webnovel

"Não vá."

Maya e Spellsword estavam sentados em silêncio por mais de trinta minutos, a jovem monja o encarava, tentando decifrar sua expressão, mas ela própria estava cansada demais para pensar profundamente em qualquer coisa. Era a primeira vez que Maya via o anoitecer por cima das nuvens, era uma cena calma mas ao mesmo tempo sombria, que ela provavelmente nunca iria esquecer tendo em conta os eventos que aconteceram mais cedo.

—Está tudo bem? — Maya finalmente decide quebrar o silêncio, mas não recebe uma resposta.

A cabeça do Spellsword no momento estava uma bagunça. Ao mesmo tempo que ele achava que tinha feito a coisa certa, parte dele acreditava fielmente que ele tinha falhado como herói. No que ele estava pensando? Parar uma morte que foi premeditada só porque ele sabia que iria acontecer? Ele não podia intervir em ações divinas dessa forma. Aquela não era a primeira vez que Spellsword sabia que alguém iria morrer perto dele e que supostamente seria uma morte inevitável, mas foi a primeira vez que ele tentou fazer algo para intervir. Ele se sentia vazio, sua única razão para viver era ser um herói, mas ele não tinha coragem o suficiente para matar Maya e conseguir o seu título, mesmo sabendo que a morte dela já deveria ter acontecido.

Depois de mais alguns minutos de silêncio, Maya se levanta com a intenção de deixar Spellsword sozinho por pelo menos um tempo, mas ele a impede, segurando o seu pulso.

—Não vá. — Ele sussurra, a expressão séria que Maya não conseguia ler ainda estava presente em seu rosto. Por um segundo, Maya sentiu falta daquele sorriso convencido que apenas ele tinha, que por mais irritante que fosse, deixava claro que ele estava bem consigo mesmo.

—Tudo bem... Não vou sair então. — Maya diz em um tom calmo, se sentando ao lado dele novamente. Em poucos segundos, ela sentiu ele entrelaçando seus dedos aos dela, um pequeno ato de afeto que constantemente lembrava Maya de que ele fazia questão da presença dela naquele momento, mesmo que ela não soubesse o motivo.

—... Obrigada por me salvar. — Maya tenta quebrar o silêncio novamente, dessa vez finalmente conseguindo tirar uma reação do Spellsword, mesmo que fosse uma negativa.

—Eu não te salvei, eu ainda posso te matar. — Ele disse em um tom sério, sem sequer olhar para Maya. O Spellsword era uma pessoa que confundia a mente de Maya, porque mesmo que ele não pensasse duas vezes em a ameaçar desse jeito, ele ainda segurava a mão dela como se estivesse implorando para que ela não o deixasse.

—Mas você chegou a me salvar na avalanche, certo? Estou agradecendo por este momento, não por agora... Já que você ainda não decidiu se vai me salvar ou não. — Ela suspira, também desviando o olhar.

—Aquilo foi... Uma descuido meu, não me agradeça por isso.

—Descuido? — Maya voltou a o observar, extremamente desconfortável com o rumo que a conversa estava tomando.

—Olha, eu não pedi agradecimentos, então também não me peça explicações. — Deixando um longo suspiro para trás, o Spellsword se levanta, começando a andar na direção da descida da montanha sem esperar por Maya.

—O que?! — Irritada, Maya o segue e o força a parar de andar. —Desde o início eu não fui nada além de gentil com você, mas eu sou uma boa pessoa, não uma idiota. Você não vai falar assim comigo sem pelo menos olhar pro meu rosto!

Ao olhar para Maya, a expressão de Spellsword instantaneamente suaviza, apenas por alguns segundos, mas o suficiente para Maya conseguir notar.

—O que você quis dizer com 'descuido'? — Maya pergunta, ainda com certo tom de irritação em sua voz.

—Mas que merda, Maya... Por que você só não consegue seguir em frente? Você está viva, bem, vai continuar sua jornada como se nada tivesse acontecido, por que questionar tudo? — Ele responde, igualmente irritado.

—Você acabou de desistir de um dos seus sonhos por minha causa e não quer que eu questione os seus motivos?! — Maya estava incrédula com as palavras dele, será que ele realmente pensava assim? Ou só queria fugir da verdade? —Descuido... É assim que você pensa? Você realmente acha que salvar minha vida realmente foi só um descuido? Não me faça rir! — Maya agarra a capa dele, como se fosse bater nele a qualquer segundo. —Um descuido é deixar o fogão ligado, esquecer as chaves de casa... Algo que você faz sem pensar. Você teve que sacrificar algo pra me salvar, você pensou e muito antes de fazer, Spell!

—Eu sou um herói, Maya. — Spellsword suspira, desviando o olhar, já que não

conseguiria mentir olhando ela nos olhos. —Se eu sei que alguém vai se machucar, eu vou salvar a pessoa, não importa a consequências que venham pra mim. É isso que me faz um herói, e eu nasci pra ser um, o maior de todos... Por isso Ameris me reviveu e me deu a benção. Não ache que você é especial só porque eu perdi algo salvando você. Só aconteceu de você precisar de ajuda e eu estar perto, se fosse em qualquer outra situação, eu te deixaria para trás sem pensar duas vezes. — Dito isso, o Spellsword tira as mãos trêmulas de Maya de sua capa, voltando a caminhar lentamente para descer a montanha.

Maya claramente estava abalada pelas palavras que ouviu, ao ponto de não conseguir pensar em nada para retrucar. Parte dela sabia que o que ele disse não era verdade, mas as palavras dele ecoavam tanto em sua cabeça que ela não conseguia pensar racionalmente. E mesmo que Maya não soubesse, o próprio Spellsword estava abalado com suas próprias palavras enquanto ele descia a montanha. Por que ele não conseguiu contar a verdade para Maya? Simplesmente dizer que ela não saía da cabeça dele era muito mais fácil do que dizer palavras tão dolorosas, mas naquele momento, tudo parecia impossível para Spellsword. Tudo que ele conseguia se lembrar era de quando ele se virou para descer a montanha correndo para ter a oportunidade de pelo menos ver Maya pela última vez. Naquela hora ele não estava pensando como o 'Todo-poderoso Spellsword de Asiana', ele era apenas... Ele. Como Maya o cegou tanto sempre vai ser um mistério para Spellsword, que se recusa a tentar entender melhor os próprios sentimentos. Como ele mesmo disse: Ele é um herói, com certeza foi apenas instinto.

—Spell! Você anda muito rápido! — A voz de Maya e o som dos passos dela correndo em sua direção ecoaram em sua cabeça, o fazendo parar de andar.

—Desculpa, eu esqueço que pessoas normais tem dificuldade em acompanhar alguém tão ágil como eu. — Ele diz com seu clássico sorriso convencido, fazendo Maya revirar os olhos enquanto andava. —Mas acho que não me importo em te ajudar.

—Me ajudar...? — Maya parecia confusa até ver o Spellsword estendendo a mão para ela pela terceira vez. A primeira foi por necessidade, a segunda foi por desespero... Mas esta vez, foi apenas para fazer o coração de Maya bater mais rápido enquanto ele não conseguia evitar um sorriso genuíno ao olhar para ela.