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Capítulo 9

A rua principal da Cova já se encontrava abarrotada por pessoas em seus afazeres. O quarteto voltara havia pouco e esperavam por Jonas. Pediram para um Corvo novato chamá-lo assim que chegaram.

Não foi preciso esperar muito, o líder do Ninho vinha a passos largos contornando qualquer um que estivesse mais devagar. Entraram em um beco apertado.

— O que aconteceu? – indagou Jonas, assim que ficou diante deles.

— As coisas são mais complicadas do que pensávamos, senhor – disse Michel.

— Muito mais – frisou Gabriel.

Naomi e Michel fizeram um relato de tudo o que aconteceu, sem poupar nenhum detalhe. Gabriel passou a arma improvisada e o papel do Momento do Viajante, que seu líder pegou no mesmo momento e o analisou.

— Pólvora, isso era para ser impossível – comentou Jonas, esfregando os dedos no cano, deixando a ponta de ambos escuras pelo material. – Armas eu entenderia, agora munição é algo mais escasso, é um artigo de luxo fora do Bunker, quem dirá, pólvora.

— Acha possível alguém de dentro ter vendido este artigo para eles? – indagou Livya.

Jonas se mexeu inquieto com o pensamento, mudando o peso de uma perna à outra. Analisou a arma por mais alguns momentos antes de guardá-la em seu cinto. Respondeu:

— Melhor não tirarmos conclusões precipitadas, vou levar o objeto para Will. Já imagino o porquê de terem me chamado.

— Exato, senhor – emendou Naomi, de imediato. – Vamos para o Oásis, por isso precisamos de um veículo.

— Infelizmente não posso liberar um. – Vendo a inquietação no grupo, Jonas complementou: – Teria que fazer um pedido formal ao Bunker, o que demoraria, e tempo não é algo que temos o luxo de desperdiçar.

— Entendo, senhor. Mas como iremos?

— Tem uma caravana indo à Cova 30, mas que faz uma parada no Oásis. Posso conseguir para irem juntos. Bia e Samuel foram para lá há alguns dias com um carro. Ao chegarem, falem com os dois. Eles também fazem parte desta missão agora.

— Muito bem, então. – Gabriel cortou. – Onde estaria a caravana?

Sendo guiados por Jonas, o grupo voltou à rua seguindo em direção à saída da cidade. Não foi difícil ver o grande grupo de carroças. Pessoas andavam de um carro ao outro amarrando a carga, checando se estava tudo nos devidos lugares.

À frente dos veículos de madeira, um casal de touros era o responsável por levá-la, e cada carroça tinha os seus. No banco do carro da frente que transportava tecidos coloridos, um homem baixo, gordo e moreno, gritava ordens aos outros, que faziam todo o comboio ficar em fila.

— Jonas! – Deu as boas-vindas o homem que pulou para o chão com facilidade, mesmo com o excesso de peso. – Achei que estava tudo certo com nossa partida.

— Sim, Nasor – respondeu Jonas com um sorriso amistoso. – Nenhum problema, exceto algumas brigas de bar.

Nasor levantou as mãos frente ao peito esfregando-as e curvando um pouco a cabeça e abriu o sorriso mais simpático que Gabriel já vira em toda sua vida.

— Ora, Jonas. Sabe como são os rapazes, sempre querendo impressionar o outro.

— Pode ficar calmo, não vim aqui por este motivo, mas, sim, pedir um favor.

O comerciante vacilou pela primeira vez diante ao pedido, mas logo viu uma chance de ficar em bons lençóis com o outro. Disse:

— Precisa de algum produto em particular?

— Não, nada disso. Sei que vai parar no Oásis antes de chegar à Cova 30, e não adianta tentar negar, preciso que leve esses quatro com você.

Pela primeira vez, Nasor prestou atenção ao quarteto, analisando-os por um breve momento.

— Mas são Corvos!

— Sim – disse Jonas calmamente.

— Já temos dois conosco.

Livya estudou sobre as caravanas. Pelo seu trabalho ser de vital importância às cidades, era de praxe os Ninhos deixarem Corvos acompanhando-as como seus seguranças, mas ambas as Corvas, juntos à caravana de Nasor, eram de outra cidade.

— Bom – continuou o vendedor vendo uma oportunidade. – Ter mais Corvos conosco aumentaria a proteção, mesmo que só por metade da viagem. Muito bem. Levo eles comigo.

— Ótimo – respondeu Jonas, satisfeito, e esticou a mão ao outro que retribuiu o gesto.

As duas Corvas que já estavam lá antes, se aproximaram desconfiadas. Uma era baixa, de cabelo chanel e seios volumosos, enquanto a outra era alta, loira e muito magra.

— Algum problema, Nasor? – indagou a mais baixa.

— Nenhum, Ana! Só vamos levar algumas pessoas a mais conosco.

Ana os olhou de forma hostil, mas logo suavizou o rosto, e a alta ficou a seu lado.

— Prazer, sou Nahara – disse a loira. – Esta é minha parceira Ana. Somos da Cova trinta.

Todos se apresentaram para as duas. Gabriel sentia o olhar irritado da mais baixa o tempo todo. Não era de hoje que Corvos de cidades diferentes não iam um com a cara do outro. Após poucas palavras que em sua maioria foram ditas por Nahara, a dupla voltou de onde veio, seguido por Nasor que voltou a gritar ordens.

— Estou voltando também – falou Jonas. – Boa sorte a todos.

E após o sol descer um pouco do meio do céu azul e cheio de nuvens, a caravana partiu em direção ao Oásis.