Sombras preenchem um coração vazio
Enquanto o amor está acabando
Por tudo o que somos
Mas não falamos
Podemos ver além das cicatrizes
Até o amanhecer?
What About Now- Daughtry
Um dos piores sentimentos que alguém pode sentir é o da perda, o da desolação, e Dêvora estava se sentindo assim. Ela sabia que um dia isso aconteceria, mas ela não estava preparada, os pais de Márcia haviam se separado há oito anos, e o seu pai, Sr. Márcio Sparks como gostava de ser chamado, fugiu para o Canadá com uma mulher inglesa, desde então ele ameaçava tomar a guarda de Márcia para si. Agora as duas só iam se vir no verão se fosse possível.
Dêvora correu para se trocar, tinha que se despedir de sua melhor e única amiga, mas ela chegou tarde demais eles haviam acabado de sair. Dêvora ficou ali parada por um tempo em frente à casa da Sra. Sparks, - apesar de oito anos separada de seu marido para todos na cidade ela ainda era a Sra. Sparks, e Jolie não parecia se incomodar com isso, - olhando para rua quando uma mãozinha pequena puxou a barra de sua blusa despertando-a de seu transe, era Jasmine, a filha da empregada dos Sparks. -A senhorita Márcia pediu que eu te entregasse isso. - disse recolocando os óculos que escorregava pelo seu nariz aristocrático. Jasmine devia ter seus oito anos de idade, Dêvora a conhecia desde que era um bebê, mas aquela menininha não parecia crescer nunca. Em suas mãos estava um caixinha rosa choque, Dêvora apanhou a caixinha e fitou Jasmine enquanto corria de volta para a mansão.
Dentro daquela caixinha havia um colar de prata, o pingente era uma coruja, - Márcia adorava chamar Dêvora de coruja pelos seus enormes olhos. - era belo e sofisticado. Com toda a certeza ela havia escolhido sozinha, o que era uma surpresa mediante a quem era a sua amiga Márcia Sparks era uma confusa de carteirinha não conseguiria escolher entre um vestido de festa e um Escarpan, nunca, compraria os dois para não ter que escolher. Além do colar havia um bilhetinho dentro da caixa que dizia:Para você amg, queria te dar no seu aniversário, mas não posso estar ai. Cuida-se corujinha!
Uma lágrima rolou pelo seu rosto, um sentimento de desespero e insegurança tomou seu coração, agora tudo tinha perdido seu sentido, não pode ser verdade, pensou ela, durante toda a sua vida Márcia foi o pilar que a manteve em pé, ela foi o seu apoio quando Margarete lhe contou que não era sua mãe biológica, foi difícil compreender, mas pelo menos ela tinha a sua amiga, o que seria de sua vida sem sua melhor amiga para dar risadas nos momentos difíceis.
O tempo estava bastante abafado e não faltava muito para que começasse a escurecer, a casa de Márcia não era muito longe da praia, ela precisava perder alguns de seus elétrons e sinceramente não estava nenhum pouco a fim de voltar para casa, ela cogitou durante alguns instantes, mas as ondas gritavam o seu nome, seria loucura resistir. Havia três pessoas na praia, um casal que estava se agarrando atrás de um quiosque mofado e um rapaz que estava sentado na areia perto do mar, ele parecia concentrado no vaivém das ondas. No mesmo instante em que seus olhos pousaram na água, Dêvora soube que a conexão das duas nunca ia acabar mesmo com a distância entre elas, aquele lugar lhe trazia tantas lembranças.
Todos os fins de tarde Margarete as trazia ali para brincar, elas tinham uns oito anos, Márcia sempre foi bastante competitiva, odiava perder, muitas vezes Dêvora a deixava ganhar só para ver sua amiga feliz, sua brincadeira preferida era segurar o fôlego, elas prendiam a respiração e mergulhava, quem conseguisse ficar por mais tempo ganhava.
Dêvora arrancou blusa e correu em direção ao mar, deu algumas braçadas até sentir que não dava mais para ficar em pé, segurou o fôlego e mergulhou, mergulhou até encostar sua mão no solo, porém ao emergir seu pé enroscou em algo, impedindo-a de voltar à superfície, não, não era isso que devia acontecer, pensou ela, eu não quero morrer, o desespero tomou conta dela, o ar evaporava de seus pulmões, já não conseguia sentir seus músculos, estava perdendo a consciência. Então alguém lhe fez voltar a respirar, já não estava mais na água, porém podia sentir os respingos das ondas se quebrando nas pontas dos dedos de seus pés, havia um gosto amargo em sua boca, metalizado, tossiu varias vezes antes de poder abrir os olhos, sua visão estava turva começo, não conseguia distinguir os borrões a sua frente, uma voz nasalada perguntou se Dêvora estava bem, uma grande mão virou seu rosto para o lado pra que pudesse cuspir a água de seus pulmões, um rapaz estava debruçado sobre ela dizendo algo que ela não compreendia, ela gemeu ao tentar se levantar, ele pôs a mão em sua nuca e a outra em sua cintura para que pudesse se erguer.
O rapaz era belo, uma beleza diferenciada, seu cabelo castanho com algumas mechas douradas caíam suavemente sobre os seus olhos, sua pele de uma esplendida cor dourada, seus fios estavam molhados, - tinha sido ele quem a tirou da água, - seus lábios grossos tinham um tom levemente rubro. Dêvora conteve um suspiro. -Será que cheguei ao paraíso?! -engasgou com a própria saliva ao perceber que havia dito aquilo alto demais.
Ela queria poder engolir cada palavra, uma a uma, mas já era tarde ele abria um sorriso pretensioso, de quem gostou do que ouviu. Meus encontros com rapazes estão ficando cada vez mais esquisitos, pesou ela, torcendo para que não estivesse vermelha.
O rapaz "sexy" do outro dia estava ajoelhado ao seu lado, seus olhos cor de avelã avermelhados estavam fixos em seu rosto, havia uma expressão preocupada em seu olhar, ele apanhou o braço de Dêvora pra que pudesse ajuda a ficar de pé, ele se curvou para apanha-la no colo, mas em um movimento abrupto ela o empurrou para o lado e franziu o cenho, ele enrubesceu diante de tal reação.
Eu não acredito nisso! O que ele está fazendo aqui?–Pensou.
– Eu ainda sei andar- resmungou ela.
– Claro eu sim! - disse para si mesmo, direcionando seu olhar para o chão, constrangido - Tem certeza que não quer a minha ajuda?
– Tenho!- respondeu em um tom que para muitos seria uma grosseira., mas para ela foi uma forma de se defender.
Ela deu as costas e foi em direção ao calçadão, sabia que ele estava seguindo-a, no entanto não ia dar ao luxo de olha-lo. Por algum motivo muito estranho, seu sangue fervia, de irritação, ela não queria ficar ali, de repente sua ligação com Márcia não tinha tanta importância naquele momento tudo o que queria era voltar para casa e ouvir mais um dos longos sermões de Mar. Começava a escurecer e não havia trago consigo o celular, Mar enlouqueceria se não desse noticias;
– Ei! Você vai andar assim pela a rua, de sutiã?- gritou o rapaz "sexy", ela realmente só estava de shorts e sutiã, o destino amava coloca-la em situações constrangedoras, esquecera sua blusa na areia da praia quando saiu sem pensar, Dêvora se virou e avistou o tecido vermelho nas mãos do rapaz- Olha! Eu não me importaria em continuar te vendo desse jeito, mas eu acho...
– Obrigada! - disse arrancando a blusa das mãos dele e retomando o seu rumo.
Antes mesmo que ela pudesse dar mais um passo o rapaz "sexy", agarrou pelo braço direito.
– Sério? O que você tem contra mim?
– Só estou de mau humor! - respondeu ela.
– Então você está de mau humor todos os dias! - retrucou, com ironia- O que você quer da vida?
– E isso te interessa? - toda aquela conversa a estava deixando nervosa, então se virou desvencilhando de suas mãos e continuou a andar.
– Ei! Você vai me deixar falando sozinho?
– Pare de falar como se eu fosse sua namorada! - gritou Dêvora.
– Então pare de agir com ignorância! - gritou ele.
– Para de gritar comigo!
– Então pare de gritar comigo!
Ela continuou a andar.
– V0cê é muito arrogante! - gritou o rapaz "sexy".
– Retire o que disse! - Dêvora estava a ponto explodir feito uma bomba relógio.
– Por que deveria? Você está me tratando como lixo desde que me viu, sendo que você não me conhece! Você é arrogante e egoísta!
– Não sou! - bateu o pé e o rapaz gargalhou- de que você está rindo?
– Você é muito louca! Uma hora está agindo como uma patricinha mimada e na outro feito um bebe! Eu não sei por que ainda estou falando com você.
– Você na0 passa de um imbecil que está querendo uma "rapidinha" fácil!
– O que? Uma rapidinha? - disse indignado. - você acha mesmo que se eu quisesse uma rapidinha estaria tendo todo esse trabalho? Larga de paranoia garota!
– Eu não sou paranoica!- ela só estava se defendendo, não entendia a razão daquilo tudo.
– Okay! Não vou discuti com você... - entregou o jogo derrotado - Vejo que está a pé, quer uma carona? Minha moto está logo ali! - disse apontando para um Kawasaki ninja vermelha.
– Não subo na garupa de estranhos! - respondeu emburrada.
– Não seja por isso, Renné Rittberg - disse reverenciando-a. - Não sou mais um estranho. Então vamos?