Jonathan:
"Todas as noites, o mesmo sonho se repetia."
"Todas as noites, a mesma memória desconhecida..."
"Todas as noites meu sono era perturbado por algo que eu não entendia"
"Um líder e espiritualista de uma tribo, um menino, e um lobo brilhante."
Nesse sonho, o menino era especial. Ele fazia parte da próxima linhagem dos escolhidos para abrigar o Espírito do Lobo Azul, o grande guardião da tribo. O líder espiritual, reunia todas as pessoas em volta daquele local, onde o ritual se iniciava. Este, era o ritual que abrigaria o espírito ao corpo do seu hospedeiro menino, e era seguido por danças animadas, alegria e muito calor fraternal do seu próprio povo. A alegria, amizade e prosperidade, eram coisas que podiam ser observadas nos olhos daquele simpático e unido povo, trazendo a mim, o eterno aconchego que sentia no peito, só de ver todos aqueles sorrisos, aos quais, sempre me traziam certo sentimento de familiaridade. Era algo interessante e contagiante de se observar, e entre danças e celebrações, mais um ciclo chegava ao seu fim, dando início a uma nova geração, e uma nova esperança de que tudo ficaria bem em seus corações. Não havia nada que parecia preocupa-los ou abala-los, afinal, tudo de que precisavam estava ali, e era possível sentir isso de forma abrupta e sentimental, nos sorrisos e sentimentos que transbordavam em meio aos seus cantos e danças próximos ao altar. O local era rodeado de mata densa e grandes árvores de pinheiro, deixando apenas em seu centro, o evento que ali acontecia. Uma enorme fogueira, seguido de várias tochas em volta do local, faziam a iluminação para que ninguém se perdesse, ou até mesmo deixasse de enxergar o que ali acontecia. E dessa forma, o ritual se deu início, o líder Espiritual pediu para que o menino fosse levado diante a ele para o altar, pois já estava pronto para ser o sucessor, e o grande protetor daquele povo. Um casal pelo qual os rostos sempre estão apagados para mim, levam o jovem que ainda muito novo, não parecia estar entendendo quase nada do que lhe haviam concebido. Estava um pouco assustado com toda a movimentação ao seu redor, mas exalava uma coragem sem fim em seus olhos. Tanta coragem, que lhe dava forças para enfrentar qualquer coisa diante de si, mesmo que ainda fosse muito pequeno. Talvez por esse motivo, o espírito havia escolhido alguém tão pequenino e novo, talvez fosse por esse mesmo motivo, que aquele jovem menino era chamado constantemente de filho do lobo guardião.
Diante ao líder ritualístico, o garoto deu seu primeiro passo a frente, impulsionado pelo homem que uma vez, o havia levado até ali junto a mulher que o acompanhava. Imediatamente todas as grandes tochas que iluminavam o local, passaram a tomar uma tonalidade azulada em suas chamas, fazendo com que todos se ajoelhassem ao chão, em um tremendo sinal de respeito ao que iria acontecer diante a eles. O senhor que segurava um cajado em sua mão, recitou algumas orações, fazendo com que suas tatuagens azuis pelos braços, começassem a brilhar intensamente por de baixo do manto que vestia. Logo seus olhos tornaram a ficar com a mesma cor que preenchia a tonalidade daquele lugar, e logo espíritos da floresta começaram a aparecer por entre a mata densa. Animais e até algumas alcatéias de lobos, estavam agindo como criaturas dóceis e domesticados, prestando atenção profundamente no espetáculo que estava acontecendo. Por fim, uma azul começou a sair do homem atrás do garoto, que começou a observar aquilo um tanto inquieto. E dessa aura, um enorme lobo Espiritual de cor azul se fez atrás do líder Espiritual da Tribo, fazendo com que a chama principal se tornasse tão azul e intensa, que o local todo seria iluminado apenas com aquela única fogueira. Os lobos começaram a uivar, e todos os outros animais que ali circundavam, abaixaram suas cabeças em respeito a entidade divina que estava presente. Então o enorme Lobo olhou diretamente para os olhos do garoto que fez o mesmo, deixando seus esverdeados olhos, em um tom azulado pelo brilho intenso daquele ser. O lobo, então olhou para a fogueira principal, localizada atrás do altar. Caminhou até sua base, até que se sentou embaixo dela, esperando que seu escolhido fosse até ele. O líder espiritual, abriu seus braços, se curvando diante ao garoto, e o dizendo para que fosse encontrar com aquele o guardaria até que a nova geração aparecesse. O garoto ainda muito novo, abraçou calmamente o senhor que se surpreendeu com aquilo, e sem dizer qualquer palavra, ele voltou-se diante ao enorme Lobo Azul, e caminho até o seu encontro. Durante seus passos, todo o local se iluminava com partículas azuis, que logo se tornaram feixes de luz, que logo se tornaram auroras iluminadas por todo o local. Quanto mais próximo da entidade o garoto se aproximava, mais seus passos brilhavam. Maravilhado com tudo aquilo, ele mal havia percebido o quão perto já estava do lobo, até que se assustou com seu enorme focinho a sua frente, cambaleando para trás, e ficando receoso quanto a presença imponente daquele ser. Porém, o lobo gentilmente deitou-se diante a ele, esperando que o mesmo acaricia-se sua cabeça, mas invés disso, o garoto riu, e sentiu animado com o animal brilhante a sua frente. Um sentimento forte de amizade cresceu diante aos dois, pois nem mesmo o lobo esperava por aquela atitude. E para surpresa de todos, o pequenino garoto encostou sua testa sobre a cabeça do lobo, o abraçando pelo pescoço com um enorme sorriso. Fechando seus olhos, o lobo aceitou o carinho do garoto, deixando com que seu espírito adentra-se aquele jovem corpo humano. Todos estavam maravilhados o que havia acontecido, o ritual estava completo, e tudo voltou ao normal. Aos poucos as pessoas ao seu redor se levantaram, gritando de felicidade, alegrando-se pela nova geração de guardião que a sua tribo havia ganhado. Os animais se espalharam e o fogo tornou-se ardentemente vermelho alaranjado novamente. O garoto se perguntava aonde seu grande amigo brilhante havia ido, porém em seus olhos, brilhava um forte e intenso azul, que logo deixou suas esverdeadas íris de volta ao seu lugar. Mas infelizmente... Assim que o ritual havia encerrado e chegado ao fim, a tribo era atacada em meio a gritos de ódio, dor e desespero. Sons de batalhas, com flechas e lanças voando e zunindo ao vento eram perceptíveis. E assim, o garoto lobo era obrigado a fugir para a floresta a mando daquele casal, e do líder espiritual, a fim de proteger o espírito que agora o abrigava, levando em suas costas, todo o legado de sua gente, que infelizmente já não estava mais com ele durante toda a sua caminhado solitária.
Ao longo dos anos o menino foi crescendo aprendendo com a floresta, e com os animais. Gradativamente, mudando pouco a pouco todos os dias por influência do espírito sagrado. Sua aparência se assemelhava mais a de um lobo cinzento, pois suas orelhas deixaram de ser nas laterais de sua cabeça, e agora haviam crescido em sua cabeça mantendo um pelo extremamente cinza e intenso. Em volta de seu pescoço, havia crescido pelos, juntamente a uma cauda grande e peluda abaixo de suas costas. Seus dentes eram pontiagudos dando ênfase aos caninos anormais que tinham as pontas projetadas para fora de sua boca. Seu faro e sua força haviam evoluído, e suas unhas já se assemelhavam mais a garras mortais. Com a necessidade, ele aprendeu a caçar sozinho para sobreviver, mas sempre mantendo os ensinamentos da tribo, onde apenas se matava caso seja necessário. Continuando sempre com o respeito que havia sido lhe ensinado para com a presa. Após o abate, ele sempre orava para que seu espírito fosse levado aos Campos de Farfares, onde a deusa Flora recebia e cuidava daqueles que já se foram, para que assim morressem em paz.
[...]
Acordando em cima da árvore, um tanto quanto calmo e destemido, sempre acostumado a ver e rever todas as noites as mesmas cenas. Coloquei em palavras afirmando que esse sonho retrata o meu passado e a minha origem... E pois bem! Esse sou eu! Meu nome é Jonathan Lupus Azuris. Sou um garoto meio lobo selvagem, e vivo na floresta, afastado das grandes tribos de pedra na qual os uribás (pessoas das cidades) moram. Acredito ter 19 anos, 1,86 de altura, cabelos acinzentados escuros, olhos verdes e características de um lobo por todo o corpo. Costumo ser mais fechado, os Uribás me olham estranho pelas minhas roupas e também por minha natureza um tanto quanto diferente e peculiar, poderia até mesmo se dizer selvagem. Mas da mesma forma que eles acham esquisito a minha vida, não me atraí da mesma forma o estilo de vida que eles seguem, parecem ocupados de mais, desconfiados de mais, e briguentos de mais...
Já eu? Eu prefiro mil vezes ficar contemplando o nascer do sol que ao longe se faz, lindo e brilhante a meus olhos. Bem... Como deve-se imaginar, eu estou com muita fome! E após explorar a floresta por um tempo, consigo avistar um grande pássaro de asas vermelhas, e na minha cabeça só podia significar uma coisa.
"Muita Comida..."
Olho novamente com mais atenção, e percebo que ele carrega um arco junto a si. Uma aljava cheia de flechas estava atravessado por suas costas, e havia alguns corpos verdes mortos próximos a ele. Muito provavelmente, os havia abatido, e com certeza essa era uma presa, que se mostrava arriscada de mais para se tentar cravar os dentes. Decidi assim, deixar para lá, e começo a pular de árvore em árvore a fim de encontrar algo para comer. Um pouco mais tarde, logo pude avistar um cervo, e esse por sua vez era grande o suficiente para saciar minha fome. E claro, o mais importante, não era uma presa difícil de se caçar. Me camuflo entre as folhas, olho por mais alguns segundos atentamente esperando a brecha perfeita para atacar, e assim que eu o encontro, pulo rapidamente no mesmo, cravando meus dentes ali em seu pescoço. Ele tenta com todas as suas forças me tirar de cima dele, mas em vão, pois após alguns segundos, o sangue da caça já havia se escorrido em grande quantidade, e já não havia mais nada que se podia ser feito. Sem forças, o servo caiu no chão exausto, e para encerrar a sua vida de uma forma menos dolorosa, uso minha garra, e enfio em seu pescoço rompendo o sua artéria, terminando o serviço de forma menos dolorosa possível. Faço uma oração ao animal morto e o levo a um lugar seguro para come-lo em paz.
É dessa forma que levo minha vida, tudo calmo, tranquilo e vivendo do que a natureza me oferecer. Tudo... da forma mais calma possível. Mas devo admitir que sempre senti um vazio em meu coração, pois lobos são criaturas sociáveis, e vivem em alcatéias. Porém, eu nunca tive se quer um amigo, nunca tive alguém para conversar, para me importar, e nunca puder ser nada para ninguém. Isso me faz ficar um tanto quanto aflito todos os dias. Um dia eu gostaria de saber se vou poder encontrar tantas pessoas que gostam de mim, se vou poder finalmente entender os motivos dos sorrisos, que os Uribás tanto gostam de dar uns aos outros. Minha vida, é essa, a de um lobo solitário...
[...]
Algum tempo caminhando depois, consigo ver um dragão perto dali, parece estar atacando algo. Um dragão adolescente ainda, e acredito ser capaz de enfrenta-lo facilmente. Pode não parecer, mas por ter uma entidade divina dentro de mim, a força que tenho é quase surreal, e o suficiente para derrubar um dragão em estado de crescimento. Pulo para algumas árvores mais próximas dele, e observo minhas melhores opções, mantendo o foco e o observando calmamente. Como estava um pouco desprevenido ou com a atenção presa em algo, ele acaba por não esperar meu ataque, onde pulo em seu pescoço, e com o auxílio de minhas garras, faço cortes entre a sua armadura de couraça de escamas. Mesmo com ferimentos daquele nível, ele insistiu em lutar pela sua vida, conseguindo me jogar para longe dele, escapando de mim em seguida. Ameaço tentar correr atrás do mesmo, mas logo se torna em vão quando ele alçou vôo, abrindo suas asas em direção ao céu aberto. Com um suspiro, lamento minha falha tentativa de derrota-lo, a verdade é que já vi muitos Uribás sendo atacados por esses dragões. Não gosto de pensar em que suas famílias sentiriam ao saber que um deles havia partido de forma em vão por um ser selvagem. Dragões são seres extremamente difíceis de se lidar, sua enorme força, tamanho e resistência, faz com que os Uribás mal consigam enfrentar um desses seres alados sozinhos, ou até mesmo em grupos.
– É... não foi dessa vez...– Digo infeliz observando o dragão voando para longe.
Olho ao meu redor e percebo que havia árvores quebradas e até partidas ao meio, pelo jeito realmente havia acontecido alguma batalha por aqui, alguém lutou até o fim com aquele dragão por sua vida. Um pouco mais a frente de mim, havia um pequeno metal reluzindo com os feixes de luz que passavam pelas árvores. Me aproximei para ver o que era, e para minha surpresa era uma pena de ave, só que feita de um metal negro, eu nunca havia visto algo parecido. Meus sentidos se aguçaram e então ouvi um barulho vindo de dentro da mata, parecia um som tímido, o cheiro que exalava não era ameaçador. Novamente tornei a andar com cautela seguindo o som e o cheiro, até avistar um...
"CORVO GIGANTE????"
Digo... Era um Uribá, só que com asas negras gigantes nas costas, assim como o de asas vermelhas que havia visto a alguns minutos atrás. Olhei para a pena de metal em minhas mãos, e percebi que ela era muito parecida com as penas de sua asa. Ele respirava e parecia vivo e bem, só estava com suas roupas um pouco rasgadas, devido a batalha com o dragão. Me indaguei com o fato dele ter sobrevivido ao ataque do lagartão de asas, mas conclui que era melhor deixar ele se levantar sozinho e não me mostrar. Com isso joguei a pena metálica ao chão, e voltei a seguir meu caminho pela floresta, indo em direção ao local onde havia deixado minha presa. Ao chegar, tornei a fazer uma refeição antes de descansar um pouco, e cair no sono... Sonhando mais uma vez com as lembranças que me acudem, e atormentam ao mesmo tempo.
[...]
Algumas horas andando pelo local, ainda não havia desistido de encontrar o dragão. Porém o que avisto no entanto é um grande pássaro de asas douradas. Novamente, ele se assemelhava aos Uribás, e levava em suas costas um arco e uma bolsa com algo dentro. Pensei em me aproximar mas logo percebi que não estava totalmente sozinho ali. Então procuro um local para me esconder e ficar apenas observando o que iria acontecer daqui em diante.