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Mudando de Status

Magno piscou antes de entender o que realmente implicava aquelas palavras. E quando compreendeu ficou aturdido. Ela continuava o fitando como a espera de uma resposta. E ele não sabia o que dizer diante daquela situação inusitada.

"Desde quando?" Magno finalmente conseguiu pensar em algo para manter ela falando, antes que ele fizesse o que passava por sua cabeça em toda ocasião que a via. Apenas quando ela não estava presente que ele conseguia não pensar nela e no que desejava fazer com ela.

"Desde que o vi pela primeira vez." Ela disse e levantou a garrafa como se brindasse com ele. Magno entendeu que toda aquela tempestade que ela trouxe, era provinda de ciúmes.

"Achou que eu era Andrey. Vi seu reconhecimento assim que entrou aqui."

"Ainda assim, foi o momento em que me apaixonei."

"E porque não disse antes? Porque só agora?"

Andressa fitou os olhos confusos dele e sorriu.

"Porque entendi agora que podia perder você se continuasse guardando esse segredo."

Magno passou as mãos pelos cabelos os levando para trás, em um gesto de nervosismo.

"Você é muito jovem Andressa..."

"Estou a caminho dos meus dezoito anos. Não sou tão jovem que não saiba o que quero."

"Sou bem mais velho que você... Tem tantos amigos na universidade... Pensei que algum deles já havia conquistado seu coração. E seria o certo. São da sua idade e tem os mesmos interesses... E com sua beleza poderia ter qualquer um deles..."

"Você fala como se tivesse a idade de papai. Seu irmão não se importou com isso quando me... Usou. E eu era mais jovem. Você é só três anos mais velho que ele. Mas seu caráter é completamente amadurecido e isso lhe dá um charme a mais..." Ela disse e bebeu da garrafa.

"Não é a mim que você ama, Andressa... Você ama a minha semelhança com Andrey. Não sou ele e nem como ele. Você nunca vai encontrar ele em mim, além da aparência."

Andressa percebeu que ele de repente ficou triste.

"Como você ousa questionar meus sentimentos? Sei muito bem a diferença entre vocês e sei qual o homem que amo. Você pode até ser um covarde e fugir do que também sente, mas não jogue suas desculpas absurdas em cima de mim. De meus sentimentos. Fala como se estivesse dentro de mim e soubesse melhor que eu sobre o que sinto. Você é tão arrogante quanto seu irmão." Andressa disse e viu a raiva brilhar nos olhos dele e isso a divertiu. Mas assustou quando ele se aproximou rapidamente e impediu que levasse a garrafa novamente a boca e disse entredentes;

"Não estou dentro de você ainda Andressa, mas vou entrar agora." Ele disse jogando a garrafa que havia lhe tomado para um lado e a pegando em seus braços, levou para seu quarto, onde ela nunca havia estado e a jogou na cama macia sem cerimonias. Ele se despiu diante dela e depois lhe arrancou a roupa e envolveu seus seios com as mãos enquanto a beijava selvagemente.

Andressa estava assustada com o quanto seu corpo reagia diante do toque dele. Cada lugar que ele explorava com a mão ou com a boca lhe dava arrepios de prazer. Um prazer que ela ainda não conhecia. Era diferente do que já teve. Não sabia que que podia chegar naquele auge com mãos e boca mais experientes que a anterior.

Magno parecia ter fome dela e prolongou o tormento ao corpo de Andressa que reagia de forma sensacional. Seus gemidos lhe diziam o quanto estava sentindo prazer com aquela doce tortura.

Depois de muito a ouvir chamar por ele e pedir por favor, ele finalmente a penetrou. Ela teve orgasmos múltiplos e ele ficou encantado. Sabia que o feitiço que ela jogara sobre seu irmão, agora estava com ele. Estava impregnado nele.

Quando finalmente se saciaram, saiu de cima de Andressa e ela dormiu rapidamente depois de lhe enviar um sorriso.

Magno não conseguiu dormir. Ouvia o ressonar dela e aquele som se tornou o seu preferido desde aquele dia. Contudo, sabia que não poderia se entregar por inteiro ainda para ela. Andressa era jovem, uma adolescente. Não conhecia nada do mundo e nem dele. Ela acreditava que ele não fazia nada antiético. Mas estava enganada. Ele não julgava com justiça quando se tratava de homens que trabalhavam para o pai dela. Ele os favorecia. E usava sua posição para isso. Não sabia se ela reagiria bem ao saber que na verdade, de alguma forma, ele também estava envolvido com a máfia. E também tinha um outro problema que não demoraria a bater em sua porta; Andrey. Ele não queria ter que brigar pela posição ao lado dela. Não queria ter essa preocupação. E para que isso tivesse um fim, teria que colocar eles frente a frente. Andrey não iria aceitar muito bem se ela escolhesse ficar ali com ele. Mas se isso acontecesse ele saberia se impor e a protegeria. Andrey a amava. Seus contatos na favela lhe contavam tudo que acontecia e seu irmão nunca agiu daquela forma com mulher nenhuma. Talvez se tivesse contado para Andressa o que se passava com Andrey, ela não estaria ali, aconchegada em seus braços com o ressonar satisfeito. E se Andressa decidisse ir embora com Andrey... Agora não poderia mais permitir que isso acontecesse. Ele não conseguiria abrir mão dela e de John. E tinha uma carta na manga para tal acontecimento, que esperava nunca ter que usar. Ela cometeu um erro ao se deitar com ele. Ela devia ter o deixado seguir com sua vida e com seu namoro com Geiza. Agora era tarde para arrependimentos. Não tinha como voltar atrás e deixar de desejar ela como alguém perdido no deserto deseja água.

Magno se levantou assim que viu o dia clarear. Ela resmungou em um protesto inconsciente quando ele teve que tirar seu braço de debaixo da cabeça dela, mas permaneceu dormindo. Ele tomou banho, se vestiu para o trabalho e foi para a cozinha. A cozinheira ainda não havia chegado. Ele respirou fundo e decidiu tentar fazer o café ele mesmo. Só que não sabia por onde começar.

Para sua salvação, a babá entrou na cozinha ainda de pijama e levou um susto quando o viu. Magno não conseguiu deixar de se divertir ao ver o rosto corado e olhos arregalados dela.

"Me desculpe... Pensei que ainda estaria dormindo. Vim só preparar um café..." Ela disse sem graça e se virando para ir embora.

"Espere!" Magno pediu. "Também preciso de um café. E na verdade, você caiu do céu. Não sei por onde começar..."

Ela se virou novamente para ele e o fitou ainda ruborizada. Era óbvio que tinha uma paixão secreta por ele. Magno sabia disso. Nunca alimentou essa paixão. Mas meninas tinham o estranho costume de se apaixonar por homens poderosos.

"Quer que eu faça agora, ou prefere que eu me troque primeiro?"

"Pode fazer agora, por favor." Ele disse com um sorriso e sentou a mesa para observar ela preparar o café. Não pôde deixar de pensar que só naquele momento descobriu que não lembrava o nome dela. Isso era constrangedor. Mas ele afastou seus pensamentos e percebeu que era muito simples preparar café. Ela apenas adicionou água em uma parte da máquina e depois três colheres medidoras de pó de café em outra parte. Da próxima vez, ele não ficaria tão perdido. O café saiu quente na jarra de vidro e ela o serviu e pegou um para sim e ousou se sentar com ele a mesa.

Magno a fitou bem humorado e esquecido da noite que passou em claro.

"Não quero que se ofenda... Mas qual é seu nome?"

"Eloisa." Ela disse corando novamente.

"Você não cursou a faculdade? Já está na idade de ter uma profissão."

"Depois da formatura do high school eu abandonei os estudos. Sabia que queria trabalhar com crianças e uma escola não me capacitaria para isso..."

"É claro que capacitaria. Você pode ser uma professora infantil ou uma pediatra..."

" Não é dessa forma que gosto de cuidar das crianças. É exatamente de crianças como seu filho que gosto... Só não tinha me apegado tanto antes..."

Magno a fitou pensativo. Será que se ela apegou mesmo a criança ou foi apenas pela esperança de viver um romance com ele?

Magno se levantou depois de olhar a hora na tela de seu celular.

"Eloisa... Coloque os pés no chão e pense em seu futuro. Ainda não é tarde para buscar os estudos. Obrigado pelo café." Ele disse e se retirou as pressas. Aproveitando que não tinha a babá no quarto, ele entrou no quarto de John e o encontrou de pé no berço. Ele abriu um sorriso quando lhe viu e Magno se aproximou e deu um beijo em sua testa. Ele começou a gritar papai, mas Magno não queria ficar e correr o risco de encontrar com Andressa aquela manhã. Queria que ela tivesse tempo de assimilar o que aconteceu e decidir se ia se repetir ou não. De toda forma, consideraria por ora, que o lugar ao seu lado era dela.

Andressa acordou e ainda de olhos fechados passou a mão na cama, onde devia estar o homem que amava, e ela o sentiu vazio e frio. Devia ter sonhado com tudo aquilo. Não podia ser real. Era um alivio por um lado, mas por outro era frustrante. Pelo menos naquele sonho ousou fazer e dizer o que na realidade jamais conseguiria. Ela sentiu um gosto ruim na boca e dor de cabeça. Na sua mente veio apenas uma palavra: "ressaca". Mas ela se negou a acreditar pois se tivesse com ressaca, significava que não foi apenas um sonho. Ela havia mesmo se embriagado e usado palavras vulgares com Magno... Ainda podia sentir ele poderoso dentro de si. Não havia sido sonho! Ela abriu os olhos e percebeu imediatamente que aquele quarto não era o seu. A cor do teto era de um tom bege e do seu quarto era um rosa bem clarinho.

Ela se sentou e sentiu a cabeça dar uma pontada grande de dor. Olhou a sua volta e viu que o quarto era enorme. Cabiam dois do seu ali dentro. Tinha poltronas, frigobar, mesa com computador... Aquilo era estranho. Pois havia no apartamento um escritório. Porque será que ele mantinha um em seu quarto?

Andressa se levantou e ligou o computador. Imediatamente apareceram vários cômodos da casa. Menos o quarto dela e de seu pai. Até o dele tinha câmera. Seu primeiro pensamento foi que ele não passava de um depravado. Mas olhou cuidadosamente e a câmera só apontava para o próprio computador. Respirou aliviada. Ele não era o escroto que sua mente fértil pensou por um momento.

Abandonou o computador e entrou no banheiro dele. Era igual ao seu. Ela entrou debaixo do chuveiro e a água levou embora seus pensamentos conflitantes sobre Magno. Ainda não acreditava que foi capaz de dizer que o amava. Não conseguia se lembrar de detalhes da noite anterior, provavelmente uma sequela de tanto conhaque, mas sabia que havia cruzado uma linha com ele e que não haveria volta.

Assim que saiu do banho e se vestiu com as roupas que havia chegado ali com elas e que estavam espalhadas pelo quarto, ela foi direto na sala e pegou sua compra que fizera para impressionar Magno. Independentemente do que aconteceu aquela noite entre eles, ela ainda o surpreenderia.

Ela foi para seu quarto e jogou a sacola na cama indo para o banheiro e escovou os dentes. O gosto ruim a estava incomodando. Depois abriu a porta de ligação e foi ver John.

Ele estava em pé no berço se apoiando na grade fitando a babá com olhar perdido, enquanto ela lia para ele uma história em seu idioma. Andressa se lembrou que Magno disse para não maltratar ela, então resolveu conversar com ela a respeito disso. Se aproximou e sentou ao lado dela. Sua presença pareceu quebrar o encanto do conto dela, pois John não estava mais com olhar perdido, agora olhava para ela tentando dar pulinhos e pedindo que o pegasse em seus braços. E a babá parou de ler e ficou corada.

"Eloisa, gosto que leia histórias para John, parece que ele também aprova, mas quero lhe pedir que faça isso no meu idioma. Pois ele já tem pouco contato com minha origem..."

"Me perdoe senhora... Então terei que parar de ler para ele, pois só entendo o que você fala em seu idioma, não sei como se escreve." Ela disse com a cabeça baixa.

Andressa se levantou.

"Então continue em seu idioma mesmo... Ele gosta de ouvir você contando histórias." Andressa disse amigável, deu um beijo em John e já ia sair quando a babá a chamou.

"Senhora... Não poderei continuar sendo babá de John em tempo integral..."

Andressa se virou para ela e sentiu outra pontada na cabeça quando franziu a testa.

"Porque? Está aborrecida comigo?"

"Não. De forma alguma. É que preciso de um tempo... Decidi que vou retomar meus estudos. Fique à vontade para me despedir e arrumar outra babá que possa ficar... Eu mesma sei de algumas moças..."

"Pare!" Andressa a interrompeu. "Vou pagar seus estudos sem que isso comprometa seu salário. Pode fazer o curso que desejar na faculdade em que estudo... Assim poderá vir cuidar de John. Enquanto estiver fora em seus estudos, eu mesma cuidarei dele. Não confio em ninguém mais para isso."

"A senhora está sendo muito generosa..."

"Não há generosidade nisso. Preciso de você e tenho que cuidar para que fique. Até você terminar a faculdade e seguir em sua profissão, John já estará na idade de contar se alguém o maltratar. Não pense que não a observo. Você tem sido como uma mãe para ele e ele a ama como tal. Eu que devo agradecer por ter a oportunidade de retribuir um pouco, pois sei que amor é algo sem preço e se o tivesse nenhum ouro no mundo poderia pagar por ele... Mas me tire uma dúvida... Essa decisão foi tomada por algum motivo em especial?"

"Eu tive uma experiencia inédita ainda hoje pela manhã e alguém que amo, me aconselhou e então decidi que fazer o que fui aconselhada poderia garantir um futuro melhor para mim... Talvez até ser vista como uma mulher..." A babá disse corando com sua ousadia de dizer a verdade para Andressa que a fitou como se soubesse de quem ela estava falando. Contudo não se importava pois o relacionamento deles, já deixou claro que nesses meses em que ela estava ali, era apenas de amizade, apesar de serem casados e terem tido um filho junto. Não entendia porque não eram um casal, mas amava Magno mais ainda por saber que ele foi generoso com a mãe de seu filho. E amava John que era a imagem do pai. Não tinha como ela não cercar de cuidados o bem mais precioso do homem que amava e tinha esperanças de conquistar.

Andressa a fitou profundamente e seus pensamentos divagaram. Magno! Ela era apaixonada por seu homem. Não quis confrontar ela naquele momento, reservaria o acerto de contas com ela para o futuro, quando John não precisasse mais dela. Sabia que era de Magno que ela falava, pois disse que o conselho lhe fora dado pelo homem que amava ainda aquela manhã. E ela não saiu do apartamento. Tinha tanta certeza disso, como da chuva que caia lá fora. Sem dizer mais nenhuma palavra, se retirou depois de dar outro beijo em John e quando ainda estava em seu quarto se trocando para a escola, lembrou que a babá acreditava que ela e Magno eram apenas amigos. E era responsabilidade sua mostrar para a babá que aquele território pertencia a ela. E sem que Andressa sentisse ou qualquer outra pessoa que convivia com ela, começou uma transformação dentro dela. Mesmo ainda no Brasil seu lado mais escuro cobriu uma parte de seu coração antes puro. Pela primeira vez ali voltou seus pensamentos para aqueles que deixou para trás e a vingança para cada um deles. Deu lhe muito prazer fazer gerentes de restaurantes serem mandados embora, quando retornou com seu pai nos lugares onde foi enxotada em Curitiba. Ela sorriu com a lembrança e pegando sua mochila, saiu cantarolando.

Já na escola, começou a sentir tédio. Nunca fez um teste de QI, mas tinha convicção que foi agraciada com uma inteligência fora do comum. As aulas tinham ficado enfadonhas depois que ela leu os livros um por um e sabia todas as leis e artigos. Ela nem conseguia mais prestar atenção no que diziam os professores. Parecia para ela, uma repetição. Até mesmo Magno se surpreendia com a velocidade com que ela aprendia as coisas e depois de algumas semanas onde ficou a observando no trabalho atento, e percebeu que ela era a mais capaz de todos ali, até mesmo de advogados que já tinham seu diploma, delegou a ela trabalhos mais difíceis, a presenteou com um escritório próprio no prédio onde trabalhava quando não estava em audiência e aumentou seu salário.

Andressa ouviu o soar da sirene para o almoço com alivio. Precisava de um lugar tranquilo para planejar o jantar daquele dia. Sabia que encontraria com Magno e com seu pai. E provavelmente, a babá que se sentava junto com eles para o jantar. Essa era a hora certa para colocar Magno contra a parede. Ela não estava muito confiante que ele seguiria tendo um romance com ela, por isso o pressionaria e observaria sua reação as suas palavras. Se ele a rejeitasse, sairia do apartamento e iria para algum lugar que ele não pudesse a encontrar. Seria muito humilhante e constrangedor que depois da noite que passaram juntos, ele prosseguisse com seu namoro com a lambisgóia. Também não sabia ainda como encarar ele depois de tudo que disse enquanto estava embriagada. Hoje ela decidiu que faltaria ao trabalho. Ainda não estava preparada para ver ele. Mas já estava pensando em usar o vestido que comprou e fazer uma maquiagem especial para o jantar. Queria surpreender ele de várias formas. E enfim tomaria o lugar que era seu naquele apartamento. Esperava ardentemente que seu pai não dissesse nada que fizesse com que Magno recuasse. Ela sabia que ele a amava. Não precisava ouvir ele dizer as palavras. Nenhum homem é tão generoso com uma mulher, se não a amar. E na noite anterior, provou a ela que não era um amor fraternal. Ele a desejava. A forma como a amou e como a tocou como se fosse uma joia rara e preciosa provava muito mais seu amor que qualquer palavra que dissesse. Ela tinha certeza do amor dele. Mas não tinha certeza se ele seria capaz de confrontar seu pai se ele se posicionasse contra eles ficarem juntos. Abriu um sorriso. Gostaria de ver a face de Carla agora. Será que a condenaria ou a apoiaria? Agora ela já levava o nome da família de Andrey. E consumou o casamento. Seu status não era mais o mesmo. E já estava na hora de assumir sua posição.