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**Encontro**

"Oportunidades são como o nascer do sol: se você esperar demais, vai perdê-las." - William Arthur Ward

Pesquisando minuciosamente as informações atualizadas sobre todo o continente de Hartia em relação ao tráfico de feras míticas, o Rei de Ashrose notou que dos 11 grandes territórios do continente, dois são praticamente inabitáveis: o deserto Golgotha e a Floresta Negra Karayan. Nessas áreas, a falta de informações precisas sobre os ataques dos traficantes tornou-se um desafio significativo. Portanto, é crucial estabelecer uma troca de informações com os nove territórios restantes.

Iniciando do sul ao norte, considerando Ashrose como ponto de partida, o rei enviou cartas sobre o tráfico de bestas místicas para os reinos de Greenland, Krois e Korya, que, assim como Ashrose, fazem divisa com o vasto território da Floresta Negra. Posteriormente, as correspondências foram direcionadas ao reino de D. Alder, situado após Greenland, e ao reino de Yvis, localizado a oeste, fazendo fronteira com os três reinos mencionados anteriormente do sul (Greenland, Krois e Korya), além de D. Alder. A zona oeste de Yvis é banhada pelo rio Amaymon.

Após completar o envio das cartas para os territórios do sul, leste e nordeste do continente, decidiu-se enviar também para os reinos do norte, Braveheart e Bluestorm, que fazem divisa um com o outro. Em seguida, uma carta foi enviada ao Império Matriarcal de Old Hartia, governado pela Imperatriz Evelyn Blackwood, localizado ao noroeste do continente. Este império é separado pelo rio Amaymon e faz fronteira, apesar de uma cadeia de montanhas íngremes, com Bluestorm, estendendo-se até parte do deserto Golgotha.

Apesar de o Império não manter uma comunicação concisa, direta ou pacífica com os reinos independentes de Hartia, devido à família imperial Blackwood se considerar regente de todo o continente de Hartia e entender que os demais autointitulados reinos não respondem à imperatriz e não se consideram sob o domínio imperial, e por essa razão há muito se mantém uma relação de hostilidade entre ambos.

Sem tempo para se preocupar muito sobre isso, no entanto, o Rei Sebastian Von Ashrose optou por arriscar-se a enviar uma carta à imperatriz, na esperança de promover um diálogo produtivo sobre o tráfico de feras místicas e se este se estende até Old Hartia.

Além de fazer perguntas simples sobre o possível tráfico de criaturas místicas, o Rei Sebastian incluiu em sua carta para Bluestorm uma ordem expressa para que a princesa Ameerah Greenland von Ashrose retornasse para o reino de Ashrose. Ele tentou não parecer persuasivo demais para não levantar suspeitas sobre algum problema no reino. Embora fosse amigo do reino de Bluestorm, sabia que sua carta poderia ser interceptada em qualquer outro lugar no caminho até Bluestorm.

Enquanto isso, ao amanhecer daquele dia, longe do castelo, próximo à saída da Floresta Negra, o príncipe herdeiro Killian, que havia levantado cedo, estava se preparando junto com Ruby para deixar a floresta e seguir em frente. Durante toda a preparação, ele ponderava sobre o perigo de se expor com Ruby e seu olho mágico na civilização. Preparou-se e seguiu em frente. Ruby, apesar de não entender seu idioma, farejou sua preocupação e ficou alerta durante o caminho. Ao sair da floresta, os jovens se depararam com uma figura.

Um homem idoso, com roupas extravagantes que não pareciam ser usadas naquele território, apareceu. Eles tentaram passar despercebidos. Killian abaixou a cabeça um pouco para esconder os olhos e deram mais alguns passos, quando ouviram o desconhecido senhor dizer:

"Vocês dois são crianças distintas, não são?" disse o homem, com uma voz cautelosa.

Killian sentiu uma leve apreensão e tocou em sua espada. Ruby, percebendo o sentimento de Killian, transformou-se em felino, tentando parecer ameaçadora para o homem. Antes que o rapaz pudesse fazer algo, para defender a pequena, ele desembainhou sua espada e virou-se em direção ao homem. No momento em que seus olhos se encontraram com a figura à sua frente, ele viu, com seu novo olho, uma cor e força que não havia pressentido antes dentro da floresta. Sabia que, quem quer que fosse, aquele homem estava muito além de sua capacidade. Instintivamente, segurou Ruby e deu alguns passos para trás, ainda com a espada na outra mão.

O homem, que até então só observava, falou:

"Não precisam se preocupar, crianças. Não estou aqui para machucar vocês. Na verdade, pretendia entrar nessa floresta para descobrir por que há tantas criaturas mágicas  dessas terras no mercado negro ultimamente. Mas, pelo que percebo, essa criança," disse, apontando para Ruby, "apresenta sinais de que foi capturada. Acredito, porém, que de algum modo você a tenha salvo, não?" Ele aguardou a resposta de Killian, que, receoso, respondeu:

"Não é como se eu tivesse enfrentado algo para salvá-la. Apenas a encontrei enquanto andava pela floresta. Estava faminta e machucada, então agora ela está comigo," disse, segurando Ruby com força, temendo que o homem a tomasse.

O homem respondeu:

"Admirável que um rapaz da sua idade tenha sobrevivido a essa floresta, ainda mais com outra criatura sob sua responsabilidade. Não sei se é admirável mesmo ou apenas loucura que algo assim tenha dado certo! Bem, meu nome é Àki Thane, sou conhecido como o Mago Nômade. Apesar de que, acho que não devo ser muito conhecido neste continente que não usa magia..."

Interrompendo o velho mago, Killian disse, curioso:

"Um mago? Mago como nos livros? Que fazem feitiços, moram em torres e não envelhecem..." Antes que ele pudesse continuar, foi interrompido por um suspiro de Thane, que disse:

"Costumam exagerar muito nos livros a realidade dos magos. Como pode ver, estou velho! E, como eu disse, sou nômade, então não moro em uma torre. Mas vamos ao assunto que realmente me interessa. De onde vêm esses olhos, garoto? Não sabia que ainda restava magia no solo de Hartia," disse Thane, com um tom sério e curioso. Killian, no entanto, respondeu:

"Não sei..." Vendo que o mago continuava olhando e analisando em busca de uma resposta, decidiu contar o que houve anteriormente em uma cachoeira dentro da floresta, evitando falar do ouro e das pedras preciosas, pois não confiava no mago ainda.

Thane ouviu toda a história calado e parecia muito pensativo. Killian aproveitou e contou que nunca tinha visto algo como Ruby, além de que ela não falava a língua deles. Após ouvir todo o relato de Killian, com breves omissões como o fato de ele ser um príncipe herdeiro que fugiu e a cachoeira ser mágica, com fadas, ouro e pedras preciosas. O Mago Thane então disse:

"Há um grande potencial mágico em você, garoto. Mas não conseguirá evoluir muito mais neste continente, já que o mana não flui mais em Hartia. Bem... estou ficando velho, como pode ver, e seria bom ter um aluno para passar meus conhecimentos. Claro, a menos que tenha algo melhor para fazer, já que estava atravessando essa floresta. Eu poderia levar você para além deste continente e, quem sabe, até contar a verdadeira história de Hartia, não a que os antigos reis falam sobre este lugar," disse o mago, enquanto olhava analiticamente para Killian.

Killian tinha receios, não conhecia bem aquele homem, mas seus instintos diziam que ele não estava mentindo. Seria ótimo ter ajuda para deixar o continente de Hartia. Um mago com certeza impediria que ele fosse levado de volta para o castelo real em Ashrose. Após pensar um pouco e analisar as vantagens, Killian respondeu:

"Eu estava pensando em deixar Hartia mesmo e viajar pelo mundo. Se o que diz sobre existir magia além de Hartia for verdade, seria bom aprender algo antes de sair por aí às cegas. Aliás, me chamo Ian," mentiu, usando o nome de um personagem de seu livro favorito, e então continuou: "Mas prometi que cuidaria da Ruby, então só seguirei você se houver espaço para ela também," disse, tentando parecer sério enquanto olhava para o mago.

O mago olhou para a dupla com atenção e, coçando a barba, disse:

"Tudo bem, senhor Ian. Pode levar o filhote, mas ela está sob sua responsabilidade. Minha responsabilidade é apenas ensinar." respondeu, olhando para o jovem, esperando uma resposta. Killian disse:

"Então aceito. Eu, Ian, e minha amiga Ruby iremos com você!"

Antes que Killian, o atual Ian, pudesse entender, o velho moveu suas mãos e recitou algo em um idioma desconhecido. Círculos luminosos começaram a surgir ao redor deles. O mago continuou pronunciando palavras estranhas até que uma grande fenda brilhante apareceu diante deles. Então ele disse:

"Vamos, temos que atravessar logo. Estas terras não têm mana para eu usar nos feitiços, então estou utilizando as últimas reservas que me restam desde a minha chegada aqui! Andem logo ou não conseguirei abrir outro portal!" disse Thane, fazendo sinal para que Ian e Ruby passassem pela fenda.

Mesmo apreensivo, Ian embainhou a espada novamente, segurou Ruby com as duas mãos e caminhou até a fenda brilhante, de olhos fechados. Thane passou logo atrás. Apesar de um breve enjoo, o jovem não sentiu que havia mudado de localização, então abriu os olhos. Para sua surpresa, estavam no topo de uma colina que dava vista para uma cidade bem povoada. Havia muitas cores, pessoas, odores e roupas diferentes das que costumava ver. Antes que pudesse reunir seus pensamentos, Thane quebrou o silêncio:

"Agora vocês estão fora de Hartia! Estamos em uma península muito a leste de Hartia. Aqui, mana e magia ainda fluem livremente, então não se surpreendam se virem pessoas usando magia para atividades cotidianas! Vou lançar um breve feitiço sobre vocês para que possam entender a língua deste lugar e se comunicar, se necessário. Aliás, antes de fazer isso, Ian, devo informar que você está em Cyprus. Este é um ponto mundial de comércio, então vocês podem encontrar diversas espécies que nunca viram antes em Hartia!" disse ele. Percebendo que as crianças estavam encantadas olhando ao redor, ergueu suas mãos mais uma vez e pronunciou o feitiço que os faria entender a língua local.

Organizados, Thane, seguido por Ian e Ruby, que havia voltado ao estado humano e estava coberta com a capa de Ian, começaram a descer a colina em direção à cidade. Tudo parecia novo e despertava imensa curiosidade nos jovens. Viram vários tipos de pessoas as de pele cintilante ou com aspectos de animais ou ainda de pele escura e orelhas pontudas. Tentaram não parecer completamente surpresos, mas nada era habitual! Ian começou a perceber que seu olho alcançava uma extensão maior do que estava acostumado e também exibia números, aptidões e raças, como se pudesse ler as informações das pessoas como um livro, com essas informações passando diante de seu olho. Até mesmo as intenções das pessoas apareciam claramente.

Com tantas informações, Ian ficou disperso. Thane se aproximou e disse:

"Você não consegue controlar esse olho ainda, não é, Ian? Diga-me, o que está vendo agora?" Ele se colocou diante do garoto, limitando seu campo de visão, e aguardou uma resposta.

Ao encarar diretamente Thane, Ian viu com seu olho os atributos do mago, que eram ridiculamente altos. Parecia que ele podia usar vários tipos de magia e possuía objetos com altos valores em atributos. "Ele é muito forte", pensou Ian. E então respondeu, limitando-se a uma resposta breve:

"Não entendo bem, mas parece que posso ler as pessoas, ver o que elas podem fazer, eu diria!" Ele se virou automaticamente para Ruby, em busca de mais informações.

Enquanto isso, Thane ponderou sobre a resposta de Ian e disse:

"Parece que você tem um olho mágico que revela os atributos das pessoas. Isso é bem raro, já que muitos suprimem seus atributos para não serem caçados!" Ele falou, apesar de Ian não estar olhando para ele, ou prestando atenção, mas analisando Ruby. Thane não conseguia deixar de se sentir animado. "Parece que é o destino", pensou.

Ian, ao encarar Ruby, viu com seu olho algumas informações. Ela era ainda mais nova do que ele pensava, tinha cerca de quatro anos, e era uma Nekomata, seres místicos orientais tidos como sagrados no extremo oeste! Ele viu que ela, além da habilidade de se transformar em forma humana, na sua forma original como felino, tem pelos mais espessos e pode chegar a ter de três a quatro metros em sua fase adulta. Também viu que, em breve, suas duas caudas mágicas seriam capazes de atirar mana solidificada, algo bastante perigoso, já que seu nível de ataque era alto. Ian não conseguia parar de imaginar quão indefesa uma espécie que se tornaria tão forte estava naquele momento.

Thane, Ian e Ruby foram gradualmente imersos na movimentada vida urbana. As ruas estavam repletas de pessoas e criaturas de todas as formas e tamanhos. Ian observava fascinado a diversidade ao seu redor, enquanto Ruby, ainda segurando a mão de Ian, olhava ao redor com os olhos arregalados de curiosidade.

"Vamos encontrar um lugar para comer," disse Thane, guiando-os por uma rua movimentada que levava a uma praça vibrante cheia de tavernas e restaurantes. A praça estava repleta de mesas ao ar livre, onde pessoas de várias raças conversavam animadamente.

Thane escolheu uma taverna com uma grande placa de madeira esculpida com runas brilhantes que diziam "A Taberna do Dragão Encantado". Que Ian acredita que só pode ler devido ao feitiço anterior. Eles entraram e foram recebidos por uma mistura de aromas exóticos que fizeram o estômago de Ian roncar. O interior da taverna era acolhedor, com paredes de pedra cobertas por tapeçarias e lustres pendurados que emitiam uma luz suave.

Um garçom de pele cintilante e orelhas pontudas se aproximou, sorrindo. "Bem-vindos à Taberna do Dragão Encantado. O que posso trazer para vocês?"

"Vamos começar com um prato de Frutas de Luar e uma porção de Tentáculos de Mar Profundo," disse Thane, acenando para o garçom que anotou o pedido e se afastou.

Enquanto esperavam pela comida, Thane começou a explicar mais sobre o lugar onde estavam. "Cyprus é um ponto mundial de comércio, uma cidade capital em um pequeno país! O país de Harçisk. Aqui, vocês encontrarão muitas espécies diferentes e cultura de todo o mundo. Esta península é conhecida por sua diversidade , é uma zona neutra para diferentes espécies, o que permite que vivam livremente sem serem caçadas ou escravizadas."

Ian olhou ao redor, observando os outros clientes que usavam magia para realizar tarefas simples, como acender velas ou mover pratos. "É incrível," murmurou ele, ainda tentando absorver todas as novas informações.

O garçom voltou com uma bandeja carregada de pratos exóticos. As Frutas de Luar eram grandes e brilhantes, com uma casca prateada que refletia a luz. Ao serem cortadas, revelavam uma polpa suculenta de cores vibrantes. Os Tentáculos de Mar Profundo, por outro lado, eram escuros e brilhavam levemente, servidos com um molho aromático que exalava um cheiro picante.

"Experimentem," disse Thane, pegando uma das frutas e oferecendo a Ian e Ruby. "Estas Frutas de Luar só crescem aqui em Cyprus. Dizem que são infundidas com a luz da lua, o que lhes dá esse brilho e sabor único."

Ian mordeu a fruta, surpreso pela explosão de sabor doce e refrescante que inundou sua boca. "É delicioso!" exclamou ele, enquanto Ruby também mordia sua fruta com um sorriso encantado.

Thane continuou a falar enquanto comiam. "Como mencionei antes, Cyprus é um ponto de encontro para muitas espécies e culturas. Vocês verão coisas aqui que nunca viram em Hartia. Por exemplo, os Tentáculos de Mar Profundo vêm das profundezas do Oceano Abissal, capturados por uma raça de seres aquáticos que vivem lá. Eles são considerados uma iguaria rara."

Ruby olhou para o prato de tentáculos, hesitante no início, mas depois pegou um pequeno pedaço e provou. Seus olhos se arregalaram de surpresa.

Thane riu. "Vocês se acostumarão com o tempo. Este é apenas o começo da jornada de vocês. Há muito mais para explorar e aprender em Cyprus. Achei que seria um bom lugar para se estabelecer enquanto eu ensino magia para você, Ian!"

Ian apenas acenou, ainda encantado com o lugar e a magia que começava a sentir. Enquanto comiam, Ian não conseguia deixar de pensar em tudo o que tinha visto e ouvido. A habilidade do seu olho mágico, a diversidade das criaturas ao seu redor e a promessa de novas aventuras enchiam seu coração de excitação e curiosidade. Sabia que estava apenas começando a descobrir os segredos daquele mundo novo e fascinante.

Por um breve momento, pensou no reino de Ashrose, em Sir Fairtower. Considerou que poderia ser responsabilizado por seu desaparecimento, já que era seu guarda real. Comparou em sua mente como Ashrose destoava daquela cidade cheia de vida. Então, lembrou-se de seu pai; um breve sentimento de tristeza o invadiu, imaginando que talvez seu pai nem tivesse notado sua partida se não fosse por Sir Fairtower. Também considerou a baixa probabilidade de seu pai ter se preocupado, mesmo assim. Em meio a esse fluxo de pensamentos e emoções, Ian pensou em sua irmã e na possibilidade de nunca mais vê-la. Sabia que após atravessar aquele portal não era mais Killian D. Alder Von Ashrose, e estava livre agora. Absorto nessa montanha de reflexões, ficou com os olhos fixos no prato de tentáculos, sem comê-los, tão distante que mal notava a comida à sua frente.

Então Thane disse: "Garoto, garanto que não vai morrer se comer isso! Está com uma cara preocupada! Mas pode comer mais sem medo!"

A fala de Thane despertou Ian de seus pensamentos, e ele voltou a comer enquanto observava a taverna ao redor.