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Invisibilidade Psicológica

Ariandel olhou ao redor e observou Sunny, ainda enfrentando seu Primeiro Pesadelo. Seu olhar demorou-se sobre ele.

Com um sorriso e olhos brilhando de emoção, pensou: "Olá, Sunless 'Mongrel' Lost from Light, personagem central deste mundo."

Lentamente, Ariandel voltou o olhar para baixo, para aquela que os vigiava em seus pesadelos.

Sentada numa cadeira de plástico ao lado da cama médica reforçada, estava a mulher mais bonita que ele já vira. Cabelos negros como corvo, olhos azul-claros, pele impecável e pálida como a neve. Ariandel já a conhecia bem — ou pelo menos gostava de pensar que sim.

Ela aparentava ter cerca de vinte anos e usava um uniforme azul-escuro, com ombreiras prateadas e botas de couro preto. A jaqueta, casualmente desabotoada, deixava à mostra uma regata preta por baixo. No momento, ela esticava os braços acima da cabeça, entediada e sonolenta, fazendo o tecido ajustar-se provocativamente ao corpo.

Jet e Sunny eram pessoas querida, recorrentes em sonhos e cenários imaginários. Mas agora… aqui estavam eles, de verdade.

Ariandel suspirou, hipnotizado ao ver os personagens em carne e osso. Mas uma sensação desconfortável o atingiu como um soco no estômago: ele estava pensando como um perseguidor, ou um fã obsessivo que espreita a privacidade de seus ídolos.

Engasgando com a própria percepção, ele estremeceu. "Eles nunca me conheceram, e eu… nunca os conheci de verdade. Estou me comportando exatamente como um perseguidor..." Respirou fundo, acalmando-se. "É melhor não deixar esses sentimentos de familiaridade unilateral surgirem de novo."

"Vamos nos concentrar em algo mais produtivo... como o fenômeno de imperceptibilidade que estou experienciando."

Embora estivesse acordado há tempo suficiente para ser notado, Jet ainda o ignorava, como se não percebesse sua presença. "Eu tenho uma ideia da causa."

Ariandel estava sentindo diferentes graus de pressões das pessoas ao redor, algo que ele chamou de Sentido Mental, parecendo se originar da percepção consciente dos que o cercavam. Ele batizou isso de "Aura Mental."

"Deve ser por causa dessa aura mental que alguns despertos e criaturas do pesadelo percebem os olhares e até pensamentos dirigidos a eles," refletiu, embasando suas ideias.

Ao retrair sua própria aura mental, instintivamente ativava alguma sub função de sua habilidade Ser Onírico.

"Retrair minha aura oculta minha consciência e influencia a percepção dos outros, criando uma ausência silenciosa que desvia sua atenção de mim," concluiu, chamando sua habilidade de Invisibilidade Psicológica.

Sorriu levemente, murmurando para si mesmo: "Cuidado com o 'Espectador'."

Algo chamou sua atenção:

Sunny estava prestes a despertar, seus olhos movendo-se sob as pálpebras fechadas. O sorriso de Ariandel se alargou enquanto observava a cena, seus olhos brilhando de curiosidade. Ele quis cruzar os braços, mas a lembrança das amarras o deteve.

"Deuses mortos! Quantas vezes já esqueci que estou preso a esta cama?"

Ajeitou-se o máximo possível, reprimindo o desejo de romper as restrições.

"Bem... Não que eu vá sair por aí cometendo crime de dano material," murmurou, com um leve toque de humor.

Não que ele tivesse força para quebrar aquela coisa, de qualquer forma.

"Ah, foco, Ariandel! Uma comédia de ouro se desenrola bem diante de você. Não perca!" Ele observava Sunny tentando processar a presença de Jet ao lado de sua cama, imaginando os pensamentos que ecoavam em sua mente enquanto ele tentava entender aquela figura desconcertante.

"O Perverso Perdido da Luz, perdido entre a reverência e o completo terror." Ariandel quase riu ao ver o pânico evidente de Sunny ao notar o distintivo no ombro de Jet.

Sunny parecia um peixe fora d'água, e Ariandel podia jurar que ele estava prestes a balbuciar desculpas — se seu próprio Defeito o permitisse.

"Não tem preço assistir, ao vivo e em cores, Sunny tentando ser… audacioso."

Foi então que, num acesso de nervos, Sunny soltou um desajeitado:

"Seios."

Jet o fulminava com o olhar, enquanto Ariandel testava sua invisibilidade psicológica, curioso até onde ela continuaria ignorando sua presença.

"PLÁC!—"

Ele mal segurou outra risada ao ver o tapa de Jet, que só não jogou Sunny para fora da cama porque as restrições o seguraram.

"Eu vi muitas... mas nenhuma tão bonita como você." Sunny recuou, o rosto vermelho como seus pensamentos embaraçados.

Jet riu leve e musicalmente.

"À medida que seu núcleo de alma se desenvolve, o corpo se livra de todas as suas imperfeições. Então, é difícil encontrar um Desperto não atraente, especialmente entre os mais fortes."

"Já que está acordado, seja bem-vindo de volta à terra dos vivos. Parabéns por sobreviver ao seu Primeiro Pesadelo, Adormecido Sunless." Com essas palavras, Jet soltou as amarras de Sunny e se apresentou.

Esse era o momento que Ariandel aguardava.

Com um sorriso caloroso, ele finalmente se deixou ser notado. Sua voz suave quebrou o silêncio: "Ah, desculpe, acho que está na hora de me mostrar... qualquer coisa além disso, e eu vou ser esquecido nessa cama."

Sunny, assustado, xingou: "Você! De onde você saiu? E já é a segunda vez que você aparece atrás de mim de repente!"

Jet ergueu uma sobrancelha, rindo novamente. "Então você estava se divertindo às nossas custas o tempo todo, hm?"

Ariandel sorriu ainda mais, encantado com a situação. "Não foi bem a minha intenção. Quando eu acordei, meio que já estava... sendo ignorado, por assim dizer."

Jet o interrompeu, analisando-o com um olhar atento. "Você está tentando nos fazer de bobos, não é?" Aproximou-se, desfazendo as amarras da cama com movimentos calmos. "Vamos lá, Adormecido Ariandel," disse, com um toque de ironia. "Agora você pode caminhar. Mas lembre-se: como o primeiro a tentar zombar de mim… talvez você não sobreviva para contar a história."

***

Sunny observava Ariandel e Jet interagirem com um olhar perplexo e, francamente, incrédulo. A postura tranquila de Ariandel, suas provocações sutis e sua ousadia diante de uma Ascendida como Jet… tudo isso o deixava quase em choque.

"Esse cara só pode ser maluco. Ou muito corajoso. Ou… ambas as coisas?" Pensou Sunny, tentando esconder o ciúme pela beleza etérea de Ariandel.

"Como o cabelo dele cresceu tanto? E aqueles olhos… que ridículos, o que houve com eles. Não é justo."

Assim que Jet terminou de soltar a última amarra, Ariandel lançou lhe um ultimo olhar travesso, com um sorriso caloroso que parecia fora de lugar. Sunny sentiu a tensão crescer no ar como uma tempestade prestes a explodir, e tudo o que queria era não estar ali para assistir ao desastre que estava prestes a acontecer.

"Alguém precisa avisar esse sujeito sobre o tipo de gente que ele está provocando…"

A voz gelada de Jet cortou o ambiente. "Agora você pode caminhar. Mas lembre-se: como o primeiro a tentar zombar de mim… talvez você não sobreviva para contar a história."

Ariandel soltou uma risada leve, e o pavor de Sunny só aumentou.

Ele não sabia se ria da ironia, se temia por Ariandel ou se admirava sua coragem. Queria dizer algo, mas seu Defeito pesava, forçando-o a segurar a avalanche de reações contraditórias. Ele temia se tornar o alvo da ira de Jet.

"Ótimo. Só pode ser brincadeira. Esse sujeito tem a audácia de rir bem na cara dela?!"

Lançando um olhar furtivo para Ariandel, viu-o sorrindo calmamente enquanto Jet o encarava com uma intensidade quase predatória. Inveja e admiração surgiram em Sunny. Ele não sabia se era coragem ou loucura, mas Ariandel tinha algo que ele mesmo buscava sem sucesso.

Para sua surpresa, Jet não parecia furiosa. Um sorriso se formava no rosto dela, uma expressão que tornava seu olhar ainda mais perturbador. Talvez ela tivesse gostado da provocação… ou guardava a vingança para mais tarde.

"Isso ainda vai acabar mal pra ele."

Prendendo a voz e forçando uma expressão indiferente, Sunny viu quando Jet finalmente permitiu que Ariandel se levantasse. Aliviado e confuso, pensou:

"Como é que ele faz isso? Ele saiu de seu Primeiro Pesadelo e estava preso até agora, mas já se comporta como se fosse dono da situação. Enquanto eu… mal consigo respirar perto dela…"

Então Ariandel lançou lhe um olhar, e Sunny, paralisado, tentou processar tudo que acabara de ver. Mesmo envolto em sua tempestade emocional, percebeu uma certa graça, uma estranha comédia naquela situação. Em outra circunstância, talvez até risse de si mesmo.