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Coroa de Brandon - [PT-BR]

Esperando ansiosamente, Brandon pensava em seu amado que havia partido para a guerra. Três longos anos foi o período que não o via. Eles se comunicavam às vezes por cartas, mas não era o mesmo que tê-lo ao lado em seu dia a dia. No entanto, o momento esperado havia chegado. O fim da guerra foi anunciado e era naquele dia que ele chegaria. Toda a mansão estava se arrumando para a chegada dos jovens mestres, e o casal Miller e o jovem James estava em frente a porta, pois foram informados que seu grupo havia chego às terras. Brandon não demonstrava o que realmente estava sentido em seu rosto, porém seu interior estava em um estado de euforia. E como se seus pensamentos felizes e animados fossem poeira ao vento, o que ele teve que ouvir foi chocante e perturbador para ele. O homem que ele amava estava noivo. * Desacreditado no que tinha ouvido da própria boca daquele que um dia amou lindamente, ele não conseguiu pensar além daquelas palavras. Como ele pensava que aceitaria aquilo? Era isso a extensão de sua consideração por ele? No fim, Brandon decidiu-se. Não havia como pensar, esquecer e até superar estando em tal lugar. Ele tinha que mudar. Um lamento cresceu em seu peito ao pensar nas pessoas com quem viveu por longos anos, mas era necessário para si e seu coração. O rapaz só não pensaria que ao se mudar, um lobo de olhos vermelhos eventualmente tomaria seu coração para si. {Boys Love | Fantasia Romântica}

MundosdeL · LGBT+
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39 Chs

3.10

"Ir ao templo foi divertido, não é?" James indagou, sentando-se no banco da carruagem, enquanto assistia Brandon sentar-se ao seu lado e esperava Nott vir com lanches para comer no caminho.

"Sim." Brandon concordou, logo olhando para ele. "Foi mais divertido que a torre mágica?"

"Impossível! Ver a torre foi incrível." Negou e afirmou com determinação. Ele se exaltou. "Mas admito que a torre teria sido mais legal se pudéssemos entrar." Um beicinho surgiu em seu rosto.

Brandon soltou uma risada e disse: "Então ver a torre foi mais legal que ver os deuses e saber sobre a história dos deuses?"

"Claro." Respondeu. "Embora a ida ao templo tenha sido bom e satisfeito um pouco da minha curiosidade, a torre é o lugar que todo o mago quer ver pelo menos uma vez. É nossa terra sagrada, assim por dizer. Com certeza deve ter muitos feitiços lá que nem foram divulgados e pesquisas sobre diversos campos."

"Entendo. Você é mesmo um mago." Brandon disse em voz baixa, suspirando e sorrindo. "Mas acho que não vimos nenhum deus relacionado à magia no templo." Pensou um pouco e realmente era o caso. A maioria que viram foram deuses elementais ou com características distintas, mas nenhum era de magia.

"Oh, eu perguntei ao senhor Lytt e foi porque nós não passamos por eles. Eles ficam em outro caminho. E mesmo que passássemos, eu não seria igual ao Nott e me curvaria diante deles."

"Por quê?" Questionou curioso. Brandon queria mesmo saber, ainda que soubesse que James não era muito crente e não fizesse tal cena igual ao Nott, mas, ao menos, prestaria respeito diante da estátua de um deus que representa o próprio objeto de paixão que os magos têm.

"Os magos têm sede de conhecimento e a magia é sua paixão. Os deuses podem representar a magia, mas eles não são a magia. O máximo que eu teria é uma admiração por eles serem tão habilidosos em seu uso e por terem um mar de conhecimento. Embora haja magos que acreditem neles e se devotam, não são a maioria, os deuses seriam mais como metas a serem atingidas do ponto de vista de um mago." James explicou, enquanto gesticulava com suas mãos.

Ele ficava fofo, na visão de Brandon, com os cabelos roxos balançando e lhe olhava seriamente com o castanho de sua íris.

"Parece que seu professor está te ensinando muito bem." Comentou ao vê-lo terminar de falar.

"O Sr. Below não comenta muito desses assuntos, mas me respondeu quando estava com dúvida se havia magos que acreditassem. O império é muito religioso e não me parece que um mago acredita muito neles. Então, ele me explicou."

James falou e Nott abriu a porta da carruagem e entrou, com um pacote de bolinhos para o lanche de seu jovem mestre em sua mão. O de cabelos roxos logo viraram seus olhos para o cavaleiro e foram direto para o pacote em suas mãos, esticando seus dedos gordinhos e infantis para pegar e depois se deliciar no açúcar deles. Nott mal sentou-se e James já havia pegado de suas mãos o lanche.

Brandon não comentou nada pela atitude rude de James ao pegar o saco sem nem falar nada com Nott. Embora estivesse com a testa franzida, era uma ação que muito se havia reclamado com ele antes quando os dois estavam juntos, mas, dessa vez, ele não disse nada. Os dois estavam ali para servi-lo e não uma saída pessoal com amigos. Seria um pouco inadequado se ele repreendeu por isso na carruagem; se fosse na rua, ao menos seria diferente, pois estavam em público e era preciso manter a imagem de um jovem nobre.

Ele era conivente com James, ele sabia muito bem disso. Gostava quando o outro agia como uma criança e com naturalidade na sua frente e da amizade que tinha, afinal, ele tinha apenas 12 anos, não é preciso agir para tudo conforme a etiqueta ensinava. No entanto, era por atitudes assim que ele geralmente o avisava.

O garoto comeu o primeiro bolinho e Nott avisou o cocheiro para ir. Com o impulso dos cavalos, as rodas começaram a rodar, movimentando a carruagem para frente. James compartilhou seu lanche com os dois pela viagem e conversou com ambos.

*

Os portões com o urso no brasão que era familiar foram abertos ao se aproximarem. A mansão branca fez-se presente ao fim da viagem, parando a carruagem em frente à porta. Era o fim da viagem de visita à capital que James tanto queria, por isso, em seu rosto estava um pouco de decepção por ter acabado, antes mesmo de descer do veículo. Ele gostaria de se divertir um pouco mais, porque nem mesmo sabe se terá uma segunda vez para sair.

Brandon assistindo aquilo não pôde deixar de falar algo para animá-lo. "Ei, não fique triste. Acho que se pedir para sair com a senhora, ela deixa novamente."

"Tem certeza?" James perguntou e pensou.

No condado, ele normalmente não saía. Seus estudos e seu entretenimento eram todos realizados em casa, com aulas particulares ou seguindo Brandon em seu trabalho e brincando com ele. Desde que conseguia se lembrar, era sempre assim. Foram poucas às vezes que ele saía da propriedade e só piorou depois que a guerra começou. Ele não tinha nem ideia de sair escondido, porque logo seria descoberto e sabia que preocuparia seus pais e o irmão Brandon, coisa que não queria.

As chances de sua mãe realmente o deixá-lo sair não parecem grandes, dado o precedente, e ele não acha que ela permitiria, mesmo que fosse para sair com ela.

Brandon vendo o rosto infantil de James sabia o que ele estava pensando, era claro dado seu tempo de convivência.

"Sim, tenho." Afirmou. "Você não saiu principalmente durante esses três anos porque a guerra começou. Seus irmãos foram para a guerra e você era pequeno, o senhor e a senhora estavam preocupados com ambos e que caso saísse, algo aconteceria contigo. Com o término dela, você deve sair e também participar de eventos sociais e visitar nobres, esse tipo de coisa."

"Hmm, vou tentar." Assentiu e sorriu, sendo pego por Nott e levantado para ser posto no chão do lado de fora da carruagem. "Obrigado Nott."

"Disponha, jovem mestre." O cavaleiro sorriu.

O mordomo Irvin soube da volta dos três e estava esperando em frente à porta, na postura elegante que sempre teve. Observou o jovem mestre sorrindo e vindo conversando com Brandon através de seus olhos azuis e sorriu, alegre pela criança estar feliz.

"Bem-vindo de volta, jovem mestre James." Curvou-se respeitosamente.

"Oi, tio Irvin." Cumprimentou-o. "Minha mãe está de volta?"

"A senhora já voltou e está esperando por sua chegada. Provavelmente ela estará no salão."

"Sério?" James deu um sorriso malicioso. Brandon viu e podia ver que o jovem ia fazer uma travessura.

O menino levou suas mãos até o bolso e tirou um biscoito mordido, somente para acrescentar mais uma. Brandon viu e sabia o que ele ia fazer, lembrando o que era aquilo. Irvin o observou e trocou olhares com Brandon, como se perguntasse o que ele iria fazer, mas o mesmo não comentou nada e ficou calado. Nem Nott falou. Não demorou e o cabelo antes roxo foi pintado com uma cor preta como azeviche como se estivesse pintando. Era impressionante ver o cabelo mudar sua cor das suas raízes até as pontas.

Com animação a porta foi aberta e James adentrou o salão de entrada da mansão. Alguns servos pararam e olharam para ele, arregalando os seus olhos pela aparência diferente do jovem mestre; alguns até se perguntaram se ele tinha mesmo cabelos roxos quando saiu de manhã. O garoto olhou em volta e viu sua mãe próxima dali, numa sala sentada lendo um livro.

A Condessa Miller levantou a cabeça com os passos que lhe eram tão conhecidos e surpreendeu-se ao ver seu filho mais novo com uma cabeleira da cor de seu marido. Confusa, ela não teve tempo de dizer nada, antes do jovem pular em seus braços em um abraço. Ela não sabia, sequer notou, mas o garoto comeu mais um pedaço do biscoito discretamente antes de soltá-la.

"Oi, mãe." James sorriu, como se não notasse a surpresa estampada na face de sua mãe. "Gostou do meu cabelo?"

"Filho, por que seu cabelo está preto?" Indagou, com a expressão mais natural. Ela olhou para Brandon e o cavaleiro que estava logo atrás do filho. "Brandon, você deixou pintá-lo?"

"Isso não tem nada haver com o Brandon, mãe. Eu pensei que meus irmãos tinham cabelos pretos e queria experimentar como é. Ficou bom?"

Claire observou seu filho de cabelos negros e teve que admitir que seu bebê era lindo, mas com cabelos negros ficava ainda melhor. O cabelo e a cor eram idênticos ao do pai e o deixavam muito bonito. Ferion era uma cópia do Conde Ivan, porém James com cabelos negros não ficava muito para trás com seu rosto infantil. Ela estava impressionada, mas não podia permitir que ele ficasse com tal cor de cabelos, pois já bastava os dois que não puxaram para si.

"Está bonito." Assentiu. "Mas pode voltar para o roxo."

"Por quê?"

"Porque já basta seu pai ter ganhado de mim nos dois primeiros, não vou deixar ele ganhar você também." Disse.

Ela lembrava-se ainda das provocações de Ivan afirmando que seus filhos puxaram mais para o pai e que seriam como seu pai quando Phillip tinha dois anos. Ela estava contente pelo terceiro ter pego seu lindo cabelo roxo e lhe permitido provocar também. Ambos sabiam que era uma brincadeira entre o casal, mas também era motivo para uma competição entre os dois uma vez ou outra e ela não estava de deixar seu bebê para ele. Os outros dois ela deixava, mas não seu James.

Claro, se James realmente insistisse e quisesse ter o cabelo preto, ela deixaria. Não era um sacrifício grande e nada para se criar caso, só que ela gostava do cabelo roxo.

James a encarou, incrédulo que esse seja o motivo para ela falar para ele que seu cabelo deve ficar roxo. Ele estava pensando que ela ao menos iria o repreender ou ficar um pouco mais surpresa, e até sabia das brincadeiras entre sua mãe e seu pai, que ao saber desconstruíram toda a imagem ideal que tinha dos dois, só não pensava que o motivo seria para não deixar seu pai ganhar.

Ele nem notou que o efeito do biscoito tinha acabado e seu cabelo voltou a estar roxo sob os olhos da condessa, a qual estreitou os olhos para seu filho ao notar algo estranho.

"Brandon, o que está acontecendo?" Claire o perguntou, sabendo que dessa vez ele a responderia. No entanto, ela não o fitou, mas ainda estava em seu filho.

"Senhora, o jovem mestre queria fazer uma brincadeira com o biscoito surpresa. Ele comeu um mais cedo e seu efeito era mudar a cor do cabelo para preto e, então, teve a ideia de surpreendê-la." O ruivo explicou a situação, tão educado e profissional que não parecia que tinha ignorado a pergunta anterior.

"Traidor!" James o observou. "Eu confiei em você!" Ele estava indignado que seu irmão o traíra novamente. Brandon somente sorriu para ele.

"Então é isso." A condessa assentiu. Ela conhece o biscoito surpresa, foi uma febre quando apareceu e era um produto popular entre as crianças. "Você só queria me enganar."

James não falou nada, o tom da mãe já dizia tudo. Ele não estava com medo e nem se arrependia, ver sua mãe surpresa foi engraçado. No entanto, sabia que ela se vingaria. A senhora da casa Miller era uma mulher de muitos pensamentos e com certeza sabia guardar rancor, pregar peças e ganhar em um jogo de línguas, por mais que seu rosto gentil não deixasse nenhum sinal disso.

"Claro que não, só te surpreender."

"É? Pois nós vamos ter uma conversinha, mocinho." Ela falou.

Brandon entendeu que era o momento de sair e rapidamente cutucou Nott para eles irem. O cavaleiro o viu e o seguiu, com o corpo bem próximo; ele achou engraçado a forma de Brandon ter se comportado e a peça que o jovem mestre estava fazendo. Quase riu e teria sido um erro em frente à senhora.

"O jovem mestre foi engraçado." Nott olhou para os lados e só viu um ou dois servos e o mordomo tinha sumido há tempos, então sussurrou para Brandon, ao sair pela porta da frente. Sua estadia era no prédio dos criados, nos arredores da mansão, por isso não ficava na casa principal. "Ele não está em apuros, não é?"

"Claro que não. Isso geralmente acontece. A senhora deve estar só conversando com ele sobre o que fez pelo dia. Ela nos mandou embora para liberar a gente." Brandon disse, não mentindo nenhuma palavra.

James, às vezes, realizava uma ou outra pegadinha. Eram raras, mas aconteciam, e a condessa só conversava com ele, sem nenhuma punição. Todas eram ingênuas e que não causavam nenhum dano, bastava um aviso para não exagerar ou ultrapassar um certo nível. Por isso, ao vê-lo comer um biscoito surpresa, nada disse para a condessa ou para o mordomo Irvin, já que era uma brincadeira entre James e sua mãe, e ele sabia que a condessa gostava da infantilidade de seu filho em pregar peças à ela, igual ao pai que era mais difícil de cair em uma, porém admirava a tentativa.

"Que bom." Nott falou. O cavaleiro estava um pouco preocupado com o jovem mestre. "Você vai me ver esses dias? Quando é seu dia de folga? Temos que visitar nós mesmos a capital! Eu vi uma loja de armas e uma biblioteca, dá para visitar ambos se sairmos algum dia."

"É claro que vou. E eu não sei. Tenho que ver com a senhora."

"Hmm. Estou indo então. Não se esqueça de ir me ver!" Sorriu para o ruivo, antes de partir para o prédio dos servos residentes.

Diferente de Nott, Brandon tinha um quarto próximo aos fundos da mansão, semelhante ao que ele dorme na mansão da cidade de Killos, e relativamente próximo ao do mordomo. Esse era um costume utilizado para que servos de confiança atendessem melhor seu mestre quando são chamados, por isso, ele não foi com Nott ao ser dispensado pela condessa e conversar com ele durante o caminho, mas fechou a porta e, de maneira profissional sob o olhar de alguns servos da capital, caminhou para seu quarto.

Era uma pressão um pouco demasiado estar sob os pares de olhos daqueles que servem os mesmos mestres. Era diferente da mansão de Killos, onde todos se conhecem e têm uma cumplicidade. Os servos que residem e cuidam da mansão da família Miller na capital olham para ele e, talvez, até para os cavalheiros com uma sensação de superioridade por viverem na capital do império e os considerassem caipiras. Até o mordomo o observava, mas era mais com cautela e suspeita, como se estivesse o avaliando para saber se era confiável para ficar junto dos senhores e de seus filhos.

Isso tudo tornava um pouco desconfortável, mas nada que não pudesse ser controlável. Ainda era um pouco melhor do que ser observado pelas mulheres nobres que visitam a condessa às vezes, já que algumas não conseguem esconder seus olhares cobiçosos e parecerem devorá-lo na primeira oportunidade.

No entanto, em meio a esses olhares, havia um que ele não tinha notado e nem notou mesmo depois de sair do salão. A pessoa estava observando tudo, a partir do momento em que James estava enganando sua mãe e vendo que Brandon estava lado a lado com um cavaleiro desconhecido para si. Seus olhos ficaram um pouco sombrios ao vê-los interagirem, até mesmo o sorriso um para o outro após a despedida na porta na breve conversa que tiveram.

Era um sentimento que provocava fogo em seu peito e um amargor em sua língua, criando raiva.

Phillip observou aquela cena no topo da escada, com a mão no corrimão e apertando com força até seus dedos ficarem brancos pela falta de sangue, mas sequer percebendo. Ele não gostava de ver como Brandon sorria para um homem que nem parece tão bom quanto ele, mas para ele, desde que voltou, não vira sequer sua sombra. O máximo que podia ver era de longe, sem poder nem tocar ou falar. Ele ainda queria ter uma conversa com ele, mas nunca encontrava o momento certo.

O segundo filho da casa Miller sabia que seu amado quando estava determinado a fugir, não apareceria em sua frente desde que não fosse forçado a trabalho. Então, a única maneira de vê-lo e falar com ele era pegá-lo de surpresa, mas sempre que tentava o mesmo saía correndo, como um criminoso fugindo da lei. Era incrível como ele sabia que estava próximo e evitava-o ao máximo. Feria seu coração, mas sabia que isso aconteceria quando seguisse o caminho.

Portanto, dessa vez era uma oportunidade. E ele estava determinado a conquistá-la.

O nobre caminhou até onde seria o quarto de Brandon e abriu a porta levemente, na tentativa de verificar se estava trancada, mas, inesperadamente, estava aberta. Ele não foi seguido e não viu empregados por perto, então entrou e viu a sala do quarto, com seu residente dentro. O ruivo estava parado de costas, lendo. Só isso foi o suficiente para que o coração acelerasse e suas mãos suarem um pouco.

Brandon ouviu sua porta abrir e ficou atento para quem era. Ele tinha deixado aberto, pois James disse que viria depois de um tempo, mas assim que ouviu os passos que adentraram o recinto, seu corpo ficou rígido. Os passos e a presença eram tão familiares para ele que não tinha como confundi-los com o de outra pessoa. E a cada som que a pessoa fazia, uma batida em seu coração acontecia.

A face rígida e neutra, ficou forçadamente indiferente, ocultando tudo o que sentia dentro de si. Seus sentimentos estavam caóticos e a respiração ficou um pouco lenta, antes de respirar fundo e se virar, encontrando os olhos negros que o encaravam com seriedade. A aparência arrogante continuava bela e atraente para ele, assim como o rosto afiado que ele gostava tanto.

Não tinha como negar que aquele homem, mesmo três anos separado dele, ainda o afetava. Contudo, era só isso. E ele sabia muito bem seus limites.

'Ele não é meu.'

Sua mente dizia, lembrando-o a todo o momento que Phillip Miller estava noivo e pertencia a alguém.

"O que faz aqui?" Indagou friamente, sem transparecer nenhuma emoção. Era tão cortante que Phillip ficou um pouco atordoado, de olhos abertos, pela forma como o ruivo falou consigo.

"Vim conversar." O nobre respondeu depois de um momento. Não ousando se mover mais nenhum passo.

"Não me lembro de termos algo para conversar." Brandon retrucou. "Por favor, saía do meu quarto."

"Não irei sair antes de falar com você."

Neste momento, Brandon sorriu indiferente. "Devo lembrar o jovem mestre que está noivo? E que encontrá-lo saindo do quarto de um empregado estando compromissado não é muito bem visto?"

Phillip não disse nada, apenas olhou para o ruivo que o encarava com os olhos verdes apagados sem emoção nenhuma. Era indiferença e alienação que estava transbordando em cada poro do corpo de seu amado e um sorriso sem sorrir estava em seu rosto. Ele estava desconfortável sob o olhar desconhecido que fazia-o pensar nos olhares amorosos que antes eram para si.

Trocaram uma última troca de olhares, um encarando o outro para ver quem cede, até que Phillip suspirou e passou a mão em seu cabelo.

"Eu vou sair se me responder uma pergunta."

"Diga."

"Quem é ele?" Perguntou, pensando naquele para quem Brandon sorriu tão adoravelmente quanto no passado. Uma centelha de ciúmes surgiu ao pensar naquilo que viu.

"Ele?" O de olhos verdes questionou confuso. Ele esperava algo diferente ou mais claro, não algo que não tinha ideia.

"O cavaleiro com quem você conversa." Phillip disse. "Eu vi vocês interagirem algumas vezes na viagem e hoje no salão."

Com tais palavras, uma luz brilhou na mente do ruivo. O único cavaleiro com quem ele interagiu no salão era Nott, embora durante a viagem houve alguns que os acompanhavam como guardas. Porém, não entendia onde Phillip queria chegar com isso. O mesmo estava noivo de uma mulher, o que lhe interessava se relacionava com outros homens? Por mais que não houvesse nada entre ele e Nott, não era de interesse do outro isso, mesmo que fossem ex-amantes.

"E isso importa?" A voz indiferente respondeu. "Não vejo onde isso é assunto seu, jovem mestre."

Phillip fitou o rosto branco e o par de olhos verdes com seriedade. "Isso é assunto meu."

"Por quê? Não se sente contente por eu ser próximo dele? Ou talvez sinta ciúmes quando estou com ele?" Questionou com os lábios levantados, como se dava como certo a resposta do outro.

"Eu só quero que me diga quem ele é."

"Não há porque te dizer. De qualquer forma, o que faço com minha vida é de meu assunto, mesmo que seja para ser conhecidos, amigos ou até amantes. Não seu."

Phillip estava irritado com as palavras de Brandon, porque o mesmo não lhe respondia o que queria e apenas despejava lâminas a todo o momento que falava. Ele sabia que o ruivo estava protegendo aquele cavaleiro de cabelos castanhos por não citá-lo o nome ou fazer qualquer menção, apenas direcionando o assunto da conversa para si, como se ele fosse o centro. Era tão irritante saber isso e só o deixava com mais raiva a cada momento que passava.

O ciúmes em seu peito estava crescendo. No relacionamento entre ambos, ele era muito ciumento, mas tinha total confiança em seu amado. Porém, agora, eles estavam separados a três anos e, neste momento, estava noivo de Johannes, embora estivesse confiante no caráter de Brandon, ele não confiava era no outro. Ele já viu o cavaleiro algumas vezes e passou a observá-lo, até sabia seu nome, mas seu propósito era saber a atitude de Brandon em relação àquele homem.

Suprimindo sua raiva e cerrando os dentes, disse de rosto raivoso para Brandon. "Eu não quero brigar."

"Muito menos eu, jovem mestre." Phillip franziu o cenho ao ouvir este título de novo pela boca de Brandon. Ele notou que foi dito algumas vezes até agora e era desconfortável e o fazia sentir um pouco de raiva também.

"Fique longe dele, então."

"Não quero. E como disse antes, não te interessa." Respondeu rudemente, irritando pela intromissão indesejada de Phillip em sua vida. "Se já acabou, por favor, saía."

"Brandon…" Murmurou, mas foi interrompido antes mesmo de poder continuar.

"Phillip, eu não quero te lembrar mais uma vez que você está noivo e te dizer que essa situação é ridícula. Onde se viu que um homem noivo vai tirar satisfação de quem seu ex está se relacionando? Isso não tem nada a ver com você, então não sei porquê está se comportando assim." Brandon disse. "E, novamente, se já acabou, saía do meu quarto."

Phillip estava inconformado que Brandon estava praticamente o expulsando. Ele sabia que seu noivado poderia ter um impacto no ruivo, mas não pensou que seria tanto. O pior era vê-lo protegendo um ninguém a conversar consigo e o ciúmes correndo solto em suas veias. Ele realmente tinha que fazer algo para se acalmar, ao invés de fazer uma loucura. Pela milionésima vez, ele pensou se realmente queria seguir neste caminho.

Ao vê-lo sair, Brandon suspirou e o corpo relaxou. A cabeça inclinou-se para frente e o braço apoiou ela na mesa. Uma sensação de que viria uma dor de cabeça ocorria pelo quase latejar em seu cérebro e uma exaustão mental ao fechar os olhos depois de uma situação dessas.

Ele perguntou como foi sua reação à primeira conversa 'decente' com Phillip que tinha apenas os dois desde que ele voltou. Se foi muito indiferente e não expressou nada da indignidade, estava suportando por causa do questionamento ridículo, quase absurdo, dele para ele, seria considerado um sucesso. Mas ele sabia que não demonstrava o coração partido e a tristeza que guardava ao vê-lo parado ali perguntando algo como se devesse algo a ele.

Foi Phillip quem o traíra primeiro. Não era ele que tinha direito de questionar ele sobre seus relacionamentos.

Um novo suspiro escapou de seus lábios.

'Não pense mais nisso.'

Embora tenha acabado de acontecer e com emoções e sentimentos fortes, seu cansaço era evidente e ele só queria descansar. Não estava preparado para vê-lo ainda e hoje foi por descuido. Ainda tinha que seguir seu plano, ignorá-los, evitá-los e focar no trabalho. Quanto mais preencher sua mente, melhor.

'Não era esse o ditado? Uma mente que está vazia é a oficina do diabo.'

E tinha outro também que ele pensou, que o tempo curava tudo. Brandon não achava que isso fosse verdade, estava mais para 'o tempo entorpece tudo.', pois não importava quanto tempo passasse, ele estava se acostumando com a dor, não a curando.