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O Pequeno Lord

"Quem possuir o poder sobre aquele que nasceu eleito para definir o fim da guerra, se tornará invencível e prevalecerá diante de todos os seus inimigos. A luz e as trevas estão presentes na criança dourada, o ultimo herdeiro do poderoso leão, que deverá ser entregue àquele que é a reencarnação do mal. O destino de todos será traçado de acordo com o coração do menino de olhar esmeralda. No final das dezessete primaveras, tanto a luz quanto as trevas só poderão ser despertadas com amor verdadeiro e o mais forte triunfará sobre o outro". Aquelas palavras rondavam incessantemente os pensamentos de um homem em especial. Um homem que mantinha seu olhar escarlate fixo naquela pequena bola de cristal que há tempos procurava. A profecia... A profecia que definia seu destino, o destino do mundo e o destino de uma linda criança de olhar esmeralda que no momento, provavelmente, tinha seu sono embalado pelo gracioso canto de sua mãe em uma casa oculta no Vale Godric, uma casa que se mostrava segura aos olhos do casal, uma casa que não esperava o que estava prestes a acontecer. Com as palavras da profecia ainda rondando sua mente, o misterioso homem tomou sua varinha, cobriu-se com a elegante e habitual capa negra e seguiu, com um sorriso obscuro adorando seus lábios, em direção ao seu destino. Sua beleza era notável. Por baixo da desenhada capa encontrava-se um corpo musculoso, bem trabalhado, abrigado por uma calça e uma camisa ambas na cor negra, do mais fino tecido que o dinheiro e o poder podem pagar. Sua pele ligeiramente pálida fazia um excitante contraste com os cabelos negros e curtos, sempre bem alinhados, que agora se moviam no mesmo ritmo do vento que atingia seu rosto enquanto caminhava a passos lentos em direção à bonita casa. Seus olhos brilharam. Era quase impossível não ser hipnotizado por tamanhas jóias. Frios e penetrantes, vermelhos, como o mais belo e puro rubi. Os lábios finos se curvavam em um sorriso cada vez mais macabro, acentuando aquela beleza mortal. Mortal como seus olhos. Mortal como a varinha que mantinha firmemente sujeita na mão. Mortal como a certeza do que estava prestes a acontecer.

Shadown · Filem
Peringkat tidak cukup
14 Chs

Capitulo 12

Os olhos de Harry brilharam ao ler aquelas palavras. Seu pai havia respondido.

"Não é nenhuma brincadeira – apressou-se a replicar, emocionado –

Encontrei esse diário nas coisas do meu pai e o trouxe para Hogwarts sem ele saber".

"E quem é o seu pai?"

"Para mim e Nagini, ele é Tom Riddle, para o resto do mundo, Lord Voldemort,

ou apenas aquele-que-não-deve-ser-nomeado".

O menino notou, com certo nervosismo, que demoraram alguns minutos até a elegante caligrafia voltar a contestar:

"Oh, por Salazar, não diga que eu troquei o domínio do mundo por qualquer rabo de saia".

Um divertido sorriso apareceu nos lábios rosados. Aquela, com certeza, era uma resposta digna de seu pai. Assim, segurando sua pluma com firmeza, Harry decidiu deixar a memória adolescente de Tom Riddle à par dos acontecimentos.

"Na verdade, o que aconteceu foi que meus pais biológicos, Lily e James Potter, foram assassinados por uns muggles em quem confiavam.

Então você solicitou minha guarda ao ministério e desde esse dia eu venho sendo criado como seu herdeiro".

"Prossiga..."

"Bom, devido ao feitiço de ligação que nos conectou quando eu era um bebê, passei a ter não somente o sangue de Godric Gryffindor,

mas a magia de Salazar Slytherin correndo pelas minhas veias também".

"Interessante, muito interessante...

Mas diga-me, menino, como o Ministério aceitou deixar um inocente bebê aos cuidados do bruxo mais temido de todos os tempos,

o grande e poderoso, Lord Voldemort?"

Harry balançou a cabeça, sorrindo. Pelo visto seu pai sempre fora um ícone em matéria de modéstia.

"Parece que você assinou um tratado de paz com o Ministério pelo prazo de 17 anos, até eu acabar a escola,

mas é só sair às ruas para ver como todos esses magos e bruxas medíocres temem que o tratado seja desfeito a qualquer momento".

"Como sempre um bando de covardes amantes de muggles que precisam ser varridos do mapa".

"Sem dúvida. Mas é engraçado ver a cara de terror que eles ficam,

principalmente porque sabem que Avada Kedravas não funcionam em você".

"Os Avada Kedravas... Está falando sério?"

"Claro! Mas o melhor é que até o velhote maluco tem medo de te enfrentar".

"Quem?"

"Dumbledore, é claro. Ele morre de medo de você, principalmente depois do ano passado,

quando você deu uma surra nele por tentar me matar".

"Eu dei uma surra em Dumbledore?"

"Deu. Uma surra inesquecível, ele deve lembrar o sabor daquele Cruciatus até hoje".

"Pelas barbas de Merlin, minha vida é um sonho!".

Uma risada divertida ressoou pelas paredes das masmorras. Sorte que estavam todos dormindo.

"Mas o melhor... – lembrou Harry – Foi ver a cara do velhote depois de perder sua preciosa Pedra Filosofal".

"Você está dizendo que eu, Lord Voldemort, consegui a tão desejada Pedra Filosofal?".

Harry sorriu com auto-suficiência antes de responder:

"Não, eu consegui e lhe dei como presente de Dia dos Pais".

"Hum... – o menino já podia até imaginar o olhar desconcertado de seu pai –

Pelo visto eu não poderia ter escolhido um herdeiro melhor".

Aquelas palavras foram certeiras, direto ao coração do pequeno Lord. Tom Riddle, a memória adolescente de seu pai, estava feliz por tê-lo como herdeiro. Assim, aquela maravilhosa conversa seguiu madrugada adentro. Harry estava mais do que encantado em saber os detalhes da vida adolescente de seu pai. Ele fora chefe dos monitores e adorado por quase todos os professores – exceto por Dumbledore, é claro – era simplesmente incrível! Já o Tom do diário parecia maravilhado com o rumo que sua vida tomara, estava realmente orgulhoso por ter um herdeiro como Harry – que mesmo tendo o sangue de Godric Gryffindor era um verdadeiro Slytherin e fazia justiça à sua casa – mas um dos dados que mais intrigara a Tom fora saber que o Mundo Mágico depositava todas as esperanças em Harry, pois de acordo com uma suposta profecia, seria ele quem decidiria aquela interminável guerra. O que era ridículo, na opinião de Harry, mas que aclarava muitas coisas para Tom.

Somente às 3 horas da manhã, o pequeno Lord conseguiu se despedir de seu pai e ingressar no dormitório para finalmente cair nos braços de Morpheu. Assim, após guardar o diário com um poderoso feitiço, o menino deitou-se na cama ainda sentindo a adrenalina percorrer seu pequeno corpo. E quando adormecera um lindo sorriso adornava seus lábios.

-x-

No dia seguinte uma bela manhã surgira em Hogwarts, o sol brilhava irritantemente – de acordo com o professor Snape – os pássaros cantavam e não havia uma nuvem sequer no céu. Os alunos sorridentes corriam em direção ao Salão Principal enquanto um delicioso café da manhã era servido a todos. Na mesa das serpentes, um animadíssimo Harry era alvo dos olhares estranhados de seus amigos. Afinal, não havia motivos para o pequeno Lord acordar tão feliz, havia? Mas este nem se abalava com as perguntas, deixava seu lindo sorriso mais visível e contestava apenas que tivera um sonho fascinante.

- Muito suspeito Harryzito. Afinal, que sonho foi esse?

- Já disse que não lembro Pan, mas acordei renovado – comenta despreocupado, servindo-se de mais um pedaço de waffle com mel.

- A julgar por esse sorriso e esses sonhos renovadores... – Blaise sorri com malicia -... Aposto que você está apaixonado, Harry.

Essas simples palavras serviram para que um loiro de olhos acinzentados e um moreno de olhos azuis os encarassem depressa. Chegava a ser hilário ver como a torrada que Draco levava à boca parava no meio do caminho, ou ver o sempre impecável e sério Theodore Nott engasgar com o suco de uva. Mas Harry, por sua vez, apenas corou intensamente e negou com a cabeça.

- Não seja bobo, Blaise! Apenas acordei de bem com a vida.

Pensar que parecia uma adolescente apaixonada só por ter passado a madrugada inteira conhecendo os detalhes da juventude de seu pai fazia o menino estremecer e sacudir a cabeça depressa, não precisava que sua imaginação o assustasse daquela forma, dando a conhecer a mente pervertida de seu amigo de olhos castanhos.

- Estou só comentando.

- Conheço muito bem os seus comentários, senhor Zabini – replica com fingida indignação.

Antes que Harry pudesse continuar a "repreender" o amigo, porém, um brilhante flash adentrou em seus olhos, deixando-o ligeiramente tonto.

- Oi Harry! – ao conseguir enfocar a vista de novo, Harry notou um garoto miudinho de cabelos loiros sorrindo emocionado à sua frente. As vestes Gryffindor do menino fizeram o pequeno Lord arquear uma sobrancelha, mas, aproveitando seu bom-humor, contestou com cortesia:

- Olá...

- Meu nome é Colin Creevey – o menino respondeu depressa, visivelmente ansioso – Sou seu maior fã!

Ao lado de Harry, um par de olhos acinzentados fulminou o pequeno Gryffindor que ousava falar com a estrela da casa Slytherin. Como aquele pirralho tinha a audácia de se aproximar do seu melhor amigo?! Esse pensamento era compartilhado com um moreno de olhos azuis que estreitava os olhos, perigosamente, diante da cena.

- Muito prazer, Colin.

- Eu nem acredito que estou falando com você! Nossa! Agora tenho sua foto, e um menino do meu dormitório disse que se eu revelar o filme na poção correta, as fotos vão se mexer! – Colin inspirou profundamente, estremecendo de excitação – Não é maravilhoso?!

- Er...

- Será que depois você podia autografar a foto?

- O que?

- Autografar! Uau... Eu seria a inveja de toda a família.

- Não creio que seja uma boa idéia.

- Por favor!

- Er...

- Por favor!

- É melhor você voltar à sua mesa – agora sim o pequeno Lord começava a ficar exasperado.

- Por favor! – Colin ignorou aquelas palavras. Seus olhos estavam fixos na famosa cicatriz em forma de raio – Seria incrível!

As atenções no Salão Principal voltavam-se naturalmente àquela estranha cena. Alguns admiravam a coragem do jovem Gryffindor e outros apostavam em quanto tempo o filho do Dark Lord demoraria a expulsa-lo de sua frente com uma potente maldição. Porém, como Harry não desejava arruinar seu bom-humor lançando maldições em um pirralho Gryffindor logo de manhã, apenas cruzou um significativo olhar com Draco e voltou sua concentração àquele delicioso waffle em seu prato.

E antes que Colin pudesse abrir a boca novamente, uma voz fria e desdenhosa o interrompeu:

- Suma daqui, Creevey. Não queremos sangues-ruins infectando o ar de nossa mesa.

- Mas o Harry...

- É senhor Riddle para você, moleque. Agora suma da nossa frente e não ouse falar com ele de novo.

- Mas...

- Não ouviu? – os olhos de Draco destilavam a característica frieza que aprendera desde cedo com o pai – Ou será que você precisa de ajuda para achar o caminho da saída? Oh, quem sabe uma maldiçãozinha não pode ajudá-lo...

Quando o menino notou que aquele aterrorizante garoto buscava a varinha no bolso da túnica, não pensou duas vezes e saiu às pressas dali, deixando um orgulhoso Draco com um sorriso malicioso nos lábios e um sorridente Harry imensamente divertido. Dessa forma o café da manhã seguiu sem maiores transtornos e quando o grupo das serpentes já se encontrava cruzando as portas do Salão Principal para dar início à manhã de aulas, Harry sussurrou carinhosamente no ouvido do amigo:

- Obrigado, Dray.

Agora, com um radiante sorriso nos lábios, Draco Malfoy ingressava com seus amigos na estufa da madame Sprout para assistir a uma "divertidíssima" aula de Herbologia. Cabe destacar que a maioria dos alunos se perguntava por que deviam plantar aquelas mandrágoras se ninguém estava petrificado no momento. Eram bichinhos tão feios e irritantes... O mais divertido, porém, foi ver como Longbottom desmaiava por causa do horripilante barulho que aquelas coisinhas faziam e notar como Pansy se mostrava indignada ao ter que usar aqueles abafadores de orelhas horríveis que não combinavam com suas belas roupas.

Mais tarde os alunos do segundo ano encaminharam-se à sala de aula do professor Binns para assistir àquela que sem dúvida era uma das matérias mais chatas da escola, História da Magia. O problema não era nem a matéria em si, mas o fato de que o professor-fantasma apenas lia suas anotações de maneira totalmente aborrecida e sem a menor ênfase ou emoção, mergulhando nas convenções de bruxos, nas revoltas dos goblins e em outros fatos que ocorreram há séculos atrás, enquanto os alunos se entregavam a um estado de semi-consciência durante a aula. Apenas a sague-ruim-Granger parecia interessadíssima em cada palavra e anotava tudo com sofreguidão.

- Será que ele não cansa de falar? – Draco murmurou ao amigo.

- Ele é um fantasma, Dray. Infelizmente cansaço já não faz parte de sua rotina, apenas atormentar os alunos com essa didática horrível.

O loiro, por sua vez, apenas suspirou, acomodando a cabeça no colo de Harry e voltando a relaxar com os suaves cafunés que o moreno fazia. Enquanto isso, Harry e Blaise jogavam um baralho mágico, Pansy lia sua nova edição da revista Coração de Bruxa e Theo, obviamente, encontrava-se mergulhado em seu livro de Criatura Obscuras lançando esporadicamente um ou outro olhar mortal ao sonolento Draco que descansava sob os cafunés do pequeno Lord.

O dia então seguiu sem mais delongas e após um delicioso almoço no Salão Principal, os Slytherins e Gryffindors do segundo e primeiro ano encontravam-se nas masmorras para a última aula do dia. Poções. Sentados Harry e Draco na primeira carteira, com Pansy e Theo logo ao lado e Blaise e Goyle na detrás, eles observaram Severus Snape fazer sua impactante entrada. Harry ainda achava que o professor treinava horas e horas só para entrar na sala de aula daquela forma aterradora, com sua capa fazendo um assustador frufru atrás. Sem dúvida aquele homem era muito estranho. E suspeito...

- Hoje vocês irão preparar a Poção Wiggenweld. Alguém sabe em que ela é usada?

Imediatamente Hermione Granger levantou a mão.

- Mais alguém? – Snape voltou a perguntar.

- É uma poção restauradora – Harry respondeu com evidente tédio, para grande irritação de Snape – Ela tem o poder que restaurar as forças de uma pessoa que está demasiado fraca por causa de uma doença, por ter se machucado ou simplesmente por estar muito cansada.

- Senhor Riddle, é claro – respirou profundamente – Já que respondeu sem ter levantado a mãe, agora me diga, quais ingrediente devo usar para prepará-la?

Harry arqueou uma sobrancelha elegantemente, encarando o adulto com desdém:

- Casca de Wiggentree em pequenas fatias, Muco de Verme Gosmento, Moly amassada de preferência com o cabo de uma faca e as fatias de Ditamno.

A face do professor se contraiu numa clara expressão de desgosto. Parecia contemplar a viva imagem de James Potter à sua frente.

- As pessoas procuram cortar o Ditamno – continuo Harry – Mas meu pai sempre me aconselhou a usá-lo em pó. Garante o dobro de eficiência em menos tempo.

- Muito bem. 10 pontos para Slytherin – concedeu ao fim, lembrando-se de quem o menino era filho "realmente" – Peguem os ingredientes no armário e sigam as instruções da lousa, com cuidado, ouviu bem Longbottom? Não irei tolerar sua estupidez hoje.

- S...Sim senhor.

Dessa forma, enquanto Draco preparava o caldeirão na temperatura correta, Harry seguiu até o armário do professor para buscar os ingredientes. Quando voltou, conversando animadamente com Pansy, contemplou uma cena que fez seu sangue ferver. O que aquela irritante menina achava que estava fazendo sentada no seu lugar? E ainda por cima, insinuando-se ao seu melhor amigo? Ela não tinha noção de com quem estava lidando, mas descobria hoje.

Com um andar decidido e um olhar digno do filho de Lord Voldemort, Harry se aproximou da mesa e praticamente jogou os ingredientes em cima do loiro. Sua expressão era tão gélida que faria o próprio Dumbledore estremecer.

- Com licença, senhorita...

- Rosier – a assustada menina se apressou a responder – Alice Rosier.

- Que seja. Você não deveria se colocar no seu lugar?

Era uma frase de duplo sentido bem explícita. A pobre menina, por sua vez, sentiu um intenso arrepio percorrendo-lhe a espinha ao encarar aqueles belos olhos verdes, frios como pedras de gelo. E sem pensar duas vezes, afastou-se.

- Eu...Eu sinto muito... – gaguejou nervosa.

- Ótimo, então que isto não se repita.

Com uma rápida reverência, a castanha voltou ao seu lugar, sentindo suas finas pernas tremerem e suas mãos suando frio. O jovem Malfoy, ao ver-se sozinho com o moreno, apenas arqueou uma sobrancelha entre confuso e divertido.

- O que foi isso, Harry?

- Nada – contestou com um sorriso – Vamos fazer a poção?

- Er... Claro.

Ao lado deles, uma divertida Pansy sorria abertamente, pois sabia que não demoraria muito para aqueles dois descobrirem o que todos já podiam ver claramente.

-x-

Naquele mesmo dia, depois do jantar, Harry se encontrava mais uma vez no silencioso Salão Comunal das serpentes conversando com o diário de seu pai. O menino contava como fora seu primeiro ano em Hogwarts e como estava sendo o segundo, enquanto o mais velho fazia comentários divertidos e contava como vivera esses momentos em sua época. Era incrível para Harry conhecer todos os detalhes da vida de seu pai, desde o que ele fazia quando queria se vingar dos inúteis muggles com os quais vivia naquele horrível orfanato, até a maravilhosa experiência de ganhar a Taça das Casas pela primeira vez em Hogwarts. Eram tantas coisas formidáveis e, ao mesmo tempo, tristes... Não podia imaginar que sua avó, Mérope Riddle, fora uma bruxa extraordinária em poções, seu pai nunca havia falado dela. Ou que seu avô, um muggle, Tom Gaunt, mandara sua avó embora ao descobrir que ela era bruxa.

"Quando eu estava no sexto ano – a bela caligrafia contava – descobri um lugar fascinante em Hogwarts".

"Que lugar?"

"Hum... Não acredito que seja uma boa idéia eu lhe contar".

"Ah não! Agora que você comentou não finja que não quer falar!"

Se o Tom Riddle adolescente pudesse ver seu filho naquele momento, contemplaria uma hilária cena, na qual um gracioso biquinho adornava os lábios de Harry enquanto este olhava indignado para o diário.

"Muito bem... – Tom concordou ao fim –

Espera-se que eu seja um pai responsável com você, mas deixarei isso para minha realidade no seu mundo atual,

prefiro lhe mostrar coisas mais interessantes que talvez você nunca chegasse a conhecer".

"Perfeito! Conte-me então".

Como Harry esperava, seu jovem pai demorou alguns minutos a responder, provavelmente procurando as palavras certas ou, como o pequeno Lord acreditava, querendo aumentar o suspense.

"Diga-me, Harry, você já ouviu falar sobre a Câmara Secreta?"

O menino pensou por alguns segundos antes de contestar:

"Não. Nunca ouvi falar sobre essa Câmara".

"Imaginei... Bom, a Câmara Secreta fica no subsolo do castelo de Hogwarts.

Ela foi construída junto com o castelo por Salazar Slytherin, que,

quando se separou da direção da escola, deixou a Câmara fechada,

dizendo que apenas seu verdadeiro herdeiro poderia encontrá-la, abri-la e libertar o monstro que havia lá dentro,

que livraria a escola de todos os sangues-ruins".

"Monstro?"

"Um Basilisco, na verdade".

"Uau! Existe um Basilisco em Hogwarts?"

"Sim. E apenas o herdeiro de Slytherin pode controlá-lo".

"E onde fica essa Câmara?" – A excitação do menino era palpável.

"Você está querendo ir até lá, não é mesmo?"

"É claro! E você já sabia que eu iria quando tocou no assunto".

"Hehe... Sem dúvida é meu herdeiro".

Uma linda cor rosada e um brilhante sorriso surgiram na face de Harry.

"Muito bem – o Tom do diário continuou –

Sua entrada fica no primeiro andar, no banheiro interditado das meninas".

"Está falando sério?"

"É claro. Há uma grande pia circular que dará entrada a Câmara se você pronunciar, em Parsel, a palavra: Abra".

"Interessante. Devo me preocupar com o Basilisco?"

"De forma alguma. Você é meu herdeiro, portanto, herdeiro de Slytherin, então ele seguirá todas as suas ordens.

É claro que ele só virá se for chamado, e ainda sim manterá os olhos fechados em sua presença".

"Incrível..."

"O que você está fazendo aqui ainda?"

Com a expectativa brilhando em seus olhos, Harry apenas se despediu antes de fechar o diário:

"Voltaremos a nos comunicar na Câmara.

Até daqui apouco, papai".

Lançando um feitiço para que a capa de invisibilidade que estava em seu bolso voltasse ao tamanho normal, Harry não pensou duas vezes antes de cruzar as portas de sua Sala Comunal para seguir até o primeiro andar. No caminho, encontrou uma pequena Mamba Negra deslizando pelos vãos dos corredores e logo sorriu.

- Morgana!

- Jovem amo? – a pequena criatura ergueu sua serpentina cabeça, procurando de onde surgira a voz de seu amo.

Descobrindo-se rapidamente, Harry voltou-se mais uma vez à bela cobra:

- Gostaria de conhecer um lugar interessante?

- Sem dúvida, jovem amo.

- Então vamos.

Agora, com Morgana enrolada em seu braço direito, Harry seguiu ao banheiro interditado no primeiro andar. É claro que o Slytherin arqueou uma sobrancelha quando viu o fantasma de uma menina chorando escandalosamente enquanto flutuava sob sua cabeça, mas não disse nada, parou em frente a pia com a capa ainda o ocultando e disse a palavra necessária:

- Abra.

A garota-fantasma, parecendo assustada, começou a gritar:

- QUEM ESTÁ AÍ?

Mas como ninguém respondeu e a pia começou a tremer para se abrir, ela mergulhou em um dos vasos sanitários, fugindo dali.

- Casa coisa... – Harry murmurou revirando os olhos. E quando a passagem esteve finalmente aberta, o menino não pensou duas vezes e jogou um azulejo partido, que achara no banheiro, lá dentro. Quando finalmente ouviu o barulho, sorriu. Em seguida, para completo terror de uma pobre Morgana, Harry seguiu atrás do azulejo.

Foi como se ele precipitasse por um escorrega escuro, viscoso e sem fim. Viu outros canos saindo para todas as direções, mas nenhum era tão largo quanto aquele, que virava e dobrava, sempre para baixo, e ele percebeu que estava descendo cada vez mais fundo sob a escola, para além das masmorras mais fundas. E então, quando Harry começava a se preocupar com o que aconteceria quando chegasse ao chão, o cano nivelou e ele foi atirado pela extremidade com um baque aquoso, e aterrissou no chão úmido de um túnel de pedras às escuras, suficientemente amplo para a pessoa ficar de pé.

- Devemos estar quilômetros abaixo da escola – disse Harry, sua voz ecoando no túnel escuro.

- Er... Onde estamos, jovem amo?

- Estamos próximos à Câmara Secreta – respondeu simplesmente – Lumus!

Com a luz saindo da ponta de sua varinha, Harry seguiu pelo túnel, notando que estava abarrotado de ossos de pequenos animais. De repente, o menino se deparou com a pele de uma cobra gigantesca, acinzentada e imensa, que se encontrava enroscada e oca no chão do túnel.

- Essa pele... – a voz de Morgana era de completa admiração.

- Sim, um Basilisco.

- Incrível. Mas o senhor deve tomar cuidado, jovem amo, é claro que eu me transformarei em um Basilisco tão grande como este para protegê-lo, mas ainda sim é perigoso.

- Não se preocupe, Morg. Este Basilisco obedece a todos os desentendes de minha família.

- Oh... – a pequena serpente parecia ainda mais encantada.

Logo Harry esteve de frente para uma parede sólida, na qual havia duas cobras entrelaçadas talhadas em pedra, os olhos engastados com duas enormes esmeraldas brilhavam perigosamente. Com a adrenalina percorrendo suas veias, Harry se aproximou, sabendo exatamente o que deveria fazer.

- Abram – disse num sibilo determinado e altivo.

As cobras imediatamente se separam e as paredes se afastaram, as duas metades se deslizaram suavemente, desaparecendo de vista e Harry, com os olhos brilhando de entusiasmo, entrou.

Finalmente o menino se viu parado no fim de uma câmara muito comprida e mal iluminada. Altas colunas de pedra entrelaçadas com cobras em relevo sustentavam o teto que se perdia na escuridão, projetando longas sombras negras na luz estranha e esverdeada que iluminava o lugar. Sem dúvida era incrível. Com passos decididos que ecoavam nas paredes sombreadas, ele avançou por entre as colunas serpentinas, observando que no final daquele enorme corredor havia um rosto gigantesco talhado em pedra. Reconheceria aquele rosto em qualquer lugar, seu pai possuía vários quadros e estátuas na mansão com aquela face.

- Salazar Slytherin... – contemplou com um sorriso.

Estava na Câmara Secreta.

Estava no reduto preferido de seu antepassado. E havia tanto a explorar.

-x-

Algumas semanas já haviam passado e Harry não podia deixar de ir quase todos os dias à Câmara. Principalmente depois que descobrira vários aposentos curiosos por lá. Entre cada coluna de pedra serpentina encontrava-se uma habitação diferente. Eram mais de quinze, entre quatro salas elegantemente decoradas, três quartos com confortáveis camas com doncel, cinco banheiros em mármore com enormes banheiras que saíam do piso, três laboratórios para preparo de poções que contavam com ingredientes que Snape sequer poderia sonhar e é claro, o cômodo que Harry mais freqüentava: uma enorme biblioteca, equivalente a da própria escola, mas que possuía uma coleção de livros obscuros que nem o próprio Lord tinha na mansão.

- Jovem Amo...

- Não se preocupe Morgana, já estou indo – diz pela quinta ou sexta vez à preocupada serpente.

Esta apenas suspira e volta a relaxar em frente à lareira, é claro que amava aquele lugar, mas se preocupava com as horas de sono que seu pequeno amo perdia. Harry, por sua vez, estava concentrado de mais em sua pesquisa sobre como tornar-se um animago, para se preocupar com horários.

Saber se transfigurar em um animal é uma experiência que exige o mais alto nível de conhecimento em Transfiguração – Harry lia com interesse – Dificilmente um bruxo consegue aprender a se transfigurar em um animal rapidamente, e demora anos até que adquira prática, o que muitos bruxos consideram um esforço que seria mais bem aplicado em outras atividades. Não há muitos Animagos no mundo bruxo, na verdade há pouquíssimos, pois um Animago normalmente deve ser muito poderoso. Contudo, os bruxos também podem usar um Feitiço Restaurador para obrigar um Animago a voltar à sua forma humana.

A condição física de um Animago enquanto animal reflete a sua condição física da forma humana – continuou a ler – Quando um Animago se transfigura, retém com ele todas as suas roupas e acessórios que usava naquele momento, e as mesmas roupas e acessórios voltam a ele quando ele se transfigurar novamente em um bruxo. O processo de transfiguração faz as roupas do bruxo refletirem na pelugem ou pele do animal, mas não se sabe os detalhes de como isso ocorre. Outro detalhe é que transformar-se em Animago aumenta a capacidade do bruxo de se comunicar com os animais verdadeiros.

Atualmente, eu, Salazar Slytherin, consigo me transformar em uma serpente. Sabe-se que meus descendentes de sangue estarão propensos a se transformarem em animais peçonhentos. Da mesma forma que os descendentes e os bruxos com destinos intimamente ligados aos descendentes de Gryffindor, por exemplo, estarão propensos a se transformarem em felinos – os olhos de Harry brilhavam naquele momento.

Assim, as horas passaram com Harry mergulhado naquele fascinante artigo escrito pelo próprio Slytherin. Até que o sono o venceu e ele acabou dormindo debruçado na grande mesa de mogno escuro, acomodado na poltrona de estofado verde, com Morgana o encarando exasperada, mas sem se atrever a acordá-lo, pois percebia que seu jovem amo precisava dormir e se o acordasse tinha certeza de que ele voltaria a ler aqueles estranhos papéis.

Quando Harry finalmente acordou e voltou à Sala Comunal Slytherin, todos já estavam no Salão Principal desfrutando de um delicioso café da manhã. Quase todos, na verdade. Seu melhor amigo o esperava com o cenho franzido, sentado em uma das poltronas em frente à lareira.

- Harry? – o loiro perguntou ao ver a porta se abrir e "ninguém" passar por ela.

- Bom dia, Dray – sorri, despindo-se da capa – Você não deveria estar no Salão Principal?

Draco obviamente ignorou a pergunta, encarando-o seriamente:

- Onde você passou a noite?

- O que?

- Acordei de madrugada e você não estava na sua cama. Quase fui chamar o professor Snape, mas pensei que pudesse ter algo a ver com o Lord – diz com evidente esperança de que fosse isso.

- Er... Não exatamente.

- Então o que aconteceu?

Harry sabia que seu ciumento amigo não o deixaria em paz até saber com detalhes onde passara a noite. Então decidiu que era melhor dividir com ele a maravilhosa aventura que estava vivendo, desde a descoberta do diário, até a entrada na Câmara Secreta.

- Certo. Eu conto, mas você não pode dizer a ninguém.

- Não se preocupe.

- Nem para o seu pai e muito menos para o meu, entendeu?

- Entendi. Fale logo o que está acontecendo – a impaciência do loiro era visível.

- É sério, Dray. Se você contar isso para alguém eu juro que... Humm... Eu juro que me caso com o Theo e me mudo com ele para uma ilha deserta fora do mapa.

Draco imediatamente estreitou os olhos:

- Você joga baixo, Harry.

- Hehe... Eu sei. Eu jogo para ganhar – dá uma graciosa piscadinha – Agora preste atenção...

Assim, o moreno expôs com toda a riqueza de detalhes o que aconteceu desde que encontrara o diário na gaveta do closet de seu pai, até a noite passada, na qual estivera absorvido por um artigo escrito pelo próprio Slytherin sobre a Animagia. Cabe dizer que o loiro ficou em choque ao ouvir aqueles relatos, mas depois de absorver a idéia, mostrou-se totalmente entusiasmado, pois era uma chance única de conhecer todos os detalhes pessoais sobre aquele grande mago que era o fundador da casa das serpentes, o inigualável Salazar Slytherin.

Somente depois de Harry prometer que naquela noite o levaria à câmara, Draco se dispôs a descer para aproveitarem o café da manhã antes que encerrasse o horário. E abraçando possessivamente seu melhor amigo, o loiro seguiu ao Salão Principal. Não via a hora de poder viver aquela aventura com ele, os dois, sozinhos.

-x-

Poucos dias se passaram desde que Harry levara o melhor amigo à Câmara, onde aproveitaram a madrugada para explorar todos os cômodos e boa parte dos livros daquela fascinante biblioteca, acabando por dormir abraçados em um dos confortáveis divãs que havia por lá. Agora Hogwarts ingressava na semana do primeiro jogo de Quadribol da temporada. E naquela ensolarada manhã de sábado, o capitão Marcus Flint levava seu time para o primeiro treino antes que se iniciassem as partidas.

- Ainda não entendi, Theo. Você não suporta Quadribol, então por que decidiu entrar para o time?

O aludido, no entanto, apenas estreitou os olhos ao irritante loiro que sorria com auto-suficiência à sua frente. Se Malfoy entraria no time para ficar mais tempo com Harry então ele também o faria.

- Apenas quero viver experiências novas, Harry – comenta casualmente, sujeitando a nova Comet 290 que ganhara do pai em seu último aniversário. Era uma das melhores vassouras do mercado, equiparando-se com a Nimbus.

- Certo... Se você diz.

Porém, a equipe das serpentes vê seu trajeto ao campo interrompido pelo time Gryffindor. Pelo visto o capitão da casa rival tivera a mesma idéia que Marcus.

- Eu reservei o campo para os Gryffindors hoje, Flint – Oliver Wood anunciou com uma expressão de poucos amigos.

- Mas eu tenho autorização do professor Snape, olhe.

Com um sorriso desdenhoso, Marcus entregou o pergaminho com a elegante caligrafia do professor.

- "Eu, Severus Snape, concedo ao time Slytherin permissão para usar o campo de Quadribol hoje, face à necessidade de treinar os novos batedores" – Wood leu em voz alta – Então vocês têm novos batedores? Onde?

Os dois novos jogadores deram um passo à frente. O primeiro com um sorriso malicioso adornando sua pálida face, e o segundo com uma expressão de pura indiferença reluzindo em seus olhos azuis.

- Vocês não são Draco Malfoy e Theodore Nott? – perguntou um dos gêmeos Weasley.

- E essa não é a única novidade do time – Flint comenta com superioridade, mostrando a vassoura que ele e os outros jogadores usavam.

- Uau! – o menor dos Weasley, que havia se aproximado com a sangue-ruim-Granger, abriu seus olhos desmesuradamente ao contemplar as vassouras – São Nimbus 2001!

De fato, todos os jogadores usavam o lançamento da Nimbus, exceto Theodore, Draco e Harry. Os dois últimos contavam com o modelo "Nimbus 2001 - Aero Advance" que possuía uma aerodinâmica ainda mais elaborada, usada pelos profissionais. Um maravilhoso presente de Lucius Malfoy para seu filho e afilhado.

- Sim, são presentes do pai do Draco.

- Ao contrario de pobretões como você, Weasley, eu e meu pai podemos comprar o melhor.

- Pelo menos nenhum Gryffindor pagou para jogar – a irritante come-livros se apressou a responder – Só entrou quem tem talento.

Harry revirou os olhos ao ouvir aquilo, sem dúvida esses Gryffindors não sabiam o que era abastecer uma equipe, Draco e Theo eram os melhores para aquela função e já haviam provado isso ao desbancar vários estudantes mais velhos no treino de aptidão da semana passada. Levando em consideração que o trabalho dos batedores era proteger o apanhador, ninguém faria aquilo melhor do que eles.

- Ninguém falou com você... – Draco encarou a menina com expressão superior em seu rosto -... Sujeitinha de sangue-ruim.

Os Gryffindors arregalaram os olhos, chocados, enquanto os Slytherins sorriram com malícia. Até mesmo Theodore gostou de ver aquela irritante garota sendo colocada em seu lugar. O menor dos Weasley, no entanto, quis fazer uso da famosa coragem Gryffindor e logo sujeitou a varinha, apontando-a para Draco, na intenção de defender uma chorosa Granger.

- Você var pagar por isso, Malfoy...

- Se eu fosse você baixaria essa varinha, Weasley.

Todos se voltaram a um tranqüilo Harry que encarava o garoto ruivo com frieza.

- A não ser, é claro, que você deseje fazer uma visitinha à Ala Hospitalar – o pequeno Lord continuou – Fui claro?

- Q...Quem você pensa que é para... para falar assim comigo?!

- Parece que não fui tão claro – revira os olhos, e sem nem pegar a varinha, apenas murmura – "Cara de Lesma".

Uma poderosa luz roja saiu da mão direita de Harry e impactou direto na barriga do ruivo, atirando-o de costas na grama.

- Rony! Rony! Você está bem? – gritou a menina, correndo para ajudá-lo.

O garoto abriu a boca para falar, mas não saiu nada. Em vez disso, ele deu uma poderosa arfada, como se fosse vomitar, e várias lesmas caíram de sua boca para o colo.

Os Slytherins ficaram paralisados de tanto rir. Flint, dobrado pela cintura, tentava se apoiar na vassoura nova. Draco, apoiando o rosto no ombro do amigo, dava gostosas gargalhadas. E Theo deixava um sorriso malicioso dançar em seus lábios. Os Gryffindors, por sua vez, agrupavam-se em torno do jovem Weasley, que não parava de vomitar lesmas enormes. Ninguém parecia querer tocar nele.

- Então, Marcus, não íamos treinar? – Harry sorri ao capitão, vendo que este se acalmara um pouco.

- Sim, vamos lá, Harry...

Com toda a elegância que somente as serpentes possuíam, Harry e os outros Slytherins seguiram seu curso ao campo de Quadribol, deixando os aterrados Gryffindors com um problema, no mínimo, bem nojento. Dessa forma, o treinamento que se seguiu foi feito entre brincadeiras e burlas, com alguns enfrentamentos entre Theo e Draco, é claro, mas nada que um furioso capitão Flint não pudesse amenizar. O primeiro jogo da temporada, Slytherin vs. Revenclaw começaria em breve e as astutas serpentes precisavam estar prontas. Como de fato, estariam.

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Os dias seguiram sem maiores delongas e naquele exato momento, Harry aproveitava o horário livre antes do jantar para conversar mais um pouco com o diário de seu pai, no conforto de uma das salas da Câmara. A sala em que se encontrava era a maior, possuía uma grande mesa retangular de mogno escuro ao centro, com cadeiras estofadas em volta dela; Uma elaborada ladeira em granito negro com três poltronas à frente; Várias prateleiras com pergaminhos, plumas e tintas de singulares aspectos; E diferentes tapeçarias espalhadas que davam um aconchegante ar medieval ao lugar. Em um primeiro momento, parecera entranho a Harry que tudo permanecesse em perfeitas condições, como se alguém descesse à Câmara todos os dias para limpar, organizar e repor os objetos que lá havia, mas depois o diário lhe contara que um poderoso feitiço do próprio Slytherin a mantinha naquele estado elegante e impecável.

"Então aquele Squib inútil do Filch ainda é o zelador?"

"Sim. Ele e aquela gata ridícula vivem me perseguindo".

"Pelo visto ele não mudou nada".

"Parece desejar que eu quebre as regras só para me delatar ao idiota do Dumbledore".

"Hum... Seria interessante dar um belo susto nele".

"Como assim?"

"Esqueça. Pode ser perigoso, se eles o pegarem você acabará sendo expulso".

Os brilhantes olhos verdes reluziam curiosidade e irreverência fazendo justiça ao sangue Gryffindor.

"Oh, por favor, eu não sou nenhum amador, Tom! – haviam acordado de chamá-lo pelo nome, pois a idéia de pai ainda estranhava o jovem Voldemort –

Ninguém irá me pegar, e se desconfiarem de alguma coisa, não poderão provar".

"Muito bem, se você quer tanto... Está na hora de incitar o Basilisco".

Um expectante sorriso surgiu nos lábios de Harry.

"Veremos como o idiota do Filch reage à perda de sua adorada gata – Tom continua –

Será uma experiência memorável, não acha, Harry?".

"Com certeza. E garanto que hoje mesmo essa ridícula gata não chegará a saborear seu jantar".

Com uma expressão digna do próprio Salazar adornando seu fino rosto, Harry seguiu ao busto de pedra no final da Câmara e sussurrou decisivas palavras ao Basilisco que descansava lá dentro. Minutos depois, quando este saíra para cumprir suas ordens, o pequeno Lord voltou tranquilamente às masmorras, tomou uma boa ducha e depois adotou um sossegado andar ao Salão Principal. No caminho, deparou-se justamente com a cena que esperava. Ao se aproximar, quase escorregou, havia uma poça de água no chão, mas lá estava a gata do zelador petrificada em meio à poça, dura como um pau, os olhos arregalados e fixos no nada.

- "Petrificada?" – Harry arqueou uma sobrancelha. Era para a gata estar morta, mas, provavelmente, ela não havia olhado nos olhos do Basilisco.

Rapidamente, o menino a pegou e pendurou pelo rabo em um suporte de tocha, olhando ao redor para ver se não chegava ninguém. Inesperadamente uma divertida idéia surgiu em sua cabeça. Por que não assustar aos estudantes idiotas e de quebra desmoralizar o diretor? Sim, era genial.

Assim, usando um feitiço que reproduzia sangue, Harry escreveu na parede:

INIMIGOS DO HERDEIRO, CUIDADO.

A CÂMARA SECRETA FOI ABERTA.

Mal podia esperar para ver a cara de terror daqueles sangues-ruins ridículos. E com esse pensamento, voltou a adotar seu caminho ao Salão Principal. Contudo, quando já virava a esquina do corredor, Pansy e Draco vinham correndo ao seu encontro.

- Harryzito! Onde você estava?

- Eu...

- O horário do jantar acabou – Draco o encarava com seriedade e preocupação.

- Eu estava indo para a cozinha ver se conseguia alguma coisa, não se preocupem.

Porém, antes que pudessem continuar caminhando em direção ao Salão Principal, uma aterrada voz os surpreendeu:

- Minha gata! Minha gata! Madame Nor-r-ra, o que aconteceu?!

Logo uma multidão de alunos surgira no local. E os olhos saltados do zelador pousaram em Harry.

- Você! – gritou – Você! Você assassinou a minha gata! Seu pequeno demônio! Você a matou! Eu vou matá-lo! Vou... – é claro que o aterrado homem não se atreveu a chegar perto do pequeno Lord, que o encarava com uma expressão de pura frieza em sua face.

- Argus!

Dumbledore chegara à cena. Ele e alguns professores abriram espaço por entre os estudantes e se aproximaram do furioso zelador.

- Voltem todos aos seus dormitórios – o diretor ordenou – menos vocês três – apontou para Harry, Pansy e Draco.

Imediatamente os outros estudantes seguiram de volta às suas casas e o zelador se apressou a acusar:

- Ele matou a minha gata! Esse maldito garoto! Ele a matou!

- Isso é mentira – Harry respondeu tranquilamente – Por que eu perderia meu tempo com sua gata inútil?

- Ora seu...

- Ela não está morta, Argus – Dumbledore interrompeu – Está petrificada.

- É uma pena que eu não estava aqui – o professor de DCAO suspirou de maneira teatral – sei exatamente o contra-feitiço que a teria salvado.

Todos, inclusive as pequenas serpentes, arquearam uma sobrancelha com evidente descrença. O professor Snape, por sua vez, adiantou-se ao diretor:

- Talvez o senhor Riddle e seus amigos simplesmente estiveram no lugar errado na hora errada...

Harry estreitou os olhos. Aquilo não era normal.

-... Contudo, não me lembro de tê-lo visto no jantar.

- Eu não estava com fome, professor. Passei à tarde nas masmorras estudando alguns livros que meu pai me indicou e agora estava indo ao Salão para encontrar meus amigos.

Todos os adultos estremeceram com a menção da palavra "pai". O que fez o menino sorrir internamente.

- Inocente até que se prove o contrário, Severus – o diretor declarou.

Snape pareceu desgostoso. E Filch também.

- Minha gata foi petrificada! Quero que alguém seja punido!

- Vamos curá-la, Argus – disse Dumbledore, paciente – A professora Sprout está cultivando uma safra de mandrágoras. Assim que elas crescerem, faremos uma poção que ressuscitará Madame Nor-r-ra.

- Com licença, diretor, mas estou morrendo de sono – Harry suspirou, comentando causalmente – Podemos voltar ao nosso dormitório?

- Claro. Durma bem, Harry.

O menino arqueou uma sobrancelha. Pelo visto Dumbledore voltava a querer persuadi-lo a se juntar a ele, com sua carinhosa atitude bonachona, ao invés de tentar matá-lo. Enfim, não conseguiria nenhuma das duas coisas mesmo. Sem dúvida, não passava de um velhote patético.

Com passos tranqüilos, as pequenas serpentes agora voltavam às masmorras. Quando chegaram ao Salão Comunal, encontraram-se com Theodore e Blaise, e Harry aproveitou para contar sobre a Câmara e sobre o diário de seu pai. As reações foram quase as mesmas que a de Draco. Pansy emocionada para conhecer a decoração do lugar. Blaise curioso para saber como deixar sua memória em um diário e Theo excitado com a possibilidade de consultar os livros do próprio Slytherin. Assim, após Harry prometer que logo os levaria a câmara, passaram a noite se divertindo com o que acontecera à gata do Filch.

- Não acredito que você fez isso, Harry – Blaise dava boas gargalhadas.

- A idéia não foi minha, mas valeu à pena ver a cara dele.

- E aquela mensagem na parede? – Pansy o encarava com curiosidade – Era sangue mesmo?

- Não. Foi só um feitiço, mas não há como diferenciar os dois.

- Uau! Incrível, Harryzito!

- Hehe... Vocês ainda não viram nada... – sorri com malícia. Logo Hogwarts estaria sob o poder do herdeiro de Slytherin e Dumbledore seria desmoralizado por não conseguir conter os ataques. Era genial. Com ajuda do diário de seu pai, os sangues-ruins deixariam de circular por aquela escola.

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No dia seguinte, os rumores da tal Câmara Secreta já corriam por toda a escola. E agora os Slytherins e Gryffindors do segundo ano se encontravam em uma tediosa – na opinião de Harry – aula de Transfiguração. Será que aqueles Gryffindors inúteis não conseguiam sequer transfigurar um animal em um cálice de água? Ao ver o cálice do inútil Weasley balançar o rabo, percebeu que não. Quando chegou a sua vez, o pequeno pássaro azulado que lhe correspondia se transformou em um lindo cálice de cristal adornado de esmeraldas com um simples balançar de varinha.

- Excelente, senhor Riddle. Cinco pontos para Slytherin.

O menino, porém, apenas revirou os olhos. E antes que a professor pudesse seguir com a avaliação a sangue-ruim-Granger levantou a mão. Aquilo começava a exasperar o pequeno Lord. Será que a irritante garota não se dava conta de que parecia uma estátua, toda hora levantando a mão para perguntar ou responder qualquer idiotice?

- Pois não, senhorita Granger?

- Professora... – respirou fundo, tentando se manter firme – Será que a senhora não podia nos contar sobre a Câmara Secreta?

McGonagall a encarou com evidente surpresa, mas quando viu que absolutamente todos os alunos mostravam-se expectantes diante da resposta, apenas suspirou. Até Harry estava curioso para ver o que a chefe da casa Gryffindor falaria a respeito do reduto secreto de seu antepassado.

- Pois muito bem, senhorita Granger – franziu o cenho com sua característica expressão ranzinza – Todos sabem, é claro, que Hogwarts foi fundada a mais de mil anos pelos quatro maiores bruxos e bruxas da época: Godric Gryffindor, Helga Hufflepuff, Rowena Revenclaw e Salazar Slytherin. Três dos fundadores conviviam em perfeita harmonia, mas um deles não.

Harry arqueou uma sobrancelha. Sua "querida" professora não estava sendo muito imparcial naquela história. Ele próprio lera os artigos de Slytherin que contava que todos os fundadores divergiam entre si. Gryffindor queria que só os corajosos estudassem em Hogwarts, Revenclaw defendia apenas os mais estudiosos, Hufflepuff, é claro, não fazia distinção e Slytherin desejava que somente os sangues-puros pudessem aprender com eles. Cada um defendendo seus pontos de vista. Mas é claro que McGonagall precisava desprestigiar a casa inimiga.

- Salazar Slytherin – continuou a professora – queria ser mais seletivo em relação aos alunos admitidos em Hogwarts. Ele achava que o ensino da magia devia ser somente para famílias inteiramente mágicas, em outras palavras, sangues-puros.

Draco lançou um sorriso debochado à Hermione.

- Incapaz de dissuadir os outros, ele decidiu abandonar a escola...

Naquele momento, Harry quase engasga com o próprio ar. Aquilo era mentira. Salazar abandonara a escola porque suas brigas com Godric eram colossais e antes que o castelo fosse abaixo ele resolveu mudar-se para uma de suas propriedades para pesquisar mais afundo as Artes Obscuras, pois preferia muito mais se dedicar às pesquisas e poções do que lidar com um bando de estudantes inúteis.

-... E de acordo com a lenda – McGonagall suspirou tentando encontrar as palavras corretas – Slytherin havia construído uma câmara escondida neste castelo, conhecida como a Câmara Secreta. Logo antes de ir embora, ele selou a câmara, até que chegasse à hora de seu legítimo herdeiro voltar à escola. Somente o herdeiro seria capaz de abrir a câmara e libertar o horror que lá havia e ao fazer isso, expurgar a escola de todos aqueles que, segundo Slytherin, não fossem dignos de estudar magia.

- Quem nasceu muggle – a apagada voz de Hermione Granger concluiu. Recebendo um assentimento da professora.

- Bom, naturalmente a escola foi revistada várias vezes e nenhuma câmara foi encontrada.

- Professora, o que exatamente a lenda diz que há dentro da câmara?

- Que a câmara funciona como o lar de alguma coisa que só o herdeiro de Slytherin pode controlar. Dizem que ela é o lar de um monstro.

A maioria dos alunos se mostrou apavorada com aquelas palavras. Harry, no entanto, apenas sorria internamente. Em breve, Hogwarts aprenderia a saudar um de seus fundadores com mais respeito. Em breve, todos saberiam que o herdeiro de Slytherin era mil vezes mais poderoso que o velhote maluco, pois logo este seria afastado por não ter capacidade o suficiente para cuidar da escola. E o principal é que seu pai ficaria orgulhoso com o seu feito...

Pelo menos era isso que o jovem herdeiro pensava.

Continua...

Próximo Capítulo: - Devido aos recentes acontecimentos o diretor me deu permissão para formar um pequeno Clube de Duelos.

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Vocabulário e esclarecimentos:

Squib – Aborto. Nascido bruxo, mas sem capacidade de realizar magia.

A estrutura da Câmara Secreta, obviamente, foi modificada para assemelhar-se a um lugar confortável onde Harry possa passar boa parte do dia. Contando com várias habitações e livros interessantes, estes o ajudarão ainda mais no decorrer da história.

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Lembrando que... Nesta história o sobrenome de Tom, "Riddle", corresponde a sua falecida mãe (Mérope Gaunt, então se torna Mérope Riddle. E o pai do Lord agora se torna Tom Gaunt). Portanto, "Riddle" representa a família Slytherin e ao contrário da versão original ele não tem problemas com este, tem "problema" apenas com "Tom" por ser herança de seu pai muggle. Dessa forma o sobrenome Riddle é conhecido, antigo e muito conceituado no mundo mágico – mais até do que os Malfoy, os Black e os Potter – o que no decorrer da história ficará ainda mais claro com o orgulho de Harry ao ser chamado de Riddle.