A conversa naquela rodinha de colegas de time se silenciou repentinamente. Milles cuspira o refrigerante se engasgando e tendo um acesso de tosse, enquanto os demais olhavam surpresos para Theodore. O ômega estava com as bochechas avermelhadas, fosse de vergonha ou raiva ninguém saberia.
— Como é que é? Tá zoando...
— Vocês... Ficaram?
Os olhares foram para Gabriel, que até então permanecia como um mero espectador daquela discussão comendo seu sanduíche. O alfa erguera os olhos lambendo os dedos melados de ketchup que escapava de seu sanduíche, percebendo somente então ser o centro das atenções.
— Ah sim, eu to ficando com o Theo. — Concordara o alfa simplista.
— O quê? Não pera, pera, acho que escutei errado. Tu é viado?
— Ò glória! Finalmente o embuste saiu do meu caminho.
— Cala a boca Thunder. — Cutucava Boyle, olhando para Gabriel ainda surpreso. — Eu pensei que você...
— Já falei várias vezes que não to afim da Sadie e vocês nunca me escutam. Aproveitando a oportunidade, gostaria de pedir gentilmente que parem de mencionar o primo do Milles. — Dissera o alfa voltando a comer o sanduíche sem parecer incomodado com a surpresa dos demais. Porém, quando erguera os olhos para os dois outros colegas de classe, deixara nítido aquela frieza digna de um assassino de filme de terror — Do contrário irei costurar a boca de vocês.
— Não creio...
Como se não bastasse toda a bagunça gerada por aquela singela confissão, Nicolas despertara do sono se sentando no puff deitando a cabeça no ombro de Theodore.
— Theoo, fomeee.
Depois de reclamar, Nicolas se levantou e fora dentro da casa trombando com as paredes por ainda estar sonolento. Theodore balançara a cabeça esticando o pescoço para ver o que tinha sobrado do churrasco. Milles se levantara pegando o prato com os pedaços de carne cortado e murmurava.
— Vou esquentar isso, espera aí.
— Valeu, Milles.
— Você não estava com o capitão? — Quis saber Boyle, ainda descrente e retomando o assunto. E então virou-se para Thunder — Tu não disse que viu eles dois ficando?
Thunder, que já estava à todo sorrisos enquanto comia o último pedaço de carne que surrupiara do prato de Milles, virou-se para o amigo e meneou a cabeça.
— Eu vi o capitão beijando alguém, e como pareceu ser uma pessoa loira eu pensei que fosse o Theodore. — Dava de ombros o rapaz. — Foda-se, isso não me interessa.
— Mas...
— Por que se incomoda tanto? — Questionava Gabriel pegando um guardanapo para limpar a boca suja de Ketchup.
— Eu só estou confuso....
— Estou ficando com o Theo, e o capitão provavelmente já tem alguém. Você continua hétero. É isso, não é tão complicado.
— Espera aí, isso significa que mais alguém da escola é gay? E ainda... O capitão é desencalhado e eu não? — Reclamava Thunder em uma careta.
Theodore nem ousara responder, mesmo que a curiosidade tivessem sido direcionadas a ele por saber a verdade. Apenas pegara um pão do saco e cortara começando a preparar o sanduíche para Nicolas, que retornara junto com Milles e o prato de carne aquecido no microondas.
Montado o sanduíche e entregando ao amigo sonolento, Nicolas comia quase caindo no sono. Vez ou outra o ômega loiro tinha de acordá-lo com cutucadas em suas bochechas, se não dormiria daquele jeito mesmo.
— O que estão me encarando? — Rosnava mau humorado com um pedaço de pão na boca.
— Você é viado?
— Sou e dai? — Reclamava Nicolas — E não é viado, é gay. Não precisa ter medo de falar corretamente, isso só mostra o quão bundão você é.
— Me diga, quem seria o maluco a ficar com ele? É insuportável!
Milles nem prestava atenção na conversa, já que tinha voltado a cuidar da churrasqueira pra colocar os últimos pedaços de carne.
— De qualquer forma, a nossa turma super apoia o querubim — Dizia Bruno sorrindo levemente, finalmente se fazendo presente naquela pequena reunião. — E sabemos que irá vencer o concurso.
— Ei, ei, ei, o outro personagem daquela maldita história também tá participando do concurso e representando a minha turma — Reclamava Thunder. — Isso... Eu deveria usar essa história... É... Finalmente podemos ganhar vantagem nesse concurso, e de praxe eu conquistar Sadie.
— Ah, isso me lembra — Gritava Milles da churrasqueira, fazendo os demais se virarem para olhá-lo — Eu tentei avisar a minha irmã pra tirar o cavalinho da chuva sobre essa história de ficar com o Biel, mas parece que ela armou alguma coisa.
Theodore petrificara no lugar quando preparava um sanduíche só para ele. Erguendo os olhos para Milles, rebobinava em sua cabeça as suas palavras, sem acreditar que elas haviam sido ditas tão levianamente.
— Como assim?
— É a maior treta, mas só digo que ela ainda não desistiu do Gabriel.
— Assumem logo um romance na frente da escola. Sei lá, se beijem, transem... — Gritara Thunder pálido. — Qual é... Agora que eu tava com esperanças...
Theodore olhara para Gabriel imaginando se ele estaria pensando o mesmo que ele. Deveriam se preparar para a semana seguinte, pois a escola estaria em polvorosa.
Quando anoitecera, apenas os dois casais permaneceram na casa de Milles. O alívio de ter sobrevivido a uma das tempestade era sem igual. Admitir para o time de vôlei que ele e Gabriel estavam juntos o deixara nervoso, mas ao mesmo tempo feliz. Pelo menos com eles poderia se sentir mais confortável.
Lavando a louça, Theodore ficava imaginando os mais diversos cenários que enfrentaria quando fosse para escola na segunda. A resposta mais natural seria fingir que não era consigo aquela história toda e tentar não chamar atenção.
Isso é, se não tivesse chutado o balde.
— O que pensa tanto? — Erguendo o rosto, Theodore se deparava com Gabriel o olhando na bancada da cozinha, se aproximando lentamente com mais pratos para lavarem — Está todo sério.
— Umas besteiras apenas.
— Vai pra casa? Milles falou que qualquer coisa a gente podia dormir aqui.
— Eu tenho que ir, vou passar o feriado com o meu pai e ainda nem arrumei minhas coisas.
Voltando a se concentrar na louça a ser lavada, Theodore paralisara novamente quando sentira dedos acariciando sua bochecha. Olhando para o dono daquela mão, percebia Gabriel estar perto o suficiente de si. Suficiente para seu coração acelerar, para o seu cheiro intensificar e ansiar pelo seu próximo passo.
— Ia te chamar pra gente sair esse final de semana. Mas tudo bem, agora temos uma folga até começar o campeonato.
— Me chamar? Tipo... Pra um encontro?
Os olhos claros se arregalavam e brilhavam como belas pérolas, fazendo Gabriel soltar um riso baixo com a nítida alegria daquele ômega.
— Agora que já vão saber que a gente tá junto, não precisamos nos conter... Não é?
Sufocando o grito eufórico, Theodore se balançara nas pontas dos pés fechando a torneira ainda tendo a mão ensaboada.
— Então... Se não se importa, o que acha de semana que vem me acompanhar nas compras?
— Compras? O que quer comprar?
— Meu pai vai se casar de novo então preciso de um terno... E ele quer que a gente vá combinando, então preciso escolher com uma cor específica.
Gabriel se encostara na pia e cruzara os braços olhando Theodore de cima à baixo.
— Esse querubim de terno social... Hm, eu topo.
As bochechas do ômega esquentaram logo em seguida, e ele desviara os olhos para terminar de lavar a louça. Gabriel ficara ao seu lado o ajudando para que terminassem o mais depressa, só que antes do ômega ir embora o alfa segurou sua cintura e o erguera para sentá-lo na bancada.
Fitando surpreso o alfa, Theodore já podia sentir o nervosismo o abraçar novamente. Sempre acontecia quando Gabriel estava por perto, o deixando ansioso sem saber o que fazer. Esperava que o tocasse e o beijasse, pois sentia-se desejado.
E naquele momento não fora diferente.
— Eu vou te deixar ir, logo. Só quero roubar mais do seu tempo.
Ter aqueles olhos castanhos sobre os seus e suas mãos na cintura eram o suficiente para Theodore sonhar acordado. Por um instante sentira necessidade de tocar o rosto de Gabriel, acariciar sua bochecha e sentir o calor de sua pele para lembrá-lo de que aquilo era real.
E quando inclinou-se para beijá-lo, Theodore sentiu-se completo. Beijar sua alma gêmea era a melhor coisa. Os sentimentos envolvidos eram transmitidos nos mais singelos toques, e a sensação quente que permanecia em sua pele quando era tocado poderiam durar eternamente.
Mesmo que o beijo não fosse tão intenso e afoito, sendo lento, Theodore continuava a desejar não sair daquele lugar. Envolvera os braços em volta de Gabriel o puxando para ficar entre suas pernas, podendo aprofundar um pouco mais do que toque.
A forma como o alfa explorava sua boca e brincava com sua língua era apaixonante. Pouco importava onde estavam e a hora, só queriam mergulhar na essência um do outro.
No instante em que Gabriel começara a tocar as costas de Theodore por debaixo da blusa, o alfa rompera o beijo.
— Por favor Theo, não podemos aproveitar só mais um pouco? Eu te deixo em casa bem cedo.
Era a primeira vez que o via desesperado, o apertando contra si e beijando seu rosto para fazê-lo mudar de opinião. Theodore acabara por soltar um riso.
— Está tentando negociar comigo?
— Você disse que celebraria a vitória comigo, e que me ensinaria a usar a outra mão.
Arqueando a sobrancelha diante da sagacidade daquele alfa, Theodore não tivera como resistir. Ele mesmo desejava passar a noite com Gabriel, ficar em seus braços e receber seus beijos já que não se veriam por quatro dias.
Então... Por que negar?
— Qual o quarto o Milles disse pra gente usar?
Gabriel abria um largo sorriso antes de segurar firmemente as coxas de Theodore e erguê-lo em seu colo para irem até o dito quarto.
De fato, Theodore ensinara Gabriel usar a outra mão.