webnovel

Encarando a Verdade

O som leve da minha mãe batendo na porta do quarto me tirou de um sono agitado. Não era exatamente o tipo de sono que descansava, mais como um estado em que minha mente rodava, remoendo os mesmos pensamentos de sempre. Eu me sentei na cama, esfregando os olhos enquanto ouvia a voz dela.

— Shin, já está quase na hora de você ir. Não se esqueça de levar tudo! — Ela me lembrou, sempre atenta aos detalhes, como as mães costumam ser.

Suspirei, olhando para a mochila no canto do quarto. Estava aberta, e metade das coisas ainda estava espalhada pelo chão. Eu não tinha terminado de arrumar.

Levantei devagar, me arrastando até a mochila e começando a jogar as roupas lá dentro sem muito cuidado. Minha mente continuava longe, presa nos pensamentos sobre a viagem e... outras coisas.

Enquanto eu terminava de colocar as últimas roupas na mochila, Hana abriu a porta do meu quarto. Ela entrou no quarto com um sorriso curioso, pulando para a beira da cama como costumava fazer

— Shin, você vai trazer algo legal de Kyoto pra mim? — Ela perguntou, com os olhos brilhando de expectativa.

Eu sorri, mesmo com o peso dos pensamentos me apertando o peito.

— Claro que vou, Hana. O que você quer? — perguntei, tentando parecer animado.

— Algo doce! Ou... ou um boneco bem fofo! Ou então um... — Ela continuou, empolgada, balançando as pernas enquanto me olhava.

Afaguei o topo da cabeça dela, bagunçando seus cabelos.

— Pode deixar, vou trazer o melhor presente, tá bom?

Enquanto ajustava a alça da mochila, ouvi passos leves se aproximando. Minha mãe apareceu na porta do quarto com um sorriso suave, aquele típico sorriso de mãe que misturava cuidado e orgulho.

— Já está pronto? — perguntou ela, seus olhos analisando o quarto e certificando-se de que eu não tinha esquecido nada importante.

— Sim, acho que sim. — Respondi, jogando a mochila sobre os ombros.

Ela se aproximou e ajeitou o casaco que eu estava vestindo, seus olhos, normalmente tranquilos, refletiam uma leve preocupação, embora ela tentasse esconder.

— Vai se cuidar, tá? E se divirta bastante. — Sua voz era suave, mas cheia de carinho. — E não se esqueça de ligar quando chegar. Quero saber como foi a viagem.

Eu sorri, tentando tranquilizá-la.

— Pode deixar, mãe. Vou ligar assim que chegar.

Ela deu um leve suspiro, como se ainda quisesse me dizer algo, mas apenas sorriu de novo, dessa vez com mais ternura. Antes de eu sair, me puxou para um abraço rápido, daqueles que transmitem mais do que qualquer palavra poderia dizer.

— Aproveite a viagem, Shin. — Ela disse baixinho enquanto me soltava.

Com um último olhar de despedida, saí de casa logo depois.

Quando fechei a porta atrás de mim, senti o ar fresco da manhã me envolver, e, como esperado, Kaori já estava do lado de fora, me esperando com o sorriso animado de sempre.

— Até que enfim, hein? Eu tava achando que você ia perder o ônibus! — Ela disse, cruzando os braços de brincadeira.

Eu dei um sorriso cansado, me aproximando.

— Demorei um pouco pra terminar de arrumar as coisas. — Respondi, sem muita empolgação.

Ela me olhou com atenção por um segundo, como se soubesse que havia algo mais por trás da minha demora. Mas, em vez de pressionar, apenas deu um leve tapa nas minhas costas.

— Relaxa, Shin! Essa viagem vai ser incrível. A gente vai esquecer todos os problemas por alguns dias. — Ela piscou para mim. — Bem, se o Kazuki não aparecer, claro!

Ri com a piada, mas ela sabia que, mesmo com aquela brincadeira, meus pensamentos estavam longe de serem leves.

— Falando nisso, onde estão Seiji e o Rintarou? Achei que eles iam esperar aqui...

— Ah, eles tiveram que ir ajudar Akira com a mala dele, aparentemente, ele vai levar uma mala gigante!

— Entendi, típico dele... — respondi dando uma leve risada.

Nós dois seguimos em direção à escola, e durante o caminho, Kaori tentou puxar conversa sobre as coisas que ela estava animada para fazer em Kyoto. Eu a ouvia, mas minha mente ainda estava em outro lugar.

Chegando à escola, a atmosfera já era outra. Os alunos estavam agitados, carregando mochilas e malas enquanto conversavam animadamente. Havia uma energia no ar que era difícil ignorar, mesmo com tudo o que passava pela minha cabeça.

Logo encontramos Seiji, Rintarou, outros estudantes e o restante do clube, todos com expressões animadas, prontos para a viagem. A expectativa no ar era quase palpável, especialmente para Seiji, que já estava fazendo piadas sobre o que pretendia fazer assim que chegássemos a Kyoto.

— Eu já tô sonhando com o ramen! — Seiji disse, esfregando as mãos com um brilho de empolgação no olhar. — Kyoto é famoso por isso, né? Vou comer uns três de uma vez!

— Três? — Akira riu, colocando a mão no ombro de Seiji. — Cara, com a sua fome, isso aí é só o lanche.

Takeshi suspirou.

— Você só pensa em comida, Seiji. Será que vai conseguir aproveitar a viagem além de comer? 

— Claro que sim! — Seiji retrucou, rindo como se isso fosse óbvio. — Mas, cara, a comida vem primeiro! Prioridades, entendeu?

— É, você só não vai conseguir fazer as atividades se estiver tão pesado depois de comer tudo isso! — Akira provocou, cruzando os braços com um sorriso malicioso. — Imagina só você no meio de um templo, sem conseguir andar porque comeu demais.

— Ah, não exagera! Eu vou caminhar tranquilo... entre uma tigela e outra, claro. — Seiji deu uma risada, sem perder o bom humor.

Enquanto eles continuavam a discutir sobre a quantidade de comida que Seiji poderia consumir em Kyoto, Sora se aproximou, com seu jeito tímido, mas sempre curioso.

— Vocês acham que lá tem alguma sobremesa famosa? — Ela perguntou, os olhos brilhando. — Eu ouvi dizer que o matcha de Kyoto é o melhor do Japão... talvez eles tenham doces com isso. Adoro matcha!

Matcha, hein? — Akira balançou a cabeça com uma expressão pensativa. — Tá aí uma coisa que eu gostaria de provar. Mas, Sora, você pensa em mais alguma coisa além de sobremesa? — Ele perguntou, rindo.

Sora ficou vermelha, mas respondeu com firmeza.

— Não é só sobremesa! É cultura também! A culinária diz muito sobre a história de um lugar, sabia? — Ela explicou, com as mãos gesticulando para enfatizar suas palavras.

— Viu só? — Seiji entrou na conversa, com um sorriso presunçoso. — A Sora me entende. A comida é parte da experiência cultural, Akira. Então, basicamente, comer três tigelas de ramen é o mesmo que... fazer um tour histórico. — Ele disse, balançando a cabeça como se tivesse acabado de fazer uma grande revelação.

Todos riram, mas Kaori bateu de leve nas costas de Seiji.

— Tá vendo? Pelo menos alguém pensa como você! — Ela riu junto. — Mas, pessoal, Kyoto não é só comida, né? A gente tem que explorar os templos, as ruas antigas... ah, eu mal posso esperar pra tirar várias fotos! Vai ser lindo!

— Isso se o Seiji não comer tudo antes de a gente conseguir ver os templos... — Akira murmurou, arrancando mais risadas do grupo.

Eu ri junto com eles, mesmo que por dentro ainda estivesse distante.

Logo o ônibus chegou, e os professores começaram a organizar os alunos para a partida. Kaori, que estava perto de mim, se virou para mim com um sorriso travesso.

— Quem será que vai sentar do seu lado, hein? Vai que... é a Yuki? — Ela deu uma risadinha e cutucava meu braço.

Dei de ombros, tentando não demonstrar a tensão que aquilo me causava.

— Tanto faz... — Respondi, mas ela percebeu.

Enquanto subíamos no ônibus, vi que acabamos nos separando. Kaori sentou-se na minha frente com Seiji, e eu acabei ao lado de Rintarou. A viagem começou, e, aos poucos, o ambiente dentro do ônibus foi ficando mais leve. Seiji e Kaori, Akira e outros da turma, já estavam falando alto sobre o que pretendiam fazer na viagem, e suas vozes, junto com as risadas dos outros alunos, preenchiam o ar.

Mas eu estava quieto, olhando pela janela, observando a paisagem que passava rápido. Era como se o movimento das árvores e dos prédios lá fora combinasse com a agitação que eu sentia por dentro.

De repente, Rintarou interrompeu meu silêncio.

— Você parece inquieto, Shin — ele disse, olhando para mim. — Está tudo bem?

Eu me virei para ele, tentando pensar em algo para dizer que não fosse a verdade.

— Só... tô pensando no que fazer em Kyoto. — Respondi, dando um leve sorriso.

Ele me olhou por alguns segundos, até se virar.

— Entendi... essa viagem é uma boa oportunidade para você descansar. Talvez isso ajude a clarear as ideias.

Eu sabia que ele estava certo, mas não conseguia me livrar da tensão que eu sentia ultimamente.

Então olhei para o fundo do ônibus, e lá estavam Kazuki e Yuki. Kazuki, como sempre, parecia à vontade, rindo e conversando com os amigos. Mas Yuki... ela continuava distante. O olhar dela estava preso em algum lugar fora da janela, como se estivesse em outro mundo.

Aquilo me incomodava profundamente. Ela não era assim.

Enquanto eu tentava lidar com a confusão na minha cabeça, Kaori, que estava à minha frente, surgiu por cima do banco com aquele sorriso travesso de sempre.

— Ei, vamos animar as coisas aqui! — ela disse, com um brilho de empolgação nos olhos. — Que tal cantarmos algo? Quem sabe uma música super brega de karaokê pra descontrair?

Seiji foi o primeiro a morder a isca, como sempre.

— Isso! — exclamou, com uma risada. — Uma música que ninguém conhece, só pra ver quem canta pior! Aposto que eu ganho fácil! — Ele piscou para nós, confiante como sempre.

Akira, que estava logo atrás, se inclinou para frente com um sorriso malicioso.

— Eu acho que vai ser difícil superar a voz do Seiji, mas posso tentar competir. Quem sabe não descubro meu talento escondido pra canto e me torno um ídolo do J-pop? — Ele piscou, arrancando risadas de todos ao redor.

Antes que alguém pudesse falar algo, Yumi, que estava duas fileiras à frente, se levantou com uma expressão exageradamente séria.

— Se é karaokê, então eu vou participar! — disse ela, dramaticamente, já se preparando para soltar a voz. — Eu desafio qualquer um a me vencer! Quem vai ser o corajoso?

O ônibus explodiu em risadas, mas antes que qualquer um pudesse se manifestar, Aiko, que estava no fundo, saltou de seu assento com os olhos brilhando de competitividade.

— Ah, agora sim! Isso não vai ser só uma competição de quem canta pior — ela anunciou, com o dedo em riste. — Vai ser uma verdadeira batalha de talento! Quem ganhar, escolhe o próximo desafio da viagem! — Ela estava totalmente dentro da brincadeira, como sempre.

Eu ri, tentando relaxar e me deixar levar pelo momento. A confusão na minha cabeça ainda estava lá, mas, pelo menos por alguns minutos, aquela energia leve e descontraída do grupo me fez esquecer um pouco dos meus problemas.

Seiji logo se virou para Kaori.

— E aí, Kaori? Qual vai ser a primeira música? Só não escolhe algo muito difícil, porque minha voz não tá no melhor momento — disse ele, já rindo de si mesmo.

Kaori, sempre animada, começou a navegar pelo seu celular em busca de uma música enquanto ria da situação.

— Que tal essa? — Ela mostrou a tela para Yumi, que arregalou os olhos.

— Ah, essa é clássica! Mas ninguém vai conseguir fazer melhor do que eu, desculpa, gente — disse Yumi, convencida, já se aquecendo como se estivesse prestes a se apresentar em um palco.

O desafio estava lançado. Yumi começou a cantar, com sua voz fina, mas surpreendentemente afinada. Ela claramente sabia o que estava fazendo, e todos ao redor começaram a aplaudir e rir, acompanhando o ritmo da música com palmas e gritos de incentivo.

Akira, que não se deixava intimidar por nada, começou a cantar também, mas de um jeito totalmente descompassado de propósito, só para arrancar mais risadas. Ele gesticulava exageradamente, como se estivesse em um palco de verdade, e todos no ônibus estavam se dobrando de rir.

— Minha vez agora! — gritou Aiko, empolgada, pegando o microfone improvisado de Seiji. Ela começou a cantar com toda a seriedade do mundo, mas sua voz estava completamente fora do tom, o que fez o ônibus inteiro explodir em gargalhadas.

Akira, sempre com piadas na ponta da língua, balançou a cabeça.

— Aiko, eu odeio te dizer isso, mas... a música acabou de morrer, e foi sua culpa — brincou ele, fazendo mais pessoas rirem.

Kaori, vendo toda aquela bagunça, decidiu entrar na brincadeira também. Ela pegou o celular e começou a cantar uma música super animada e brega, com tanta energia que contagiou todo o ônibus.

— Todo mundo, agora! — gritou ela, e logo todos estavam cantando juntos, batendo palmas e rindo. Até quem estava relutante no início, como Mai, acabou se rendendo e cantou, mesmo que só murmurando as palavras.

O clima no ônibus estava leve e cheio de alegria. Olhei ao redor, e por um momento, a tensão que eu vinha carregando parecia mais distante. Ver todos tão animados, rindo e se divertindo, me fez perceber que talvez, só talvez, eu estivesse levando algumas coisas mais a sério do que deveria.

O trajeto continuou até que o professor se levantou e pegou o microfone do ônibus, pedindo a atenção de todos.

— Certo, pessoal, estamos chegando a Kyoto! — Ele disse, sorrindo. — Quando desembarcarmos, quero que todos fiquem juntos e sigam as instruções, ok? Nada de se perder por aí. Vamos deixar as malas no hotel e depois exploraremos um pouco a cidade.

Os alunos responderam com animação, e eu senti uma pontada de ansiedade se misturar à empolgação.

Assim que o ônibus parou e todos começaram a descer, os professores continuaram a passar as instruções enquanto nós seguíamos para o hotel.

A cidade de Kyoto, com suas ruas antigas e templos à distância, parecia vibrar com uma energia diferente, como se fosse um lugar entre o antigo e o moderno, o passado e o presente.

Chegando ao hotel, os alunos foram divididos em grupos para os quartos, e Kazuki, sendo o representante da turma, já estava organizando tudo.

Ele parecia no controle de tudo, como sempre.

Quando ele terminou de falar, vi minha oportunidade de ouro. Tentei me aproximar dele, pensando que, dessa vez, teria a coragem de perguntar sobre os rumores.

— Kazuki, eu preciso saber se... — chamei, reunindo a coragem.

Ele olhou para mim, curioso, mas antes que eu pudesse continuar, ele foi chamado por alguns garotos, e se afastou antes que eu pudesse terminar minha frase.

Fiquei parado ali, vendo-os desaparecer pelo corredor. A oportunidade havia escapado, mais uma vez. Da mesma forma.

Kaori, que estava passando pelo corredor, enquanto comia algo, se aproximou de mim.

— Hmm, você precisa resolver isso logo. Ficar preso nesses pensamentos vai te matar aos poucos. — Ela disse, séria, mas com aquele toque de gentileza que só ela tinha. — Se quiser, eu posso arranjar uma conversa tranquila com o Kazuki, sem interrupções. O que acha?

Eu hesitei, sem saber se queria mesmo ouvir as respostas. Mas agradeci.

— Eu vou... pensar nisso. — Respondi, sem muita certeza.

Mais tarde, depois de explorarmos um pouco da cidade e jantar, eu me vi incapaz de dormir. Seiji e Rintarou já estavam em suas camas, cansados pela viagem, mas eu não conseguia relaxar.

Saí do quarto, escondido, e encontrei uma pequena varanda no final do corredor. De lá, dava para ver as luzes de Kyoto brilhando ao longe. A vista era bonita, mas minha mente estava em outro lugar.

Eu sabia que precisava tomar uma decisão. Não podia continuar assim, com essas dúvidas me consumindo. Mas a ideia de enfrentar a verdade me deixava apavorado.

Enquanto eu pensava, senti uma presença familiar ao meu lado. Kaori, mais uma vez, apareceu do nada, silenciosa, mas com aquele brilho travesso nos olhos. Ela se encostou na grade da varanda ao meu lado, olhando para as luzes da cidade, mas seu olhar parecia distante por um breve momento.

— Então... você também... ficou com fome? — Ela começou, com um sorriso leve.

Eu ri, balançando a cabeça.

— Não, o jantar foi o suficiente pra mim — respondi com um pequeno sorriso, mas logo minha voz foi ficando mais baixa. — Só vim aqui para pensar um pouco.

Kaori me olhou de lado, com aquele olhar que parecia saber mais do que ela deixava transparecer.

— Pensar, hein? — Ela suspirou, inclinando a cabeça. — Isso costuma dar dor de cabeça, sabia? Devia estar relaxando... Ou melhor, dormindo. Amanhã é um longo dia!

Eu sorri de leve, mas a tensão ainda estava lá, presa no fundo do peito. Kaori ficou em silêncio por um momento, deixando o vento frio da noite envolver o espaço entre nós.

— Mas sério, Shin... — Ela finalmente disse, agora mais suave, mas ainda mantendo o tom leve. — Eu já te disse isso, mas você sabe que vai ter que resolver isso logo, né? — A voz dela ainda era gentil, mas havia uma seriedade nova ali. — Não dá pra continuar assim, com esses olhares de cachorrinho perdido. Vai acabar ficando com olheiras enormes. Não vou deixar você virar um panda!

Eu ri de novo, dessa vez um pouco mais genuíno.

— Um panda? Tá exagerando.

— Não estou, não! — Ela brincou, erguendo as mãos em rendição, mas logo mudou o tom. — Mas seja o que for, estou aqui pra te ajudar, tá? Não precisa enfrentar tudo sozinho.

Fiquei em silêncio, absorvendo as palavras dela. Eu me senti grato, mesmo sem saber como expressar isso.

— Obrigado, Kaori. — Eu murmurei, olhando para as luzes de Kyoto novamente. — Eu só... não sei como começar, sabe?

Ela balançou a cabeça, rindo de leve.

— Começar é sempre a parte mais difícil, né? Mas você é bom nisso, Shin. Lembra daquela vez no clube quando achou que não ia conseguir escrever nada? E olha onde chegou. Você só precisa dar o primeiro passo. O resto... a gente dá um jeito juntos.

Ela tocou de leve no meu braço, um gesto rápido, mas que transmitia um conforto genuíno.

— Mas olha, se você não der jeito nisso, juro que vou te arrastar até o Kazuki e forçar você a perguntar tudo na frente de todo mundo! — Ela piscou, rindo.

Eu me virei para ela, fingindo estar horrorizado.

— Você não teria coragem...

Ela cruzou os braços e me olhou com aquele brilho travesso.

— Ah, quer apostar? Eu faço de tudo pra ver você resolver isso, Shin.

Ela estava brincando, mas eu sabia que havia verdade em suas palavras.

— Tá bom, eu prometo que vou resolver isso. — Respondi, suspirando. — Mas sem drama público, por favor.

Ela deu de ombros.

— Eu preferia o drama. Mas, tudo bem, vou pegar leve com você dessa vez.

O silêncio voltou por um instante, mas, dessa vez, não era desconfortável. Kaori se virou para as luzes da cidade, como se estivesse refletindo sobre algo, e eu me permiti um momento para simplesmente apreciar sua presença ao meu lado.

— Olha, não importa o que aconteça — ela começou, a voz suave, mas firme — você vai ficar bem. Mesmo se as respostas forem difíceis... ou confusas. — Ela me olhou novamente, séria por um instante, mas logo sorriu. — Mas, pra não deixar tudo muito sério... você ainda me deve um karaokê super brega. Não vou esquecer disso!

— Tá bom, eu pago o mico do karaokê, pode deixar. — Prometi, sentindo uma pequena onda de alívio.

Ela sorriu, satisfeita.

— Isso aí! Agora sim você tá pensando direito!

Com isso, ela se afastou da grade da varanda e se alongou.

— Agora, volta pro quarto, antes que eu tenha que te carregar. Sério, amanhã vai ser um dia cheio, e eu não quero ver sua cara de zumbi logo cedo.

— Vou, vou... e você também, não vai querer perder as primeiras aventuras.

Ela riu, se despedindo com uma piscadela antes de desaparecer pelo corredor.

Fiquei ali por mais alguns segundos, pensando nas palavras que ela tinha dito. Com isso em mente, voltei para o meu quarto, e então, decidi que, quando a oportunidade surgisse, eu finalmente iria confrontar Kazuki.

Era hora de encarar a verdade.