O tempo continuava passando rápido, e antes que eu percebesse, as férias de verão estavam chegando ao fim. Com elas, o tão aguardado Festival de Verão, que acontece todos os anos no final de agosto, já estava se aproximando.
Eu estava deitado no meu quarto, encarando o teto, sentindo o peso de um tédio que parecia não ter fim. A ideia de jogar alguma coisa até passou pela minha cabeça, mas o pensamento de fazer isso sozinho só tornava tudo ainda mais desanimador.
Suspirei e, numa tentativa de espantar o marasmo, peguei o celular e liguei para Seiji.
— Ei, Seiji! Vamos jogar um pouco? — perguntei, tentando soar mais animado do que realmente estava.
— Shin, eu adoraria, mas tô indo agora pro acampamento de treino de futebol. Lembra que eu comentei? — respondeu ele, soando um pouco desapontado também.
— Ah, é mesmo… Bom, boa sorte lá então! — falei, tentando esconder a decepção que se instalava. Meu coração afundou um pouco mais ao ouvir a resposta dele.
Desliguei e imediatamente procurei o nome de Rintarou na lista de contatos. Talvez ele estivesse livre.
— E aí, Rintarou? Topa jogar um pouco? — perguntei, torcendo para que ele aceitasse.
— Vou fazer uma viagem com a minha família, Shin. Foi mal. — A voz calma e tranquila dele não era diferente do normal, mas naquele momento parecia tornar a rejeição ainda mais pesada.
— Sem problemas! — menti, tentando soar despreocupado. Mas a verdade era outra. A solidão parecia me envolver, apertando o peito de uma maneira que eu não sabia explicar.
Fechei o celular e me joguei de volta na cama, o silêncio do quarto se tornando quase opressor. Era estranho sentir tanta falta de companhia, mas ali estava eu, contando os dias para o festival e tentando encontrar algo que preenchesse aquele vazio.
Os dias passaram arrastados, mas finalmente o grande dia chegou. O Festival de Verão.
A animação começou a surgir, misturada a uma pontada de nervosismo. Por um momento, cogitei a ideia de convidar Yuki para ir comigo. A simples imagem dela em um yukata me fazia sorrir, quase como um sonho que eu sabia que nunca teria coragem de realizar.
Mas quanto mais eu pensava nisso, mais nervoso ficava. Convidá-la seria quase como uma confissão. O tipo de coisa que não tinha volta.
Suspirei e, como esperado, desisti antes mesmo de tentar.
Antes de sair de casa, minha irmã Hana me fez um pedido. — Mano, traz umas comidas do festival pra mim quando voltar? Quero experimentar tudo!
— Claro. Vou trazer sim. — respondi, bagunçando o cabelo dela.
Enquanto caminhava para o festival, a ansiedade e empolgação aumentavam. As ruas estavam cheias de pessoas indo na mesma direção, e a atmosfera era contagiante. O som distante de risadas e música já podia ser ouvido, e as luzes das barracas brilhavam como pequenas estrelas no horizonte.
Vi várias pessoas indo em direção ao festival, incluindo casais de mãos dadas, grupos de amigos rindo e famílias animadas. Senti uma pontada de inveja, mas logo a suprimi. Enquanto caminhava, torcia para que, de alguma forma, Yuki aparecesse no festival.
Chegando lá, fui envolvido pela atmosfera vibrante. Havia barracas de comida, jogos, música ao vivo. Era um verdadeiro paraíso de verão. Encontrei alguns colegas de classe, como Akira e Takeshi, que finalmente conseguiu tempo para sair por causa da recuperação de matemática.
— Ei, Shin! Que bom te ver aqui! — disse Akira, acenando com um sorriso enorme, sempre cheio de energia.
— Ei, Shin, finalmente tirei uma folga da recuperação de matemática. Estava precisando disso! — comentou Takeshi, rindo.
— Bom te ver também, galera. Como estão se divertindo? — perguntei, pegando um takoyaki e sentindo o aroma delicioso.
— Com certeza! Já tentamos todos os jogos. E Akira é péssimo em todos eles! — brincou Takeshi, com seu humor seco que sempre me fazia rir.
— Ei, eu só estou aquecendo! — retrucou Akira, fingindo estar ofendido e colocando as mãos na cintura de forma teatral.
— Sério, Akira? Até no jogo do martelo você falhou!? — continuei, rindo junto com eles.
— Tá, eu admito, não sou bom em tudo. Mas alguém precisa ser o palhaço do grupo, certo? — Akira disse, piscando.
— Pelo menos isso você faz bem! — Takeshi respondeu, dando um tapinha no ombro de Akira.
Passamos um bom tempo juntos, comendo e rindo. Akira contava piadas e histórias engraçadas da escola, e Takeshi falava sobre seus planos para melhorar em matemática no próximo semestre.
— Shin, já experimentou isso aqui? — perguntou Akira, me oferecendo yakisoba.
— Ainda não, mas parece ótimo. — aceitei e comecei a comer. O sabor era incrível, e o calor contrastava perfeitamente com a brisa fresca da noite.
— Ei, Takeshi, lembra aquela vez que o Shin quase botou fogo no laboratório de ciências? — Akira riu, quase engasgando com seu takoyaki.
— Como poderia esquecer? — respondeu Takeshi, rindo — A expressão no rosto da professora foi impagável!
— Ei, isso foi um acidente! — protestei, tentando não rir. — Aquele experimento era complicado.
— Complicado? Você só tinha que misturar duas substâncias! — Akira zombou, fazendo todos rirem ainda mais.
Enquanto conversávamos, notei que o tempo passava rapidamente. As horas voaram, e faltava cerca de uma hora para o início dos fogos de artifício, a atração principal do festival. Decidi procurar um bom lugar para assistir, então me despedi dos meus amigos.
— Vou procurar um lugar para os fogos. Vejo vocês por aí. — acenei, começando a me afastar.
— Certo, nos vemos mais tarde! — respondeu Takeshi, acenando de volta.
Enquanto caminhava pela multidão, procurando um lugar com uma boa vista, avistei Yuki. Meu coração quase parou e senti um nó se formar na garganta.
Ela estava deslumbrante em um yukata azul floral, cada detalhe parecia destacar sua beleza ainda mais. Sua presença irradiava uma luz que fazia todo o resto parecer desbotado. Uma onda de calor e nervosismo tomou conta de mim, e minha mente começou a correr com pensamentos e possibilidades.
Mas então, algo inesperado aconteceu. O tempo pareceu parar quando vi um homem ao lado dela, rindo e conversando. Era o mesmo homem que a havia buscado na escola antes. Meu coração se partiu em mil pedaços.
Sentindo uma mistura de tristeza e frustração esmagadoras, decidi que não queria mais ver os fogos de artifício. Cada passo que dava parecia mais pesado, como se estivesse carregando o peso do mundo. Comecei a caminhar para o outro lado, querendo apenas ir para casa e esquecer aquela dor repentina e aguda.
Enquanto eu caminhava na direção oposta da multidão, cada passo parecia mais pesado, como se o próprio chão estivesse me puxando para baixo. Meus olhos estavam fixos no chão, tentando não se perder no turbilhão de pensamentos. Foi então que esbarrei em alguém, o impacto leve, mas suficiente para me tirar do transe.
— Desculpe — murmurei automaticamente, sem levantar os olhos, apenas querendo seguir meu caminho.
— Ah, espera aí! — A voz masculina soou familiar, e senti uma mão em meu ombro. — Já nos vimos antes, não?
Levantei o olhar, surpreso e meio hesitante, e meu coração deu um salto. Era o homem que estava com Yuki mais cedo. Por um instante, o desconforto se misturou com o constrangimento. Justo ele.
— Ah… é você — murmurei, tentando controlar a mistura de emoções que me atravessavam. Meu tom saiu mais vacilante do que eu queria. — Eu acho que vi você… na escola. Com Yuki.
Ele sorriu, parecendo se lembrar.
— Isso mesmo! Sou o irmão dela, Kaito.
— I-irmão? — A palavra saiu automaticamente, como se minha mente estivesse demorando a processar. Meu coração, que antes parecia esmagado pela dor, agora parecia saltar de um alívio confuso. — Você é… o irmão dela?
— Isso mesmo — ele confirmou, rindo com um tom descontraído. — Pelo jeito, você pensou que eu era outra coisa, né?
Fiquei completamente sem palavras por alguns segundos, as emoções dançando entre alívio, vergonha e uma nova onda de nervosismo. Era como se um peso enorme tivesse sido tirado das minhas costas, mas o alívio era tão súbito que eu não sabia como reagir.
— Ah, eu… Eu achei que… — Não consegui terminar a frase. As palavras simplesmente não vinham.
Ele deu uma risada suave, cruzando os braços.
— Namorado, talvez? — Ele adivinhou, mas sem qualquer traço de deboche, apenas um sorriso tranquilo que, de certa forma, era ainda mais constrangedor. — Não se preocupa, você não é o primeiro a confundir. Somos bem próximos, então eu entendo como pode parecer.
— Eu… sinto muito — consegui dizer, a voz mais baixa do que eu esperava, enquanto desviava o olhar. — Acho que me enganei.
— Relaxa, não é problema — disse ele, com uma leve piscadela. — Acontece.
Por um momento, ficamos em silêncio, o som distante do festival preenchendo o espaço entre nós. Ele parecia avaliar a situação, mas sem pressa, como alguém que já sabia o que iria dizer.
— Quer assistir aos fogos com a gente? — perguntou de repente, com um sorriso amigável que me pegou desprevenido.
Meu coração disparou novamente, mas dessa vez por um motivo completamente diferente. A ideia de estar tão perto de Yuki, depois de tudo o que eu tinha acabado de passar, era ao mesmo tempo tentadora e apavorante. A lembrança do yukata dela, da maneira como ela iluminava o lugar, me deixava sem palavras.
— Eu… acho que vou procurar um lugar sozinho — respondi, tentando soar casual, mas minha voz ainda carregava um tom de hesitação.
Ele pareceu entender, acenando levemente.
— Tudo bem. Mas se mudar de ideia, vá até ela. Eu vou comprar umas comidas pra gente. — Ele sorriu uma última vez antes de se virar e desaparecer na multidão, deixando-me parado ali, ainda processando tudo.
Ele se despediu, deixando-me ali, aliviado e confuso ao mesmo tempo. Yuki não tinha um namorado. A esperança voltou ao meu coração. Decidi ficar e assistir aos fogos. Encontrei um lugar com uma boa vista e me sentei, refletindo sobre tudo o que havia acontecido.
Sentia-me aliviado por Yuki não ter um namorado, mas também triste por não ter a coragem necessária para me aproximar dela.
Os fogos de artifício começaram, iluminando o céu noturno com cores vibrantes. Cada explosão no céu parecia sincronizar com as batidas do meu coração, que ainda estava acelerado depois da conversa com Kaito. Por um breve momento, todos os meus problemas pareciam desaparecer naquelas cores deslumbrantes. Ao meu redor, os rostos das pessoas brilhavam com alegria e admiração.
Eu também me permiti sorrir. As explosões no céu refletiam um sentimento renovado dentro de mim. A confusão e a tristeza deram lugar a uma nova esperança. Sabia que as férias de verão estavam chegando ao fim, mas essa noite me mostrou que ainda havia tempo e oportunidade para mudar as coisas.
Enquanto os fogos continuavam, fiz uma promessa a mim mesmo novamente. Quando as aulas voltassem, eu tentaria me aproximar mais de Yuki. Não queria mais ser apenas um observador à distância. Queria ser alguém importante para ela, assim como ela já era para mim.
Quando os fogos finalmente terminaram, o céu voltou a sua escuridão tranquila, preenchida apenas pelo murmúrio das pessoas começando a dispersar. Peguei as comidas que prometi para Hana e comecei a caminhar de volta para casa. A noite tinha sido uma verdadeira montanha-russa de emoções, cada alta e baixa me ensinando algo novo sobre mim mesmo e meus sentimentos.
Conforme caminhava pelas ruas agora mais calmas, senti uma determinação renovada crescer dentro de mim. O festival não foi apenas um evento de verão, mas um ponto de virada. A tristeza inicial, a confusão ao ver Yuki com Kaito, e o alívio ao descobrir a verdade, tudo contribuiu para um novo entendimento.
Prometi a mim mesmo que as próximas semanas seriam diferentes. Eu não deixaria mais minhas inseguranças me pararem. Quando as aulas começassem novamente, faria de tudo para me aproximar de Yuki, para conhecer melhor a pessoa por quem estava me apaixonando.
A esperança e a determinação encheram meu coração enquanto caminhava de volta para casa, carregando não apenas as comidas para Hana, mas também um futuro cheio de possibilidades.