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Entre o Sonho e a Realidade II

O Peregrino lançou um olhar para aquilo que, momentos atrás, parecia um vórtice de milhares de cores.

Percebeu que não se tratava mais de um vórtice, mas sim de uma esfera de cristal dourado iridescente que parecia expandir-se até o infinito, formando algo como uma lente tridimensional de um caleidoscópio.

— Mmh...

As imagens na esfera moviam-se quase imperceptivelmente, emitindo ondas de luz que se expandiam pelo vazio ao redor e projetavam formas geométricas que surgiam e desapareciam em um ciclo contínuo.

Cada mudança na forma criava uma nova dança de cores, como se o espaço e o tempo se fragmentassem e se reorganizassem em um espetáculo sem fim.

Ariandel observava, sentindo que a estrutura diante de seus olhos desafiava qualquer lógica que conhecia.

A voz do Feitiço puxou-o repentinamente para fora daquele transe.

[Despertando Habilidade de Aspecto…]

"Este é o momento da verdade", disse o Peregrino a si mesmo, com um misto de excitação e nervosismo.

Divino ou não, seu futuro imediato dependia da primeira Habilidade de seu Aspecto e do Defeito que receberia...

Se fosse uma Habilidade de combate, Ariandel poderia tornar-se mais útil na linha de frente das batalhas contra as Criaturas do Pesadelo.

"O que não seria uma boa notícia para alguém acostumado com a segurança."

Se estivesse ligada à feitiçaria, ele provavelmente se tornaria um lutador poderoso, embora frágil.

"Ser frágil em combate corpo a corpo não é exatamente o ideal."

Se fosse algo de utilidade, poderia torná-lo uma peça vital nos bastidores do Reino dos Sonhos, uma posição valorizada também no mundo real, onde os Despertos mantinham muitos sistemas essenciais em funcionamento.

"Uma pseudo-imortalidade como a de Mordret me manteria vivo até que eu me adaptasse a essa nova realidade."

'Afinal, o Amon de GuiltyThree foi tão persistente que sobreviveu a um Supremo enquanto ainda era um mero Desperto.'

'... Mas, no início, ele também era impotente. E sempre dependera de imensa astúcia para ser o terror psicológico que se mostra no romance.'

— Humm...

'Não. Eu não sei dizer qual é a melhor opção. Afinal, a realidade não é um RPG.'

Tornar-se um curandeiro o ajudaria a sobreviver, mas ainda o deixaria impotente, dependendo apenas de sua destreza.

'Acho que vou apenas confiar na versatilidade e no potencial de um Aspecto Divino.'

[Habilidade de Aspecto adquirida.]

[Nome da Habilidade de Aspecto: Ser Onírico.]

Ariandel convocou as runas, tomado por uma onda de emoções.

Ele queria ir direto à descrição de sua nova Habilidade, mas decidiu primeiro verificar as informações gerais de seu estranho núcleo.

Nome: –

Nome Verdadeiro: Ariandel.

Ranque: Sonhador.

Classe: Monstro.

Núcleos Oníricos da Alma: [2/7].

Fragmentos Oníricos: [0/2000].

"Sim, está aqui! Mas... o que é isso?! Como posso ser um Monstro!?"

"Vamos com calma! Com calma! Eu digo!"

Onde estava escrito o ranque de seu núcleo de alma, também aparecia o misterioso adjetivo 'Onírico'. Ariandel olhou fixamente.

"Meu núcleo é feito de sonhos?"

E também…

Ele viu o contador de 'Fragmentos Oníricos'.

Normalmente, haveria um indicador do número de fragmentos da 'Alma' consumidos, mas ali aparecia outro 'Onírico'.

"Posso confirmar que tenho um caminho de progressão completamente diferente dos outros Despertos."

A ideia era, ao mesmo tempo, excitante e assustadora. Não precisar lutar por recursos com os outros era uma vantagem imensa, já que a maior parte da sociedade humana no Reino dos Sonhos girava em torno da coleta de fragmentos de alma.

Se ele não precisasse coletá-los para evoluir... poderia tornar-se mais poderoso a uma velocidade incrível e de forma completamente autossuficiente.

Por outro lado, não fazia ideia de como adquirir esses fragmentos oníricos da alma. Mesmo assim, já havia conseguido 'mil' deles... simplesmente... de alguma forma...

"Eu sonhei e matei uma criatura que se alimentava de sonhos."

Sim, havia algo aí. Seja o que for que ele precisasse fazer, já o fez no Primeiro Pesadelo.

"Só espero que, ao receber um núcleo saturado de "graça", o destino não me reserve um caminho com menos recursos do que os de Sunless."

O Peregrino suspirou para espantar as preocupações e manter o ânimo.

"Vamos ver essa Habilidade logo."

Memórias: [Arco da Maturidade de Ariandel], [Sonho do Coração Profundo].

Ecos: –

Atributos: [Peregrino], [Vigia da Alma], [Luz da Divindade].

Aspecto: [Trama dos Sonhos].

Ranque do Aspecto: Divino.

Habilidade Inata: [Caleidoscópio].

Habilidades do Aspecto: [Ser Onírico].

Descrição da Habilidade: [Você ganha domínio sobre as percepções da mente e do coração, e seu corpo é sustentado pela essência da alma, transcendendo as necessidades biológicas].

"Vamos ignorar aquele Arco e refletir sobre essa Habilidade..."

Ariandel piscou.

"O que isso quer dizer?"

Ele prendeu a respiração e começou a ler a descrição novamente, mas, nesse momento, um novo conjunto de runas surgiu logo abaixo. Ao mesmo tempo, a voz do Feitiço ressoou no vazio negro.

[Todo poder tem um preço.]

[Você recebeu um Defeito.]

[Seu Defeito é: Prisma Imaculado.]

Ariandel leu as runas gravadas no ar, e seus olhos se estreitaram. A expressão que atravessou seu rosto era uma mistura inquietante de fascínio e preocupação.

Defeito: [Prisma Imaculado].

Descrição do Defeito: [Você deve agir de acordo com quem você realmente é.]

Ele piscou lentamente, como se tentasse digerir o significado das palavras.

"Isso... parece simples. E, ao mesmo tempo, complicado."

Ele sabia que o Feitiço nunca escolhia suas palavras levianamente, e aquela frase carregava mais peso do que aparentava à primeira vista.

"Seja genuíno", murmurou para si mesmo. "Seja eu mesmo... O que isso implica? Que não posso omitir nada? Ou que... não posso agir fora do que sinto e acredito?"

O problema não era ser sincero; ele já valorizava a verdade. Mas havia uma linha tênue entre honestidade e falta de tato.

Ariandel passou os dedos pelos cabelos, respirando fundo.

A dúvida pesava mais do que qualquer certeza. Como exatamente o Defeito afetaria suas ações? Por enquanto, só podia esperar que o preço de ser fiel a si mesmo não fosse mais alto do que ele pudesse pagar.

[Desperte, Sonhador Ariandel!]

E com isso, o vazio desapareceu.

***

O Peregrino abriu os olhos.

O teto blindado da sala de segurança da delegacia estendia-se acima dele, mas, naquele momento, o ambiente ao redor era irrelevante. Seu foco estava em si mesmo.

Ele se sentia incrível. Seu corpo exalava um poder surreal, sua mente estava aguçada, e sua visão ampliada. As cores pareciam mais vívidas, os detalhes, mais nítidos — ele conseguia enxergar até as partículas de poeira flutuando no ar.

Então, na periferia de sua consciência, percebeu algo novo: um sentido completamente diferente.

Ariandel concentrou-se e, de repente, o mundo revelou-se de uma forma inédita. Era difícil de descrever, tão abstrato quanto explicar a um cego de nascença que a escuridão não é algo que se vê — apenas a ausência de visão.

Ele podia sentir a si mesmo, as pessoas e o espaço ao redor sem precisar dos olhos, guiado por uma espécie de pressão que cada presença exercia sobre sua mente.

Instintivamente, retraiu essa pressão que se expandia ao seu redor, quase tocando a de Mestre Jet. Estranhamente, ela não pareceu notar que ele estava acordado.

Quando recolheu sua presença, algo mais revelou-se dentro dele.

"Estou… "vendo" a mim mesmo?" murmurou Ariandel, genuinamente surpreso.

Seus olhos eram iridescentes, sem pupilas, preenchidos por padrões dançantes que lembravam os de um caleidoscópio.

Sua pele morena, de tom avermelhado, irradiava vitalidade.

Seus cabelos longos, brancos como a neve, contrastavam com seu físico magro — embora, com 1,73 m de altura. Músculos recém-desenvolvidos pelo Despertar se faziam notar.

... Era uma beleza contida, que harmonizava suavidade e firmeza, como se tivesse sido moldada a partir de um sonho.

Ele nunca se incomodara com a ausência de traços masculinos, mas não pôde deixar de refletir sobre o quão fácil seria tornar-se o alvo de alguém do mesmo sexo.

... A ideia, no mínimo, era intrigante.

"Foco. Não é a aparência que eu quero ver."

Ali estava o que ele buscava.

Na profundidade de sua alma, além do corpo e do coração, repousavam 'seus núcleos'.

"Agora faz sentido. Foi por isso que vi apenas um núcleo no meu Mar da Alma… eles estavam sobrepostos."

Com esse novo entendimento, ele conseguia distingui-los — algo impossível antes.

"Será que consigo tocá-los?"

Fixando sua atenção neles, sentiu a mesma estranheza de encarar um buraco negro. Seu coração acelerou; ele engoliu seco, respirou fundo e murmurou:

"Vamos… fazer isso."

Ao mergulhar ainda mais fundo em sua alma e tocar os núcleos, uma sequência de runas brilhou no ar diante dele.

[Transformar núcleo onírico da alma em uma Refração?]

"Refração?"

"Oooh… é fácil assim?"

Uma comparação veio à mente:

"Seria como a Habilidade do Príncipe do Nada?"

Embora refrações e reflexões não compartilhassem exatamente a mesma essência, deviam ter similaridades.

As runas tremulavam sedutoramente diante dele, mas ele hesitou.

"Preciso explorar o meu Defeito primeiro. E definitivamente não seria prudente testar a separação de um dos meus núcleos aqui na delegacia."

Além disso, havia outro problema:

"Aliás… ainda estou preso a esta cama, que mais parece um instrumento de tortura."