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Leona, a Rainha das Feras

Astrid não podia acreditar no que estava vendo. Um homem humano, em carne e osso bem na sua frente. Não só isso, ele aparentemente era da sua família, pois pelo o que lhe foi contado, os Heddle existiam muito antes dos homens desaparecerem. Astrid achou que não estaria viva para ver a volta dos homens.

Sem falar nas semelhanças físicas, pele negra, olhos azuis, cabelo ondulado branco, aquele garoto parecia uma cópia sua, uma cópia com um cabelo muito mais curto e um corpo muito menor e esguio. Astrid podia sentir pelo cheiro que ele era uma fera, não havia dúvidas.

Seus pais estavam em outro cômodo, no escuro, não haviam visto Ragnar ainda.

-Vamos sair antes que nos vejam.-Astrid não queria explicar nada para seus pais, seria muita dor de cabeça.

-Concordo.-Ouviu a voz calma de Ragnar outra vez e o seguiu até o lado de fora. Estava escuro, isso poderia ajudar a esconder Ragnar.

Mandou uma mensagem para Verônica instintivamente, talvez ela soubesse o que estava acontecendo. Verônica apenas mandou um endereço e como não tinham nada melhor para fazer, Astrid decidiu que iriam até ela.

-Eu achei que nunca veria uma mulher de novo...-Sua atenção se voltou a Ragnar, ele se sentia exatamente como ela: impressionado e confuso.

-Você era...

-De Spiralla? Sim. É bem parecido com esse lugar, pelo menos as cidades humanas eram.

-E o resto do mundo?

-Pelas histórias que eu ouvi desse mundo onde estamos, Spiralla é um lugar totalmente fora da sua realidade, reinos inteiros em chamas, castelos submarinos, florestas de cogumelos enormes, até mesmo um lugar onde todos são loucos. Não sei como duramos tanto tempo lá, mas duramos.-O cheiro que ele exalava dizia o contrário, ele parecia saber muito bem como sobreviveram.

-Não existem feras no seu mundo?

-Feras?

Astrid não queria perder tempo o explicando, arregaçou as mangas e transformou os braços, Ragnar pareceu impressionado mas talvez não pelo motivo que ela esperava.

-Somente algumas pessoas têm acesso a esses poderes em Spiralla, no nosso mundo, aqueles que podem se transformar são os super soldados, a defesa de Nexus.

-Nexus?

-A principal cidade humana de Spiralla, as Spiranas já tentaram invadir e só as "feras" puderam nos defender.

-E o que você estava fazendo antes de aparecer aqui?

-Indo me casar.-Ela franziu o cenho, ele parecia jovem demais para se casar. O rosto de dúvida dela lhe arrancou uma leve risada.

-Não se engane pela minha aparência, acho que sou bem mais velho do que pareço.

-E quem era sua noiva?

-Victoria Valentine ou como todos a chamam: V, ela é a princesa dos tecelões. Temos lidado com muitos problemas ultimamente, então é bom poder finalmente nos casar de uma vez.

Astrid sentiu uma pontada de inveja, V e ela ainda estavam muito longe de estarem livres de problemas, talvez nunca estivessem, mas ela estava feliz por ele, tão feliz que nem questionou a grande coincidência de existir uma V no outro mundo também, ainda mais com um nome tão parecido com o do seu V.

Os dois passavam por um bar, quando ouviram algo na TV:

"As autoridades ainda não tem uma resposta para os tremores sentidos por todo o mundo, mas o evento pode ter relação com o recente reaparecimento dos homens. Mas o principal evento da noite foi o misterioso aparecimento de cinco enormes massas de terra no oceano observado através de satélites, líderes mundiais já organizam uma assembleia sobre os novos continentes e seus habitantes. Fique ligado para a nossa entrevista com o Tricampeão Olímpico de patinação artística, Wang Yibo e o seu noivo Xiao Zhan amanhã à tarde..."

As imagens da TV mostravam os tais "continentes novos", Astrid olhou de relance para Ragnar, ele parecia tão confuso quanto ela.

-Isso é ruim, as desgraçadas já começaram...-Verônica os surpreende aparecendo do nada.

-As El Clonado fizeram isso?-Astrid pergunta, mas então a vê encarando Ragnar confusa.-Ele apareceu depois do terremoto, é da minha família. Não se preocupe, também é uma fera.

-Que bom, porque pra onde vamos só feras são permitidas.

-Temiscira? Pra que vamos pra lá?

-Só elas podem ajudar, temos que pegar aquela maldita máquina.

-Máquina? Que máquina?

-Te explico no caminho, não temos tempo a perder.

Verônica dá as costas e começa a caminhar em direção à floresta com os outros dois vindo atrás. 

-A máquina foi encontrada numa região da Sibéria, as El Clonado interceptaram o comboio que a levava pra uma base do governo para estudos, é parecida com uma cápsula criogênica mas não tem nada haver com isso, ela é capaz de absorver grandes quantidades mana e liberá-la em uma explosão, foi através dela que descobrimos a história de Spiralla e Annilia.

-E foi ela que causou tudo isso?-Ragnar decide se pronunciar, ele que estava calado até então.

-Sim, a explosão que ela libera é capaz de criar mudanças permanentes na realidade dessa e de outras dimensões.-Verônica para, e os olha nos olhos.-Os eventos de hoje foram só o começo, essa primeira explosão esgotou as reservas de mana da máquina mas quando ela for reabastecida o próximo passo vai ser adicionar Annilia à equação.

-Pra que fundir as três dimensões se elas podem simplesmente trazer os homens pra cá e mandar os MBS de volta pras outras dimensões?

-Eu não sei ao certo, mas é melhor tirarmos a máquina antes que elas tenham a chance de usar de novo, e só as feras de Temiscira.

-Espera, depois de um treino básico e já vamos pra Temiscira? Isso é uma péssima idéia...

Astrid estava muito receosa, o principal motivo era a rainha das feras, Leona. Engravidada pelo próprio pai aos 12 anos, Leona decidiu manter a criança, mesmo com toda a dor que seu pai havia lhe causado, porém, sendo agora uma órfã, não lhe foi permitido ficar com a criança e ela foi separada de sua filha. Depois de fugir do orfanato, ela foi acolhida pelas feras e treinada por sua sua líder, a que chamavam de Mary, a suprema. Leona se tornou uma alfa em apenas uma semana, e anos depois se tornou rainha, título que a mesma mantém à 20 anos como uma justa, porém firme, rainha das feras.

-Não temos escolha Astrid.-A resposta vem de Ragnar, de quem ela menos esperava.-Estamos sozinhos nessa e precisamos agir logo.

Um peso tão grande como este talvez fosse demais para Astrid, ir atrás dessa máquina talvez fosse muito arriscado, mas mesmo assim, não tinham escolha, como o próprio Ragnar disse.

-Se já terminamos aqui, eu tenho que chamá-las.

Uma adaga é desembainhada e Verônica a usa para abrir um pequeno corte na palma de sua mão e deixando o sangue escorrer. 

Astrid estava prestes a questioná-la quando sente quatro novos cheiros na floresta, além de passos se aproximando lentamente. O odor que ela sentia era semelhante ao de Verônica e Ragnar, o cheiro de uma fera, mas era ligeiramente mais "puro". Diferente dos outros, era como se suas donas jamais tivessem pisado em uma cidade.

Um leve rosnado chamou sua atenção. Tigres, ou melhor tigresas, os cercavam. Astrid estava prestes a se transformar e partir para cima quando Verônica entrou em sua frente.

-Queremos falar com Leona. Não estamos aqui pra lutar.

Uma das felinas dá um alto rugido e seu corpo se envolve por fumaça negra. A mulher que saiu da nuvem negra era alta e forte, sua pele bronzeada pelo sol era marcada por diversas tatuagens tribais negras espalhadas por todo o seu corpo, usava vestes simples feitas com peles animais apenas para cobrir o "essencial" e trazia uma lança primitiva consigo.

-Quais são seus nomes?-Ela pergunta após dar uma boa olhada para os três.

-Melhor não contar nossos nomes pra ela Astrid.-Ragnar "sussurrou" em seu ouvido, um sussurro que poderia ser ouvido a quilômetros.

-Então seu nome é Astrid?

-Mandou bem Ragnar.-Astrid diz irônica.

-Astrid e Ragnar então?

-Parabéns idiotas.-Verônica expressa sua indignação diante da burrice de seus companheiros.

-Cala a boca Verônica!-Os dois dizem em uníssono.

Verônica estava sem palavras, ela só pôde bater em sua própria testa e pensar: Às vezes eu me arrependo de treinar essa cabeça de vento... Espera aí... Onde foi que eu já vi essa cena antes?

A mulher pega sua lança e bate o cabo no chão três vezes. O vento começa a soprar violentamente e as folhas no chão começam a voar em círculos em volta de seus corpos. 

Astrid fechou os olhos e quando os abriu novamente não estava mais no meio da floresta, eles estavam de joelhos em uma espécie de cabana a mulher de antes estava a sua frente juntamente das outras três tigresas agora na forma humana, não havia luz, apenas algumas tochas acesas na parede o que dificultava um pouco a sua visão.

-Minha rainha, essas feras urbanas desejam uma audiência com você.

Foi só aí que eles notaram...

A sua frente, sentada em seu trono e coberta pelas sombras estava Leona, a rainha das feras.