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Vendida para o Traficante

_ Agora, exijo que se retirem da minha casa.

_ Farei isso dona Clarisse. – Andressa disse e olhou para as outras pessoas. – Eu não tenho como pagar vocês e enterrar meu irmão. Mas garanto que todos serão pagos. Nenhum de vocês sairá no prejuízo. Eu não permitirei que o nome de meu irmão seja manchado por dividas, que creio terem sido feitas para manter nosso lar.

Assim que ela terminou de falar, as pessoas ficaram raivosas e começaram a ameaça-la e pressiona-la para que pagasse toda dívida. Diziam que não eram tolos e que sabiam que depois que ela saísse dali, nunca mais a veriam. Andressa ficou assustada e não sabia o que fazer. Apenas o barbudo não a pressionava e pelo contrário, se posicionou ao lado dela.

_ Pague um pouco do dinheiro de cada um com o que você ainda tem. Eu assumirei as despesas com o enterro de seu irmão. – Ele disse sincero.

_ Mas ai minha dívida com você ficaria ainda maior. – Andressa disse com voz embargada.

O barbudo tirou a nota assinada por Thiago do bolso e a rasgou.

_ Pronto. Agora não me deve nada. – Ele disse sorrindo tranquilizador.

Andressa já ia entrando para pegar o restante do dinheiro, quando três carros, cheios dos membros da facção que comandava aquele lado do bairro, estacionaram em frente a casa de Andressa, quase atropelando as pessoas. Os carros pararam no meio da rua, fechando-a.

Andressa viu o que nunca na vida pensara em presenciar. O chefão em pessoa saltou do carro e se aproximou. Ela já havia o visto, mas apenas a distância. De perto ele era mais lindo ainda. Moreno bem claro, lindo cabelos negros com corte da moda, olhos da cor do mel, barba bem tratada e rente e corpo trabalhado na academia. Tinha vinte e três anos. E além disso, era alto. Ele a fitou com olhos gélidos. Andressa imaginou que Thiago lhe devia também e parou de respirar ficando em suspense enquanto ele a estudava, como ela havia feito com ele. Ela sabia o que ele estava vendo. Uma moça de cabelos longos, olhos cinzas e um rosto comum que usava uma camisa cinza bem surrada e um short jeans. Depois da inspeção, Leco se aproximou e a segurou pelo braço, e seus olhos diziam que era melhor ela ficar.

Chapado e mais alguns se aproximaram do chefão, com seus rifles, e ficaram observando todos. Eles se calaram. O barbudo que estava mais próximo, pois antes estava ao lado de Andressa, se encolheu visivelmente temeroso. Mas o chefão se importou com ele. Sua atenção estava cravada nas pessoas na rua.

_ Vocês estão aqui para cobrar de uma moça que acabou de perder o irmão? – O chefão perguntou com voz acusadora e com olhar furioso. Mas ninguém respondeu. Alguns começaram a se mover para ir embora mas Chapado foi firme em sua ordem.

_ Ninguém sai daqui. – Ele disse e as pessoas ficaram temerosas e paradas no mesmo lugar. Visto que estavam cercadas pela facção.

_ Leco pegue o nome de cada pessoa que está aqui e as notas assinadas pelo rapaz que morreu.

Andressa permanecia gelada e respirando pouco, com medo do que aconteceria ali. Ela observou Leco ir até o carro e pegar um caderno com capa de ouro e uma caneta. Enquanto pegava as notas, anotava o nome de cada pessoa. Andressa não sabia, mas na frente de cada nome, ele colocava o valor devido na nota. Assim que terminou voltou até o chefão e lhe entregou o caderno. Ele esperou com tranquilidade e leu demoradamente o nome de cada pessoa.

_ Muito interessante... – Ele disse e tomou as notas da mão de Leco e as entregou para Chapado junto com o caderno. – Pague eles. Agora!

Chapado foi até o carro e trouxe um bolo de notas de cem e começou a pagar todos que estavam no caderno. Eles recebiam o dinheiro, mas tremiam muito. Alguns imaginou que seriam fuzilados ali. Dona Clarisse e o barbudo eram os únicos que não tinha seu nome no caderno.

O chefão, voltou-se para eles, após todos os outros terem recebido.

_ E vocês? Se ela não devia vocês, o que vieram fazer aqui? – Ele perguntou com a voz tão gélida e com um olhar de aço que eles temeram muito.

_ Eu vim receber meu aluguel e ela me pagou. – A dona Clarisse disse tranquila. – Agora estou aqui esperando que ela desocupe minha casa.

_ E você? – O chefão disse se voltando para o barbudo, mas seu olhar foi de reconhecimento, o que assustou ainda mais o barbudo.

_ Eu... Rasguei minha nota. A jovem não tinha como me pagar mesmo... – Ele disse gaguejando.

_ De quanto era a nota? – Chapado perguntou se aproximando com as notas na mão.

_ Eu não quero receber por ela.

_ Não tenha medo. Não vamos lhe fazer mal, mas o chefe faz questão de pagar as dividas do rapaz.

_ Façam o que quiserem comigo, mas minha palavra é uma só. Eu perdoei a divida e não vou recebe-la de ninguém.

O chefão ainda o fitava e depois das últimas palavras do barbudo, pareceu se lembrar de onde o conhecia. Ele se voltou então para Andressa, mas não falou com ela. Entrou na sua casa sem ser convidado e olhou para aquela pobreza toda com muita indiferença e andou pela casa toda. Até se atreveu a abrir o guarda roupas delas. A mãe, se levantou rapidamente e foi para a cozinha enquanto ele olhava a casa. Andressa foi atrás dele com os braços cruzados e fuzilando de ódio do atrevimento dele. Ele passou por ela depois que saiu do seu quarto e foi até a cozinha, onde recendia o cheiro de café novo. Ele sentou na única velha cadeira e tomou o café devagar, como se tivesse todo o tempo do mundo. Dona Glória parecia ter esquecido que o filho faleceu e tratava o chefão como uma visita importante. Ele era poderoso, mas Andressa achava que naquele momento não era hora de servir café para ninguém. Sua fúria era tão grande que não aguentou ficar calada.

_ Olha aqui, você me desculpe, mas eu e minha mãe temos um velório para cuidar. Agradeço por ter pagado nossas dívidas e garanto que em breve começarei a lhe pagar por mês uma quantia para pagar você. Agora, se não se importa de ir embora, temos que fazer nossas malas.

O chefão a ouviu com olhos surpresos e quando ela terminou, abriu um sorriso convencido, que Andressa não pôde deixar de perceber que ele tinha dentes brancos e perfeitos.

_ Você vai me pagar sim. Mas não preciso de seu dinheiro. – Ele disse inda sorrindo e se levantou rindo, como se tivesse ouvido uma piada e foi para fora da casa.

_ Filha! Você é louca? Esse homem nos salva e você o trata dessa forma? Ele poderia se voltar contra você e matá-la!

_ Mamãe, se ele me matar, quem vai pagar a dívida que acabamos de acumular com ele? - Andressa perguntou retórica e foi atrás dele até lá fora e se admirou de todos ainda estarem presos ali. A facção não havia os liberado.

_ Tenho o nome de todos vocês. E me surpreendi ao ver que a maioria, são nomes de pessoas que de alguma forma foram perdoados em suas dividas para comigo. Dividas que somavam muito mais do que essa pobre família devia a vocês. Eu não posso deixar isso passar impune. Todos que me deviam e foram perdoados, estão me devendo novamente a partir de agora. Chapado passará na casa de cada um ainda essa tarde para lhes lembrar o valor. Quanto aos poucos que não me deviam, seus nomes também estão na lista. Vocês não poderão sair do bairro mais sem dar satisfação e garantias que vão voltar. Se tentarem... Bem, vocês conhecem nossas punições e podem imaginar que nenhuma delas é agradável. E Chapado ficou mais criativo com o tempo. E nada terão de mim. Até que eu resolva que já pagaram por oprimir essa família. – Os olhos dele se voltaram para dona Clarisse. – Quanto a senhora, não consta seu nome em minha lista, e mesmo que tenha sido a mais covarde de todos, não farei nada contra você. – Ele disse e chamou o Micão que veio imediatamente e disse algo no ouvido dele. Micão escutou em silencio e concentrado, e depois lhe disse algo ao ouvido também. Então O chefão se voltou novamente para dona Clarisse. – A única punição que vai receber, é que todas as suas propriedades, que são três no total, a parir de agora só servirão para a senhora mesma. Proíbo qualquer família de alugar seus imóveis. Quem precisar de um lugar para alugar será avisado de outros imóveis aqui no bairro.

_ Não pode fazer isso! Eu vivo desse dinheiro. Meu marido morreu e meus três filhos ainda estão muito pequenos para trabalhar! – Ela disse com voz imploradora. Por favor senhor! Tenha piedade!

_ Dona Glória lavava roupas e sua filha dava aulas para conseguir pagar suas contas. Quanto aos seus filhos, sei que recebe pensão e auxílios para mantê-los, isso corresponderia ao salário do rapaz que morreu. E você ainda tem a vantagem de não pagar aluguel.

Dona Clarisse voltou a implorar, usando argumentos, mas o chefão não mais queria ouvi-la e olhou sugestivamente para os membros da facção. Eles imediatamente, dispersaram a todos que estavam ali e abriram a rua, estacionando os carros corretamente. Apenas o barbudo não teve permissão de ir embora e dona Clarisse teve que ser arrastada e depois ameaçada com o rifle apontado para sua cabeça.

_ Peguem elas. – O chefão disse, para nenhum em especial e voltou-se para o barbudo. – Você vem no carro comigo. – Ele disse e entrou atrás junto com o barbudo e outro membro da facção. Na frente entraram mais dois e o carro deu partida.

Andressa e sua mãe foram obrigadas a entrarem em um dos carros também. Andressa reagiu não querendo ir, mas a facção não se importou com seus protestos e a empurraram para dentro do carro e deram partida.

Eles as levaram para uma capela que ficava atrás da mansão do chefão. Lá estavam algumas pessoas conhecidas de Andressa e sua mãe, inclusive Andréa com seus dois filhos. A facção parecia estar toda ali, rodeando o lado de fora da capela. Andressa e sua mãe puderam sair do carro e foi apontado que deviam entrar na capela. Elas se comoveram quando finalmente entenderam o que estava acontecendo ali. Thiago havia sido levado para lá, e estava sendo velado ali. Andressa e sua mãe se aproximaram e as lágrimas correram por seus rostos. Andressa percebeu que seu irmão estava bonito. Vestiram um terno caro nele e ao redor do caixão haviam algumas coroas de flores. Ela não reconheceu os nomes, apenas o do chefão, na coroas; Andrey. Andressa imaginou que os subordinados dele de outras regiões deviam ter enviado as coroas afim de agradar o chefão. Elas ficaram ali por uma hora e meia, quando Leco viera busca-las. Andresa queria ficar mais, mas sua mãe parecia cansada e Leco prometeu que logo estariam de volta.

Foram introduzidas na cozinha luxuosa da mansão do chefão. As três mulheres que estavam ali, as fizeram se sentar para almoçar. Andressa havia esquecido de comer. E mesmo assim, não estava com fome. Nem mesmo diante do grande banquete que colocaram a sua frente, ela se interessou por comer. Mas a pedido da mãe, se serviu de algumas batatas cozidas e fritas e as comeu sem sentir o sabor.

Assim que terminaram, uma das mulheres que estava ali, as guiou até um quarto. Andressa reconheceu que era o quarto que havia ficado no dia anterior. Elas entraram e em cima da cama, havia dois vestidos pretos e lingerie da mesma cor.

_ Se quiserem tomar banho antes de se trocarem, há um banheiro bem ali no canto. Vão encontrar toalhas lá dentro. – A moça que as acompanhou disse solicita e se retirou.

Andressa olhou para o lugar em que ela apontara. Era a última porta do guarda roupas. Ela abriu e descobriu que era um banheiro. Ela entrou e tomou banho, feliz por o chuveiro ser tão bom e a temperatura da agua ser tão agradável. Depois que ela saiu, sua mãe entrou.

Andressa pegou o vestido menor, imaginando como sabiam seu número e o vestiu. Como desconfiava, serviu perfeitamente. Ela sentiu o tecido e gostou. Foi até o espelho e arrumou seu cabelo em um coque e ficou se achando uma madame com aquele vestido. Olhou para o canto e viu que havia sapatos quase embaixo da cama. Ela os calçou e servira perfeitamente. Nem parou para pensar no motivo do chefão estar fazendo tudo aquilo. Logo sua mãe saiu do banheiro e se vestiu. Arrumou os cabelos igual ao de sua filha e depois que calçou os sapatos, elas saíram corredor a fora. Leco as esperava lá embaixo e as guiou de volta a capela.

Ali ficaram velando o corpo até as cinco horas da tarde. Depois começou a marcha fúnebre para leva-lo ao lugar de sepulcro. Os membros da facção levaram o caixão por todo o caminho, em seus ombros. Andressa se sentia agradecida.

Depois do cemitério, onde o padre da igreja local e único que podia transitar livremente entre uma parte do bairro e outra, fez um discurso de adeus, Andressa e dona Graça foram levadas para a casa de onde foram expulsas, para pegar seus pertences. Andressa decidiu que deixaria os móveis, pois eram muito velhos e sua madrinha não ia gostar de recebe-las com toda aquela tranqueira. Então ela aproveitou a mala de seu irmão e colocou dentro todas suas roupas e algumas de sua mãe. Algumas roupas e calçados teriam que ser transportados em sacolas de supermercado, mas Andressa não se importava.

Quando saíram para fora, Micão estava lá com um dos carros do chefão. Andressa se surpreendeu, mas lembrou-se a tempo do computador dele.

_ Micão! Entre e pegue seu computador. Vou deixar a chave na casa da comadre da dona Clarisse. – Ela disse se aproximando.

Micão a fitou sem entender por alguns minutos, mas Andressa pôde ver a hora que a mente dele clareou. Ele saltou do carro e tirou o computador. Enquanto ele o ajeitava no porta malas, Andressa e a mãe trancavam a casa.

_ Entrem. – Micão disse sério.

_ Não precisamos de carona Micão. Vocês já fizeram muito por nós...

_ São ordens do chefão moça. Entrem no carro.

_ Mas eu preciso devolver as chaves...

Micão se aproximou e tirou as chaves da mão dela.

_ Eu mesmo entregarei.

Mãe e filha se entreolharam e entraram no carro. Andressa se espantava por sua mãe não achar nada daquilo demais. A visita do chefão, as despesas todas pagas, a proteção, o velório de Thiago... Considerando que ela ainda estava em estado de choque, Andressa decidiu que não ia fazer perguntas.

Assim que entraram novamente na mansão, Andressa foi levada para o mesmo quarto e sua mãe foi levada para outro. Micão orientou que ela ficasse no quarto, trocasse de roupa e esperasse que logo alguém lhe traria o jantar, garantindo que sua mãe ficaria bem e que no dia seguinte poderia se encontrar com ela. No entanto, assustada, Andressa percebeu que Micão trancou a porta por fora. Ela estava presa ali.

Assim como ele prometeu, logo uma das mulheres que vira mais cedo lhe trouxe uma bandeja contendo um caldo de feijão, um copo de suco e uma maçã.

Andressa achou mais fácil, comer aquela comida simples, em vista do banquete do almoço. Assim que terminou, colocou a bandeja em cima da cômoda e se deitou sem a mínima vontade de dormir.

Micão entrou no quarto de surpresa, carregando o computador e o montou em cima de uma mesinha que o filho dele de treze anos trouxe e depois saiu correndo voltando com uma cadeira giratória.

Andressa observou em silencio, mas achando tudo muito estranho. Assim que Micão acabou de adapta-lo a internet da casa, voltou-se para ela.

_ é um presente meu. – Ele disse e saiu antes que Andressa pudesse agradecer e dizer que não moraria ali.

Ela se levantou e foi até a porta. Estava trancada. Com um suspiro resignado, ela voltou para a cama, mas dessa vez, exausta, adormeceu, sem saber que o dia seguinte, entenderia tudo e que sua vida mudaria radicalmente para sempre.

Andressa acordou cedo. Não se lembrava de ter dormido tão bem, em muito tempo. Chegou a imaginar a possibilidade de terem colocado algo naquele caldo para que dormisse. Lembrou-se de onde estava e seu ânimo deu uma abatida. Seu coração se apertou e ela começou a ter pressentimentos ruins. Foi até o banheiro e tomou um banho. Nunca ia se cansar de tomar banho em chuveiro como aquele. Vestiu um dos seus shorts e camisetas velhas que trouxera na bolsa, penteou o cabelo e por falta do que fazer, resolveu mexer no computador. Alguma palavra maliciosa entrou em seu coração e ela começou a pesquisar antigas pesquisas no Google feitas naquele computador. Encontrou sites pornôs e casas de moças que se ofereciam como acompanhantes, mas isso não a assustou. Seu irmão era jovem, tinha vinte e um anos e era normal procurar por aquelas coisas. O que estranhou, foi que não achou nada relacionado a faculdade dele. Não havia pesquisas de estudos. E isso, sim, ela achava estranho e começou a desconfiar das atividades de seu irmão. Ela não sabia por onde começar a procurar, pois acabara de cair em si, que o irmão nunca mencionara o nome da faculdade que cursava. Ela pensava nessas coisas quando a porta bateu e a mesma moça do dia anterior veio lhe deixar a bandeja com café.

_ Eu sou prisioneira aqui agora? – Andressa perguntou irada, mas não obteve resposta e ouviu quando ela girou a chave na porta.

Ela estava faminta e se levantou para ver o que tinha na bandeja. Apenas uma torrada, uma banana e café preto. Andressa pensou que eles deviam querer fazer uma dieta forçada nela. Será que estava acima do peso? Ela correu até o espelho que ficava na parede por cima da cômoda e se avaliou. Continuava magra. Ela franziu a testa e comeu o que lhe deixaram.

Depois de algumas horas, trouxeram o mesmo lanche novamente. Andressa não se importou e comeu tranquila. Depois deitou-se na cama e ficou a se lembrar de seu irmão. Ele faria muita falta. Mas guardava um segredo. E esse segredo, provavelmente o levou a morte. Ela já não tinha mais a ilusão de que ele ficava mesmo trancado em casa durante o dia todo e apenas saia para trabalhar a noite. E nem mesmo que ele cursava uma faculdade.