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14. Chocolates.

LIZ

30 dias para o baile de inverno.

Maya me puxou do banheiro com toda sua "delicadeza" característica, fazendo meu breve contato com Cecília se dissipar. Maya mesmo tentando não consegue ser muito delicada, isso é um fato. Nem de perto me tratou da mesma forma que Cecília. Ela é tipo de amiga que preciso para essas horas, Maya que me perdoe...

Demos de cara com Madelaine Becker parada em frente a porta do banheiro, ela parecia ansiosa ao cutucar freneticamente o seu celular. Mas ao me ver ela desviou seus olhos do aparelho notando Maya e eu.

— Er... Você... Está bem?

— Não.

— Tem algo que eu possa fazer para ajudar?

— Não.

Apenas dou uma resposta curta e dessa vez sou eu quem puxo Maya, Madelaine me acompanha com os olhos. Tento não olhar para ela e falho nesse ato miserável, ela nem de longe parece a garota petulante de hoje mais cedo ou do dia anterior quando encurralou e me beijou.

— Vocês...

— Maya... — Interrompo ela antes mesmo que ela fale alguma coisa idiota. — Não tem nada a ver com ela essa coisa toda que aconteceu...

— Entendi, não quer falar sobre isso agora.

— Não é sobre ela, é sobre mim. — Tento explicar enquanto Maya anda comigo em direção ao seu carro. — Tudo parece sair da forma que não é o que quero, isso...

— Isso te deixa em desespero, certo?

— Exatamente. — Confirmo ficando menos mal por saber que Maya apesar de tudo ainda me entende um pouco. — Me deixa maluca.

— Deve ser uma sensação exaustante, Lo. — Maya me junta num abraço desajeitado de lado. — Vamos "atropelar" isso tudo...

Ela dá uma risadinha idiota e me olha, nunca foi conhecida por bom uso das palavras, mas Maya tenta, isso que importa. Quando chego ao carro meu enjoo que antes era algo leve se intensifica de forma rápida.

— Você está meio "verde"... Quer ir á enfermaria? — Deixei a porta do meu lado aberta para qualquer eventualidade, Maya jogou nossas mochilas na parte de trás do carro e logo veio para perto de mim com a expressão preocupada.

— Não, eu quero ir embora. — Respondo e respiro fundo, minha respiração ainda não está totalmente normalizada. — Entrega a chave do carro para o Scoot e volta para me levar...

— Certo, tente não piorar enquanto vou lá. — Maya me olha e parece agoniada, não sei se é porque corre o risco de que eu possa vomitar no carro dela ou se está preocupada comigo.

— Farei o possível. — Jogo a chave do carro para minha amiga e ela sai correndo em direção a entrada na escola. Eu fico ali remoendo a merda do meu dia e quando percebo Maya já está de volta, por sorte não tive mais uma crise.

*****

Estava esgotada tanto física quanto mentalmente, mas fui trabalhar na noite passada com a justificativa de sempre: a de não ficar em casa. Gal sabia que eu não estava bem e claro falou que poderia ficar em casa, falei que preferia trabalhar e ela concordou um pouco relutante.

Tinha visto meus pais na tarde anterior, mas foi bem rápido e não trocamos mais que algumas palavras básicas. Maya me mandou mensagem o dia todo depois de ficar pelo menos duas horas deitada em minha cama, segundo ela cuidando de mim.

Cecília Castillo lhe mandou algumas mensagens perguntando do meu estado, se fosse em outra circunstância Maya estaria me jogando para cima da latina, da mesma forma que fez em sua casa depois que lhe contei sobre minha sexualidade.

Pela manhã sentia ainda mais esgotada depois da noite mal dormida. Ao contrário de todas as outras manhãs eu não sentia fome, estava apenas nervosa. A sensação de ansiedade, mesmo que em escala menor, ainda preenchendo meu peito e me perturbando.

— Vamos tomar café. — Os braços do meu pai me rodearam e ele me abraçou apertado, mesmo sendo corpulento papai tinha um dos melhores abraços. Papai gostava de fazer rodeios, mas ele não fez nesse dia. — Sua mãe não está brava com você nem nada disso, ela só está querendo o seu melhor.

— Ela tem que me respeitar, pai... — Respiro fundo. — Respeitar minha opinião.

Não estou apta para falar nada direito, sinto angustia e a vontade de chorar aparece. Será que não sei conversar sem as lágrimas aparecerem?

— Certo, filha, é um direito seu. — Papai beija minha testa. — Agora apenas tente se animar, tome seu café e outro dia sentaremos e teremos uma boa conversa.

Se fosse só a universidade que me traz problemas estaria no lucro. Ser uma covarde não é fácil.

*****

wayhaughtvibes

Você está bem hoje?

Desculpa por não poder te ajudar ontem

Pelo jeito você não foi a única a ter um dia ruim no colégio

Estou um pouco melhor

Não sei o que aconteceu ontem, só sei que foi um dia horrível

Você também teve um mal dia?

Não, não foi comigo...

Foi com alguém que conheço

Mas espero que me desculpe por não te ajudar de verdade ontem

Estou bem, não se preocupe

Eu tive uma garota cuidando de mim, além da minha amiga

Essa garota é apenas minha conhecida, mas foi muito gentil comigo e isso foi incrível da parte dela

Estou muito feliz que teve alguém para cuidar de você, gostaria de ter feito isso

Ontem também cuidei de alguém, mesmo que um pouco...

Você não acreditaria de quem foi, mas isso não vem ao caso

Espero que seu dia seja bom :)

Obrigada, Waves

Que o seu seja também :)

Olhe na sua mesa hoje na aula do Sr. Jackson 😉

*****

— Saiu a lista dos candidatos a rei e rainha do baile de inverno. — Maya comenta por instinto, ela sabe que isso não é algo que eu queira saber, mas o papel colado na parede lhe chama mais atenção.

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09º ano — Sidney Wilson —— Gaten Butler

10º ano — Amandla Jones —— Nicholas Young

11º ano — Danielle Schmidt —— Oliver Jonhson

12º ano — Liz Rodriguez —— Rick Mendes

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— Schmidt e o Rick vão ganhar. — Comento e fico até um pouco feliz por isso, assim as atenções não vão estar voltadas para mim. — Com certeza.

— Não acho, apesar da Danielle ser da torcida e ser popular assim como você, ela não é o braço direito da Madelaine. — Maya fala com convicção e eu fico com receio, não quero ganhar o posto de rainha.

Madelaine quem deveria estar competindo e na verdade não sei porque ela não está. Ou até Ingrid Edwards, ambas poderiam ocupar a vaga do 12º ano.

— Eu não sou o braço direito dela, você sabe que não sou.

— Eu sei que não, mas as pessoas pensam que é. — Maya explica e faz aquela sua cara de esnobe, como se eu fosse a pessoa mais lerda do mundo e ela não tem paciência para isso.

— As pessoas são burras.

Maya ri quando meu tom sai um misto de irritação e sarcasmo, um segundo depois ela já está falando de outra coisa.

— Acho que "OJ" deve ganhar por fazer do time de futebol. — Maya segue o caminho sem me puxar junto como ela sempre faz. — O Rick só é um "garoto mau" que namora uma garota famosa por ser da torcida.

— Eu realmente não quero pensar sobre isso. — Sorri um pouco, estava ansiosa, pelo menos era por algo legal. Desde que "Waves" me disse que teria algo para me dar. — Só quero chegar logo na aula do Sr. Jackson.

— E por quê? Ficou maluca?

— Sabe a minha amiga virtual daqui da escola? — Pergunto e Maya confirma com um: uhum. Ela é meio enciumada sobre amizades novas. — Ela vai deixar algo para mim na sala do Sr. Jackson por isso estou querendo chegar lá rápido.

— Só isso mesmo para fazer alguém querer ficar à mercê das cusparadas daquele homem.

— Você é terrível. — Sorrio para Maya, ela me empurra 'levemente' o que quer significa que ela me faz esbarrar em alguns armários no corredor. — Vou para minha aula agora, até mais.

— Não faça isso, Liz, aquele homem está cuspindo mais que o normal hoje. — Maya quase suplica, ela está querendo 'matar' aula que eu sei e está a procura de um companhia. — Além disso eu tive aula lá no período anterior ao intervalo e pelo jeito não tinha nada na sua mesa se não teriam achado.

— Não vai rolar, Maya. — Puxo as alças da minha mochila. — Você não vai me convencer...

— Droga! — Ela esbraveja, continuamos caminhado, quando chego na classe do Sr. Jackson Maya me empurra. — Até mais, vacilona!

Entro na sala e o Sr. Jackson não está lá, imagino que seja porque estávamos no intervalo e ele deve estar na sala dos professores terminando seu lanche ainda.

Estou pronta para sentar no meu lugar e me sinto ansiosa para saber se tem algo por baixo da mesa, mas sou impedida por um puxão no meu braço. Me viro para ver quem é, eu não ficaria surpresa de ser qualquer desconhecido querendo me perguntar se estou bem depois do dia anterior e o meu surto, até porque não vou ser hipócrita de mentir que não percebi cada um dos alunos me olhando no corredor.

— Você está bem?

— Sim. — Falo e olho para Madelaine, ela toca no meu braço esquerdo. — Já pode ir sentar no seu lugar.

— Não precisa ser grossa. — Retruca irritada, Becker parecia bem antes da minha falta de paciência com ela. — Só fiquei preocupada.

— Não quero falar de nada com você aqui. — Sussurro porque já passei os olhos pela sala e sei que tem algumas pessoas nos olhando. — E tira essa mão do meu braço.

— Uh, nossa. — Usou da arte do sarcasmo que ela muito bem conhece e tirou a mão do meu braço mesmo assim. — Você fica muito arredia quando estou por perto, por que hein?!

Ela piscou e começou a se afastar, puxei seu braço dessa vez antes que ela saísse de perto e me inclinei para sussurrar na orelha dela:

— Vai se foder, Madelaine!

— Vem comigo que eu vou.

Ela respondeu e eu larguei o braço dela. Sentei na minha cadeira e suspirei irritada com a Becker. O Sr. Jackson chegou e acabei esquecendo de tudo quando me centrei na explicação da matéria dele e em não levar cusparadas também.

Mas em dado momento pensei na 'Waves' e em como ela pode ser fisicamente, então acabei lembrando de procurar por algo na mesa. Inicialmente eu não encontrei, tive que esticar mais meu braço para conseguir encostar em algo no fundo. Puxei a embalagem para frente e depois abri a mochila, fiz tudo sem me inclinar para chamar atenção de ninguém e depois joguei a embalagem dentro da mochila.

Era uma caixinha feita de algum tipo de papel reforçado. Abri a tampa e encontrei algumas minis barras de chocolate, junto de um papel dobrado.

"Oi, espero que goste de chocolates (você será a pessoa mais estranha do mundo se não gostar)! Eu sei que está mal e pensei nisso numa forma de tentar deixar tudo menos pior já que os chocolates são conhecidos por aumentarem os níveis de serotonina (bem eu acho, ouvi isso de alguém aqui em casa), que é conhecida como hormônios da felicidade. Então aproveite e espero que fique melhor, beijos...

:)"

*****

Saio da aula do Sr. Jackson e sigo para a próxima que é História. Estou feliz por ter recebido chocolates de 'Waves' e até como um enquanto caminho no corredor.

Jogo a embalagem no lixo e esbarro no corpo magro de Cecília Castillo, ela sorri sem graça quando ambas paramos para nos desculpar.

— Desculpa. — Falo e sei que fico vermelha, meu chocolate quase caiu pelo ligeiro susto.

— Você está bem? — Ela me pergunta e remexe seu corpo parecendo nervosa. Sei que ela não está perguntando do momento pelo esbarrão e sim do dia anterior. — Eu fiquei preocupada, mas não quero ser inconveniente, desculpa por...

— Estou melhor. — Balanço a cabeça para confirmar e olho para baixo, vejo meu chocolate pela metade e levo um pedaço a boca. — Você me ajudou muito e não está sendo inconveniente.

Cecília me observa e me olha nos olhos com suas íris cor de chocolate por alguns segundos quando ergo meu rosto.

— Menos mal.

— Você aceita chocolate? — Ergo a barra quase no seu rosto, em um gesto meio estranho. — É crocante!

Cecília sorri e nega com a cabeça de forma que parece envergonhada, mesmo que ela pareça nunca ficar dessa forma.

— Obrigada, comi muito no intervalo! — Ela dá uma inclinada para frente, diminuindo mais nossa distância. Por sorte não atrapalhamos o fluxo de pessoas no corredor por estarmos no canto, perto da lixeira quando nos esbarramos. — Esse é um dos meus favoritos, quem sabe outro dia...

Ela dá a entender que está indo embora porque seu corpo está inclinado para o lado onde o fluxo de alunos passam ainda que esteja próxima do meu corpo.

— Certo, temos que ir para nossas aulas. — Sorrio sem graça, pior que nem sei o motivo da minha vergonha.

— Isso. É, temos. — Cecília concorda rapidamente, ela se inclina e eu paraliso quando com sua aproximação. Fico sem respirar quando seu rosto se aproxima do meu e ela deixa um beijo na minha bochecha esquerda. — Até mais!

Sinto o cheiro dela me rodeando depois que ela se afasta e vai embora. Meu rosto está quente no local que ela beijou. Me viro para falar um "até mais" e vejo ela indo embora no corredor na sua calça jeans colada.

Não olho demais para sua bunda porque isso seria chamar atenção para mim e vou para minha aula. Chego atrasada, não por culpa da conversa, mas sim porque eu não conseguia andar rápido enquanto pensava no que tinha acontecido no corredor com Cecília Castillo.

Algo tinha acontecido, certo?

*****

Deixei Scoot e Lyra irem embora no carro e depois eu acharia uma carona ou até ligaria para Maya me socorrer.

O treino foi puxado, a competição está próxima e tem jogo no colégio na sexta. Não fico para trás quando o treino acaba, mas não consigo ser uma das primeiras a tomar banho. Estou esperando sentada num dos bancos do vestiário vendo algumas coisas no Instagram.

— Já tem box liberado, Liz.

Deixo o meu celular de lado para olhar para Cecília Gomez.

— Obrigada por avisar.

E como Gomez apareceu, ela se foi. Vi Ingrid Edwards e Sina Reinhart conversando, cada uma em seu box, é um tanto estranho tomar banho e conversar com alguém ao lado fazendo o mesmo por isso evito tomar banho aqui ou quando tem muitas garotas fazendo isso.

Acabo demorando demais até porque estou consciente de que vou voltar para casa andando e não preciso de pressa. Depois de sair vou me trocar, sei que alguém está conversando, mas não dá para entender porque estão no tipo de hall de entrada que antecede os boxes e armários onde estou. Para ser mais exata onde Madelaine me beijou. Junto minhas coisas e sigo devagar para onde as vozes vem.

— Você desistiu de ser rainha do baile, mas deixou a Rodriguez. — Era Danielle Schmidt falando e mesmo que eu não estivesse vendo ainda eu sabia que o papo era com Madelaine. — Ela vai ganhar e você sabe o quanto eu quero isso!

— Eu já saí da competição e você me vem com essa ainda, não posso fazer nada, Danielle. — A garota bufa tão alto que deu para escutar.

— Você que não dê um jeito, sei muitas coisas suas.

Madelaine gargalha sarcástica.

— Quer me ameaçar? Não sou eu que pegou meu namorado comendo outro cara no banco de trás do carro dele.

Uau, dessa eu não sabia! Louis com um garoto, uh...

— Você quer que eu "explane" seus podres, vadia? — Schmidt questiona. — Posso fazer isso...

— Faça o que você quiser. — Madelaine responde irritada. — Liz não quer ganhar isso e se você ganhar vai ser um favor para ela, então vou te deixar ser o centro das atenções nesse jogo e você tem que fazer o resto, querida.

Elas ficam caladas e tomo isso como uma oportunidade para sair de trás da parede que nos separa e indo para o hall de entrada do vestiário.

— Quero o OJ também, você t...

Danielle fica calada quando me vê, Madelaine me olha com sarcasmo. Agora que eu sei que Schmidt tem algum tipo de implicância comigo não faço questão de olhá-la.

— Ficou até mais tarde hoje... — Madelaine comenta me avaliando. Elas ainda estão de uniforme da torcida enquanto estou com uma roupa normal. — Precisa de alguma coisa, Rodriguez?

— Preciso, mas acho que você não pode resolver. — Danielle me olha, ela não parece me julgar, diria que ela até tem algum tipo de respeito por mim. Becker me desafia com sua petulância que não me surpreende, ainda mais depois da forma que tratei ela na aula de literatura. — Preciso de uma carona, só que...

— Eu te levo.

— Não precisa. — Nego rapidamente o que Madelaine falou. — Posso ir andando mesmo, não quero te ocupar.

— Não vai, já estava de saída mesmo. — Ela olha para Schmidt como se fosse confirmar o que havia dito. Danielle sorri e me olha quando fala:

— Eu já estava indo também.

— Então vamos, Rodriguez.

Madelaine sai do vestiário, a sigo achando que não me meteria em mais merda pelo menos por uns dias...