Pesadelos

O Mago Negro se foi da cidade, deixando dois corpos para trás. O Sacerdote da Luz e seu filho foram mortos em pleno dia, marcando o temido retorno dos Magos das Trevas.

A Igreja das Trevas que todos pensavam ter desaparecido de vez, tinha retornado com um mago avançado. Ela estava certa... O mundo estava prestes a mudar.

Maya caiu de joelhos, tremendo. Ela estava com tanto medo, parada diante daquela mulher. Só ela sabia como conseguiu permanecer de pé até que ela partisse, sem se acovardar diante dela. Quando a mulher saiu, Maya tremia literalmente de medo. Os Magos das Trevas... Só agora ela via o quão assustadores eles poderiam ser.

Maya também percebeu que Gabriel ainda estava vivo. Se não estivesse, não teria conseguido escapar. No entanto, isso também significava que ele ia voltar.

Havia uma pequena parte de Maya que ficou feliz por ele estar vivo. Ela não o tinha matado. No entanto, uma grande parte dela estava com medo e preocupada com o futuro. Não só ela tinha tentado matá-lo, mas também sua mãe.

Quando ele retornasse, ela tinha certeza de que ele os mataria a todos! Na opinião dela, Gabriel já estava corrompido e só estaria pior na próxima vez que voltasse, se não mais forte.

Levantou-se e correu apressadamente para dentro de casa. "Mamãe, faça as malas! Precisamos deixar esta cidade! Precisamos ir para um lugar onde Gabriel não possa nos alcançar! Ele nos matará se retornar! Depressa! Irei buscar o pai!"

"Para onde iremos?!" A mulher de meia-idade perguntou, ainda sem conseguir acreditar no que viu com seus próprios olhos. O garoto que ajudaram a criar era agora um mago negro.

"A Academia a que eu vou fica na Capital Real. Podemos conseguir um lugar lá. Aquela cidade é como uma fortaleza. A Igreja Sagrada da Luz está lá, protegendo a Cidade Real. Esses Demônios nunca poderão nos ferir lá! Também devemos contar à Igreja Principal o que aconteceu aqui! Eles precisam saber! Depressa!"

Ela não era a única tentando deixar a cidade. Todos que estavam aqui tinham corrido para arrumar as suas malas e deixar a cidade. Este lugar não era mais seguro.

Logo na saída da casa de Maya, Hawrin estava parado em branco diante do corpo morto de seu pai e seu irmão. Foi informado do que tinha acontecido. Por um momento, ele ficou incrédulo, mas tinha certeza de que tanta gente não mentiria!

Ele também começou a correr em medo, deixando para trás os corpos de seus familiares. "Como aquele bastardo pode retornar dos mortos! Ele realmente é um diabo! Este lugar não é mais seguro para mim!"

*****

Em um lugar escuro desconhecido, um jovem estava deitado no chão, inconsciente. Havia um buraco no ombro do homem, mas ele tinha parado de sangrar. A ferida também havia começado a curar-se lentamente conforme o tempo foi passando.

Ainda inconsciente, Gabriel estava apenas revivendo um momento repetidamente onde ele era esfaqueado pela mulher que pensava ser sua mãe, logo antes de ser esfaqueado pela mulher que amava há tanto tempo. Após esfaqueá-lo, ambas o chamaram de Demônio enquanto observavam ele morrer sem ajudá-lo.

Aquele momento continuou se repetindo em sua cabeça, destruindo todo o amor e a confiança que ele tinha... Esses foram os momentos que o acordaram de sua ilusão. O velho Gabriel estava morto. Ele era um novo Gabriel agora... Aquele que foi chamado de Demônio e traído sem motivo.

Esse momento continuou se repetindo em sua cabeça inúmeras vezes, e ele nunca revidou. Ele morreu todas as vezes com dor excruciante. Com cada morte, algo dentro dele quebrou... Até não sobrar nada.

Ele decidiu sair desse pesadelo. Já era o suficiente. Ele não ia mais deixar que o matassem. Quando o próximo sonho começou com a mesma coisa, desta vez ele não se segurou.

Ele pulou para o lado e desviou da primeira lança, deixando-a acertar a mulher pelas costas. Desta vez ele não a protegeu, e em algum lugar no fundo ele se sentiu satisfeito por não ter ajudado quem estava prestes a matá-lo. No entanto, ele não ia deixar Maya sair facilmente também. Após inúmeros sonhos de ser morto, ele perdeu toda a sua fé nela.

O Livro Preto diante dele virou a terceira página, que era o segundo feitiço do livro e o único feitiço ofensivo por enquanto.

Ele recitou o feitiço em voz alta, sem hesitar nem por um segundo! Desta vez, o sonho não terminou com a morte dele. Em vez disso, foram as duas mulheres que morreram dessa vez! Ele mudou o sonho, mudando também a si mesmo no processo.

Ele percebeu o que deveria ter feito! As emoções eram inúteis. Ele precisava se preocupar apenas consigo mesmo! Porque foi isso que os outros fizeram. Se ninguém se importava com ele, ele não iria se importar com ninguém.

Tão logo ele matou Maya no sonho, seus sonhos finalmente se despedaçaram, como se estivesse livre do sonho pesadeloso após aprender sua lição.

Com os olhos abertos, Gabriel observou seus arredores que eram estranhamente silenciosos. Ele podia até ouvir o som de sua própria batida cardíaca nesse lugar.

Gabriel tentou sentar, apenas para notar que seu ombro ainda doía. Ele se lembrou de ter sido esfaqueado no ombro antes. Ele colocou os dedos onde a lança o tinha ferido. Por alguma razão, não havia ferida ali.

O fenômeno estranho fez Gabriel inclinar sua cabeça em confusão. Todas as suas feridas haviam curado novamente por algum motivo.

"Meu livro!" ele exclamou, percebendo que o livro não estava em suas mãos. Felizmente, ele logo descobriu o Livro Proibido da Necromancia, que estava deitado atrás dele.

Ele deixou escapar um suspiro de alívio enquanto pegava o livro. O Livro se transformou em um anel mais uma vez, adornando seus dedos.

"Eu não sei como agradecer o suficiente. Você salvou minha vida de novo, não foi?" Gabriel parecia estar falando com seu anel, que não podia responder.

Não havia ninguém que pudesse sobreviver depois de ser ferido tão gravemente sem ser tratado com Magia Sagrada da Luz. Além disso, agora que ele também era um Mago Negro, a Magia Sagrada de Cura também não funcionaria nele. Ainda assim, por alguma razão, seu Elemento das Trevas conseguiu curá-lo.

Não só ele sobreviveu à sua morte inicial no fundo do precipício, mas também agora. Em dois dias, ele quase morreu duas vezes, mas sobreviveu. Quanto a como, mesmo ele não tinha certeza completa. Tudo o que ele sabia é que foi obra do Livro Proibido da Necromancia e de seu novo Elemento.

Quanto mais Gabriel pensava sobre isso, mais absurdo ele achava ser.

"A Escuridão que todos chamavam de ruim é o que manteve um inocente vivo. Por outro lado, as pessoas que fingiam ser virtuosas moralmente foram as que tentaram tirar uma vida inocente devido a esse preconceito. Que irônico. Esta Escuridão é muito melhor do que elas pelo que eu vi."

"No começo, eu hesitava em usar o Elemento das Trevas, preocupado com o que o mundo poderia pensar. Eu mesmo não queria usar um Elemento das Trevas, mas agora... Agora eu sei. Se quero sobreviver, preciso abraçar completamente esta Escuridão!"