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Sou ômega gay, e daí?

Nicolas paralisara no lugar. Assim como era provável que quem soubessem de seu segredo também congelassem. Apesar de sua inexpressividade, a mandíbula tensionada e o olhar atônito sobre a garota denunciava que seu ponto fraco fora encontrado.

Um sorriso vitorioso surgia no rosto de Sadie.

— O que foi? O gato comeu sua língua? Oh, não me diga que era um segredo? — Rindo alto, a garota virou-se para os demais alunos ali presentes. — Não espalhem que o capitão do time de vôlei, aquele que sempre é bravinho por gostar de comprar brigas, é na verdade um garoto ômega.

A surpresa era direcionada em Nicolas. O ômega mantinha sua inexpressão, seguindo a ômega com o olhar. Seu sangue pulsava intensamente. Precisava se controlar... Não poderia bater em uma garota na frente de todo mundo. Ou talvez pudesse, já que ela o provocava na frente de todos.

— Com certeza você já deve ter seduzido os meninos do time, só pra ficar com a vaga de capitão. E agora quer tentar a sorte com o meu irmão? Tsk tsk, tem que controlar os seus impulsos.

— E você a sua língua. — Rosnava o garoto finalmente, erguendo o queixo. — Sou ômega mesmo, e daí? Por acaso quer brigar comigo por causa de alfas?

— Meu gosto é melhor do que o seu, com certeza. Mas não deixarei que prenda suas garras no meu irmão. Além disso, ouvi dizer que você já tem um homem pra chamar de seu. Então pra que ficar dando sorrisinho pra outras pessoas? Você é bem infiel.

— Você ficaria chocada se soubesse onde está pisando, sua cadela. — Rosnava Nicolas.

— É como dizem, garotos ômegas são como pulgas que pulam de cama em cama sem nunca se sentirem satisfeitos.

— Engraçado você dizer isso, sendo que somos da mesma classe. — Ria alto o baixinho, olhando em volta. — É por isso que vocês tem que estudar, pra não passar vergonha na frente dos outros por agirem feito estúpidos. Ela nem se dá conta de que tá falando da classe que faz parte.

— Eu não sou você.

— Ainda bem. — Ria Nicolas aproximando-se ameaçadoramente da garota. — Acha mesmo que expor minha classe na frente da escola vai me derrubar? Só a sua tentativa inútil é o suficiente pra minha mão coçar pra te dar uns tapas.

— Então dê! — Dizia Sadie virando o rosto. — Quero ver se é homem o suficiente pra isso. Mas não espere que sua mamãe o acoberte. Por que, ela não vai poder fazer muito por você.

Mamãe?

A cor, que já era pouca, desaparecera do rosto de Nicolas.

Ela acabou de mencionar a sua mãe?

— Surpreso? Acho que nessa hora, ela já deve estar sendo chamada na sala da direção...

O tapa estalara alto o suficiente para arrebatar os estudantes ali reunidos. Nicolas olhava friamente para Sadie acariciar o próprio rosto onde levara o tapa do ômega. Retribuindo o olhar, ela pudera sentir a energia assustadora que o cercava, deixando até seus instintos assustados.

— Quem você pensa que é pra mexer com a minha família? Acha mesmo que por eu ser um ômega vou baixar a cabeça pra gente como você? Já que cruzou essa maldita linha, usarei seus cabelos como pano de chão pra limpar teu próprio sangue, vadia.

Gabriel e um primeiranista puxavam Nicolas pelo braço o afastando da garota, que permanecera o fitando assombrada. Debatendo-se para ser solto, o ômega não escondia a raiva em combustão justamente para amedrontar Sadie.

Fora necessária uma boa força do baixinho para afastar os dois que impediam-no de se aproximar. Olhando em volta, Nicolas percebia que aquela situação se transformava em um circo e ele era a principal atração por ser uma aberração.

Daria mais para o seu público.

Estendendo os braços pro lado, o ômega sorria debilmente.

— O que foi? Algum problema a ser tratado comigo? Sou ômega mesmo e não escondo isso. Minha mãe é coordenadora dessa escola, mas nem por isso ela tem me acobertado. Eu fui suspenso da partida que meu time mais precisou de mim! — Espreitando os olhos para Sadie ele rosnava. — Você sempre foi uma garota insuportável, Sadie. Desde o momento que o seu primo começou a namorar o meu melhor amigo, você tem mirado as suas garras para pessoas como nós. Só por sermos garotos ômegas e gay. Já tive minha cota de paciência com você. Eu vou acabar com a tua raça agora mesmo, sua filha da puta.

Foi a mais pura sorte que Gabriel e Lucas surgiram para segurar Nicolas. Sadie escondeu-se atrás de Thunder assustada, tendo vários alunos se afastado do ômega quando ele pulara tentando atacar a garota. Já estava cansado demais de aguentar baixarias como aquelas.

Ela ousou ameaçar a sua mãe na sua frente!

Nicolas não deixaria baixo.

Com cotoveladas descompensadas e tentativas de se libertar diversas vezes, Gabriel e Lucas não se deixaram aquele ômega liberar sua raiva contra a garota. Por isso, Sadie criara coragem apontando para ele, enquanto olhava para os demais estudantes.

— Vê só? É assim que garotos ômegas agem quando são confrontados. Tudo o que eu disse foi pra ele ficar longe do meu irmão, porque eu vi ele o olhando com desejo. Ele mesmo admitiu que é a segunda vez que esses malditos ômegas ficam dando em cima dos alfas da minha família!

— Me soltem agora!

— Você é baixa, Sadie. — Uma voz soara em meio à confusão. Nicolas até parara de se rebater quando Theodore intervira na sua frente. — Pra que essa situação toda? Nico fez alguma coisa diretamente a você, por acaso?

— Eu acabei de dizer sobre ele olhar pro meu irmão...

— Milles não é nenhum imbecil que não consegue se proteger por conta própria. Não deve se lembrar, mas esses dois já brigaram diversas vezes ao ponto de irem pra diretoria. A última coisa que ele precisa é de você o protegendo.

— Tá se doendo, Theozinho? Afinal isso tudo começou por sua causa. Se você não tivesse seduzido o meu primo, com certeza o seu amiguinho não acharia ser capaz de arrastar asas pra cima da minha família também!

— Eu seduzi o seu primo? Acho que você perdeu alguma coisa. Foi Jake quem se aproximou de mim, não o contrário.

O rosto de Sadie ficara vermelho de raiva. Ela aproximou-se em passos decididos em direção de Theodore e o empurrara fortemente fazendo-o bater contra algum outro aluno e cair no chão.

Gabriel e Nicolas arregalavam os olhos no mesmo instante. O alfa moreno soltara o ômega e fora até o namorado o ajudar a se levantar, enquanto Nicolas desvencilhara de Lucas, já erguendo o pulso cerrado em direção da garota, mas sendo segurado novamente.

— Me solta, eu vou acabar com ela agora mesmo!

— Olha, eu sei que vocês estão com sentimentos à flor da pele, mas... — Lilian intervinha, cruzando os braços entre os alunos. — Qual o problema de um garoto ser ômega, afinal de contas?

Roubando a atenção, Lilian olhava em volta sem obter respostas diretas. Um ou outro aluno murmurava suas opiniões, mas sem jamais terem coragem em dizê-las em tom alto. Todos tinham medo.

— Não se intrometa.

— Se você não quer que alguém se intrometa, então vão discutir fora da escola quando estiverem sozinhos. Você tá fazendo esse escândalo justamente pra que todos se intrometam. — Dizia a loira indo até o lado de Nicolas. — Ele é um ômega, um bom veterano para nós. Não é meninos?

Sam e Bruno davam um passo à frente, de punhos cerrados usando a capa da coragem.

— Quando eu entrei pro time ele ficava até tarde treinando comigo. Eu sou um alfa, mas nunca fui seduzido por ele.

— Ele é um ótimo capitão. O time todo confia nele! Mesmo que o Mckenzie tenha feito bem o seu trabalho, não é a mesma coisa quando o Nicolas está em quadra.

— Vocês são todos amigos, é claro que vão dizer coisas boas.

— E onde estão os seus amigos? — Alfinetava Lilian arqueando a sobrancelha. — Você recebeu um tapa e nenhum deles veio te ajudar. Até seu irmão está calado ali atrás vendo você passar vergonha. De qualquer forma, eu entrei nessa escola achando que todos os alunos seriam bem tratados, mas parece que não é o caso!

— Como é que é?

— Quanta merda, eu já estou cansado dessa baboseira. Era isso o que queriam? Me ver sendo humilhado na frente de todo mundo? — Reclamava Nicolas mais calmo, afastando Lucas de si e olhando em volta com um sorriso no rosto e os olhos marejados. — Sinto muito, mas eu me acho foda pra caralho. Sou ômega e sou gay! E eu to afim de outro cara mesmo. Tenho orgulho de mim!

Virando-se para o corredor onde Milles o olhava ainda pálido e congelado, Nicolas compreendia que havia o assustado mais uma vez. Ele sempre fazia aquela cara quando Nicolas ficava esquentado com alguma briga. Mesmo que ambos compartilhassem esse instintos de entrarem em brigas físicas.

Olhando-o nos olhos, sem que os demais soubessem para quem suas palavras fossem dirigidas, Nicolas admitia em frente de todos os alunos ali presentes.

— Provavelmente eu fui o primeiro a cair nessa disputa imbecil. Admito a derrota. É... Eu to apaixonado por um imbecil metido a besta. E ele é um cara. Um alfa. Meu alfa. E eu to cansado de esconder isso, to cansado de brigar, to cansado de gente estúpida querendo se intrometer na minha vida. Então doa a quem doer, saibam que sou um ômega e não pretendo baixar minha cabeça para gente ridícula que quer me ver pra baixo!

O corredor fora preenchido pelo silêncio, dezenas de adolescentes se espremendo naquele corredor encarando um ômega baixinho acabar de declarar seus sentimentos na frente deles. Talvez a surpresa maior fosse vê-lo chorar, já que eram tão acostumados com os olhares ferozes de Nicolas Howard.

Girando pelos calcanhares, Sadie procurava dentre as diversas cabeças alguma que fosse responsável pela declaração recém recebida. Mas o silêncio continuava. Gargalhando, ela virou-se para o ômega baixinho.

— Acho que você não é correspondido, seu perdedor. Ele nem deve ter escutado, já que você late ao invés de falar.

— Não. Eu ouvi muito bem.

Milles abria espaço com as mãos no bolso, indo ao lado da irmã que o fitava surpresa. Era o único dali que sorria satisfeito com as palavras recém ouvidas, sustentando os olhos escuros que insistiam em se encher de lágrimas no meio daquela bagunça toda.

— O que...

Sem permitir que sua irmã falasse algo, Milles caminhara até Nicolas. Próximos o suficiente, segurara seu rosto com ambas as mãos inclinando-se para que os lábios se tocassem. Ali mesmo, na frente de toda escola, aqueles que eram considerados rivais absolutos se beijavam.

Ninguém imaginaria que as palavras do capitão do time seriam direcionadas para o seu maior inimigo. Todos estavam acostumados em vê-los se xingar diariamente, até viram eles brigarem no outro dia ao ponto de irem para a coordenação. Agora, piscavam incrédulos de que aqueles dois se beijavam.

— Milles! O que... O que é isso?

O alfa permaneceu abraçado a Nicolas, ficando atrás do ômega baixando a própria blusa para mostrar a mordida que havia em seu ombro direito. Mais uma vez os murmúrios rechearam os corredores de Montreal, todos querendo ver o que acontecia num empurra empurra generalizado.

— Ele te mordeu? Isso é...

— Calem a boca. Agora ninguém mais precisa ter medo desse pinscher. — Milles abraçara a cabeça de Nicolas a encostando em seu peito, e erguera o polegar apontando para si mesmo ao abrir o sorriso mais carismático que havia — Como podem ver, essa fera foi completamente domada por esse alfa aqui.

Gabriel e Theodore reprimiram a gargalhada ao notarem que Nicolas estava vermelho como um pimentão. O falatório se generalizou ainda mais, e Lilian tomara a frente olhando diretamente para Sadie.

— Vai dizer que seu irmão é nojento? Ou que ele foi seduzido? Só porque ele é um ômega, isso não o torna menos humano.

— Não deixa de ser nojento...

— Eu também sou um ômega! — Dizia uma voz tímida dentre os estudantes amontoados. Dando alguns passos Bruno sorria timidamente para os demais alunos, estando cercado por seus colegas de sala. — E-Eu também sou ômega, mas nunca me senti seguro de ser quem eu sou aqui na escola.

— Vê se pode isso, na escola um aluno não pode ficar tranquilo porque tem medo de ser alvo de preconceitos. — Dizia Lilian consternada.

— E-Eu sou beta! E sou lésbica! — Dizia uma aluna do segundo ano, tomada pela coragem ganhando olhares pesados sobre si. — É... Eu sou mesmo! E concordo com o Nicolas, e daí? Não é como se vocês fossem interessantes...

— Essa escola está enlouquecendo...

— Não, é você quem está sendo cega. — Dissera Lilian, virando-se para os demais estudantes. — Eu apoio a liberdade dos alunos em serem quem eles são até mesmo na escola! E vocês?

Os colegas de classe de Lilian foram os primeiros a erguerem as mãos em apoio. Em seguida Theodore o fizera, tendo o namorado e seus amigos juntos. Uma parcela de alunos erguiam as mãos e começavam a falar alto sobre o assunto.

Fora o movimento mais impressionante que houvera em Montreal. Sadie Mckenzie ainda olhava em direção do próprio irmão descrente, mas a bagunça toda logo fora resolvida quando o sinal tocara e os professores intervinham querendo saber do ocorrido.

A garota assistira o próprio irmão abraçar Nicolas e levá-lo ao longo do corredor, lhe dando as costas. Quando as lágrimas escorreram em seu rosto, ela olhara para trás percebendo pela primeira vez que ela estava sozinha.