Eleonora olhou para o céu noturno, as estrelas pareciam sussurrar segredos antigos, guiando-a para um caminho que apenas ela poderia trilhar. "Eu sou a reencarnação de Eleah," ela murmurou para si mesma, "e com isso, talvez eu possa corrigir os erros do passado."
Com determinação renovada, Eleonora começou a estudar os antigos textos e artefatos que pertenceram a Eleah, buscando entender a extensão de seus poderes e a verdadeira natureza da maldição que assolou sua família. Ela sabia que Reikyli ainda estava por aí, em outra dimensão, aguardando o momento de retornar e continuar sua vingança.
Enquanto isso, em um reino esquecido pelo tempo, uma figura encapuzada observava Eleonora de longe. "A última descendente de Eleah," a figura murmurou. "Será que ela tem a força para enfrentar o que está por vir?"
23 anos atrás,
Reikyli, selado em sua dimensão prisional, tramava sua vingança. O ódio e a inveja que o consumiam haviam se transformado em uma força sombria e distorcida. Ele sabia que a reencarnação de Eleah estava prestes a reencarnar e logo estaria no auge do poder que poderia desafiá-lo, e ele não podia permitir isso.
Reikyli convocou seus seguidores mais leais, sombras que haviam sido banidas junto com ele. "Chegou a hora," ele rugiu," de reivindicarmos o que é nosso por direito. O poder que Reikoly escondeu de nós será nosso novamente, e eu serei o deus supremo de todas as criaturas sobrenaturais."
Ele enviou seus espiões através das fendas entre as dimensões, procurando por fraquezas no selo que o mantinha prisioneiro. Ele sabia que a próxima reencarnação de Eleah era a chave; se ele pudesse corrompê-la, dobrá-la à sua vontade, então ele poderia usar o poder dela para quebrar seu próprio cativeiro. Mas Reikyli também sabia que a próxima reencarnação não estaria sozinha. Havia aqueles que ainda honravam a memória de Eleah e a proteção de Reikoly. Ele precisava ser astuto, manipular os eventos de tal forma que a futura reencarnação de Eleah viesse a ele voluntariamente.
"Eu preciso de um campeão," Reikyli murmurou, e com um gesto de sua mão sombria, ele começou a moldar uma nova criatura, uma que seria irresistível para a próxima reencarnação de Eleah, uma que carregaria a essência do homem que ela amou, mas que estaria sob seu completo controle (ou não).
Dias atuais,
Eu sentia um arrepio percorrer minha espinha enquanto estudava os antigos textos e artefatos que pertenceram a Eleah. Cada palavra antiga e símbolo misterioso parecia sussurrar segredos do passado, revelando pistas sobre meu próprio destino. Eu sabia que Reikyli ainda estava à espreita, aguardando o momento certo para agir.
Enquanto mergulhava nos estudos, uma sensação de inquietação crescia dentro de mim. Eu sentia que não estava sozinha, que algo sombrio a observava de longe. Mesmo assim, Eu não hesitei em seguir em frente, determinada a desvendar os mistérios que cercavam minha linhagem e a maldição que assolava minha família.
À medida que meus poderes se fortaleciam, visões perturbadoras assombravam meus sonhos. Eu via um reino esquecido pelo tempo, uma figura encapuzada observando-a de longe. Eu sabia que o confronto inevitável se aproximava, e precisaria encontrar a força para enfrentar o que estava por vir.
{...}
Enquanto isso, a figura encapuzada observava-a atentamente, questionando-se se Eleonora teria a coragem e determinação necessárias para enfrentar os desafios que se aproximavam. A última descendente de Eleah estava prestes a descobrir que seu destino estava entrelaçado com forças ancestrais além de sua compreensão.
Enquanto Eleonora se preparava para o confronto iminente, ela sentia o peso da responsabilidade sobre seus ombros. Ela sabia que teria que enfrentar não apenas as artimanhas de Reikyli, mas também seus próprios medos e incertezas. A jornada rumo à verdadeira natureza da maldição exigiria coragem, sabedoria e uma determinação inabalável.
E assim, Eleonora se preparou para trilhar o caminho que apenas ela poderia percorrer, em busca da redenção de sua linhagem e da proteção daqueles que ainda honravam a memória de Eleah e a proteção de Reikoly.
{...}
Me joguei no chão. Eu estava exausta de ver tantas palavras diante de mim, mais um pouco e eu surto! Meu celular toca e eu o pego, vendo uma mensagem no grupo das meninas.
Seraphina: Gente, o que vocês acham de uma noite na reserva?
A reserva é onde os meninos ficam, normalmente para treinar e coisas desse tipo. É como uma casa para eles.
Hinata: Não sabia que podíamos ir lá... achei que fosse apenas para os homens.
Seraphina: Bom... o Liam nos convidou, parece que vai ter uma festa.
Eu: Você anda falando com os garotos?
Hannah: É, Phina, você anda falando com os garotos?
Seraphina: Pelo amor de Deus! É apenas com o Liam.
Hinata: Ah, eu confio no Liam.
Eu: Ele parece ser gente boa.
Hinata: Sim.
Seraphina: Então?
Hannah: Eu topo!
Eu: Tô dentro.
Hinata: Eu também.
Seraphina: Ótimo! Nos vemos mais tarde.
Me levanto e sigo em direção ao meu quarto. Me jogo na cama. Irei dormir, faltam muitas horas até a festa. Meu celular toca novamente e eu olho a mensagem de Seraphina e a amaldiçoo.
Seraphina: A festa é daqui a 1 hora.
Certamente essa bruxa de alguma forma sentiu que eu ia dormir e me mandou uma dessas! Resmungo e me levanto, abro a porta do guarda-roupa e suspiro pesadamente. Eu não sei nem o que vestir!
"Se não sabe o que vestir, eu tenho uma ideia", olho para Hannah que de alguma forma já está pronta. Ela está usando uma bota de cano baixo, meia arrastão preta, uma saia cinza, uma blusa vermelha e uma jaqueta de couro preta. Sua face desprovida de muita maquiagem, apenas um batom vermelho enfeita sua boca. Seus cabelos estão presos em um rabo de cavalo frouxo.
"Eu iria roubar essas roupas", confesso. Ela sorri e caminha até meu lado, se abaixa para abrir minha gaveta de saias, retirando uma saia preta de couro. Reviro os olhos e vou para o banheiro tomar banho.
"Essa saia é muito colada!", resmungo. A saia que Hannah pegou era tão colada que eu tinha medo de andar e ela rasgar.
"Não é, não." Seus olhos se reviraram e ela se sentou em minha cama cruzando as pernas. Bufei e vesti a blusa cinza que ela escolheu, em seguida vesti a jaqueta de couro preta.
Calcei minha bota que ia até a panturrilha. — "Melhor deixar o cabelo solto." Hannah sugeriu. E verdade, era melhor mesmo. Soltei meus cabelos e eles caíram em cachos suaves pelos meus ombros.
"O que você acha se eu pintar o cabelo de azul nas pontas?" Indaguei, esperançosa. Venho pensando nisso há uns dias. Ela pareceu pensativa, me analisando como se estivesse imaginando o cabelo em mim.
"Combinaria com você, eu apoio." Sorri para ela e passei um gloss nos meus lábios e afofei meus cachos. Meus cabelos eram castanhos escuros e abaixo do peito, lisos e com cachos nas pontas. Passei um rímel nos meus cílios. Meus olhos castanhos claros eram lindos, mas nada comparado aos azuis oceânicos de minha irmã. Infelizmente, não puxei o lado olhos azuis da família.
A saia preta de couro, apesar do meu receio inicial, molda-se ao meu corpo como uma segunda pele, e a blusa cinza complementa o visual de forma sutil, mas marcante. A jaqueta de couro adiciona um ar de rebeldia que eu nem sabia que queria expressar.
Hannah observa com um sorriso de aprovação. "Você está incrível, Eleonora. Vai arrasar hoje à noite."
A confiança que ela tem em mim é contagiante. "Você acha mesmo?" pergunto, ainda insegura. Mas o brilho em seus olhos não deixa espaço para dúvidas.
"Claro que sim. E sobre o cabelo azul, por que não tentamos uma tinta temporária primeiro? Assim você pode experimentar antes de se comprometer."
A ideia me agrada. "Isso soa perfeito. Vamos fazer isso!"
Com tudo decidido, pego minha bolsa e dou uma última olhada no espelho. Estou pronta para enfrentar o que quer que a noite traga. Com Hannah ao meu lado, sinto que posso conquistar o mundo. Ou pelo menos a pista de dança.
Saímos de casa, o som dos nossos passos em uníssono ecoando pela garagem. A noite nos espera, e com ela, todas as possibilidades de uma juventude vibrante e destemida.
A música pulsante invade meus ouvidos assim que entramos na festa, uma batida eletrônica que parece sincronizar com as batidas do meu coração. Luzes estroboscópicas dançam pelo espaço, tingindo tudo com tons de azul e vermelho, criando um mar de sombras em movimento. Pessoas de todos os cantos se misturam, os corpos balançando e girando em um ritmo frenético, como se a noite fosse eterna e a juventude, um combustível inesgotável.
O ar está carregado de expectativa, cada conversa uma promessa de aventuras ainda não contadas. Risadas se elevam acima da música, e eu me deixo levar pela energia vibrante que permeia o lugar. O cheiro doce de perfumes mistura-se com o aroma mais forte de álcool, criando uma fragrância única que, de alguma forma, se torna o aroma da liberdade.
Hannah me puxa para a pista de dança, e eu sigo sem hesitar. A multidão nos envolve, e nos tornamos parte daquela tapeçaria humana, tecida com fios de alegria e desinibição. Meus pés mal tocam o chão, e eu me sinto flutuar, cada movimento um reflexo da música que agora parece viver dentro de mim.
"Isso é incrível!" eu grito para Hannah, embora minhas palavras se percam no som ensurdecedor. Mas ela entende; seu sorriso é a resposta que eu preciso. Juntas, somos imparáveis, duas almas selvagens navegando pelo oceano da noite, prontas para descobrir o que o destino nos reserva.
A festa está em seu ápice quando vejo duas figuras familiares abrindo caminho pela multidão. São Seraphina e Hinata, com sorrisos contagiantes e olhares que prometem travessuras. Seraphina, com seus cabelos loiros e olhos azuis, traz uma energia solar para qualquer lugar que ela vá. Hinata, mais reservada, mas com um senso de humor afiado, complementa o grupo com sua presença calma e observadora.
"Eleonora! Hannah!" Seraphina nos chama, acenando com entusiasmo. Ela se aproxima e nos abraça, um abraço apertado que só velhos amigos podem compartilhar. "Vocês estão deslumbrantes!" ela exclama, admirando nossos looks. Seraphina está com uma meia calça nude, uma saia branca, uma blusa rosa e uma jaqueta marrom. Suas botas pretas enfeita seus pés, parando logo abaixo do joelho.
Hinata, com um sorriso mais sutil, concorda com um aceno. "Vocês duas sempre sabem como se destacar," ela diz, e seu elogio sincero aquece meu coração. Hinata está com um vestido azul marinho soltinho e saltos altos brancos no pé.
Apressada, me desvencilho da multidão e sigo para o banheiro, mas a combinação de luzes confusas e a música ensurdecedora me faz perder o senso de direção. Quando percebo, estou em um corredor silencioso, longe do caos da festa. As paredes são adornadas com pôsteres de times esportivos e troféus em vitrines, um contraste gritante com a decoração da área de dança. É o corredor que leva ao ginásio, o local de treinamentos dos meninos.
Meu coração acelera, não pelo medo de estar perdida, mas pela possibilidade de encontrar alguém que não quero ver. E como se meus pensamentos o invocassem, Darian surge do nada, encostado em um armário, com aquele sorriso presunçoso que sempre me irritou.
"Perdida, Eleonora?" ele zomba, empurrando-se do armário e caminhando em minha direção. "Ou veio espiar os treinos? Pena que hoje é dia de festa, não de suor e músculos."
Reviro os olhos, tentando manter a compostura. "Eu só me perdi. Não tenho o menor interesse nos seus… treinos," respondo, minha voz firme apesar da irritação crescente.
Darian ri, um som que parece ecoar pelo corredor vazio. "Claro que não. Você prefere livros e silêncio. Mas sabe, até que não seria uma má ideia você aparecer por lá de vez em quando. Poderia aprender algo sobre trabalho em equipe."
"Trabalho em equipe não é algo que se aprende observando egos inflados competindo por atenção," rebati, cruzando os braços.
Ele dá um passo mais perto, seu sorriso se alargando. "Ego inflado? Você realmente não me conhece, Eleonora."
Não, e não faço questão," digo, virando as costas para ele e começando a andar de volta para a festa. Mas algo em sua última frase me faz parar. Talvez haja mais em Darian do que eu estou disposta a admitir. Sacudo a cabeça, descartando o pensamento. Agora, preciso encontrar o caminho de volta para minhas amigas e a segurança da festa.
Antes que eu pudesse dar mais do que alguns passos, sinto uma mão firme agarrar meu braço. É Darian, e ele me puxa de volta com uma força surpreendente. "Espera aí, Eleonora," ele diz, e há um tom de seriedade em sua voz que eu não esperava.
"O que você quer?" pergunto, tentando esconder o tremor de surpresa em minha voz. Não estou acostumada a esse tipo de contato físico com ele, especialmente não um tão íntimo e abrupto.
Ele me olha nos olhos, e por um momento, o corredor e a festa barulhenta parecem desaparecer. "Só queria dizer que… talvez eu tenha sido muito duro com você," ele admite, e há um vislumbre de vulnerabilidade que eu nunca vi antes.
Solto meu braço suavemente, surpresa com sua confissão. "Darian, eu…"
Ele me interrompe com um aceno de mão. "Não precisa dizer nada." E com isso, ele se vira e desaparece de volta na direção da festa, deixando-me sozinha com meus pensamentos confusos e um coração que, contra minha vontade, bate um pouco mais rápido.
Respiro fundo, tentando acalmar o ritmo acelerado do meu coração. A confissão de Darian me pegou de surpresa, e agora, uma enxurrada de emoções me inunda. Sempre o vi como alguém inatingível, alguém que jamais admitiria fraqueza ou remorso. E, no entanto, ali estava ele, mostrando-se humano, vulnerável.
"Talvez eu tenha sido muito duro com você." Essas palavras ecoam em minha mente enquanto me afasto do corredor, cada passo me levando mais para longe da festa e mais para perto da solidão que parece ser o único lugar onde posso processar o que acabou de acontecer.
A lua brilha lá fora, lançando um brilho prateado sobre o jardim da mansão. Sento-me em um banco de pedra, frio e úmido pela noite que se aprofunda. As estrelas parecem piscar em sintonia com os batimentos do meu coração, e eu me pergunto se Darian estará olhando para o mesmo céu neste exato momento.
Não há como negar o impacto que suas palavras tiveram sobre mim, nem o fato de que, por mais que eu tente, não conseguirei tirá-lo da minha cabeça tão cedo.
A festa continua, os risos e a música chegando até mim como uma lembrança distante de um mundo que parece ter perdido o brilho. Porque, na verdade, nada mais parece importar agora, exceto o fato de que Darian, o inabalável Darian, mostrou-se humano. E isso muda tudo.
Com a cabeça ainda girando pelas palavras de Darian, decido que uma bebida pode ser exatamente o que preciso para acalmar meus nervos. Não sou de beber, principalmente porque sei que meu limite é baixo, mas a noite já está estranha o suficiente, então por que não?
Caminho de volta para a festa e me aproximo da mesa de bebidas. O barulho e a energia do ambiente parecem distantes, como se eu estivesse em uma bolha. Sirvo-me de um copo de algo forte, sem sequer perguntar o que é, e tomo um gole. O líquido queima minha garganta, mas também traz uma sensação de calor que se espalha pelo meu corpo.
Os efeitos são quase imediatos. Sinto minha cabeça leve e o mundo ao meu redor começa a girar suavemente. Rindo de mim mesma, decido que é hora de me afastar da multidão e encontrar um lugar tranquilo para sentar.
Tropeçando um pouco, subo as escadas, longe do barulho e das pessoas. Enquanto ando pelo corredor mal iluminado, cada porta parece me chamar com a promessa de solidão. Escolho uma porta aleatoriamente e entro, sem me dar conta de que acabei de invadir um território privado.
A luz está apagada, mas a lua brilhante lá fora lança um brilho suave sobre o quarto. Meus olhos demoram um pouco para se ajustar, e quando finalmente consigo ver claramente, percebo que estou no quarto de Darian. Seu quarto é um reflexo dele: organizado, metódico, com livros alinhados perfeitamente na estante e uma cama impecavelmente arrumada.
Antes que eu possa processar a situação, a porta do banheiro se abre e Darian aparece, apenas com uma toalha enrolada na cintura. Seu cabelo está úmido e ele parece tão surpreso quanto eu.
"Eleonora?" ele pergunta, sua voz um misto de confusão e cautela.
Eu deveria dizer algo, explicar, pedir desculpas, mas as palavras se perdem em algum lugar entre meu cérebro embriagado e minha boca. Em vez disso, solto uma risada nervosa e digo a única coisa que me vem à mente: "Parece que o destino tem um senso de humor peculiar."
Darian não responde de imediato. Ele me observa por um momento, talvez tentando decidir se deve ficar irritado ou preocupado. Finalmente, ele suspira e dá um passo em minha direção.
"Você está bem?" ele pergunta, e há uma suavidade em sua voz que eu não esperava.
Eu aceno, ainda sorrindo. "Agora que você está aqui, acho que estou."
Nós dois sabemos que não é a bebida falando. É algo que estava escondido, esperando por um momento de vulnerabilidade para se revelar. E agora, aqui no quarto de Darian, com a lua como nossa única testemunha, não podemos mais ignorar a tensão que sempre esteve lá, silenciosa, mas nunca realmente adormecida.
A lua, um farol prateado no céu noturno, banha o quarto com sua luz etérea. Meus pensamentos, turvos pelo álcool, começam a se desenrolar em teorias estranhas e conjecturas que nem mesmo eu compreendo completamente. Falo sobre como as estrelas podem ser almas perdidas, sobre como a lua controla mais do que as marés — talvez até nossos destinos.
Darian permanece em silêncio, sua postura rígida e fria como sempre. Ele me observa com uma expressão indecifrável, os olhos escuros refletindo apenas a luz da lua, não suas emoções. Sua quietude é um contraste gritante com minha tagarelice incessante.
À medida que as palavras fluem de mim, sinto uma tensão crescente no ar. Não é apenas o resultado da proximidade inesperada ou do álcool correndo em minhas veias; é algo mais profundo, mais perigoso. É como se estivéssemos dançando na borda de uma faca, cada palavra minha empurrando-nos mais perto do corte.
Finalmente, um suspiro pesado escapa de Darian, e ele passa as mãos pelos cabelos, uma rara demonstração de frustração. "Eleonora, isso é ridículo," ele diz, sua voz um sussurro grave que parece cortar através da névoa do meu cérebro. "Você nem sabe o que está dizendo."
Eu paro, surpresa por sua interrupção, e o olho fixamente. "E você, Darian? Você sabe o que está fazendo aqui?" Minha voz é um desafio, um convite para que ele revele mais do que sua fachada de gelo.
Ele dá um passo em minha direção, e posso sentir o calor de seu corpo mesmo sem tocá-lo. "Eu sei o que eu quero," ele diz, e há uma intensidade em seu olhar que me faz engolir em seco.
Nossos olhares se encontram e se prendem, e por um momento, o mundo inteiro se reduz ao espaço entre nós. O ar se torna carregado, pesado com a promessa de algo que nenhum de nós está completamente preparado para enfrentar.
Então, sem aviso, Darian se vira e caminha até a janela, olhando para fora. "Você deveria ir," ele diz, sua voz voltando ao tom frio e distante de antes. "Antes que algo aconteça que não possamos desfazer."
Minha respiração falha, e sinto uma pontada de algo que poderia ser medo — ou talvez desejo. "E se eu não quiser ir?" pergunto, minha voz mal mais que um sussurro.
Ele não responde, mas a tensão em seus ombros diz mais do que palavras poderiam. Estamos no limiar de algo sombrio e irresistível, um romance que promete tanto êxtase quanto destruição. E eu sei que, apesar de seus avisos, nem eu nem Darian estamos prontos para recuar agora.
Eu permaneço imóvel, o silêncio entre nós se estendendo como uma ponte frágil sobre um abismo. A lua, agora uma cúmplice silenciosa, continua a derramar sua luz, tornando cada sombra no quarto mais profunda, cada silhueta mais misteriosa.
Darian finalmente se vira de volta para mim, seus olhos escuros agora um poço de emoções insondáveis. "Eleonora," ele começa, sua voz baixa e hesitante, "você não entende…"
Mas eu o interrompo, dando um passo à frente, diminuindo a distância entre nós. "Não, Darian, eu entendo," digo, minha voz firme apesar do tremor que sinto. "Eu entendo mais do que você pensa."
A tensão entre nós é palpável, uma corrente elétrica que ameaça explodir em chamas a qualquer momento. Mas, apesar do calor de nossas palavras, há uma verdade subjacente que nenhum de nós pode negar: estamos ligados por algo que vai além da raiva, além do desejo.
"Você é impossível," ele diz, sua voz baixa e perigosa.
Eu sinto meu rosto esquentar com a acusação. "E você?" eu retruco, minha voz tremendo com raiva. "Você se esconde atrás de sua frieza, sua indiferença. Mas eu sei que há mais em você, Darian. Eu vi."
Ele dá um passo em minha direção, seus olhos faiscando com uma emoção que ele raramente mostra. "Você acha que me conhece?" ele desafia. "Você acha que pode ver através de mim?"
"Sim," eu digo, me mantendo firme sob seu olhar intenso. "Eu vejo você, Darian. Mais claramente do que você gostaria."
Darian hesita, como se estivesse lutando contra uma tempestade interna. "Eleonora," ele diz, sua voz quase inaudível contra o som da chuva lá fora, "há coisas sobre mim que você não pode imaginar, perigos que você não deveria compartilhar."
Com um suspiro que carrega o peso de mil palavras não ditas, eu me viro, deixando Darian para trás. Cada passo que dou é um eco do meu coração partido, mas há uma determinação ardente em minha alma. Eu não olho para trás; não posso. Não posso força alguém a algo.
Eu caminho rapidamente, em direção da festa e logo avisto minhas amigas.
"Estou indo embora," eu anuncio, minha voz mais firme do que esperava.
Hannah se aproxima, sua preocupação clara. "Eleonora, o que aconteceu?" ela pergunta, sua mão tocando meu braço em um gesto de apoio.
Eu balanço a cabeça, incapaz de compartilhar a profundidade do que sinto. "A música alta está me dando dor de cabeça." minto. Dou um sorriso para elas.
Seraphina dá um passo à frente, sua presença sempre reconfortante. "Certo, toma cuidado." ela fala, sua voz suave. Hannah murmura algo sobre dormir na reserva. Me despeço delas e ando em direção ao meu carro.
A chave gira na ignição e o motor do carro ronca à vida, um som que parece ecoar a turbulência em meu peito. Dirijo pelas ruas vazias, cada farol que passo é como um borrão de luz que reflete minha confusão interna. Não há trânsito a essa hora, apenas o som do carro e os pensamentos que gritam em minha cabeça.
Chego em casa, o lugar está silencioso, como se estivesse segurando a respiração junto comigo. Desligo o carro e fico sentada por um momento, reunindo forças para entrar e enfrentar o vazio.
Quando finalmente abro a porta da frente, é como se eu estivesse entrando em um mundo diferente, um onde Darian e a tempestade de emoções que ele traz não podem me alcançar. Tiro a jaqueta, sentindo o peso dela cair dos meus ombros, e então as botas, que parecem ter percorrido milhas incontáveis.
Jogo ambas no quarto, sem me preocupar onde elas caem. A exaustão me atinge como uma onda, e eu mal consigo me arrastar até a cama. O sono vem rápido, um esquecimento bem-vindo, e eu me entrego a ele sem hesitação.
A escuridão me envolve como um manto, e eu me vejo caindo em um abismo sem fim. Gritos ecoam ao meu redor, distorcidos e aterradores, enquanto figuras sombrias dançam na periferia da minha visão. Meu coração dispara, e uma sensação de pânico me sufoca
Eu ouço passos atrás de mim, pesados e constantes. Quando olho para trás, vejo apenas sombras que se movem com uma vida própria, retorcendo-se e esticando-se em direção a mim. Meu coração dispara, e eu corro, mas cada passo é como se eu estivesse se movendo através de melassa.
Os corredores parecem vivos, sussurrando segredos em uma língua que eu não entendo. Imagens piscam diante dos meus olhos – rostos distorcidos de pessoas que eu conheço, transformados em grotescas caricaturas de si mesmos. Eu grito por ajuda, mas minha voz é engolida pelo vazio.
De repente, estou em um grande salão, e no centro, há um relógio. Mas não é um relógio comum; é imenso, com ponteiros que se movem erraticamente, e cada tique-taque ressoa como um trovão. Eu sei, de alguma forma, que esse relógio controla o tempo da minha vida, e ele está contando rapidamente para o meu fim.
Eu me aproximo, desesperada para pará-lo, mas quando toco o vidro frio, ele estilhaça. Milhares de pedaços de tempo se espalham pelo chão, e eu caio de joelhos, tentando juntar os cacos. Mas eles cortam minhas mãos, e o sangue se mistura com os fragmentos de vidro, formando um mosaico macabro.
Então, uma figura emerge das sombras – é Darian. Ele está diferente, seu rosto é uma máscara de dor e arrependimento. "Eleonora," ele diz, e sua voz é um sussurro que parece vir de outro mundo. "Você não pode consertar o tempo. Você não pode consertar o que foi quebrado."
Eu tento falar, mas palavras não saem. Darian se aproxima, e eu vejo que ele está segurando algo em suas mãos – é o coração do relógio, ainda batendo, ainda contando o tempo. "Você tem que deixar ir," ele diz, e coloca o coração pulsante em minhas mãos abertas.
O peso é insuportável, e eu sinto que estou sendo puxada para baixo, para um abismo sem fim. Eu grito, um som primal e desesperado, e é isso que me acorda.
Estou em minha cama, suando e ofegante, as imagens do pesadelo ainda vívidas em minha mente. O quarto está tranquilo, banhado pela luz suave do amanhecer que se infiltra pelas cortinas. Eu me sento, tentando regular minha respiração, tentando convencer a mim mesma de que foi apenas um sonho.
Mas o eco dos passos e o tique-taque do relógio ainda ressoam em meus ouvidos, e eu sei que vai levar algum tempo até que o medo se dissipe completamente. Eu me levanto, determinada a começar o dia, a afastar as sombras da noite com a luz do sol.