Ileus: O Príncipe das Trevas

A montanha coberta de neve que se estendia atrás do palácio emulava seu humor.

A luz da lua atravessava a janela do quarto de Anastásia na ala norte. Ela observava a entrada principal do Palácio Kralj enquanto os convidados subiam as escadas para comparecer ao baile. Era a noite anterior ao seu casamento com Aed Ruad, o Príncipe da Coroa, seu primo. As celebrações se arrastaram por toda a semana. De onde estava, podia ver as mulheres rindo alegremente enquanto delicadamente levantavam seus caros vestidos e subiam as escadas. Elas enlaçavam suas mãos calorosamente pelos braços de seus homens afetuosamente enquanto os envolviam com suas asas de um lado.

Anastásia odiava cada momento disso. Desde a manhã, ela tinha vomitado mais de cinco vezes com puro nojo. Ela completaria dezoito anos no dia seguinte — a idade legal para se casar no Reino de Vilinski — um dia pelo qual Aed Ruad esperava por dez anos.

"Você está deslumbrante, minha princesa," disse Nyles, interrompendo seus devaneios enquanto ela fixava o véu que caía até o queixo de Anastásia com um pente dourado na parte de trás. Com apenas cinco anos a mais que Anastásia, Nyles havia servido a última como empregada antes mesmo de ela entender o significado da palavra. No entanto, elas eram mais amigas do que empregada e senhora. Às vezes, Anastásia se sentia mal por Nyles. A garota foi arrancada de sua casa muito jovem para ficar com ela.

"Espero que o laço perolado do véu não esteja te machucando," disse Nyle.

Estava... Muito.

Tradições.

Repulsa.

Ninguém deveria ver o rosto da noiva por dois dias antes do casamento. Somente após o casamento o marido levantaria o véu e a beijaria, marcando o fim do ritual. Seus lábios tremiam só de pensar nisso. O corpo de Anastásia tremia com respirações irregulares.

"Você precisa se livrar dessas inibições, minha senhora," Nyles piscou para ela enquanto lhe entregava uma pílula verde, parte da prescrição medicinal diária de Anastásia. "Amanhã, você vai se tornar a rainha de Vilinski." Nyles juntou as mãos com entusiasmo. "Você sabe o que isso significa?"

O coração de Anastásia caiu até o estômago e ela abafou um vômito, um soluço e lágrimas. Isso significava uma vida inteira de miséria. Ela colocou a pílula na boca e a triturou com os dentes, saboreando a amargura em sua língua. A amargura não era tão ruim quanto a que sentia no coração.

"Vamos, vamos." Nyles estendeu a mão com um grande sorriso. "Seu príncipe está esperando por você."

Anastásia juntou o tule de seu vestido azul-pálido em uma mão e deixou que Nyles a levasse até a porta. Incrustado com milhares de cristais em sua ampla saia que estavam densamente colocados na parte inferior e se dispersavam em direção ao corpete, o vestido a fazia lembrar-se do poder e da riqueza que Aed Ruad estava morrendo para possuir, mesmo que isso significasse casar com sua primeira prima.

Videiras bordadas com fio de prata se entrelaçavam ao redor de seu decote redondo, realçando o volume de seus seios. As mangas longas, mas esguias, terminavam com mais cristais na borda. O brinco de diamante em forma de lágrima roçava em seu pescoço, refletindo brilhos. Seu pescoço esguio era iluminado por ele, tornando sua forma ainda mais atraente.

Nyles insistiu em trançar seu cabelo loiro para que o véu ficasse bem posicionado sobre sua cabeça. As sandálias de Anastásia eram feitas de seda azul-pura com almofadas macias na sola.

Seu coração batia contra a caixa torácica enquanto ela caminhava com Nyles até a porta.

Assim que Nyles abriu a porta, os olhos azul-safira de Anastásia se encontraram com os de Kaizan — os azul-pálidos que cintilavam um amarelo dourado. Seu coração pulou uma batida e ela suspirou pela milésima vez. O homem era uma recomendação de Maple, a irmã gêmea de Aed Ruad, para ser o chefe da segurança dada à princesa há quase dois meses agora.

A segurança dela era tão massiva que Anastásia se sentia sufocada como se estivesse em uma prisão. Ele havia ingressado na equipe de segurança um ano atrás porque Maple tinha um gostar especial por ele. Segundo informações de Nyles, Maple havia se apaixonado por ele.

Anastásia lembrou do que ele havia dito naquele dia enquanto passeava em seu jardim privado. "Esta é sua última chance de escapar, princesa." Anastásia estava observando as festividades na rua principal da capital de Vilinski que dava para as sebes de seu jardim. Sua mão havia ido inadvertidamente ao seu pescoço. Ela tinha certeza de que iria se engasgar até a morte.

Maple, a irmã gêmea de Aed Ruad, a havia castigado no dia anterior por se recusar a casar com ele. Não era a primeira vez, também. Não era apenas recusa que levava à punição. Sempre que fazia algo considerado inapropriado, ela era punida — seja por Maple ou Aed Ruad. A punição geralmente ocorria no quarto de Maple.

Kaizan prometeu que ela seria livre se ousasse fugir. Ele a ajudaria a se esconder, levá-la embora, e fazê-la desaparecer.

Sua respiração ficou presa. Estava pronta? Ele poderia levá-la embora apesar da pesada segurança?

Milhares de pensamentos cruzaram sua mente. Anastásia baixou os olhos, e Kaizan se endireitou.

Kaizan seguiu atrás e foi acompanhado por mais uma dúzia de guardas. Somente o farfalhar de seu vestido de seda podia ser ouvido nos longos e tênues corredores iluminados, além dos passos dos guardas atrás dela.

Após uma longa caminhada, eles chegaram a uma espessa, mas finamente trabalhada porta de mogno que levava ao salão do banquete. Imediatamente, o guarda real anunciou sua chegada.

"Sua Alteza, Princesa Anastásia Lochlain!"

A conversa na sala parou abruptamente. Ela olhou para o mar de rostos mascarados e trajes luxuosos. Eles se afastaram e ela viu Aed Ruad caminhando em sua direção com um sorriso frio em seus lábios finos. Vestindo uma capa dourada com o emblema real sobre uma camisa branca e calças, ele andava com confiança. Sua máscara dourada incrustada de diamantes estava atada cuidadosamente atrás de seu cabelo preto. O homem era um assassino cruel de mais de seis pés de altura.

Ela segurou seu vestido tão firmemente que amarrotou em seus punhos. Suas palmas ficaram mais suadas e ela pensou que desmaiaria por causa do pânico que se alastrava em seu corpo como uma cobra venenosa.