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19. Você é a Waves?!

CECÍLIA

(29 de Dezembro) — Sexta

Agnes e Ingrid passaram na minha casa para ajudar a tolerar meus parentes; ficaram por algum tempo, mas infelizmente tiveram que ir embora.

— Una de esas era su novia? — Tio Ricardo pergunta e eu já quero revirar os olhos para ele. — ¿Es la mexicana o la negra bonitona?

— Son sólo mis amigas, yo no enamorada.

— Corta para los dos lados y no está enamorando a nadie, uh...

Eu odeio esse termo! Isso é tão preconceituoso, na minha cabeça é tanto que ultrapassa minha paciência!

— Yo no "corto para los dos lados ", tío Ricardo! No soy un cuchillo o una lámina, su entrometido de mierda.

Saio andando para a escada em direção ao meu quarto deixando meu tio na sala sorrindo, ele faz de propósito.

— Ana Cecília, venha cá e peça desculpas ao seu tio! — Minha avó aparece para defender seu filho querido.

— Eu não vou pedir desculpas para ninguém! — Dito com raiva, minha avó fica vermelha. Ela sempre quer mostrar a todos que somos educadas só porque mora com minha família, mas da única que consegue isso é de Daise. — Quando ele passar a respeitar minha orientação talvez eu o trate melhor!

— O que está acontecendo aqui?

Minha mãe aparece e fica preocupada com a situação. Ela me olha, depois para minha avó e por último para seu irmão.

— Nada de mais, só não me respeitam de forma alguma, mamá. — Talvez eu esteja sendo mais dramática que o necessário, mas me sinto horrível mesmo por não ter respeito.

— Vocês dois podem perturbar a vida do pobre Miguel por ele ser gay, mas aqui dentro da minha casa ao menos vocês tratem minha filha com respeito! — Minha mãe quase avança no meu tio, ela sabe que minha avó dá muito apoio a ele.

— Foi só uma brincadeira, Miranda.

— Se ela não gosta, não é uma brincadeira saudável! — Minha mãe aponta para mim, ela olha com irritação nos olhos do meu tio. — Que merda, Ricardo!

— Desculpa, Cecí...

Ele pede e até parece ressentido, mas espere até a próxima oportunidade. Mas minha mãe ainda não terminou.

— E a senhora, mamá, que não pare de implicar com Cecília para ver se não te mando de volta para Cuba.

— Ah mas...

— Eu não quero saber, mamá! — Minha mãe corta a fala da minha avó. — E é manhã de Natal! Dá para vocês terem a decência de para de pegar no pé de qualquer um que verem pela frente?

Mamãe fala e eu vejo minha oportunidade de chegar até meu quarto. Suspiro cansada, destravo meu celular e dou de cara com uma foto de Liz no Instagram, ela quase nunca publica nada então fico muito surpresa.

Fico admirando suas sobrancelhas falhinhas no começo, o piercing no nariz e os dentes grandes da frente que na verdade são tão fofos que eu me acho trouxa por citar isso.

Um corpo cai na minha cama, ao meu lado, sei que é Miguel porque ele é o único que eu realmente não me importo em ter no meu quarto por ser um ótimo primo.

— Essa é a sua garota?

Felizmente não preciso ficar falando em sua língua natal (o que também é a minha) o tempo todo.

— Essa é uma líder de torcida hétero. — Simplifico para que ele não crie esperanças e nem me faça cria-las também. — Não tenho garota alguma.

— Nossa, está fodida. — Miguel ri com um pouco de amargura, ele com certeza tem suas quedas héteros. — Sinto muito, prima, ela é linda.

Lhe dou um sorriso desanimado e clico no perfil de Liz.

— Olha...

— Caramba! — Miguel toma o celular da minha mão e começa a olhar todas as fotos. Para em uma que Liz está com sua amiga Rafa Chávez bebendo e com uma pinhata de unicórnio (com as cores do arco-íris) entre elas. — Tem certeza que ela é totalmente hétero?

— Nunca ouvi boatos dela. — Miguel murmura algo e continua olhando as fotos. — Você só está julgando isso porque tem aquele cavalinho com as cores do arco-íris ali.

— Então, isso é um unicórnio... — Miguel está tentando me convencer. — Olha essa...

Ele aponta para a foto que Liz veste uma jaqueta de couro e uma blusa de banda bastante surrada.

— Jaqueta de couro e blusa de banda não faz de ninguém nenhum pouco gay!

— Se você diz, eu desisto!

Miguel finge estar cansando de insistir e me entrega o celular. Meu próximo comentário é desnecessário mais para minha mente que adora criar esperanças do que para o do meu primo.

— Mas nunca se sabe porque ela está andando com Madelaine Becker e essa adora um rabo de saia.

— Viu, insiste... Quem sabe no próximo Natal ela não pode estar aqui para nos ajudar com os parentes chatos.

— Ela não merece esse fardo. — Brinco e Miguel implica que estou protegendo—a. — Mudando de assunto... Você precisava ver a surra que Liz deu na garota da...

Na verdade, eu não mudei de assunto, apenas mudei de tópico sobre Liz...

*****

— Liz! Liz!

— Deixa a Liz, Maya.

— Cala a boca, Madelaine!

Estava prestes a beijar Liz! Caramba, eu odeio um pouco Maya por ter nos interrompido.

Liz levanta afobada, ela está vermelha e parece um tanto assustada. Levanto também enquanto ela bate a areia de sua roupa, me enrolo novamente na toalha e tremo um pouco quando um vento gelado passa por nós.

— Er... Vamos?

Liz não me olha nos olhos e ainda está corada, pego em sua mão direita e ela não faz menção de soltar o que me agrada muito. Ela me guia para a frente da pedra onde alguns burburinhos vêm das vozes de Madelaine e Maya (aparentemente discutindo aos sussurros).

— Liz. — Aperto sua mão na intenção de fazê-la parar de andar. — Posso...

— Não agora, Cecília.

— Ei, vocês! — Madelaine olha nossas mãos juntas e algo passa que não sei identificar passa em seus olhos.

— Interrompi algo?

— Nada a interromper, Maya. — Liz responde seca, isso me afeta um pouco, mas como ela não larga minha mão sinto que ela apenas tenta fazer Maya não continuar com as perguntas.

— Hã... — Maya está desconfiada.

— Vamos indo. — Madelaine lança um olhar para Maya, Liz parece menos assustada.

Maya nos olha novamente e depois sai andando com capitã das líderes de torcida. Tremo mais uma vez e Liz me olha, ela solta minha mão e começa a tirar sua blusa de moletom.

— Não precisa, Liz.

— Você vai pegar um resfriado... — Liz tira o moletom e faz um gesto para que eu tire a toalha dos ombros. — Veste logo. — Ela olha meu corpo rapidamente antes de me entregar o moletom.

Liz Rodriguez está me admirando, quando eu poderia imaginar isso?

— Obrigada.

Agradeço e me aproximo para lhe agradecer, Liz fica paralisada; acho que ela tem medo de que eu a beije, mas apenas faço isso em sua bochecha.

— Vocês estão vindo de tartaruga?

Maya grita mais à frente, Madelaine empurra ela e diz alguma coisa que não escuto.

Liz praticamente senta no colo de Maya, ela não me deixa totalmente de lado, porém não me olha muito durante o resto do tempo que fico na praia.

*****

— Los jóvenes hoy en día no se ligan por nada.

— Mucho menos para Dios... Lo que estoy hablando en serio.

Minha avó começa a falar, minha mãe não fala e continua a comer. Estamos em mais de 10 pessoas envolta da mesa do lado de fora da minha casa.

Estou de saco cheio da minha avó e do meu tio Ricardo. Meus outros tios Idania e Ernesto são legais e bem mais mente aberta, não me admira que tio Ricardo nunca encontrou ninguém para se casar.

— Yo no entendí a esa generación, ellos no piensan bien.

Meu tio continua, ninguém alem dele fala com minha avó, eles têm a mesma cabeça retrograda que fica inventando bobeira para pensar.

— ¡Dejen de hablar mierdas por Dios! — Não sou eu quem grita irritada e sim Arianna. Ela é filha de tio Ernesto e irmã de Miguel, minha prima sempre apoia o irmão e tem praticamente odeia tio Ricardo, assim como eu.

— Ari... — Tio Ernesto fala de forma educada num pedido com olhar para a filha se controlar. Ele poderia gritar com a filha, mas sabe que ninguém se irrita por nada com vovó e tio Ricardo.

— Lo siento, papá.

— Es hora de comer, usted puede dejar de criticar todo? — Minha mãe pergunta e ao mesmo tempo usa o tom de repreensão.

Meu pai me olha, ele está sentado entre minha mãe e Daise, e me avalia para ver se estou bem, ele sabe o quanto minha avó me irrita.

— Posso ir para o quarto?

Eu poderia falar em espanhol, mas não vejo necessidade disso. Meu pai balança a cabeça, todos na mesa me olham, isso não foi tão boa decisão quanto achei que fosse pois chamou mais atenção.

*****

oitnbguezz

Eu quero deixar tudo de lado

Quer fugir comigo?

O quê?

Aconteceu algo?

Eu só quero sumir

Quer vir comigo ou não?

Está usando drogas e quer minha companhia? Há-há

Não estou brincando, Waves

Vou sair de casa por alguns dias

Acho que você é a pessoa que eu preciso por agora para me fazer companhia

Mal nos conhecemos e você não me

julga nunca

Isso é loucura

Eu sei

Se não quiser ir tudo bem, eu

entendo

Mas quiser apareça até as 7 em

frente à escola

Tudo pode dar errado, mas ainda é

um risco a correr

Eu adoro loucuras

Não se preocupe

Tudo vai dar certo :)

*****

— Ingrid, eu preciso da sua ajuda.

Minha amiga me olha preocupada porque eu ainda nem entrei em seu quarto e já está pedindo algo.

O último dia que vi Ingrid foi na praia quando quase beijei Liz, desde então não a vi porque estamos nas "férias de inverno" e não pude sair de casa por ter parentes a cada metro quadrado lá.

— Fala logo com o que precisa de ajuda, Ceci.

Sento na cama de Ingrid que me olha nervosa. Suspiro, não sei se é uma boa ideia sinceramente, mas...

— Eu preciso que diga para minha mãe que nós duas vamos viajar. — Falo e minha amiga continua me olhando confusa. — Eu vou viajar com uma pessoa e volto em alguns dias.

— Para onde você vai?

— Eu... Não sei. — Respondo incerta e já seu que vou ter um questionário em seguida.

— E com quem vai viajar?

— Bem... — Minha garganta fica até um pouco seca porque afinal não sei como responder, porque não sei a resposta. — Com uma garota.

— Que garota, Cecília? — Ingrid levanta da cama e caminha de forma dramática perto da cama. — Você não me falou de ninguém.

— Eu não a conheço bem...

Murmuro e Ingrid parece que vai surtar (um pouco de exagero da parte dela).

— Que garota? — Ela insiste. — Qual o nome da garota, Cecília?

— Eu não sei o nome dela, está bem!

Admito por fim e isso só piora, Ingrid fala quase em um falsete:

— E vai viajar com ela mesmo assim? Está louca?

— In, estou te pedindo apenas para falar com a minha mãe se ela perguntar que fomos para Orlando de novo. — Explico, Ingrid me encara como se eu fosse uma louca (talvez eu seja). — Eu juro te mandar mensagem o tempo todo para lhe informar se estou bem.

— Isso é loucura! — Ingrid aponta o dedo no meu rosto, o que me perturba um pouco porque acho exagerado o drama que ela faz. — Que horas você vai e onde vai esperar essa pessoa?

— Para que quer saber disso?

— Me fala isso ou te entrego para seus pais. — Ingrid cruza os braços e me encara com superioridade.

— Você venceu.

Suspiro derrotada.

— Ainda acho uma loucura, sua perturbada!

*****

O dia foi frio demais, nem parece Miami. Choveu um pouco durante a tarde, mas no momento não chove. O céu já está escuro, são quase 7 da noite e estou virando a esquina para escola.

Ingrid queria me colocar no carro da Waves ou melhor nem me deixar ir. Minha amiga ficou na rua do lado do colégio, por insistência minha. Na parte de trás da escola no campo, está acontecendo o último jogo de futebol do ano no colégio, então na frente dela tem alguns carros estacionados.

Ingrid devia ao menos aparecer no jogo, por ser líder de torcida. Então assim que sai do carro ela deve ter corrido para o campo.

Qual é o seu carro?

Você vai?

Sério?

Vou

Não vou te deixar fazer uma loucura sozinha

Antes da faixa, em frente à

escola

Suspiro e sinto meu estômago quase congelar quando olho para frente e três carro a frente tem um carro prata. Não se parece com o que imaginei e eu imaginei muitos carros; quase todos eles eram carros mais velhos e não um modelo novo feito aquele.

Caminhei apressada e parei um metro atrás do carro da faixa, respirei fundo. Tentei ver algo lá dentro, mas os vidros eram escuros e não pude ver nada. Algumas gotas finas de chuva começaram a cair e tomei coragem para bater no vidro da frente.

A porta de trás foi destravada e abriu minimamente, não vou mentir que estava com medo. Mas também estava muito curiosa; tirei minha mochila das costas, abri mais a porta e entrei com de cabeça baixa no carro.

Assim que fechei a porta olhei para frente e vi dois rostos conhecidos,

— Cecília? — Eu não poderia estar mais surpresa por estar no carro de Maya Turner com Liz Rodriguez. — Oh, merda... Você é a Waves?!

Liz não estava perguntando, estava somente surpresa demais.

— Sou.