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Uma História de Dor

_ Você é uma boa moça. Mas sua opinião pode mudar depois de tudo que vai saber agora. Casque a batata porque elas já vieram procurar para cozinhar para assa-las para o almoço. Francine, uma das amantes de Andrey, gosta delas recheadas e assadas.

_ Eu a vi deitada em um quarto aqui embaixo.

_ Vai ver muitas ainda. Não se incomode com isso.

Andressa deu de ombros e começou a descascar as batatas enquanto Carla começou a contar o que sabia e o que podia.

_ Seu pai era um chefão de um bairro para os lados de Campos, aqui no Rio de Janeiro. Ele era próspero demais, mas não tinha tantos morros ao seu comando. Se envolveu com uma mulher, sem saber que ela era esposa de um outro chefão, muitas vezes mais poderoso que ele. Acontece que a moça pela qual seu pai havia se envolvido, amava seu pai e não desejava voltar para o outro chefão, por isso fugiu dele e resolveu se esconder com seu pai. Ele ignorava a história que a levou até ele, e acabou se apaixonando. E viveram muito tempo unidos antes dela lhe contar toda a verdade, e depois disso que ela engravidou. Quando estava prestes a dar à luz, já sentindo as dores, seu pai foi chamar o motorista para leva-la para o hospital, mas a mansão havia sido invadida. E seus homens estavam mortos lá fora. Ele então se refugiou na casa e trocou tiros com os bandidos. Mais homens do seu pai, foram alertados por alguém e chegaram para ajudar. E enquanto acontecia o tiroteio lá fora, seu pai entrou correndo dentro do quarto e se deparou com a cena que que o derrubou de vez. A esposa dele, havia levado um tiro na cabeça e uma das empregadas estava segurando o bebê. Que era você. A guerra lá fora terminou com muitos mortos, mas os homens de seu pai saíram vitoriosos. A empregada que segurava você nos braços a levou e entregou para seu pai que ainda estava em choque. Ele segurou você e lhe beijou a testa. Ele sabia que não podia continuar seguro e lhe dar segurança naquela casa, pois sabia que viriam mais homens, e que não descansariam enquanto não o matassem. Decidiu levar a empregada que lhe tirou das entranhas de sua mãe, depois de mandar que dessem um enterro digno para sua mãe. Chamou os homens que trabalhavam para ele e explicou que não estariam mais seguros ali, e que ele iria para outro morro que ele comandava, mas não disse qual, para que a informação não vazasse e ele fosse perseguido. Alguns poucos foram com ele, mas outros não quiseram ir, pois tinham família e casa ali, e acreditavam que poderiam passar a trabalhar para o próximo chefão que tomasse o morro. Seu pai foi embora então, com a empregada que já tinha um filho de uns cinco anos e com alguns empregados que lhe amavam e não queriam ficar longe dele. Acontece que a empregada que tinha o filho de cinco anos era bela. E tomou conta de você e fez várias manobras para conquistar seu pai, que na carência, a aceitou, mas não deixava de pensar na filha. E estava sempre tirando fotos com você. Quando foi crescendo, começou a rejeitar a empregada que se casou com seu pai. Você só ficava com outras empregadas e até comigo, mas fugia dela. Até hoje não entendo como seu pai nunca se perguntou como uma bala acertou o tiro na cabeça de sua mãe. Ela tinha acabado de ganhar você. Não havia furo de bala em nenhum lugar daquele quarto. Mesmo assim seu pai, não pensou em verificar aquilo, certo de que sua amada fora atingida por uma bala perdida... A empregada que se casou com seu pai, por mais que tentasse, não conseguiu muito dele. Ele não lhe deu joias ou riquezas e não deixou dinheiro algum para ela, nem mesmo bens. Ela vivia em meio ao luxo, mas sempre tratada por ele como uma das empregadas, o que começou a irrita-la, pois a atitude dele, fazia com que as outras empregadas, a tratassem como igual e não como patroa. Seu pai lhe dava ordens, para preparar a comida, ou servir a mesa, e até mesmo para dar uma limpada nos banheiros. Tudo isso serviu para que ela se enchesse de ira, pois a você ele tratava como uma rainha, e suas vontades infantis eram imediatamente satisfeitas. Você tinha um quarto, aos três anos de idade, só para seus brinquedos e você brincava com todos. E era bem meticulosa. Sabia o lugar de cada um e as vezes para lhe ver sua reação a gente trocava algum de lugar e você ficava furiosa. Mas mostramos um desenho para você onde os brinquedos criavam vida quando os donos não estavam por perto, e você passou a acreditar que eles trocavam de lugar sozinhos. – Carla contou como se lembrasse de algo divertido, com um sorriso nos lábios, que fez com que Andressa pensasse que foram tempos bons. – Mas, havia uma pessoa, uma única pessoa, insatisfeita com tudo aquilo. A empregada que se casara com seu pai, ela não conseguia enxergar que ele dava a mesma assistência que dava a você ao filho dela. Só se manteve mais afstado dele, porque ela queria que ele crescesse sabendo quem era o pai verdadeiro dele e o dinheiro que seu pai tentava gastar com o garoto, fazendo para ele um quarto de criança para ele com as coisas da idade dele, eram usados por ela para outros fins, como não faltava nada, além da atenção do marido dela, naquela casa para ela, ele parou de lhe dar dinheiro, pois algum de seus homens lhe disse que ela dava dinheiro para o pai do filho dela gastar nas drogas e em jogos. Nesse tempo, ela pensou que tinha direito a todos os bens e ao dinheiro de seu pai, e sonhando em usufruir tudo aquilo, e privada do dinheiro que ele não lhe dava mais, ela o entregou para o chefão que vinha há anos o procurando. O chefão foi pessoalmente na casa onde seu pai estava morando. Levou com ele um verdadeiro exército. Seu pai então resolveu atende-lo, acreditando que já estava morto. Pois não tinha nem metade dos homens que o outro chefão levou. Eles se sentaram na sala, enquanto os homens esperavam do lado de fora.

" _ Vim buscar algo que é meu. Estou procurando você a anos para resgata-la. Eu agi mal da primeira vez, devia ter conversado com você primeiro antes de lhe atacar. Um de seus homens que ficaram no morro, depois que o tomei para mim, me contou que você não sabia quem era ela, no princípio, e que ela só lhe contou depois que estava segura de seu amor por ela." – O chefão disse resignado, mas com uma firmeza que demostrava que não sairia dali sem ela.

"_ Infelizmente ou felizmente para ela, você nunca mais a terá. Ela morreu naquele dia, com um tiro perdido na testa, enquanto dava a luz para a nossa filha." – Seu pai disse triste.

"_ Eu não queria a machucar... Fui um tolo. Eu a amo muito."

"_ Ninguém manda no coração. Ela não correspondia a seu amor e você a forçou. Poderia ter conquistado ela."

O chefão se levantou.

"_ Não ficou para nenhum de nós dois então. Mas não posso deixar você impune. Preciso de seu sofrimento. Não sei porque, mas acho que isso vai fazer com que saiba que me tirou algo muito precioso. Se a tivesse me devolvido, ela ainda estaria viva. Então vou lhe tirar tudo, para que sinta na pele meu sofrimento. Sua filha sairá daqui imediatamente com a mulher com quem se casou e com o próprio filho dela. Não me importa para onde vão e não procurarei jamais saber seu paradeiro, pois o dia que eu souber, matarei os três. Você abandonará os poucos morros que comanda e eu serei o dono deles agora. E você virá comigo para o lugar onde vivo. E onde poderei ver meu sofrimento espelhado em seus olhos todos os dias da minha vida."

"_ E se eu me recusar?"

"_ Matarei sua filha diante dos seus olhos. E fuzilarei o morro. Não só seus homens, mas cada família, cada homem, mulher, jovem, idoso, criança, serão mortos. Eu vim preparado para isso."

" _ Me deixe despedir de minha filha?" – Seu pai pediu, pois sabia que não tinha saída.

O Chefão pensou por alguns minutos.

" _ Como você aceitou a se entregar a favor da vida dessas pessoas, permitirei que se despeça dela, mas será na minha frente. Alguma empregada pode ir busca-la para você e aproveitar e dar o recado para que sua esposa sair imediatamente da propriedade. "

Assim como ele quis foi feito. Mas enquanto a empregada foi avisar essas coisas para a esposa e pegar você para que seu pai despedisse, ele teve uma ideia.

" _ Deixe-me escrever para os meus homens que ficam no comando dos morros, dizendo que devem responder agora a você."

_ Aquilo agradou o chefão e mandou que a jovem empregada fosse com ele até o escritório. Ele mesmo ficou na sala e pediu um café para uma das empregadas. O que ele nem imaginava era que além das cartas que seu pai escrevera para os seus homens, escreveu uma para você. Parecia que ele sabia que você passaria por momentos difíceis, mas a carta só poderá ser entregue quando completar seus dezoitos anos. A despedida foi triste, pois ele não se controlou e derramou muitas lágrimas e foi difícil tira-la dos braços dele, pois apesar de você não entender o que estava acontecendo, parecia sentir que era algo muito ruim.

_ E onde está a mulher que saiu comigo e com o filho dela? Ela voltou para o pai do filho dela?

_ Ela tentou voltar para ele sim. Até viveu um tempo com ele, mas ele não trabalhava e pouco que ela conseguia levar de dinheiro para casa, não foi o suficiente e ele morreu nas mãos dos traficantes a quem devia. O que aconteceu na casa, não era segredo para ninguém, então ela não conseguiu mais confiança naquele bairro para ser chamada a trabalhar. Perdeu a confiança de todos.

_ E o que ela fez comigo? Me deu para dona Glória?

_ Não querida. Dona Glória é esta mulher que arruinou seu pai e impediu que vocês pudessem ter convivido juntos. É a mesma mulher que está lá na piscina. E depois descobrimos que Thiago também não era filho dela, mas a mãe se recusou a cuidar dele, pois o pai era o homem que Glória amava. E ela entregou a criança para o pai já que não tinha condições de criar e Glória se tomou de amores pela criança. Mais tarde, arrumou o emprego com seu pai, para sustentar a casa e os vícios do pai da criança.

_ Então não tenho nenhum parentesco nem com ela e nem com Thiago... – Andressa disse assombrada. _ E meu pai sabe o que está acontecendo agora? Ele sabe onde vivi todos esses anos?

_ Sabe.

_ E pelo jeito não se importa também.

_ Ele se importa, mas, apesar de ter acabado se tornando amigo do chefão, ele ainda é prisioneiro lá. O chefão se casou novamente e até tem filhos, mas não libera seu pai. Vive prometendo que na hora certa o soltará.

_ Esse chefão realmente nunca soube de meu paradeiro?

_ Não, creio que ele desconfie, mas ele prometeu que não procuraria vocês e está cumprindo a promessa.

_ E como você sabe de tantos detalhes? Sabe até que não houve bala perdida?

_ Porque eu estive lá o tempo todo. Na época eu trabalhava ao lado de sua mãe o tempo todo, eu tinha apenas treze anos. Mas seu pai e sua mãe, tinham uma confiança muito grande em mim. Eu vi dona Gloria sacar a arma e atirar na cabeça de sua mãe assim que ela se ergueu para pegar você em seus braços. Mas para ela eu era invisível. Sua mãe não se importava comigo. E era como se ela fizesse as coisas e soubesse que eu jamais iria contar. Quem contaria uma coisa dessa para um pai? E também foi eu que estava a espreita quando ela entregou seu pai para o chefão, pois fez isso de dentro da casa, usando o telefone. E depois quando ele veio, não quis deixar seu pai sozinho com ele, e ouvi toda conversa. Eu sou recebida lá onde ele vive, mas sou a única que pode visita-lo.

_ Porque?

_ Saberá quando ler a carta que seu pai me entregou.

_ Porque não me entrega agora?

_ Porque ainda não completou dezoito anos e porque nesse dia, você conhecerá o seu nome de família, junto com os nomes de seu pai e de sua mãe. E quando souber, não vai conseguir se conter.

_ Entendo... Porque ele não me enviou cartas, que não continham algo que eu não devia saber? Eu... Gostaria de saber que tinha um pai de verdade.

_ Porque o chefão não permite. Até nossas palavras são vigiadas. Sabem que eu sempre estive de olho em você. Mas não sabiam de onde eu vinha.

_ Dona Glória não reconheceu você?

_ Não. Para ela eu continuo invisível. Nunca se esqueça que nessa casa ninguém sabe de meu contato com seu pai.

_ Não me esquecerei. Mas... Porque foi fiel a ele todo esse tempo?

Carla ficou vermelha e não respondeu, o que por si só já serviu de resposta para Andressa. E achou o pai um tolo por não ter percebido isso ainda.

_ Eu mudei de ideia sobre algumas coisas em relação a minha "mãe". Ela matou minha mãe e me afastou de meu pai. Vou puni-la por isso. Mas não se preocupe. Ninguém saberá o que me contou. Nem mesmo ela vai desconfiar que está sendo punida, até que eu decida. – Andressa disse e se levantou, jogando a última batata descascada dentro da vasilha, o que surpreendeu Carla duas vezes naquele dia. Não esperava que Andressa pudesse agir friamente, sabendo que sua mãe fora assassinada e que ela havia cascado sozinha, toda a batata enquanto ouvia em silencio seu relato sobre os acontecimentos da vida dela na primeira infância.

Andressa entrou pela cozinha e parou um momento. Ela tinha intenção de ir para seu quarto, mas mudou de ideia no último segundo e se voltou para as duas empregadas que nem se davam conta da presença dela.

_ Minha mãe deu ordens de servir mais alguma coisa na piscina? – Ela perguntou se dirigindo as duas.

Elas se entreolharam temerosas e Carla entrou com as batatas.

_ Ela me pediu que levasse outro drink para ela. Daqui cinco minutos já vou ter que ir até lá. – Ela disse como se a presença de Carla desse alguma segurança para elas.

_ Obrigada... – Carla disse e voltou a perguntar: - Vamos almoçar a que horas?

_ O chefão pediu que fosse servido as duas horas, pois ele gostaria de estar presente e tem muitas coisas para resolver hoje... Mas deixou ordens para que lhe déssemos o que quisesse para comer... Você deseja alguma coisa?

_ Não, obrigada. Vou para meu quarto. Assim que o almoço for servido, eu descerei. – Andressa disse pensativa e entrou na copa.

A mulher que estivera dormindo na cama de Andrey, era mais deslumbrante ainda quando se arrumava, mas não era alta, como Andressa pensara a princípio. Devia ter sua altura. Só era mais madura do que Andressa imaginava. Ela vestia um lindo vestido verde agua curto com uma fenda do lado e saltos pretos. Suas madeixas louras estavam todas no lugar e ela usava uma maquiagem forte, o que fez com que Andressa desconfiasse que era ainda mais velha do que supunha. Ela estava preparando algo para beber e sorriu para Andressa quando a viu.

_ Bom dia. – A moça cumprimentou educada. – Você deve ser Andressa...

_ Bom dia. E você quem é?

_ Eu sou Francine. Venha! Beba algo comigo. Eu lhe preparo uma bebida não muito forte.

_ Na verdade, eu prefiro um suco de laranja. Vou até a cozinha pegar e já volto. – Disse Andressa e correu para a cozinha.

Carla estava ocupada em desossar um frango e assustou-se com a presença de Andressa de volta a cozinha.

_ Quase me mata de susto menina! Você não percebeu que colocaram um telefone em seu quarto? O que precisar é só pega-lo, que a linha vem direto aqui na cozinha. E gostou da televisão?

_ Nem fui no meu quarto. Francine me ofereceu um drink e me chamou para conversar com ela. Vim buscar um suco de laranja. Nunca bebi nada alcoólico. O que acha que ela pode estar querendo comigo? Foi muito simpática. Não era para ela me odiar? Como ela sabe de mim?

Carla a fitou em silencio, as duas outras empregadas também não falavam nada.

_ Ela não tem motivos para odiá-la. – Carla pegou uma jarra de suco na geladeira e entregou para Andressa junto com um copo. – Se ela sabe de você, é porque Andrey quis assim. Vá e escute o que ela tem a lhe dizer.

_ Você já a conhece a muito tempo. Ela é de confiança?

_ Eu não a conheço muito bem. Já conversamos algumas vezes e sempre foi muito educada, respeitosa e simpática. Mas... Não confie todos seus segredos. Nunca se sabe.

Andressa deu beijo no rosto de Carla e saiu da cozinha. Carla passou a mão comovida em seu rosto. Era evidente que ela não esperava um gesto de carinho tão cedo de Andressa.

_ Já conquistou a moça né? – Uma das empregadas disse sorrindo.

_ Você que devia ter criado essa menina. E o futuro dela poderia ter sido outro. – Disse a outra mexendo nas panelas do fogão.

_ Não quero que isso saia daqui. Sabem que a história dela é um segredo. Andrey não vai gostar se...

_ Se descobrir que você contou tudo a ela? – A primeira completou. – Assim que saiu daqui com ela, já sabíamos o que ia fazer. – Ela disse quando o viu o ar assustado no rosto de Carla.

_ Não se preocupe. Achamos que ela merecia saber mesmo que não foi sangue dela que a colocou nessa situação. – A outra disse tranquilizando-a.

_ Obrigada meninas. Mas as outras, não devem saber de nada. – Ela disse referindo as outras empregadas que cuidavam da casa.

_ Não saberá jamais por nós. – A do fogão respondeu. – Mas não iria prejudicar você. É a pessoa de confiança de Andrey nessa casa e até em outros assuntos. Creio que ele não faria nada contra você.

_ Talvez não. – Carla disse pensativa e voltou aos seus afazeres.