Quando a poeira baixou, podemos ver que Lampião atingiu o braço do coronel, mas o coronel atingiu o coração de Lampião. Diante dessa cena, Maria Bonita cai de joelhos e logo em seguida é atingida por um tiro, que lhe tira a vida. Astracar não tem tempo de reagir e também é baleado, assim como os outros cangaceiros. O coronel declara: "O sol se pôs, e agora destruirei a igreja."
À medida que o Sol no céu se tingia de um vermelho sangrento, a terra começou a tremer. As escassas plantas que ali estavam se agitavam e os animais se curvavam, como se um soberano invisível marcasse sua presença. Um arrepio percorreu a espinha do coronel, uma sensação inquietante de que algo monumental estava prestes a acontecer.
Astracar, com o fôlego da vida se esvaindo, observa a cena diante de si Lampião, o rei do cangaço, jaz no chão, o peito perfurado pelo destino cruel. Maria Bonita, sua rainha, repousa ao lado, a beleza imortalizada pela tragédia. As lembranças de Astracar o transportam para tempos mais simples, quando o trio compartilhava risadas e sonhos sob o céu estrelado do sertão.
Ele recorda os ensinamentos de Lampião, não apenas na arte da guerra, mas na busca por justiça e liberdade. Maria Bonita, com seu espírito indomável, mostrou-lhe que a força de uma mulher não conhece limites. E agora, as palavras do padre que o acolheu na infância ressoam com clareza: "Seja o sol, para as pessoas".
Astracar entende, mesmo nas sombras da morte, que sua luz pode brilhar. Ele se ergue, um último ato de desafio, e com um sorriso sereno, aceita seu destino, tornando-se um farol de esperança e coragem para todos que ouviram sua história.
A aura de Astracar se intensifica, as runas aparecem em sua pele cintilam com o fulgor do meio-dia, e seus cabelos, agora uma cascata de chamas celestiais, dançam ao sopro de uma brisa sobrenatural. Seus olhos, duas esferas incandescentes, são farois que desafiam a vastidão do cosmos, refletindo a majestade de sóis ancestrais.
A cada passo, a terra ressequida se transforma, brotando com a exuberância de um oásis. Flores desabrocham em um espetáculo de cores, e a vida se manifesta em um desfile de verdor e vitalidade. Os animais, antes subjugados pelo rigor do sertão, agora se aproximam com uma deferência mística, reconhecendo em Astracar a encarnação da esperança e da renovação.
O coronel, testemunha dessa metamorfose, sente o poder que emana de Astracar. Uma reverência involuntária se apodera dele, e no fundo de sua alma, uma centelha de temor e admiração se acende. O rei dos cangaceiros, em seu último suspiro, não apenas desafia a morte, mas a converte em um espetáculo de vida e beleza, um legado eterno que ressoará através das eras.
O coronel, impulsionado pela fúria, avança para atacar, mas as próprias forças do sertão se erguem em defesa de seu soberano. A terra, como se possuísse vontade própria, aprisiona o coronel, imobilizando-o com grilhões de solo e raiz. Astracar, com um gesto de mão, poderia facilmente selar o destino do coronel, mas escolhe a misericórdia em vez da vingança.
Os cangaceiros caídos são honrados com túmulos erguidos pela própria terra, marcando o local de seu último repouso. O sertão responde aos desejos não ditos de Astracar, e no coração desse santuário, um grande monumento se levanta em homenagem a Lampião e Maria Bonita. É um testemunho silencioso da bravura e do amor, um memorial que perdurará enquanto o sol brilhar sobre as terras áridas do nordeste,
Astracar ergueu sua mão e, subitamente, o céu começou a trincar, como se fosse um espelho prestes a se estilhaçar. Além das fendas, era possível vislumbrar um firmamento superior, como se o céu que conhecíamos não passasse de uma cortina ilusória. Pela primeira vez, o véu do mundo foi rasgado. Astracar, com seu olhar fixo no coronel, emanava uma presença tão aterradora que o medo se apoderou do coração do militar. Os soldados já haviam sucumbido ao mero peso da aura de Astracar. No entanto, o uso excessivo de seu poder cobrou seu preço, e Astracar colapsou, exausto, mas ainda mantendo seus olhos desafiadores sobre o coronel.