Os dias passaram rapidamente e o exame de entrada não cessou nem por um instante. A pressão era palpável. O campo estava repleto de candidatos, todos apressados, tentando se destacar e impressionar os avaliadores. A tensão no ar era quase tangível. Todos pareciam cientes de que, em meio à imensa quantidade de pessoas, poucos seriam escolhidos.
Porém, apesar de todo o esforço e agitação, apenas uma pequena fração dos participantes conseguiu se qualificar. Cerca de quatro décimos do total de candidatos, um número ínfimo diante de tantos que buscavam uma oportunidade na seita.
Isso, claro, já era de se esperar. Como o discípulo externo havia explicado, o que parecia ser um exame simples, na verdade, era um desafio brutal e implacável. Cada um dos obstáculos foi pensado para testar não só a força, mas a inteligência e a resiliência dos candidatos.
A marionete viva, por exemplo, tinha o poder de um ser no terceiro reino da cultivação, quase alcançando o quarto. Em qualquer sistema de cultivo, isso a tornaria uma adversária temível. Enquanto isso, a maioria dos candidatos ainda estava no primeiro reino, com apenas alguns poucos mais experientes no segundo. Vencer algo tão mais forte parecia uma tarefa impossível.
A explicação para isso era simples, embora alguns considerassem injusto: para se inscrever no exame, o candidato deveria ter no máximo o primeiro ou o segundo reino de cultivo. Isso limitava severamente o campo de participantes, mas também tornava o teste ainda mais desafiador. Eles estavam sendo desafiados a derrotar uma marionete que estava, no mínimo, dois ou três níveis acima deles.
É claro que isso seria um desafio quase intransponível para a maioria. No entanto, a marionete tinha uma desvantagem significativa: sua racionalidade era praticamente inexistente. Ela era mais uma ferramenta de combate do que um verdadeiro ser vivo, e, como tal, era vulnerável a certos tipos de estratégias. Desde que o candidato fosse inteligente o suficiente para compreender isso e tivesse alguma experiência em combate, derrotá-la era, sim, possível.
Mas, como já havia sido dito, os participantes do exame eram, em sua maioria, jovens que apenas começavam sua jornada como cultivadores. Pedir que tivessem a habilidade e a experiência necessárias para vencer um adversário tão superior era, sem dúvida, pedir demais. Mesmo aqueles com um grande potencial ainda estavam longe de alcançar seu ápice. E mesmo para os mais habilidosos, esse desafio representava um enorme obstáculo a ser superado.
Apesar das dificuldades imensas que o exame impôs, a marionete acabou sendo o teste mais simples para os candidatos. Ela representava a prova mais acessível, ainda que, para a maioria, fosse um desafio considerável. De mil pessoas que se inscreveram para o exame, apenas 400 conseguiram passar, o que fazia com que fosse evidente: daquelas que sobreviveram, cerca de 90% o fizeram por meio do teste da marionete.
Os outros dois testes, embora não impossíveis, exigiam algo muito mais específico e elevado. O teste dos obeliscos de julgamento, por exemplo, que analisava a essência do corpo, Ki e alma do candidato, não teve mais que algumas centenas de aprovados. Mesmo os que se destacavam fisicamente ou espiritualmente, muitos não conseguiam satisfazer completamente os requisitos de um único obelisco.
Quanto ao teste das estátuas dos ancestrais, a taxa de falha era ainda maior. Até o momento, ninguém havia conseguido fazer uma única estátua brilhar. Não importava quantos tentassem ou quão fortes fossem; todas as tentativas falharam. A razão disso não era falta de força ou competência, mas algo mais profundo: suas personalidades e essências simplesmente não estavam alinhadas com as dos ancestrais que essas estátuas representavam.
Essas estátuas não eram meros símbolos ou estáticos objetos de veneração. Cada uma delas representava um demônio primordial com uma característica específica que ressoava no âmago de quem a tocasse. Para acender uma estátua, era necessário mais do que força ou habilidade. Era preciso que a própria alma do candidato se conectasse com a essência do demônio ancestral ali representado. Algo tão profundo e sutil que muitos nem mesmo conseguiam identificar.
E isso não era um reflexo de fraqueza. Não, muito pelo contrário. Era apenas uma questão de compatibilidade. A essência da pessoa precisava refletir de maneira pura a característica do demônio ancestral – fosse a raiva de Asura, o orgulho de Bali, ou qualquer outra característica. Por isso, mesmo com o grande número de candidatos com talento e poder, a falha era constante: a verdadeira conexão com o passado, com as raízes da seita, era rara e complexa, algo que poucos conseguiam alcançar.
...
Enquanto o exame continuava lá embaixo, no vasto campo da seita, em cima do portão, um grande grupo de convidados se reunia. Era uma cena de relativa descontração, mas com um propósito claro: alianças e conexões. O murmúrio das conversas ecoava suavemente, com muitos comentando sobre os avaliados — alguns demonstrando orgulho pelos descendentes que estavam participando, outros analisando criticamente o desempenho daqueles que ainda estavam lutando para passar.
Para os mais astutos, aquela era uma oportunidade estratégica para criar laços. Qualquer pessoa ali que tivesse um membro da família participando e passando nos testes era vista como uma valiosa conexão. Um gesto amistoso, uma palavra de incentivo, e as relações se estreitavam rapidamente. E, como esperado, aqueles que estavam em melhores posições dentro da sociedade, ou que tinham poder de influência, aproveitavam a chance para cultivar amizades que poderiam trazer grandes benefícios no futuro.
Mas, em meio ao movimento frenético de aproximações e conversas, havia um grupo que mantinha uma distância curiosa dos outros. Sentados em um canto mais isolado, observando em silêncio os acontecimentos, estavam os oito anciãos da seita.
"Menas pessoas estão aparecendo a cada ano." O primeiro ancião falou, sua voz grave reverberando levemente no ambiente. Ele olhou para o horizonte, seus olhos refletindo uma melancolia silenciosa. "A cada ciclo, menos candidatos surgem. O que está acontecendo com a nova geração? Será que a chama da busca por poder e ambição está se apagando?"
"Os tempos estão mudando, estamos em uma era de paz." O segundo ancião respondeu com um suspiro, tentando parecer mais otimista. Ele era o mais tranquilo entre os oito, sempre inclinado a ver o lado positivo das coisas. "Os conflitos que outrora nos mantinham em alta têm diminuído, e a sociedade parece estar em um período de estabilidade. Quem, em sã consciência, iria se arriscar por poder quando não há guerra para travar?"
"Demônios celestiais somos raramente necessários hoje em dia." O quarto ancião acrescentou, com um toque de amargura em suas palavras. Seu olhar, profundo e calculista, percorria os jovens abaixo, observando o exame com desdém. "Eles mal sabem o que é ser colocado à prova, como nós fomos. Hoje, a verdadeira força é raramente requisitada. A paz... não exige nossos sacrifícios."
"É normal que nossa influência tenha diminuído no coração dos jovens." O sétimo ancião falou em tom reflexivo, quase como se estivesse se conformando. Seu olhar estava fixo nas figuras que se moviam em torno do campo, jovens cultivadores cheios de esperanças. "O mundo mudou. Eles têm outras prioridades, outras crenças. O que significam para eles nossas velhas histórias de glórias e batalhas? O que é ser um 'Demônio Celestial' hoje? Pouco mais que um título, talvez."
"Mas ainda assim... é tão deprimente ver essa cena." O terceiro ancião murmurou, um suspiro pesado escapando de seus lábios. Ele parecia mais velho do que os outros, os cabelos grisalhos e a postura curvada pelo peso do tempo e das memórias. Seus olhos estavam fixos na arena, onde jovens lutavam por um futuro que parecia distante e vazio para ele. "Quando olho para esses candidatos, vejo mais hesitação do que coragem. Onde está a chama que nos movia no passado?"
"Eu ainda me lembro dos nossos tempos de glória durante as grandes guerras." O oitavo ancião falou com um sorriso nostálgico, seus olhos brilhando com o resquício de uma energia que, aparentemente, só surgia em momentos como aquele. Ele olhou para os outros com uma saudade palpável. "Naqueles tempos, até o menor dos discípulos desejava provar seu valor, porque sabia que o preço da fraqueza era alto demais. Nós fomos os últimos a lutar nas grandes guerras, fomos forjados pelo fogo. Agora... olhem para eles."
"Verdade, todos estavam tão ansiosos para se juntar a nós que tivemos que conter a comoção." O primeiro ancião respondeu, com um leve sorriso de canto. A lembrança dos dias de glória parecia trazer um pouco de alívio para ele. "Lembram-se do fervor? Do desejo imenso de ser aceito por nós? Nos cercaram, implorando para serem treinados, para ter uma chance de alcançar nosso nível. As portas da seita estavam sempre abertas, e todos queriam mais do que eram capazes de suportar."
"Talvez as coisas melhorem um dia." O quinto ancião, o mais pragmático do grupo, disse, olhando para os outros com uma expressão séria. Ele não era dado a sentimentos excessivos, mas havia uma tristeza silenciosa em suas palavras. "As gerações sempre se renovam. Talvez os jovens que estão sendo forjados agora venham a ser mais fortes, mais focados. Mas para isso, eles terão que superar sua própria natureza de fragilidade."
"Pra mim, isso está ótimo, se não somos necessários, então significa que não há nenhum problema pra resolver." O sétimo ancião, sempre o mais descontraído, deu um sorriso largo, com um tom de ironia em sua voz. "Já não tenho mais paciência para os conflitos."
Os anciãos estavam imersos em uma discussão acalorada, trocando ideias e observações sobre uma série de tópicos, muitos deles aleatórios, enquanto outros se concentravam em algum participante que havia chamado sua atenção.
"Ei, agora que eu parei para pensar... ainda não vi o neto do oitavo." – comentou um dos anciãos, com um tom pensativo.
"É verdade, eu tinha me esquecido que ele viria hoje", disse outro, ajustando sua postura na cadeira.
"Acham que ele vai passar?", perguntou um terceiro, curiosidade evidente na voz.
"Claro que vai! Nós o treinamos." – respondeu outro com confiança, embora uma sombra de dúvida pairasse no ar.
"Justamente por isso que estou com a dúvida", retrucou o ancião, franzindo a testa.
"Vá se foder!" – exclamou alguém, rindo e quebrando a tensão que começava a se formar.
"Hahahaha! Finalmente lembraram da estrela, não é? Sem problemas, ele está ali." Disse o oitavo ancião com um sorriso travesso, apontando na direção de onde o jovem estava.
"Cadê ele?" Perguntou outro, olhando em volta.
"Ali! Do lado da tartaruga azul gigante!" O ancião apontou com precisão.
"Achei!" Exclamou o outro, finalmente avistando o jovem, que estava no centro de uma cena única, cercado por várias figuras excêntricas.
"Ele parece estar se preparando para o exame," comentou um dos anciãos, observando o garoto com interesse.
"Bora apostar," disse outro, com um brilho de desafio no olhar. "Eu digo que ele vai derrotar a marionete de teste. Vai passar com folga."
"Tá valendo a minha conta de luz! Eu aposto que ele vai pro obelisco de talento. E olha que eu não economizo na água quente," brincou outro, cruzando os braços com um ar confiante.
"Tá querendo me levar à falência? Todo mundo sabe que chuveiro elétrico é o que consome mais!" rebateu o primeiro, rindo.
"Hahahaha!" Os outros não resistiram e caíram na gargalhada.
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