"Que o exame de entrada… comece!" Sua voz soou como um trovão distante, ecoando entre as pedras antigas e reverberando no coração de cada um dos presentes.
Assim que as palavras do Primeiro Ancião se dissiparam, discípulos internos apareceram, movendo-se com precisão.
Eles traziam consigo objetos estranhos e imponentes, itens que apenas os mais velhos da seita poderiam reconhecer.
O primeiro era uma marionete, parecida com um manequim humanoide, mas construída com uma madeira escura e reluzente. Suas articulações metálicas emitiam um som leve, quase como um sussurro ameaçador, e era evidente que a marionete possuía uma resistência muito além do que sua aparência sugeria.
Logo atrás, os discípulos depositaram três obeliscos, erguidos com dificuldade sobre o solo sagrado da seita. Cada obelisco era talhado em uma pedra negra opaca, decorada com intricados detalhes dourados que lembravam as marcas de nascença dos demônios celestiais.
Por último, eles trouxeram oito estátuas, cada uma representando um demônio diferente. As esculturas eram de proporções impressionantes, com mais de três metros de altura. Cada demônio carregava uma expressão distinta — alguns com semblantes de ira, outros de serenidade, mas todos exalavam um poder primitivo e opressor. Essas estátuas representavam os Oito Demônios Originais, conhecidos como os pais da raça demoníaca, e sua presença evocava uma sensação de reverência e medo entre os presentes.
Com todos os itens dispostos no centro da arena, o discípulo que havia anunciado o início do evento se preparou para dar mais detalhes sobre o exame de entrada. Sua voz firme ecoava entre as criaturas, e cada palavra parecia carregar o peso de séculos de tradição.
"Entrar na Seita do Demônio Celestial não é uma tarefa simples," ele começou, olhando fixamente para cada grupo de criaturas como se quisesse avaliar sua coragem. "Somente os melhores entre vocês poderão entrar. Mas como decidiremos quem é o melhor? Poder? Talento? Linhagem?"
Algumas criaturas sussurraram entre si, e os murmúrios soaram como um rugido baixo entre a multidão. O discípulo ergueu a mão, pedindo silêncio, e continuou: "Todos esses aspectos serão levados em consideração. Você só precisa se destacar em um deles para ser aceito!"
Ao terminar, ele voou lentamente até a imensa marionete à sua frente. Era uma construção sombria e ameaçadora, com braços esqueléticos e articulações reforçadas com metal negro. Os olhos da marionete brilhavam com uma luz sombria, alimentada pela essência de uma alma condenada.
"À minha frente," declarou o discípulo com voz grave, "temos uma marionete viva, criada a partir do tronco de uma árvore petrificada e imbuída com a alma de um pecador. Ela serve para medir o poder de combate dos candidatos. Aqueles que conseguirem derrotá-la, imobilizá-la ou até mesmo destruí-la... terão passagem garantida para a seita!"
Essas palavras incendiaram a multidão. Algumas das criaturas mais imponentes, como demônios de pele escamosa e felinos colossais com presas de cristal, rugiram em antecipação. Eles sabiam que suas chances de vitória estavam na força bruta, e isso os enchia de entusiasmo.
O discípulo então moveu-se em direção aos três obeliscos de pedra, que pareciam absorver a luz ao redor, emanando uma aura pesada e misteriosa.
"Aqui temos os Três Obeliscos do Julgamento," disse ele, com um tom solene. "Com apenas uma gota de seu sangue, ou um fragmento de sua essência vital, os obeliscos podem discernir o talento de cada um. Cada um deles julga um aspecto: o primeiro, seu corpo; o segundo, seu Ki; e o terceiro, sua alma."
Ele apontou para as inscrições antigas nas bases dos obeliscos, onde runas demoníacas brilhavam em vermelho e dourado. "Se as palavras mostradas pelos obeliscos forem vermelhas, significa que você não está apto para a Seita. Mas, se elas brilharem em dourado, isso será o suficiente para garantir seu ingresso!"
Essas palavras trouxeram uma nova onda de murmúrios, desta vez, das criaturas mais astutas e sensíveis ao poder espiritual. Entre elas, havia alguns seres que, embora de aparência frágil, tinham um brilho peculiar em seus olhos – sabiam que sua força estava no potencial oculto, ainda a ser despertado.
Finalmente, o discípulo voou em direção às oito estátuas dispostas como sentinelas em torno da arena. Ele parou na frente delas, baixando a cabeça em sinal de respeito antes de continuar.
"Atrás de mim," ele disse, virando-se para a multidão, "estão as estátuas dos Oito Demônios Primordiais! Cada estátua representa um aspecto demoníaco, uma inclinação natural para um sentimento primordial que molda nosso Dao demoníaco."
Ele começou a listar os demônios, fazendo uma pausa a cada nome para que suas palavras fossem sentidas pela plateia:
O Demônio da Raiva, Asura.
O Demônio do Orgulho, Bali.
O Demônio da Melancolia, Yasha.
O Demônio da Ganância, Vritra.
O Demônio da Gula, Rahu.
O Demônio da Preguiça, Sthavara.
O Demônio da Inveja, Vasuki.
O Demônio da Luxúria, Kama.
"Aproximem-se das estátuas," continuou ele, "e aquelas com as quais vocês possuem uma ligação brilharão, simbolizando sua conexão com os nossos ancestrais. Prove que você carrega em si o espírito de um desses demônios, e você será aceito!"
Ao ouvirem essas palavras, um silêncio pesado tomou conta da multidão. Até mesmo os descendentes de clãs antigos, conhecidos por sua conexão direta com os ancestrais demoníacos, mostraram olhares incertos. A confiança parecia esvair-se em cada rosto, em cada criatura ali reunida.
Afinal, quem poderia garantir que eles realmente possuíam a mesma essência dos antigos demônios? As estátuas não eram meros símbolos, mas representações de um ideal quase inalcançável. Todos ali, de uma forma ou de outra, carregavam máscaras – mentiras que contavam a si mesmos para esconder o que verdadeiramente eram.
Quantos não fingiam ser orgulhosos, sustentando posturas altivas, apenas para ocultar um profundo sentimento de inferioridade? Aqueles que se impunham como líderes e guerreiros implacáveis, mas que no fundo apenas buscavam a aprovação dos outros, temendo que a sua fragilidade fosse descoberta. Outros, que pareciam ansiar por aventuras e batalhas incessantes, talvez só desejassem paz e sossego, um descanso silencioso ao final de cada dia. Contudo, viviam constantemente em luta, obrigados a provar sua coragem, sufocando o desejo de uma vida mais tranquila.
E então havia a incerteza em relação às próprias estátuas. Apenas oito figuras imponentes, representando oito características demoníacas específicas. Mas onde estavam as outras faces do demônio? Onde estavam a estátua do rancor e do ódio silencioso, aquele sentimento profundo que se acumula e envenena lentamente? Onde estava a estátua da mentira, do medo, do desespero, que corrói por dentro e define tantos daqueles que vieram até ali?
Essas dúvidas brotavam nos corações dos aspirantes. Um leve murmúrio começou a correr entre os presentes, um murmúrio de inquietação. Ninguém queria ser o primeiro a tentar; a incerteza estava viva em cada um deles, pulsante, quase tangível. O teste diante das estátuas era mais profundo do que parecia – ele penetrava na essência de cada um, desnudava as inseguranças e os receios, expondo quem realmente eram.
No meio da inquietude crescente, Da Wei observava tudo com um brilho peculiar nos olhos. Um leve sorriso se formava em seu rosto, como se estivesse vendo algo que ninguém mais ali percebia.
'Por que todos estão tão desanimados?' Ele pensou consigo, surpreso com a insegurança dos outros candidatos.
Apesar de sua aparência humana, Da Wei sabia que sua essência era muito mais complexa. Nascido e criado entre os maiores e mais respeitados demônios do mundo, ele carregava consigo os traços e convicções daqueles que o cercaram desde a infância. Assim como um filho que herda as paixões e preferências dos pais, Da Wei havia absorvido a natureza dos anciãos, as suas ambições e o fascínio por poder. Essas influências moldaram-no de uma maneira que talvez nem ele compreendesse inteiramente, mas que lhe proporcionavam uma segurança inabalável diante do teste.
"Dito isso, sintam-se à vontade para tentar. O exame vai durar pelos próximos sete dias. Quem não teve a oportunidade de participar… problema seu. Ninguém mandou chegar tarde e sentar no fundão!" declarou o discípulo interno, afastando-se com um sorriso irônico.
Por um breve instante, o silêncio pairou no ar. Ninguém ousava dar o primeiro passo, o peso do exame e a presença dos anciãos eram imponentes demais para a maioria. Cada participante olhava ao redor, aguardando que outro tomasse a iniciativa, como se romper o silêncio significasse carregar o fardo de ser o primeiro.
Foi então que uma figura confiante surgiu na multidão. Um lagarto de escamas verdes, imenso e robusto, avançou com um ar de destemor, seus passos firmes ecoando contra o chão de pedra. Ele mantinha a cabeça erguida, demonstrando um orgulho nato que poucos ali possuíam. A multidão abriu caminho enquanto ele caminhava até os três obeliscos, seus olhos fixos no objetivo.
Sem hesitar, ele ergueu uma de suas garras afiadas e a pressionou contra o próprio peito, extraindo um pouco de seu sangue verde escuro. Com precisão, ele espalhou o sangue pelos três obeliscos, que absorveram o líquido rapidamente, aguardando o resultado.
Os primeiros dois obeliscos permaneceram imóveis, sem qualquer reação. O lagarto observou com uma expressão impassível, mas no fundo, uma pequena tensão começava a crescer. Então, de repente, o terceiro obelisco, o que julgava a alma, brilhou intensamente com uma luz dourada. As palavras começaram a se formar na superfície de pedra escura, escritas em letras douradas que cintilavam, refletindo o brilho do olhar atento de todos ali.
「Alma com energia espiritual abundante, além de possuir uma característica corrosiva inata.」
Ao ler as palavras, um sorriso de satisfação surgiu no rosto do lagarto. Ele havia sido aceito na seita, e a confirmação dourada era um reconhecimento de seu valor.
O discípulo interno, que observava tudo com atenção, ergueu a mão e exclamou com entusiasmo:
"Uma salva de palmas para nosso novo irmão, que acaba de se juntar à seita!"
Um murmúrio de aplausos e comentários surgiu entre os candidatos. A coragem do lagarto inspirou muitos, despertando a confiança adormecida naqueles que hesitavam. Ele havia provado que a primeira barreira era superável, e, pouco a pouco, outros se preparavam para seguir seu valor.
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