Eu disse uma vez que gostava de histórias quando era apenas um garoto, e não nego isso. Sempre fui atraído por aventuras e ação, mas com o tempo, meu interesse se expandiu para romances. Eu era um romântico sem solução, rindo da minha própria ingenuidade.
Quando fui transportado para este mundo, o primeiro sentimento que experimentei foi euforia. Imaginei todas as coisas que faria em Orario. Seguir Bell em suas aventuras? Ser seu tutor, já que sou mais velho? Meu coração estava cheio de fantasias ridículas, algumas tão absurdas que me via como algum tipo de personagem superpoderoso.
Mas agora, parado aqui, lutando por minha vida, algo me incomodava profundamente. Algo dentro de mim que eu não conseguia entender.
Quando foi que comecei a ignorar o garotinho em minha mente?
Lembro-me de quando tinha cinco anos. Meu tio e eu nos mudamos para uma fazenda no interior depois que ele se aposentou. Ele nunca falou sobre seu passado, mas eu sabia, pelas armas e armaduras guardadas na casa, que ele fora um guerreiro. Ele era alto, com quase 1,90m, cabelos grisalhos e uma barba que mostrava sua idade e força. Apesar de tudo, ele era contra a violência.
Quando completei dez anos, pedi a ele que me ensinasse a lutar. Na época, achei que era algo bom. Afinal, eu pensava que nesse mundo, saber lutar era comum e, no fundo, eu queria me tornar um aventureiro.
Ele olhou para mim, surpreso, talvez até chocado.
Durante toda a minha infância, trabalhei com ele na fazenda, observando-o, e pensei que isso fosse apenas o próximo passo.
Mas o que aconteceu nos cinco anos seguintes foi o inferno. Ele me treinava incansavelmente, com uma intensidade que eu não compreendia na época. Ele dizia:
"Não adianta treinar de forma ordinária se quiser ser extraordinário."
Eu interpretei isso como incentivo. Acreditei que ele estava me preparando para ser melhor, mais forte. Agora, três anos após sua morte, percebo o que ele realmente queria.
Ele não queria que eu aprendesse a lutar. Ele queria que eu seguisse um caminho diferente do dele. Talvez, tendo visto o que o mundo da violência trazia, ele desejasse que eu escolhesse outra vida, uma mais tranquila, mais pacífica.
Mas meu egoísmo me cegou. E quando ele partiu deste mundo, eu não estava ao seu lado. Não vi seu rosto no fim.
Ele estaria seriamente decepcionado comigo...
Mas quando ele morreu, eu não fui imediatamente para Orario. Eu queria fugir daquele lugar.
Eu me sentia vazio por dentro; não era apenas tristeza, era algo mais complexo. Eu nunca havia chorado na vida; Eu simplesmente olhava com olhos vazios pelos lugares.
Eu queria escapar do mundo. Então, segui para o leste, apenas leste, durante vários meses.
Nos lugares por onde passei, ouvia histórias sobre deuses cruéis, mas também sobre deuses bondosos. Contudo, o interesse em me unir a uma Família foi lentamente se dissipando.
Como eu sabia lutar, comecei a trabalhar como explorador e, ocasionalmente, caçador de monstros. Embora os monstros fora da Dungeon sejam relativamente fracos, vencê-los não é tarefa fácil.
Durante dois anos, trabalhei nesse ofício. Até que, um dia, enquanto estava em Rakia, na cidade do deus Ares, ouvi uma história intrigante.
Diziam que havia uma fortaleza em ruínas, cercada por um grande lago, distante daquela cidade. Eu já havia ouvido histórias similares antes, muitas delas felizes e tranquilas, mas raramente apareciam.
Seja pelo bom álcool que eu consumira ou por não estar em meu juízo perfeito, decidi que iria explorar aquelas ruínas. E lá estava eu, no meio do nada, fazendo o que não fazia sentido algum por razões que eu mal compreendia.
Eu costumava pensar que minha vinda para este mundo tinha um propósito, que eu faria grandes coisas. Mas, lentamente, comecei a questionar: que grandes feitos poderia realizar uma pessoa comum? E então, fui levando-me ao pensamento de que minha existência poderia ser um erro...
Até que então descobri uma passagem secreta que levava a um subterrâneo.
Era um lugar tão escuro e vazio que até a luz mais brilhante parecia ser engolida pela escuridão daquele local.
Era um lugar terrível, que eu ousaria chamar de amaldiçoado.
— Eu me lembro de você, rapaz.
— Você é o pirralho que está usando as roupas de Lyon...
— Ainda pensa em fingir ser alguém que você não é...
O lugar estava definitivamente amaldiçoado. Eu ouvia vozes diferentes, com tons variados, tentando se comunicar comigo.
— Alguém como você nunca deveria ter vindo para esta terra.
— Você não tem o direito de receber essa dádiva...
— Você falhou comigo...
Foi então que meus ombros tremeram. A voz que eu ouvi era familiar, uma voz que ecoava com um peso que eu não esperava enfrentar.
— Tio... Eu não o chamei. Eu apenas não queria fazer isso, não sabia o que aconteceria se eu respondesse.
Continuei a me mover naquele lugar escuro, onde não importava para onde olhasse, apenas a escuridão parecia se expandir. Eu carregava uma tocha, mas sua luz mal iluminava meus próprios pés.
À medida que avançava, as vozes tornavam-se cada vez mais audíveis, como se estivessem se aproximando de mim. Era como se o próprio lugar tentasse me expulsar...
Fortes e frios ventos começaram a soprar, atacando-me com uma força implacável. A luz da minha tocha começou a diminuir, e eu me vi lutando para manter o equilíbrio. O vento era tão intenso que precisei cravar minha espada no chão para me segurar.
Então, senti algo... Foi apenas por um momento, um instante tão fugaz quanto um piscar de olhos. Mas, nesse breve lapso, vi uma sombra com dedos secos, quase como um fantasma, envolvendo-me e sussurrando algo.
Antes que pudesse processar completamente o que estava acontecendo, movi-me em um impulso quase instintivo e cortei a mão da aparição com minha espada. A sensação do aço contra o ectoplasma era desconcertante, e a sombra desapareceu com um gemido de raiva.
Foi naquele momento em que eu vi...Eirina...
Naquele momento na dungeon, eu senti meu sangue ferver. Aquele era o meu momento. Não precisava de pensamentos pessimistas e situações desfavoráveis. Toda a minha vida foi uma luta! Eu não esperava por oportunidades ou pela sorte; eu mesmo as fazia!
Não ficaria sentado vendo minha vida passar diante dos meus olhos como se fosse o último momento da minha existência.
— GRAAAAA!!!!!!!
Avancei em direção aos orcs que me cercavam.
Um deles tentou me golpear pelo lado novamente, mas desviei por pouco. Com um esforço concentrado, um leve brilho apareceu em minha espada por alguns segundos, como se pequenas luzes estivessem dançando ao seu redor.
Minha espada curta então cresceu, transformando-se em uma espada longa. Com um ataque feroz, cortei o orc ao meio. Meus ossos ainda estavam quebrados, minhas costelas doíam e meus ferimentos sangravam, mas naquele momento, decidi ignorar toda a dor.
O segundo orc avançou, brandindo sua clava em um movimento vertical. Sua cabeça ficou ao alcance da minha espada, e sem hesitar, perfurei sua cabeça, quebrando sua pedra mágica e transformando-a em pó.
No instante seguinte, o dragão mordeu meu braço, levando-o até perto do meu ombro. Ele me ergueu pelo ar, mas não perdi tempo. Agora, ao alcance da cabeça do dragão, enfiei minha espada no outro olho dele.
O dragão largou meu braço, que estava em frangalhos, mas ainda segurava a espada que estava presa em sua cabeça. Com um movimento rápido, subi na cabeça do dragão e, com meu braço em frangalhos, uma luz surgiu novamente, como se pequenas luzes dançassem ao meu redor. Elas se juntaram e se transformaram em uma foice de uma mão, que finquei no outro olho do dragão.
— Ahhhh!!!!
Eu puxei a foice para cima com todas as minhas forças. Sentia meus ossos estalando e o sangue escorrendo pelo meu corpo. Mas continuei. Continuei até que os ossos do crânio do dragão se quebraram e se partiram sob a pressão que eu exercia.
O dragão infante estava morto. Enquanto seu corpo desaparecia lentamente, terminei de jogá-lo no chão.
— Seu pedaço de merda.
Alguns monstros ainda estavam ao meu redor, mas isso não importava.
— Venham, então...!!!
— Venham logo me matar!!!
— Não pensem por um momento que deixarei vocês saírem daqui.
...