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13. Ansiedade.

CECÍLIA

12 de dezembro — Terça

Maya sai com Liz e eu aproveito para comer mais uma banana, a terceira. Isso porque eu tomei um bom lanche da manhã antes de sair de casa. Com o passar dos minutos meu tédio anterior a chegada de Liz foi chegando. Ela foi até que legal comigo antes da chegada de Maya da academia.

Seria só o pessoal da escola com as línguas "afiadas" demais? Porque Liz Rodriguez não parecia de todo mal.

Maya demorou um pouco dentro de casa com Liz, mas quando voltou estava sem a amiga e parecia ter saído do banho. Ela me chamou para dentro de casa, pedindo para que eu levasse algumas frutas. Assim fiz e levei as cascas das bananas que tinha comido junto, assim como minha mochila que estava antes jogada no gramado perto do banco que eu estava sentada.

Turner pediu desculpas pela demora e falei que tudo bem, eu não quis perguntar sobre Liz porque não achei ser conveniente, então iniciamos nosso trabalho sobre Charles Bukowski.

— Esse velho é muito safado. — Maya comentou me fazendo rir. — Não costumo ler, nem quando tenho trabalhos, mas essa semana como eu tinha ninguém para ocupar meu tempo falando além dos meus irmãos li dois livros do Bukowski, esse velho é incrível!

— Ele é mesmo, escreve poemas como ninguém também. — Elogio, pois é meu poeta favorito nos últimos tempos. — Ele joga umas verdades na sua cara...

Apesar de já ter feito dois ou três trabalhos em grupo com Maya eu não sabia que ela não levava as coisas a sério, pensei que ela fosse mais dedicada. Mas pelas coisas que ela conta ela é tudo menos isso, só que não me importo já que ela parece ter se empenhado e até leu alguns livros.

— Li alguns poemas em um dos livros que peguei na escola... — Maya fala e abre sua mochila tirando de lá 5 livros. Fiquei me perguntando como ela conseguiu pegar mais que dois de uma vez, devido por não questionar seus métodos e fico calada. — É a primeira vez que realmente me empolgo com alguma leitura e olha que eu achei que fosse ser o pior trabalho do ano por ser do Sr. "Cuspidor" Jackson.

Gargalho e falo sobre as obras de Bukowski e os meus poemas favoritos. Maya e eu desenvolvemos a biografia que vamos contar e depois cada uma fez uma resenha da obra favorita junto com uma crítica.

Saio da casa dos Turner quando eles estão indo almoçar, Maya tem tantos irmãos! Fiquei admirada de nenhum deles ter nos interrompido durante a realização do trabalho, provavelmente o quarto dela é um lugar privado de irmãos, bem ao contrário do que aconteceria na minha casa mesmo que Daise seja só uma.

*****

Maya e eu trocamos mensagens no domingo (ela pediu meu número) e mesmo que tenhamos nos encontrado na segunda trocamos mais mensagens sobre o nosso trabalho.

Hoje nós demos um show para o Sr. Jackson sobre meu querido Charles Bukowski. Maya é incrível quando se empenha (mesmo que ela só tenha feito isso durante o final de semana e na segunda, de fato), ela falou com propriedade na hora das perguntas que alguns colegas quiseram fazer. Com certeza vamos tirar nota máxima.

Maya fica tão animada que me acompanha até o refeitório depois da aula, ela me segue até a fila conversando e depois senta na minha mesa. Ela cumprimenta Martin e Ingrid, os dois respondem estranhado a Turner ali mas não perguntam ou julgam isso, seguem conversando entre si.

A Turner parece uma comediante com suas piadas a todo momento, ela é com certeza melhor que eu nisso. Mas por algum tempo ela fica calada e começa a comer parecendo bem à vontade com o meu ambiente rotineiro.

Ingrid e Martin estão bem calados para o normal, ambos comendo o conteúdo de suas bandejas. Acho estranho, mas decidi por prestar atenção em outras coisas... Tipo Liz Rodriguez parecendo perdida e logo depois vindo a mesa onde estamos.

— Oi. — Ela parece com medo de falar, o que é estranho para uma garota da torcida (elas costumam ser mais soltas).

Dou um sorriso para ela tentando passar certa confiança, não sei se ela entende isso.

— Oi. — Meus amigos respondem meio acuados, Maya por si só já era muita novidade, com Liz Rodriguez ali então...

Ficamos em silêncio e Maya enfim parece acordar e virar para olhar a amiga. Martin, Ingrid e eu estamos de frente para Liz.

— Vai ficar aqui? — Liz pergunta olhando para sua amiga,

— Eu ia... — Maya fala corando um pouco o que parece algo bem improvável. Liz tanta sentar na cadeira ao lado da amiga e é impedida pelas mãos da Turner que logo fala confusa. — Espera... Vai sentar aqui?

— Eu queria te contar uma coisa que aconteceu, mas já que quer ficar aqui nós ficamos e depois conto. — Liz não parece ligar para o fato de não sentar sozinha com Maya, mas parece relembrar a amiga do fato.

— Não! Vamos logo para nossa mesa. — Maya levanta tão rápido que me assusta um pouco, Liz tem um sorriso quase imperceptível no rosto, ela não parece muito bem. — Desculpa, talvez eu volte essa semana...

— Até mais.

Meus amigos estranham mais que eu quando Liz gesticula dando um "até mais" e leva Maya consigo.

— Estraaanho... Uh.

Martin fala e eu olho para ele rapidamente, não digo nada. Ingrid concorda com nosso amigo e logo depois começa a falar de algum outro assunto, o que me deixa surpresa por ela perder a oportunidade de falar de Liz.

*****

oitnbguezz

Bom dia, Waves

Obrigada por desejar bom dia mais cedo, mesmo que não esteja funcionando bem o seu desejo

Sinto muito pelo seu dia ser uma merda :(

Gostaria de poder te ajudar, talvez eu possa...

Ou não?

Acha que pode me ajudar a convencer meus pais que não quero ir uma universidade longe ou uma profissão que não quero?

Acho que a resposta é não

Não acredito que eles querem escolher seu curso

Quem vai trabalhar depois é você e não eles! Isso é loucura, você vai ser infeliz nisso se não for escolha própria

Waves, exatamente isso!

Você me entende

Eu gostaria de saber quem é você às vezes, só para escutar tudo que me fala

Você não precisa me ver falar nada, desde que eu possa te ajudar...

Sei que não quer que saiba quem você é e eu nunca pediria por isso então não precisa falar essas coisas, Nicol

E saiba que sempre estarei sorrindo para você :)

Obrigada por ser incrível e compreensiva sobre eu não querer me revelar

Um dia ainda vamos ver o sorriso uma da outra, prometo

Talvez eu possa ganhar um abraço?

Talvez? Não, com certeza

Eu teria satisfação em lhe abraçar!

*****

— Faltam pouco mais de 30 dias para o baile de inverno... — Meu celular vibra no bolso da minha calça enquanto a diretora Edwards fala com empolgação. — E estou aqui para apresentar à vocês os candidatos a rei e rainha!

Maya:

Eiiii

Estou na arquibancada bem na sua frente

Estou te vendo kkkk

Estou tentando, com muito esforço, diga-se de passagem, descer daqui 😂

Você pode chamar a Liz para ficar com vocês enquanto descubro como descer daqui?

Posso, onde ela está?

Perto das portas do ginásio

Ok

Obrigada 😘

— Vou começar pela candidata a rainha do nono ano...

A diretora continua seu papo sobre o rei e rainha do baile de inverno. Não faz muita diferença para mim, acho isso superficial.

Balanço o braço direito de Ingrid e ela me olha mesmo que prefira ver quem é a candidata a rainha do nono ano.

— Oi?

— Vigia a minha mochila, já volto. — Deixo minha mochila ao lado do corpo da minha amiga, antes estava sobre minhas coxas, e levanto.

Ingrid me olha desconfiada e segura a sua vontade de perguntar onde estou indo.

— Se ela sair correndo eu seguro!

— Engraçada você, há-há. — Lhe dou um sorriso irônico e saio andando em direção as portas do ginásio, já avistando Liz Rodriguez conversando com Madelaine Becker.

— No décimo ano a candidata...

Quando estou próxima de Liz vejo que ela parece não estar no que eu conheço como seu normal. Parece nervosa sob o olhar convencido de Madelaine em si.

— Eu...

Penso se é certo interromper o que está rolando ali. Fico confusa sobre, mas acabo decidindo o que fazer.

— Liz? — Liz vira sua cabeça para a esquerda, onde estou. — Maya mandou mensagem falando que é para você sentar comigo... Ela está tentando achar um jeito de descer de lá.

Mostro com meu dedo indicador a localização de Maya, uns metros à frente de onde estava anteriormente.

Liz sorri para Becker que continua com seu sorriso orgulhoso. Observo as duas, aí tem coisa...

— Vou com a Castillo. — Liz responde para a outra líder de torcida, Madelaine pelo jeito não gosta da resposta. — Vamos?

Liz pergunta e acabo apontando a direção que vim.

— Vamos, Ingrid e Martin estão para lá.

Liz me segue, deixando Madelaine para trás. Ela senta ao meu lado, me fazendo ficar entre ela e Ingrid (Martin está do outro lado da nossa amiga). Meus amigos sorriem para Liz quando ela acena para eles.

A diretora ainda fala, Liz não parece prestar atenção assim como eu. Quando percebo já estou perguntando algo a garota sentada ao meu lado e com sorriso no rosto.

— Está ansiosa pelo baile?

Liz está sorrindo de volta, não um sorriso idiota igual o meu (pior que nem sei porque estou sorrindo assim), mas ainda assim é um sorriso.

— Gostaria de estar animada.

A resposta de Liz Rodriguez me deixa meio boba, não se parece em nada com o que eu imaginei que fosse sair da boca dela. Até porque Ingrid já escolheu seu vestido e está apenas esperando mais uns dias para escolher seu par (ela já foi convidada por alguns caras).

Ingrid está querendo escutar a conversa e fica pressionada contra meu corpo, Liz deve ter percebido isso até porque minha amiga não parece querer ser discreta.

— Por essa eu não esperava. — Solto com abuso e sei que meu sorriso sai um tanto atrevido para Rodriguez que parece ficar corada.

— Posso ser um pouco inesperada.

Tenho que olhar nos olhos de Liz para entender de que forma ela quis dizer aquilo. Parece só uma resposta boba, mas sinto que ela deixa algo implícito.

— ... nossa última candidata a rainha é... — Mais um dos suspenses da diretora Edwards, isso é um tanto chato. — Liz Rodriguez!

— Wow!

Ingrid grita, como uma boa colega de time ela apoia a Rodriguez, assim como as outras. Olho para Liz, com um sorrindo, mas quando meus olhos encontram seu rosto fico confusa. Ela parece um pouco perturbada.

Liz levanta, deixando sua mochila para trás quando anda de cabeça baixa na direção das portas do ginásio. Fico preocupada.

— Vai atrás dela?!

Ingrid parece me mandar fazer isso mais do que pergunta.

— É... Eu vou.

Deixo minha mochila ali de qualquer forma e saio rapidamente atrás de Liz. Vejo ela no corredor quando passo pelas portas do ginásio, sigo—a até que ela entre num banheiro.

Eu não sei o que aconteceu depois que Liz saiu correndo, o que as pessoas falaram dela ou se acharam a reação estranha.

Apenas sei que ela se trancou na cabine do banheiro e está com respirando pesado.

— Liz? Você está bem?

Passam alguns segundos, ela parece tentar controlar sua respiração antes de responder.

— Sai daqui, Castillo!

Parece que ela pode chorar a qualquer segundo pela forma que sua voz está.

— Eu só quero saber se está bem e tentar ajudar... — Liz não me deixa terminar a frase e grita comigo. Ela parece querer que eu vá embora de fato.

— SAI DAQUI!

— Eu não vou sair! — Achei que ela fosse retrucar a tempo, mas sou rápida o suficiente para que ela não o faça. — Pode gritar comigo o quanto quiser.

Liz começa a chorar escuto mesmo que ela tente segurar e respirar mais pesado ainda. Fico próxima a porta da cabine que ela está para tentar uma aproximação. Funciona quando minha mãe tem crises de ansiedade, segundo meu pai (eu nunca presenciei uma porque a mama não as tem com tanta frequência mais).

— Você parece estar tendo uma crise de ansiedade, isso já aconteceu?

— Não. — Sai mais como um grunhido do que como uma resposta.

— Certo... — Sussurro sem saber o que fazer. Não sei como reagir quando não estou olhando no rosto de alguém. — Você pode abrir a porta?

— Não!

— Olha, ok. — Suspiro e sento no chão perto da porta da cabine que ela está, seus tênis batem rapidamente no piso branco. Não é o melhor lugar que ela escolheu se esconder, mas pelo menos o banheiro não está sujo demais. — Você tem que tentar normalizar sua respiração porque assim o resto do seu corpo fica melhor também.

— Não dá para... — Liz funga e continua falando. — Fazer isso.

— Dá sim, vamos fazer assim... — Acabo por puxar uma respiração mais profunda também porque estou ficando nervosa sem saber se vou conseguir ajuda-la. — Inspira, conta até três e expira.

Liz parece puxar o ar profundamente mesmo que ela fungou um pouco por conta do choro recente.

— Um, dois, três...

Passo a contar com ela e fazer a respiração junto. Não penso em mais nada a não ser nesse exercício. Meus joelhos estão contra o meu peito e continuam assim até que o barulho metálico me faz despertar do mantra da respiração.

Liz abre a porta devagar, penso em levantar, mas ela escorrega seu corpo para perto de mim rapidamente. Os olhos estão pequenos e vermelhos, o verde das íris é ocultado por isso.

Desdobro meus joelhos e inclino meu tronco para ficar mais perto de Liz. Ela continua respirando profundamente, só que sem contar em voz alta ao menos. Parece ter vergonha de me olhar então não tento contato visual por mais que eu sinta vontade de limpar a linha de lágrimas no seu rosto seja grande e a vontade de olhar para ela maior ainda.

— Desculpa por isso...

— O quê? — Pergunto, estou incerta do que ela pede desculpas ainda, até que ela repete no mesmo tom envergonhado e amuado.

— Desculpa...

— Não tem que me pedir desculpas, você que está passando por algo.

Ela inspira sugando bastante ar para seus pulmões e puxa seus joelhos para o peito apoiando o queixo ali. Fico calada esperando que ela fale algo. Quando ela não fala eu encosto de novo na divisória da porta e assisto algumas lágrimas escorrendo pelo seu rosto bonito.

Demoro a me dar conta que estou com meu braço esquerdo está envolta das costas dela, meu corpo está mais perto e arrisco a dizer que Liz até se inclinou para cima de mim.

Escutamos alguns passos no lado de fora do banheiro e Liz se encolhe ainda mais, puxo—a para ainda mais perto e ela apoia a mão direita nas minhas coxas quando encosta no meu peito.

— Liz! Enfim achei você... — Maya se abaixa ao lado da amiga que se distancia de mim. — O que aconteceu? Fiquei preocupada quando saiu daquela forma.

Maya deixa as mochilas que carregava no chão, a minha está ali assim como a de Liz.

— Eu não sei direito o que deu em mim... — Liz funga e no momento seguinte ela está abraçando Maya, parece sussurrar algo na orelha da amiga, mas não escuto o que ela fala.

— Vou procurar o Scoot para entregar a chave do carro e depois te levo em casa. — Maya se afasta de Liz enquanto fala. Me levanto do chão e pego as mochilas. — Espera no carro.

— Ok. — As duas levantam também, Liz recebe as chaves do carro da amiga e me olha ficando vermelha. O rosto ainda está molhado, mas pelo menos ela parou de chorar. — Obrigada, Cecília.

— Não tem que agradecer.

— Temos sim, obrigada. — Maya se pronuncia parecendo realmente grata por eu ter vindo atrás de Liz, ela me toca no braço, sorrindo, e pega sua mochila e a de Liz.

— Você foi muito gentil... — Liz tenta sorrir, mas sua boca mal mexe os cantos.

— Não foi nada. — Sorrio para ela, nada exagerado por conta situação toda. — Estou pensando em ir agora, mas se precisarem de mim...

— Acho que Maya dá conta agora. — Liz responde, acho que ela tentou uma piada ou só foi impressão minha.

— Certo, mas se...

— Ok, te chamamos.