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**Esperança**

"A esperança é um sonho acordado." — Aristóteles

Sebastian caminhava de um lado para o outro em seu escritório, sentindo a inquietação crescer a cada minuto que passava sem notícias. A noite já havia caído, e a escuridão que envolvia o castelo parecia refletir a sombra em seus pensamentos. Os casos de tráfico eram alarmantes e perturbadores, mas a ausência de qualquer notícia sobre o paradeiro do príncipe Killian lhe causava uma angústia ainda maior.

Sentou-se, passando a mão pelos cabelos, tentando acalmar a mente. Seus pensamentos eram um turbilhão, e ele se perguntou se a Imperatriz Blackwood realmente responderia sua carta. Havia um mistério em torno daquele império; algo lhe dizia que, se alguém possuísse esse tipo de informações cruciais, seria ela.

De repente, ouviu um bater de asas vindo da janela. Levantou-se rapidamente e foi até lá, onde um gavião, com adornos diferentes dos que costumava usar em seu reino, pousava com um pergaminho preso à perna. Com dedos trêmulos e ansiosos, ele desatou o pergaminho e abriu a carta.

As palavras escritas o surpreenderam; eram formais e carregadas de um tom de autoridade:

"Senhor Ashrose,

Recebi recentemente algumas informações interessantes sobre casos de tráfico de feras místicas no território da Floresta Negra Karayan, que faz divisa com a região que governa sob o título de Rei. Ordeno que venha ao meu castelo imediatamente para discutirmos esses assuntos em pessoa. Afinal, vocês, outros autointitulados regentes de Hartia, não costumam me reportar situações de extrema importância que sucedem-se sobre esse território, o qual, por direito de sangue, me pertence. Deste modo, terei de ser mais incisiva. Seja breve; espero recebê-lo até o fim desta semana.

Atenciosamente,

Imperatriz do Continente de Hartia, Evelyn Leonora Karlise von Blackwood."

Sebastian sentiu uma mistura de repulsa e ansiedade ao ler aquelas palavras. A Imperatriz havia escrito aquela carta, provavelmente, antes da carta que ele havia enviado. Apesar da prepotência da remetente, ele não podia perder tempo e desencadear desentendimentos com Old Hartia naquele momento. Pouco se sabia sobre a família imperial, além do fato de que os antepassados da Imperatriz costumavam ser sadicamente cruéis e sempre cumpriam suas palavras, por mais vis que fossem.

A viagem seria longa, mas uma oportunidade para cruzar a floresta e procurar, de certo modo, qualquer vestígio do príncipe enquanto seguia seu trajeto. Isso dava a Sebastian forças para seguir em frente. Ele sabia que estaria mais perto de desvendar os mistérios que o atormentavam indo até lá e, quem sabe, encontrar o príncipe Killian antes que fosse tarde demais.

Sebastian reuniu-se com o conselho, que nesse reino absolutista não possuía muita força contra as decisões do Rei. Ele decidiu partir em uma suposta missão diplomática e deixar o Reino de Ashrose novamente sob os cuidados de seu guarda e amigo pessoal, Sir Willian Fairtower.

Willian estava cético sobre o pedido da Imperatriz e temia pela vida do Rei. Ao finalizar a reunião com o conselho, ele se dirigiu até o escritório do Rei para que pudessem discutir a decisão tomada.

Abrindo a porta do escritório, encontrou o Rei reunindo em um livro de viagem algumas anotações sobre a floresta e o caminho até Old Hartia. Sentiu-se preocupado e não mediu adequadamente as palavras que disse:

"Sebastian, sei que você é impulsivo e toma decisões arbitrariamente. Mas se algo acontecer com você naquele território, não poderemos interferir, eu nem teria poder de fazer tal coisa! Sem você, notarão que estamos sem o príncipe por aqui também, e diversas especulações surgirão! Além disso, o velho Greenland vai aproveitar a oportunidade para tentar colocar a princesa Ameerah como regente interina, apesar da pouca idade dela, tornando-se assim o verdadeiro regente deste país até a maioridade da princesa! Consegue ver as consequências para este reino se isso der errado? Por que você tem que ir para lá? Só porque a Imperatriz ordenou? Ordenar? Você nem é súdito dela, poderia apenas ignorar!"

Mas antes que ele continuasse seu monólogo, o Rei respondeu:

"Basta, sei que está preocupado! Mas não tem direito de falar assim! Além disso, não estamos em posição de negar uma solicitação da Imperatriz, visto que Braveheart, como muitos outros reinos, não hesitariam em se aliar a ela para atacar Ashrose, apenas para destruir este reino. Além do fato de que Killian pode já ter saído da floresta e estar em qualquer um desses reinos ou a caminho de algum!" Suspirou e então continuou: "Agradeço que tenha guardado suas palavras para depois da reunião do conselho; seria problemático! Mas não há nada que possa fazer, a decisão já foi tomada: irei até Old Hartia! Não se preocupe, não vou morrer, não ainda!"

Dizendo isso, continuou a organizar os papéis para a viagem. Estarrecido, mas sem poder lutar contra a decisão do Rei, Willian sentou-se determinado a organizar seus pensamentos e montar planos para as possibilidades que surgiriam dali em diante; precisava proteger o reino de Ashrose.

Na manhã seguinte, ao raiar do sol, Sebastian estava pronto para partir. Com uma pequena caravana de servos e guardas, ele seguiu seu caminho. Olhou para o castelo de Ashrose uma última vez antes de iniciar a longa jornada. O caminho até Old Hartia passaria pela densa e enigmática Floresta Negra Karayan, um lugar cheio de perigos, mas também de possíveis respostas. Para chegar à costa no Reino de Korya e pegar uma embarcação até o mais próximo de Old Hartia, seguiu o caminho ao sul da floresta.

Durante a viagem, Sebastian mantinha seus sentidos alerta, esperando encontrar qualquer sinal que pudesse levá-lo a Killian. Cada som na floresta, cada sombra entre as árvores, fazia seu coração acelerar. Ao anoitecer, a caravana montou um acampamento na floresta, bem protegido para que não houvesse surpresas. O Rei, por sua vez, não conseguia dormir. Despistou alguns servos e guardas que estavam fora da tenda e decidiu procurar ao redor, sem sair muito do perímetro determinado. Sabia que sua visão estava um pouco comprometida pelo anoitecer, mas tinha esperança de encontrar qualquer sinal.

Ao vasculhar entre as árvores, avistou uma grande árvore, velha, que se destacava das demais de alguma maneira. Aproximou-se da árvore e notou que possuía uma fenda pequena demais para que ele entrasse, mas pensou: "Talvez uma criança conseguisse." Então decidiu olhar dentro da fenda. Para sua surpresa, encontrou restos de mantimentos, além de um cheiro forte de urina animal. "Urina de fenir," pensou. Seu coração começou a acelerar. Era uma chance, quase um fato, que Killian havia passado por ali. Não conseguia deixar de ter esperança; notando a sagacidade do príncipe, imaginou que ele ainda estaria vivo. Imerso em seus pensamentos, foi surpreendido por um guarda que foi atraído pelo brilho de sua tocha.

"Majestade? Quando deixou sua tenda? Não deveria estar sozinho aqui; é perigoso!" disse o guarda. Mas com um sorriso no rosto, Sebastian respondeu:

"Veja isso!" Iluminou dentro da fenda, com cuidado para não atear fogo na árvore, e então continuou: "Estávamos procurando na direção errada. O príncipe esteve aqui, acredito que tenha se abrigado dentro da árvore para descansar!"

O guarda piscou, tentando absorver a informação. Parecia incrédulo, mas havia provas reais de que alguém havia passado a noite ali. Pensou que a família real realmente era composta por gênios, pois ele jamais teria pensado em se abrigar dentro de uma árvore. Enquanto pensava sobre essas possibilidades, o Rei chamou sua atenção novamente:

"Temos que enviar essa informação para Sir Fairtower! Ele pode refazer os planos de busca e também se sentirá aliviado por ter alguma notícia!" E então, tocou o ombro do guarda e continuou: "Vamos, homem, devemos voltar agora! Tenho que escrever uma carta para meu amigo!"

A dupla voltou para os limites do acampamento, onde olhares surpresos vislumbraram o Rei, que achavam estar dormindo em sua tenda, chegando do escuro da floresta com um sorriso no rosto, acompanhado por um guarda. "Sei que alguns devem ter pensado alguma besteira!" Sebastian então entrou em sua tenda, foi até a pequena mesa e escreveu as informações para Sir Willian Fairtower. Em seguida, saiu novamente da tenda, entregou o pergaminho a um guarda e disse:

"Quero que envie esse pergaminho através do falcão mais rápido que possuímos para o castelo! Deve ser entregue a Sir Fairtower!" Assim que deu a ordem, o guarda saiu com o pergaminho em mãos para cumpri-la.

Um pouco mais aliviado, porém ainda preocupado, o Rei voltou a sua tenda e começou a se preparar para descansar. Algumas horas depois, no escritório real do castelo Ashrose, onde Willian, ainda debruçado em papéis, trabalhava, o falcão real pousou com um pergaminho amarrado. Assustado e apreensivo, Willian se aproximou do animal e pegou o pergaminho. Antes de abrir, pensou em todas as coisas que poderiam ter dado errado dentro da floresta tão brevemente e no que teria de fazer a seguir. Então, segurando o fôlego, abriu o pergaminho. Para sua surpresa, não havia notícia trágica; na verdade, seus olhos vislumbraram a melhor notícia que havia lido em dias. Finalmente, voltando a respirar, percebeu que lágrimas caíam involuntariamente de seus olhos. Respirou fundo e disse em voz alta:

"Eu sabia, garoto. Apesar de jovem, você é esperto demais para ser vencido por essa floresta! Sei que esse detalhe não garante que esteja bem agora, mas nos dá mais do que provas suficientes de que, se alguém conseguiria, esse seria você, Killian!"

Se afastando da janela, Willian seguiu rapidamente até a mesa onde planejava a grande busca pelo príncipe. Adicionou um breve sinalizador ao mapa, algo simples, mas que significava muito mais do que havia obtido em dias e que agora dava uma nova perspectiva e nova zona de busca pelo príncipe. O cansaço se afastou de seu corpo, e então ele começou a montar novas estratégias e enviar falcões aos grupos de busca com novas instruções. Aquela noite foi bem movimentada no escritório real.

Bem longe dali, em uma cidade chamada Cyprus, Ian estava deitado em um quarto simples, que Thane havia alugado em uma pousada, bem ao lado do quarto dele mesmo e de Ruby. Ian pensava sobre como sua vida havia mudado de perspectiva tão rápido: um dia antes ele era um príncipe e agora poderia ser quem quisesse, sem nenhuma amarra ou deveres. Estava preocupado com o reino de Ashrose, mas sabia que, apesar de ser indiferente, seu pai era um bom rei e que sua meia-irmã agora poderia se tornar rainha de Ashrose. Pensou em como ela era inteligente e que seria uma ótima rainha para aquele reino. Sentiu um pouco de tristeza por seus tios, que ele nem conhecia bem, quando soubessem que ele provavelmente havia morrido e que não restava mais resquícios de sua irmã, a rainha Leonor, no mundo. Esse pensamento o levou a pensar em sua mãe, uma mãe que ele nem teve a chance de conhecer, mas que imaginava que deveria ser incrível, visto o quanto seu pai o odiava por ter tirado ela dele. Em meio a esses pensamentos, ele adormeceu e então embarcou em um sonho muito vívido que não parecia ser dele e se assemelhava a uma memória de alguém.

Se viu em um festival, mas não era um festival comum; parecia uma celebração da realeza. Estava em um salão de banquetes enorme, lotado de pessoas barulhentas de pele bronzeada. Havia muita bebida e comida. Na parte central desse salão havia uma mesa, longa e estreita, voltada para as demais mesas naquele salão. Nessa mesa, do lado esquerdo, estavam três homens morenos com aparência de serem bem fortes; à direita estava um idoso que também parecia um guerreiro, um rapaz moreno forte com vestes de guerreiro e um rapaz com características que Killian conhecia, algum jovem da família real Bluestorm. Todos estavam felizes e um pouco embriagados. No centro daquela mesa, havia uma moça que automaticamente chamou a atenção de Killian. Linda, ela era belíssima como uma deusa, com a pele cor de oliva, longos cabelos negros, olhos na cor verde-âmbar e um vestido branco adornado com detalhes dourados. Definitivamente parecia uma deusa, pensou novamente. Enquanto estava deslumbrado com aquela visão da jovem sorrindo e sendo simpática com todos, parecia ser muito amada e querida por todos ao redor. Então ela se voltou para outra figura que estava ao seu lado, e Killian não havia notado antes: um jovem de pele pálida, cabelo cor de champanhe curto, olhos azuis claríssimos, num tom quase cinza, em vestes reais de tons branco e dourado como os da moça. Nesse momento, Killian percebeu a semelhança daquele rapaz com seu pai. Parecia seu pai, só que mais novo e com uma expressão feliz que ele nunca vira antes. Esse homem só tinha olhos para aquela moça, e parecia encantado com tudo que ela fazia. Nesse momento, como se um choque de realidade tomasse conta de Killian, ele pensou: "Será que são minha mãe e meu pai?" Como se os fatos a seguir respondessem sua pergunta, uma voz anunciou:

"É chegada a hora da dança entre o Rei Sebastian de Ashrose e sua nova rainha, minha querida irmã Leonor D. Alder, que bem, agora é Ashrose também!"

Quem havia feito o anúncio foi um dos homens fortes que estavam sentados à esquerda daquela mesa. Ele parecia orgulhoso e olhava para a rainha Leonor com muito amor. Nesse momento, os músicos mudaram o repertório, e então o Rei e a Rainha levantaram de suas cadeiras e foram até o centro do salão para começar a dançar. Dançavam como se seus corpos fossem apenas um e como se não houvesse mais nada ou ninguém além deles naquele lugar. Até mesmo Killian estava encantado com tamanho amor e devoção. Enquanto ele assistia ao que seria o casamento de seus pais, pensou: "Espera, eu não estava lá! Eu nunca vi isso, como posso..." De repente, percebeu que não estava mais no salão e sim em uma escuridão profunda. O som da música melódica não ecoava mais, e ele não conseguia ver nada à sua frente. Então, em pânico, em meio à escuridão, ouviu uma voz feminina sussurrar:

"Killian... Killian..." Nesse momento, acordou assustado!

Percebeu que estava amanhecendo e evitou dormir novamente, temendo retornar à mesma escuridão. Agora desperto, ele pensava em sua mãe. Nunca a tinha visto antes, mas parecia familiar, pensou. Sentiu um aperto no peito, uma dor, sentindo pena de si mesmo por não ter tido a possibilidade de ser criado e amado por uma mulher como aquela. Começou a fantasiar como seria se a Rainha não tivesse morrido.