Capítulo 32 - Se tornando um humano

Sigo com minhas duas companheiras para uma estalagem. Não houve contato da guilda, então decidimos descansar o resto daquele dia, afinal, passamos muito tempo apenas lutando e aumentando nossos níveis, precisávamos de algum tempo para apenas descansarmos, mesmo que nossos corpos estivessem em bom estado não era bom para mente ficar lutando por tanto tempo.

Na manhã seguinte acordei antes dos demais, como não havia nada para fazer desci para a parte de baixo da estalagem e fiquei conversando com os donos e com algumas pessoas que passavam.

— É impressionante o que fez ontem — diz o dono. Parecia que os aldeões não tinham uma relação tão boa com os aventureiros, então, mesmo sendo um vampiro, eles me viam como alguém que eles poderiam ser amigáveis.

— Foi apenas um combate normal, não teve nada de muito grandioso — respondo de forma honesta..

— Pelo contrário. — Sua mulher fala entrando na conversa. — Existe um grupo de aventureiros baderneiros que sempre está causando confusão, Sally é o líder deles, quem sabe agora eles se sintam intimidados em continuar fazendo tais atos.

Continuamos conversando por algum tempo. Percebo que eles se sentiam incomodados em olhar diretamente para mim durante muito tempo, então me lembro que meus olhos agora estão vermelhos. Essa é uma característica que mostra a qualquer um que me olhar minha verdadeira identidade, isso é um problema.

Após as garotas acordarem tomamos café, nos despedimos dos donos da estalagem e seguimos para a guilda.

— Porque estamos indo lá mesmo? — Bianca pergunta. — Não seria problemático? Sabe, ontem mesmo você meio que espancou Sally.

— Um dos empregados da guilda veio falar comigo nesta manhã, parece que o líder que falar alguma coisa comigo — explico. — Mas não apenas isso, na verdade vai ser muito engraçado ver a reação dos outros aventureiros quando me verem, talvez esse seja o principal — completo dando um sorriso.

— Você me dá medo às vezes. — Ela responde dando um passo para o lado e aumento a distância entre nós.

Quando entramos na guilda todos olham em nossa direção, assim como da primeira vez em que entramos aqui, mas desta vez era diferente, várias expressões podiam ser vistas sendo dirigidas a nós, principalmente para mim, em sua maioria raiva, mas medo também era facilmente notado em várias pessoas que cruzaram o olhar comigo. Perfeito.

Seguimos para o balcão e falamos com um dos recepcionistas, olhando em volta consigo notar que aquele de ontem, que havia sido o juiz em minha partida, não estava no local.

Fomos levados para sala do líder. Nesse momento percebo algo, já é a segunda guilda que entro e também a segunda que acabo parando nessa sala, será que sempre acontecerá isso quando eu visitar uma guilda nova? Espero que não, não quero ser conhecido como alguém que está sempre causando problemas, mas de alguma sinto que isso será recorrente em minha vida.

— Obrigado por virem, peço perdão por ter mandado alguém tão cedo para falar com vocês. — Quem está falando é o líder.

Assim como a outra guilda a sala era bem simples, estávamos sentados em sofás que ficavam no centro da sala, nós três nos sentamos em um único sofá, com Alícia no centro, Bianca de um lado e eu do outro. Explicamos para ele tudo que havia acontecido ontem, além de nossa relação prévia com Sally, que poderia ser confirmada pela guilda da cidade portuária, tenho certeza que o líder de lá terá uma versão parecida com a minha.

— Entendo, então foi assim que tudo aconteceu. — Ele tem uma expressão amarga em seu rosto.

Alícia puxa a manga de minha camisa.

— O que foi? — pergunto.

— Seus olhos, eles ficarão vermelhos agora? — Ela parecia um pouco nervosa olhando para mim, mas não cortava o olhar.

Me pergunto se ela estava com receio de me perguntar sobre, ontem nenhuma das duas falou muito enquanto íamos para a estalagem. Cheguei a pensar que estavam com medo de mim após a luta.

�� Não se preocupe, nós conseguimos controlá-los, só preciso treinar um pouco — explico.

Ela parece aliviada com minha explicação.

O líder observa atentamente nossa conversa, quando percebo isso fixo meu olhar nele.

— Não se preocupe, apenas fiquei interessado, já que o assunto que tenho a tratar com você tem haver com isso — diz com um sorriso no rosto.

— O que quer dizer com isso? — pergunto a ele.

Um sorriso se forma em seu rosto. Conhecia bem essa expressão, já havia conhecido diversas pessoas que a usavam constantemente em minha vida passada, era um negociador experiente, sabia muito bem o que estava fazendo e como atrair sua vítima. Apesar de não gostar de pessoas assim não posso negar que já me trouxeram muitos benefícios.

— Simples, você já pensou em esconder que é um vampiro? — pergunta com um sorriso. — Tirando os olhos vermelhos a sua raça é parecida com os humanos, dessa forma você poderá passar despercebido quando quiser.

Entendo, realmente parece que é algo que qualquer vampiro iria se interessar.

— Tenho apenas um problema... — Começo a falar, o sorriso em seu rosto desaparece. — Porque está me oferecendo isso? O que ganharia fazendo algo assim?

— Você entende as coisas bem rápido — diz se levantando e caminhando até a mesa de escritório atrás do sofá onde estava sentado.

Parece pegar algo dentro de uma gaveta. Era uma grande papelada, ele joga em cima da mesa de centro. Olhando rapidamente posso ver o nome de Sally e mais algumas informações escritas.

— Essa é... — Começo a falar, mas ele me interrompe.

— Exatamente, esses são os papéis para a expulsão de Sally da guilda dos aventureiros, meu pedido é a anulação desse acordo. — Explica.

Será que esse aventureiro é tão importante assim? Quando penso em dar uma resposta ouço algo.

~Anúncio mundial~

As palavras aparecem em minha mente. Olhando ao redor posso perceber que as pessoas estavam tão confusas quanto eu. Em seguida algumas trombetas começam a soar, o som parecia estar vindo do céu.

~Acaba de ser coroado um novo Rei vampiro~

O sorriso volta ao rosto do líder da guilda.

— Parece que o mundo está conspirando ao meu favor, apesar de ser uma triste notícia para nossas raças. — Ele fala, mas não presto muita atenção em suas palavras.

— O que foi isso? — Pergunto olhando para todos ao redor, mas ninguém além do líder parece entender o que havia acontecido.

— Um anúncio mundial... — O líder fala esfregando seu queixo por um instante, parecia estar pensando em algo. — Quando um evento que impacta o mundo inteiro ocorre é feito um anúncio mundial, vocês não sabem o que é isso porque são muito novos, o último ocorreu para transmitir a mesma mensagem.

Isso quer dizer que Ruby foi morta? Talvez, não tem como afirmar com certeza, mas isso certamente é um problema, se o novo comando ordenar posso me tornar perseguido pela minha própria raça.

Alícia puxa minha camisa novamente, olho para ela.

— Ioan está bem? — A garota perguntou ao notar minha expressão de preocupado.

Me sinto mal por fazer uma criança se preocupar comigo.

— Não é nada, conheci a rainha dos vampiros, apenas estou preocupado com ela. — respondo-a.

Não deixa de ser verdade, porém vou omitir o fato de eu poder me tornar um procurado.

— Vai ficar tudo bem. — Alícia fala tentando me animar.

Ela sobe no sofá e passa a mão na minha cabeça, é o que eu normalmente faço com ela, está tentando me confortar.

— Obrigado Alícia — falo.

Agora volto minha atenção para o líder da guilda, ele teve uma pequena mudança de expressão quando mencionei a rainha dos vampiros.

— Líder, o senhor conhece a rainha? Quero dizer... antiga rainha — pergunto.

— Ah, sim, Ruby.... uma mulher encantadora, conheci ela a algumas décadas atrás, essa é uma perda enorme para os vampiros e para a humanidade também — responde o velho,mas diferente de suas palavras parecia que não estava tão triste assim.

Ele está certo, Ruby era quem mentia a paz entre vampiros e humanos, como a oposição tirou ela do poder é esperado uma mudança nessa relação também, provavelmente haverá conflito.

— Bem, então temos que nos preparar, parece que agora não pode recusar minha oferta, sabe bem disso, certo? — pergunta.

Ele tira uma carta de sua mesa.

— Recebi uma carta daquele criança do Porto, ele me disse várias coisas interessantes sobre você — diz tirando uma carta que estava embaixo dos papéis de Sally.

— Criança? — Não lembro de ter conhecido alguma.

— Estou falando do líder da guilda de lá — explica.

E pensar que alguém como ele seria chamado de criança...

— Sempre me trazendo problemas — diz e em seguida solta um suspiro.

Ele estende sua mão para mim.

— Me de seu cartão da guilda — fala com a mão levantada.

— Oi?

— Apenas faça. — Parecia um pouco irritado.

Apenas obedeço, não posso fazer nada no momento, péssimo momento para esse anúncio.

Ele se levanta e sai da sala do meu cartão, deixando eu e as outras duas lá com pontos de interrogação sobre as cabeças.

— E pensar que sua personalidade seria assim. — Bianca diz.

— Yep. — Alícia concorda.

Depois de alguns minutos ele volta com meu cartão e me entrega.

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Nome: Ioan | Rank: D

Raça: Humano | Classe: Bronze

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Essas eram as informações do cartão.

— Mas como?! — falei assustado ao notar a armadilha.

Pensei que era impossível de ser adulterado.

— Não posso te dizer o segredo, né? — responde pegando os papéis na mesa e os jogando no lixo.

— Além disso meu sobrenome sumiu — falo ainda olhando para o cartão.

— Claro, caso contrário todos pensariam que você é um nobre, você é idiota? — diz com uma voz zangada.

Eu vou matar esse velho.

— Nós humanos não temos sobrenome, nome de família só existe para membros de fam��lias nobres, você já deve ter visto que tanto eu quanto Alícia não temos sobrenomes certo? — Bianca explica.

— Ah, então é assim. — Agradeço, embora já soubesse disso.

Alícia balança a cabeça em concordância.

— O preço será colocado na sua dívida — diz o líder após pensar por um tempo.

— Como assim? O preço não era a continuidade de Sally na guilda? — pergunto.

— A situação mudou, você tem muito azar, criança — responde com um sorriso.

Assim minha dívida voltou para 1 milhão de yons.