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Ecos do Silêncio

Eu andava pelos corredores da escola sem uma direção específica. Minha cabeça estava tão cheia de pensamentos que não importava muito para onde meus pés me levavam. As vozes ao redor soavam como ruídos distantes, e, embora eu estivesse cercado por gente, me sentia incrivelmente isolado.

As conversas giravam em torno da viagem escolar que estava se aproximando, mas, para mim, essa era a última coisa com que me importava. O que mais martelava na minha cabeça eram os rumores e o concurso. Essas ideias me deixavam tonto, e cada vez que eu tentava afastá-las, elas voltavam ainda mais forte.

Enquanto andava, sem prestar atenção em nada, ouvi algumas risadinhas e cochichos no corredor à frente "Será que eles estão juntos?" dizia uma garota.

Minha cabeça começou a girar ainda mais forte. Tentei focar em outra coisa, qualquer coisa. Meus pés aceleraram, como se quisessem me afastar do que eu estava ouvindo, mas as palavras seguiam comigo. E então, mais risadas surgiram. Era como se tudo ao meu redor estivesse falando sobre isso, sobre eles.

Quando levantei a cabeça, vi Kazuki e Yuki caminhando juntos. Kazuki estava falando algo, provavelmente sobre a viagem escolar, enquanto Yuki parecia apenas ouvir, os olhos fixos no chão, completamente alheia ao ambiente.

— Ah, Shin! — A voz dele cortou meus pensamentos, enquanto ele acenava, sempre com aquele sorriso descontraído que parecia dizer que ele tinha tudo sob controle. Ele era irritantemente confiante.

— Oi, Kazuki, precisa de algo? — Forcei um sorriso, mas minhas palavras saíram automáticas, sem vida.

Yuki estava ali ao lado, mas seus olhos não se encontraram com os meus. De novo. O mesmo olhar distante de sempre. Algo estava errado, e eu sentia isso como uma pedra no estômago.

— Estamos cuidando das autorizações para a viagem escolar — Ele não parecia notar meu desconforto enquanto continuava. — Não se esqueça de pegar a sua amanhã e levar assinada, hein? Além disso, lembra de levar as coisas que pediram na lista. Vai ser uma viagem incrível!

Ele falava com tanta tranquilidade e facilidade, como se estivesse imune aos rumores que corriam pelos corredores. Como ele conseguia estar tão tranquilo? E por que Yuki ainda estava agindo de forma tão estranha? Era como se ela estivesse se afastando de tudo... e de mim, mesmo que não fôssemos tão próximos assim

Olhei em volta. Estudantes passavam por nós, alguns trocando olhares curiosos para Kazuki e Yuki. Eu podia ouvir cochichos ao fundo, provavelmente sobre eles. Aquilo me atingia como um soco no estômago. Mesmo assim, ele continuava com o seu jeito despreocupado, como se não houvesse qualquer problema.

Eu precisava saber a verdade. Precisava perguntar. Os rumores estavam me consumindo, e cada segundo em que não tinha respostas me deixava mais ansioso. Eu não aguentava mais ficar nesse limbo.

O pensamento deles juntos era como uma agulha me perfurando lentamente. Eu não conseguia afastar a imagem dos dois juntos, rindo, talvez até... não, eu precisava saber. Eu tinha que perguntar.

Minha garganta estava seca, o coração disparado, mas tentei reunir o mínimo de coragem que restava.

— Ei, Kazuki, eu... — chamei, hesitante.

Ele parou, virando-se para mim. Mas antes que eu pudesse continuar, duas garotas se aproximaram, chamando por ele.

— Kazuki! — uma delas disse, puxando-o pelo braço com insistência. — Vem comigo, preciso de você agora!

Meu coração afundou no mesmo instante. Elas o arrastavam, roubando sua atenção, enquanto eu ficava ali, sem reação. Eu estava tão perto de perguntar, mas agora... Kazuki olhou para elas por um segundo, depois virou o rosto de volta para mim, os olhos me encarando diretamente.

— O que foi, Shin? — ele perguntou, com um tom casual, mas com um toque de curiosidade. As garotas continuavam tentando puxá-lo, mas ele ficou ali, me encarando, esperando. — Você disse alguma coisa?

Minhas mãos começaram a tremer, e as palavras se recusavam a sair. Era um simples rumor. Era só uma pergunta. Mas... e se fosse verdade? O que eu faria? A verdade parecia tão próxima, mas, ao mesmo tempo, inalcançável.

Meus olhos foram de Kazuki para Yuki, que continuava ao lado, olhando para o chão como se nada daquilo estivesse acontecendo. Ela estava sempre tão distante. Por que ela não negava os rumores? Por que não dizia nada? Esse silêncio só tornava tudo mais real na minha cabeça, mais sufocante.

As palavras morreram na minha garganta.

— N-nada. Não é nada de mais.

Kazuki me observou por mais um momento, como se esperasse que eu dissesse algo importante. Mas eu simplesmente... não consegui. Ele deu de ombros, talvez frustrado, talvez aliviado. Não sabia dizer.

— Ah, tudo bem então. Não se esqueça da autorização e da lista! — Ele acenou com a cabeça, e, em segundos, ele e Yuki estavam andando novamente, desaparecendo pelo corredor, com as duas garotas ao lado dele.

Eu queria perguntar, queria saber a verdade... mas mesmo com a oportunidade bem na minha frente, falhei. Era algo tão simples. Apenas uma pergunta. Só isso. Mas... não consegui. O vazio no meu peito crescia enquanto eu ficava ali, imóvel, olhando para onde eles haviam desaparecido. A oportunidade passou, e, mais uma vez, eu me deixei afundar na dúvida.

Soltei um longo suspiro, sentindo o peso da frustração se arrastar sobre mim. Era como se uma parte de mim tivesse desistido antes mesmo de tentar. 

Meus pés seguiram automaticamente pelos corredores da escola, mas minha mente continuava presa naquela cena, naquele "e se".

O som abafado das risadas e conversas dos alunos ao meu redor parecia distante, como um ruído de fundo que não conseguia quebrar o redemoinho de pensamentos que rodava dentro de mim. A sensação de isolamento crescia, como se eu estivesse sozinho no meio da multidão.

Quando finalmente chegou a hora de ir até ao clube, o contraste era quase sufocante. O ambiente ali era o de sempre: leve e descontraído, em completa oposição ao que eu sentia naquele momento.

Takumi falava com entusiasmo sobre um novo livro que estava lendo para Kaori, que comia doces enquanto ouvia ele falar. Mai e Rintarou discutiam juntos teorias sobre o final de uma série, e Taro... bem, Taro dormia, como sempre.

Em um dado momento, Takumi parou de conversar e virou-se para mim.

— Falando nisso, Shin, como vai a escrita? Tá dando tudo certo? — perguntou Takumi, inclinando-se na cadeira, com um leve interesse no olhar.

Eu travei por um segundo. Minha escrita estava um desastre. Cada vez que tentava colocar alguma ideia no papel, era como se as palavras escorressem pelos meus dedos como areia. Estava tudo uma bagunça. Mas eu não queria que eles soubessem disso. Não queria que ninguém soubesse.

Eu não podia dizer para eles que o motivo de eu não conseguir mais escrever, era por conta de apenas rumores. Então decidi contar uma mentira.

— Ah, tá indo bem, muito bem mesmo! — Forcei um sorriso, tentando soar convincente.

Eles assentiram, sem suspeitar. Mas, quando olhei para Kaori, ela estava me observando de maneira diferente. Seus olhos não diziam nada, mas ao mesmo tempo, diziam tudo. Ela sabia. Sabia que eu estava mentindo. Mas, em vez de me pressionar, apenas sorriu de leve e desviou o olhar.

Ela sabia quando falar e quando deixar o silêncio falar por si.

Por um segundo, senti um pequeno alívio. Pelo menos ela não forçaria nada agora. Talvez eu ainda tivesse tempo de colocar meus pensamentos em ordem.

Mais tarde, no trabalho da biblioteca, Arata estava em seu estado habitual: animado e fazendo piadas. Era bom vê-lo assim, especialmente depois dos últimos acontecimentos envolvendo Ryuuji. Ele parecia mais leve agora, como se aquele peso tivesse sido completamente afastado dele.

Enquanto organizávamos os livros, houve uma pequena pausa, e eu me afastei para procurar alguns exemplares nas estantes mais distantes. Eu precisava de um pouco de tempo para pensar.

Enquanto andava entre as prateleiras, meus olhos caíram sobre um título um tanto quanto peculiar: "Como Entender as Mulheres" .

Peguei o livro, meio incrédulo, mas não pude evitar. Yuki estava me deixando completamente confuso. Eu não conseguia entender suas reações, sua distância... nada fazia sentido.

Se ela estivesse realmente com Kazuki, que motivo ela teria em se comportar daquele jeito? Não fazia sentido nenhum.

Estava tão imerso em meus pensamentos que nem percebi Arata chegando por trás de mim.

— O que tá aprontando aí? — Sua voz me assustou, e eu quase deixei o livro cair.

— N-nada! — Respondi rapidamente, tentando esconder o livro.

Ele espiou por cima do meu ombro, olhou para a capa do livro e começou a rir.

— Ah, já entendi...

— Hm? Entendeu o quê?

— Então você já tá nessa fase, hein? — Ele me deu uma leve cotovelada. — Mas, cara, eu vou te dizer... esse livro aí não vai ajudar. Eu já li e não serviu de nada, só serviu para me deixar mais confuso ainda.

Eu o encarei, confuso.

— Você leu mesmo?

— Claro que li! — Ele riu. — Tinha uma garota que eu gostava quando estava na escola. Mas ela era muito complicada, eu até tentei entender o que passava na cabeça dela lendo esse livro. Mas, cara... mulheres são um mistério. Esse livro só serviu pra me deixar ainda mais perdido. 

Ele deu um suspiro, como se ainda carregasse um pouco do peso daquela lembrança.

— E o que você fez, então? — Perguntei, curioso.

— Nada.

— Hã? Como assim nada?

Ele deu de ombros. — Deixei as coisas seguirem seu curso. No final, tudo se resolveu sozinho. — Ele falou com aquele tom de quem já passou por muita coisa e estava compartilhando o segredo da vida.

Eu franzi a testa. Não fazer nada? Isso não parecia um grande conselho.

— Mas... se eu não fizer nada, como vou descobrir o que tá acontecendo? — Perguntei.

Arata suspirou e cruzou os braços.

— Olha, Shin. Tem coisas que não dá pra forçar. Se você ficar tentando entender tudo o que se passa na cabeça de uma garota, vai acabar ficando louco. Ah, mas eu não tô dizendo pra você ficar parado pra sempre! Mas, por enquanto, é melhor não forçar nada. Só... deixe o tempo passar.

Eu não estava totalmente convencido, mas não dava para ignorar que ele tinha experiência. Talvez ele estivesse certo. Talvez fosse melhor deixar as coisas acontecerem no seu tempo e naturalmente.

— Só não fica preso demais nisso — ele continuou, sério agora. — Senão você vai acabar se perdendo.

Eu acenei, pensativo, mas não sabia se conseguiria seguir esse conselho. Minha mente ainda estava cheia de dúvidas, mas talvez ele estivesse certo. Talvez o melhor fosse deixar tudo como está... pelo menos por agora.

— Agora, vamos voltar ao trabalho! — Ele disse com uma risada.

Com isso em mente, voltei às minhas tarefas, tentando afastar os pensamentos sobre os rumores. A viagem escolar estava se aproximando, e, com ela, novas oportunidades de entender melhor o que estava acontecendo.

Mas, por agora, eu deixaria o silêncio falar.