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Uma Estrela, uma Sombra, um Oráculo e seu Amigo Imaginário

Sunny estava começando a se acostumar com conversas no escuro. A ausência de luz parecia trazer uma honestidade inesperada às pessoas, como se a escuridão fosse um véu que as encorajasse a baixar a guarda. Ele se lembrava de como, durante os blecautes da infância, sua família acabava reunida, conversando por horas sem distrações. Agora, naquele momento, sentia uma estranha nostalgia daqueles tempos.

"Já que vamos depender uns dos outros," começou, quebrando o silêncio, "devemos compartilhar quais habilidades e Memórias temos à nossa disposição?"

Era uma sugestão lógica. Conhecer os pontos fortes uns dos outros era essencial para trabalhar juntos. Ainda assim, ele percebeu a expressão de Nephis endurecer ligeiramente – um olhar cauteloso que ela tentou esconder. Cássia, sentada ao lado de Ariandel, também parecia hesitante, mas não demonstrava tanto desconforto.

Ariandel interveio suavemente antes que a tensão se aprofundasse. "É uma ideia sensata. A transparência pode nos salvar de mal-entendidos futuros."

A calma de sua voz parecia dissipar qualquer resistência. Sunny estreitou os olhos para ele, desconfiado. Havia algo perturbadoramente natural na forma como Ariandel conquistava a confiança das pessoas.

"Eu começo," disse Sunny, preferindo tomar a dianteira. "Meus atributos me dão afinidade com sombras e... um toque de algo divino, acho." Ele tentou manter o tom casual, mas não pôde evitar um sorriso irônico. "Ah, e aparentemente tenho um talento especial para me meter em situações improváveis."

Ariandel riu com um tom agradável. "Podemos confirmar a parte das situações improváveis."

Cássia, inclinando ligeiramente a cabeça, acrescentou com um sorriso tímido: "Sim, ele está dizendo a verdade. Não que alguém tenha questionado isso…"

Sunny arqueou uma sobrancelha, intrigado. "Como você sabe?"

"Minha habilidade," explicou ela com simplicidade. "Consigo 'ver' os atributos das pessoas. Também recebo visões, de vez em quando."

Ele manteve o rosto impassível, mas, por dentro, sentiu um arrepio. 'Ótimo, uma espécie de oráculo. Maravilha… mais um tipo de pessoa para eu ter cuidado com o meu segredo.'

"Interessante," respondeu ele casualmente. "Agora, minha habilidade: minha sombra pode se mover sozinha. Ela explora e me passa o que vê e ouve. É ágil, furtiva, quase impossível de ser detectada. Ah, e posso enxergar no escuro."

Nephis observava Sunny com atenção calculada, sem dar qualquer pista de seus pensamentos. Cássia, por sua vez, parecia mais à vontade, embora ainda reservada.

Já Ariandel, ele tomou a palavra de maneira despreocupada: "Bem, meus atributos me conferem alta afinidade com o destino e o divino, aprimoram minha mente e fortalecem sua resiliência."

Fez uma pausa, escolhendo as palavras. "Meu Aspecto me permite projetar ilusões – algumas tangíveis, outras não – e me tornar praticamente invisível à percepção humana. Além disso, não possuo necessidades fisiológicas e tenho um sexto sentido que me permite perceber presenças próximas."

Sunny sentiu o estômago revirar. 'É isso! Esse bastardo florido é o favorito do Feitiço. Que tipo de insanidade é essa?!'

"Quanto às Memórias," continuou Ariandel, como se não notasse a tensão de Sunny, "possuo um Arco Desperto que cria suas próprias flechas."

Cássia sorriu para ele, claramente à vontade em sua presença. Nephis, por outro lado, manteve-se impassível, observando Ariandel com renovado interesse.

Como era a sua vez, ela declarou de forma prática: "Meus atributos me dão afinidade com luz e fogo. Também possuo uma conexão com o divino."

Manteve uma pausa breve, quase imperceptível, antes de acrescentar: "Tenho duas Memórias: uma espada afiada que protege contra ataques à alma e uma armadura com um forte encantamento defensivo."

Seus olhos percorreram o grupo por um instante, tentando perceber algo através da escuridão, antes de completar, com a mesma praticidade: "Minha habilidade pode ser usada para curar."

Sunny a observou em silêncio, percebendo como suas palavras eram cuidadosamente escolhidas, revelando apenas o essencial. Não sabia se essa era apenas uma questão de reserva ou se havia algo mais que ela preferia esconder.

No entanto, antes que pudesse digerir totalmente suas palavras, Cássia pigarreou suavemente. "É minha vez? Meus atributos me dão afinidade com revelações e destino." Sua voz era hesitante, mas firme. "Minha habilidade é limitada, como mencionei antes. Quanto às Memórias, tenho três: um bastão que pode criar vento, a garrafa e esta Armadura Desperta, que oculta minha presença."

Ela fez uma pausa e, quase imperceptivelmente, virou o rosto na direção de onde sentia a presença de Ariandel. "Foi Aria quem me deu, quando nos conhecemos."

Sunny arqueou uma sobrancelha, mas manteve-se em silêncio. 'Então ele deu uma armadura de Ranque Desperto para a cega. Que generoso, hein? Ou talvez ele seja simplesmente arrogante…'

Depois de um momento de silêncio, Sunny comentou casualmente: "Bom. Acho que temos ferramentas suficientes para nos manter vivos, se usarmos bem o que temos."

Ariandel assentiu. "Concordo. Embora precisemos de tempo para aprender a trabalhar juntos."

Nephis permaneceu em silêncio por um instante antes de finalmente se manifestar. "Eu fico de vigia primeiro."

Sunny, querendo demonstrar utilidade, disse: "Minha sombra pode nos avisar se algo acontecer. Ela não dorme."

Nephis respondeu com um sorriso leve, quase zombeteiro. "Ainda assim, prefiro fazer isso."

Sunny suspirou, mas não insistiu. 'Como quiser. Só espero que saiba o que está fazendo. Não quero acabar sendo mordido por alguma aberração no meio da noite.'

E então, de repente, ele estremeceu.

'Espera... isso não foi uma bandeira de morte, certo? Certo? Claro que não...'

***

O sono escapava de Sunny. Sentado na escuridão, ele ouvia o murmúrio distante das ondas quebrando nos corais. O frescor do ar noturno fazia sua mente vaguear pelas memórias recentes e pelos rostos que agora o acompanhavam. Ele estava vivo, quente e, por enquanto, seguro. Isso era mais do que podia esperar.

À distância, Ariandel estava inclinado casualmente em uma cadeira aparentemente confortável demais para o cenário. Aquele cara tinha projetado aquilo, Sunny agora entendia de onde saiu algo tão ultrajante. E não pôde deixar de se ressentir do bastardo florido novamente: 'Essa túnica que ele está vestido deve vir da mesma origem, e o bastardo nem precisa se preocupar com o que comer e beber! Serio, que ridículo esse Aspecto!'

Os olhos iridescentes de Ariandel brilhavam fracamente, um contraste marcante com a escuridão ao redor. Aquilo incomodava Sunny. Mesmo sendo quase impossível para alguém enxergar ali, Ariandel trazia a inquietante impressão de saber exatamente onde todos estavam e o que estavam sentindo. 'Foi assim que ele me detectou.'

Cássia estava deitada mais distante; logo, o ritmo de sua respiração mudou, indicando que ela havia adormecido. Do outro lado do acampamento, Nephis estava em vigília, com os olhos cinzentos voltados para a escuridão, mas alheia à eles. Sunny sabia que ela ainda estaria ouvindo; nada escapava à sua atenção.

O silêncio entre ele e Ariandel se estendeu até que Sunny cedeu. Ele falou em voz baixa, sua própria sombra pairando em alerta ao seu lado.

"Então, você está se sobrecarregando com Cássia. Por quê?"

Ariandel moveu seus lindos olhos em sua direção, sem surpresa com a pergunta direta. Então deu uma risada leve, suas feições divertidas com alguma ironia que só ele reconhecia.

"Por que eu quero," disse ele, a simplicidade de sua resposta quase desarmante.

Sunny estreitou os olhos, não convencido.

"Sério? É só isso? Não porque achou que ela seria útil ou alguma coisa assim?"

O sorriso de Ariandel permaneceu, mas sua voz agora carregava uma convicção velada.

"Não. Ainda que eu veja potencial no Aspecto dela, isso é secundário. Ela precisava de ajuda, eu podia oferecer. Então, ajudei."

Sunny sentiu o já familiar incômodo brotar, provocado pelo abismo entre suas perspectivas. Ele tentou conter o cinismo natural, mas a resposta ácida escapou antes que pudesse evitar:

"Esse tipo de ingenuidade vai acabar te matando, sabia?"

O sorriso de Ariandel se alargou, e os padrões em seus olhos cintilaram sutilmente. "Talvez. Mas essa mesma ingenuidade é o que me dá força."

Depois disso, ele se virou e recostou a cabeça. Repousando silenciosamente sob o céu sem estrelas.

Parecia que a conversa deles havia terminado.

Resmungando internamente, Sunny se deitou e tentou dormir. Algo no tom de Ariandel parecia profundamente genuíno, mas ainda assim, Sunny não confiava nele completamente. O homem era um mistério, e mistérios, no Reino dos Sonhos, podiam ser perigosos. 'Não é ciúmes... é apenas precaução!'