumas da torcida. E claro que uns dois ou três garotos da escola. Começo a conversar com Ashleigh Murray, que também é da torcida e seu amigo Casey Cott.

Mandei mensagem para Maya e ela logo se animou em vir para a praia. Madelaine está rindo com Rick Mendes, eles seriam o par perfeito para ganhar de rei e rainha no baile de inverno.

Notei Ingrid Edwards só quando ela saiu da água tremendo um pouco, tinha esquecido de olhar mais de perto quem estava no mar. Cecília Castillo veio logo atrás, seu corpo até um pouco roxo por conta da água fria.

— Ingrid, onde está minha bolsa?

— Na sua canga. — Ingrid responde enquanto se embrulha em sua toalha.

— Ah. — Cecília murmura e começa a olhar em volta. — Achei!

Ela se ajoelha, praticamente cai, ao meu lado e sua bolsa estava ali o tempo todo. Estou sentada na canga dela e nem sabia, achei que fosse de Ashleigh Murray, porque quando cheguei ela estava sentada aqui com Casey.

Cecília está em um biquíni branco que realça sua pele quase dourada. Ela está ali ajoelha ao meu lado ainda mexendo na bolsa.

— Liz! — Acha sua toalha enquanto fala comigo, seu sorriso que sempre me faz pensar que ela está flertando dançando em sua boca. — Como vai?

— Estou mais ou menos... — Respondo, estou me arrependendo um pouco de ter saído de casa agora que Cecília estava me deixando nervosa com sua presença. — E você?

— Na mesma. — Cecília tenta soar divertida. — Estou um pouco pirada com a minha família.

— Nem fale! — Reviro os olhos, Cecília se enrola na toalha e continua ajoelhada. — Minha família cubana está em peso na minha casa e eles já estão me cansando.

Cecília sorri e vejo algo como reconhecimento nos seus olhos, ela está passando pelo mesmo pelo jeito. Sina Reinhart ri alto junto com Cecília Gomez e me assusta um pouco.

— Quer dar uma volta? — Cecília levanta antes mesmo de saber minha resposta. — Acho que vou congelar se continuar parada.

Abro a boca para responder, mas Cecília leva uma bolada no braço antes que eu consiga falar. Olho para trás e escuto a garota ao meu lado murmurar:

— Pendejo.

— Desculpa, Castillo. — Rick acena levemente, tenho a impressão de que a bola deveria acertar em mim.

Levanto e depois olho para Madelaine que faz um gesto com a cabeça, algo como incentivo, reviro os olhos. Cecília joga a bola de futebol de volta para Rick com um pouco mais de força que o necessário.

— Vamos.

Cecília sai na frente e eu a sigo para além do paredão de pedra. Ela parece estressada depois da bolada, quase ninguém gosta do Rick por achar ele arrogante e ela não deve ser diferente.

— Er... A bolada não foi proposital. Não em você... — Falo e Cecília para em frente a uma pedra, encostando nela para me olhar. — Madelaine queria que ele acertasse em mim.

— Sério? — Cecília me olha desconfiada. — E por que ela implica com você?

Me encosto na pedra ao lado de Cecília, não dá para ver ninguém de onde estamos porque a pedra isola essa parte de onde estávamos com o pessoal do colégio antes.

— Ela é assim. — Dou de ombros, sem dar importância; se fosse antes dela se aproximar eu responderia que ela é uma babaca. Noto que Cecília passa a mão no braço atingido pela bola. — Ficou roxo?

Cecília abaixa a toalha do braço para ver como está. Está vermelho claro, nem deve ficar roxo. Me aproximo para olhar mais e levo minha mão para encostar, Cecília a segura antes que eu encoste.

Fico corada e ela sorri enquanto abaixa minha mão ainda segurando-a.

— Sou mole para pancadas.

Cecília brinca e eu olho para seu rosto que está divertido. Acaricio sua mão, ainda junto com a minha.

— Você é uma cubana fajuta. — Brinco, Cecília balança a cabeça em concordância. Abaixo para sentar na areia, sem soltar a mão dela, se ela não está incomodada e não soltou é um bom sinal. Ela também se senta e encosta na pedra assim como eu.

— Minha abuela diria exatamente isso. — Sorrio enquanto Cecília se ajeita mais perto, parece incomodada com a areia e não é por menos afinal ela está de biquíni apenas. — Sua mamá lhe deu um bom sermão?

— Estou de castigo, acredita? — Cecília gargalha com a minha confissão. Me aproximo mais, invadindo seu espaço pessoal, Cecília para de rir e me olha. Viro seu rosto e me aproximo de sua orelha, sussurro como se fosse lhe contar um segredo: — E agora estou burlando o castigo estando aqui.

Afasto de sua orelha e Cecília me olha com um sorriso quase travesso.

— Liz Rodriguez quebrando regras?! — Ela está sendo sarcástica obviamente. — Eu não te conheço muito, mas uau...

Solto sua mão e ela rapidamente olha para a areia, depois volta a me olhar. Ela parece concentrada demais no meu rosto, o que me faz desviar os olhos para qualquer direção por alguns segundos.

Cecília suspira e eu a olho, seus olhos estavam fixados em minha boca. De todas as vezes que estivesse com Cecília essa foi a vez em que fiquei mais nervosa com sua presença.

Ela vira um pouco mais o corpo para o meu lado, me inclino e Cecília faz o mesmo. Nossos rostos estão próximos, nos olhamos por alguns segundos, ela parece querer dizer algo, mas não o faz. Posso sentir seu hálito quente tocar meu rosto, quando encosto meus dedos em sua bochecha.

Sinto que posso explodir com a sensação incomoda no meu estômago quando seus lábios estão roçando nos meus.

Estou sem pensar em qualquer outra coisa, a não ser só no que quero no momento que é beijá-la.

— Liz! Liz!

— Deixa a Liz, Maya.

— Cala a boca, Madelaine!

Madelaine fez o que pôde... Mas Maya já tinha estragado tudo.