Capítulo 18: Uma grande perda

Uma porta normal em uma mansão não tão normal não chamou a atenção de Jill, ela genuinamente estava cansada desse lugar, mesmo tensa e sempre alerta, ela tinha se cansado do tapete, dos candelabros antigos, armaduras medievais e outras besteiras características desta mansão, as vezes ela achava aqueles mortos moribundos em corredores que vagavam em velocidades muito lentas e as vezes achava alguns cortados pela metade rastejando em sua direção, todos tentando possuir um pedaço da carne de seu corpo, até o momento nenhum teve sucesso, mesmo assim ela tem estado tão vigilante que pensa que vai desmaiar quando sair dessa maldita casa.

Ela ocasionalmente encontra suprimentos muito estranhos espalhados por algumas salas, alguns são remédios para dores, ervas medicinais e cartuchos de munição, algo não tão comum de se encontrar em uma mansão, não que seja comum achar seres podres vagando por mansões ao redor desse mundo ...

-" Barry .... o que tem de errado com você?" Jill murmurou bem baixinho, parecia que nem as paredes da mansão poderiam ouvi-la.

Seu parceiro de equipe estava mais que estranho, ele parecia desorientado, bobo e distraído, além das decisões estranhas que ele tem tomado, toda hora ela acaba sozinha e sem muito apoio, ele aparece de vez em quando para logo sumir, tem algo de errado com ele na visão dela.

( Será medo da mansão? Tensão provavelmente?) Jill pensou que poderia ser um certo trauma que ele desenvolveu com toda a situação, pois até ela estava desenvolvendo um trauma gigante nessa macabra casa.

Ela não tem ideia quanto tempo vagou, só sabe que tudo voltou a ficar claro quando ela viu uma porta no mínimo suspeita, ela não tinha fechadura e muito menos maçaneta, ela era de alguma espécie de metal desconhecido para Jill, de cor amarelada, no centro da porta tinha um círculo do tamanho de uma bola de basquete, com 4 pequenos buracos irregulares, suas formas encaixariam muito bem com espécies estranhas de joias ou minérios, também tinha um texto estranho mais para cima do círculo com pequenos buracos.

[ prima colorum ] essa eram as palavras escritas em um idioma que Jill suspeitava ser em latim, apesar de não possuir certeza.

( O que raios isso significa? Bem vamos ter que te ignorar porta ....) Jill saiu ligeiramente frustrada de uma das poucas coisas diferentes que ela viu desde que chegou nessa casa.

Felizmente o caminho dela foi curto, só haviam caminhos a direita e em sua maioria as portas estavam fechadas, mesmo ocasionalmente encontrando alguns cadáveres, foi um caminho tranquilo ..... Até um rosto conhecido aparecer em sua visão ....

-" Merda ..... Kary ..... Porque logo ..... Você?"

Kary Johnson era uma membra do esquadrão Bravo da Stars, uma antiga amiga de escola da Jill, alguém bonita, leal, engraçada e carismática, com quem podia se contar para uma briga ou em um momento de dor, quando o pai de Jill morreu, uma das pessoas mais importantes em sua vida, Kary foi quem confortou ela nos momentos incessantes de choros contínuos, ela foi parceira em momentos de grande dor e sofrimento, seu ombro amigo foi muito acolhedor naquele momento .....

O mesmo ombro amigo dela estava agora faltando, um pedaço dele foi arrancado selvagemente por uma mordida não natural, o belo rosto de sua amiga estava desfigurado em uma diagonal que cruzava seu olho direito, passava pelo nariz pequeno e perfeitinho dela, chegando até os lábios e o queixo dela, ela tinha sido completamente desfigurada, a fenda chegou até os ossos, seu cabelo ruivo estava literalmente mais vermelho por causa do sangue, seu torso tinha uma marca gigantesca de garra, era possível ver alguns orgãos saltados pela garra da criatura, e ela estava sentada no chão com as costas grudadas na parede, com uma aparência de dor e derrota, seu fim foi mais que miserável .....

Em resumo era uma visão lamentável, Jill apenas agachou e deixou escorrer algumas lágrimas, Kary sempre foi forte e mesmo nessa situação Jill confiou cegamente que ela continuaria viva passando pelos perrengues dessa maldita mansão ..... Todavia ela caiu aqui, então Jill tentou lamentar o mais baixo possível, porque ela prometeu que só iria chorar muito quando quem fez isso, pagasse com sua vida, e só a criatura que fez isso não bastava ... tinha que ser os donos por trás disso.

( Quem foi que fez isso ... está fudido na minha mão) Seu pensamento era frio e cheio de ódio palpável.

Quando seu choro baixo cessou, Jill analisou melhor o corpo de sua amiga, apesar do estado lamentável, Jill tinha que ver se Kary tinha deixado algo para trás, para mostrar para seu irmão mais novo, que tinha perdido sua irmã nesse porra de mansão, mesmo não encontrando suprimentos imediatos como munições ou mesmo ervas medicinais, ela encontrou um papel na mão fechada de sua amiga, que devido ao Rigor mortis, ela teve dificuldade de conseguir pegar o papel, sendo necessária quebrar o dedo de sua amiga para obter o seu conteúdo, que tinha alguns desenhos no mínimo estranhos, como um porta muito mal desenhada que lembrava aquela com círculo com os 4 buraquinhos, um desenho de uma cobra gigante perto de um palito( o que deveria ser uma pessoa), além de uma planta gigante, e um texto no papel.

[ Na porta está escrito "cores primárias", tome cuidado tem uma cobra lá!!!] E tinha uma parte ilegível, já que a mesma estava claramente com uma marca de rasgo.

( Cores primárias? ... então é o amarelo, azul e vermelho certo? Mas porque tem 4? Será que é uma cor secundária? Mas qual? onde eu acharia essas cores em formatos perfeitos para encaixar na porta??) Jill fazia todo um planejamento em sua cabeça, e indagava por cada resposta.

Ela ficou nessa até ver um rastro grande de sangue que seguia a esquerda do cadáver de sua amiga, parecia que ela veio se arrastando daquele corredor estranhamente escuro .... como ela conseguiu isso? Será que ela foi arrastada por alguém? parecia que ela ou outra pessoa queria deixar uma mensagem mesmo antes de partir .....

Jill dá uma ultima olhada em sua amiga, mesmo com toda a desfiguração e sanguinolência presente em seu corpo, no seu inconsciente ela queria que ela se movesse, mesmo que fosse apenas um dedo, um respirar ou qualquer coisa que indicasse que ela ainda estava viva ..... qualquer coisa ...

Contudo, seu corpo jazia encostado na parede, completamente imóvel, frio ao nível anormal para alguém vivo, sem nenhum sinal de vida ..... era apenas uma casca sem qualquer folego de vida, ela tinha que aceitar que Kary tinha partido, mesmo Jill não querendo .... ela tinha o dever de seguir em frente, ela reduziria a cinzas os malditos que fizeram isso ..... ainda que isso custe sua vida ...

Enquanto caminha para escuridão, no meio do rastro de sangue, encoberto pelo sangue vermelho meio seco, tinha um objeto estranho no meio do rastro pertinente de sangue, era um canivete do tamanho de um dedo humano, que era vermelho e tinha um "R" em circulo, bem no meio, esse canivete foi um presente da própria Jill, quando Kary disse ter sido aceita na equipe bravo da Stars ...

Relembrando aqueles bons momentos ela sem muita hesitação, pegou o canivete do chão ensanguentado, e o olhou com um semblante triste, caso ela vivesse ela entregaria isso para o irmão mais novo de Kary, depois de algum tempo de observação, ela o guardou e enfim entrou na escuridão sem fim daquele corredor frio e úmido .....

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( Não era para eles voltarem?) Joseph pensava enquanto estava sentado perto da escada, submerso pelo tédio abrasador.

Ele tem "vigiado" a porta tem uns 30 a 40 minutos, sinceramente ele pensava que ia ver aqueles cachorros estranhos quebrando as janelas, pulando nele e devorando sua carne de forma agressiva e selvagem, perdendo seus membros junto a sua vida ..... mas a realidade foi mais monótona do que sua imaginação fértil.

Ele passou boa parte do seu tempo olhando para os entalhes de animais naquela grande porta, então ele estava mais que entediado, Joseph beirava o tédio naquele momento.

-" Pela demora, todos devem ter achado o caminho." Ele pensava enquanto se decidia internamente.

Joseph revisava sua arma toda vez que podia, sem muito para o distrair, ele tentava se ocupar com coisas aparentemente bobas, como olhar para o teto e contar as rachaduras, tentar estimar os preços de algumas coisas de dentro daquela casa, ficar olhando para a Magnum em sua mão para ver se ela precisa de limpeza ou manutenção e etc.

No meio dessas atividades, ele conseguiu ouvir pequenos passos apressados, como conhecia bem seus companheiros de equipe, ele teve certeza que não era de nenhum deles e dificilmente seria da equipe Bravo ..... então poderia ser conhecidos daquele jovem? Ou até ele mesmo?

Sim, Joseph ainda se lembrava daquela perseguição, sendo um policial treinado ele não conseguir vencer um civil na corrida ..... foi no mínimo vergonhoso, quem quer que esteja vindo, ele precisa se redimir capturando a pessoa e interrogar da melhor maneira que puder.

Quando os passos estavam mais próximos, seus músculos já estavam tensos e ele estava pronto para perseguir quem quer que estivesse ali, então a porta a esquerda da escada foi aberta com um grande empurrão ..... revelando uma adolescente de não mais de 17 anos, cheia de sangue e machucados não muito leves, como algumas marcas de arranhão, ela também respirava com dificuldade e seu cansaço era visível, ela estava exausta e a beira do colapso.

Joseph já estava em frente a porta quando os passos estavam já altos, então ele tinha uma boa visão da jovem.

-" Me ajuda!" Ela gritou com medo e nervosismo para Joseph, seus olhos arregalados de puro horror.

Ele respondeu a essa fala apontando a arma para a porta, mesmo lotado de perguntas ele sabia qual era a hora e o lugar, a adolescente quase sem folego passou por ele e esperou atrás dele, em pouco tempo sons de garras cravando na madeira vieram por trás da porta, ele suspeito que devia ser algum monstro, como aqueles cachorros lá de fora.

-" A-Aquela c-coisa está vindo!!" A adolescente parecia estar muito assustada.

E apenas para confirmar seu medo, um som de madeira rangendo ecoou em seguida, e depois a porta se partiu em uma fenda de tamanho grande, revelando uma criatura muito feia que tinha um cérebro exposto na cabeça, tal criatura quebrou uma porta de aparência robusta com uma facilidade abismal, Joseph nem tinha visto a criatura por completo e descarregou o tambor naquela coisa sem dó nenhuma, que sem muito tempo de reação foi esburacada pela Magnum dele, com apenas alguns apertos no gatilho ceifando a vida daquela coisa horrenda.

Caso Derek estivesse presente naquele momento, ele ficaria com raiva da situação, pois uma Magnum destroçou facilmente um licker defeituoso, é claro que no jogo é semelhante, o problema é que Derek não tem uma Magnum, mas o Frost sim ..... um personagem que nem tempo de tela tem na historia já que ele morreu no inicio do jogo.

Com a aberração morta pela arma de alto calibre de Joseph, a jovem cedeu com as pernas e caiu com tudo para trás, ela já não conseguia mais mover o corpo devido ao cansaço, Joseph pouco se importou com isso, ele logo chegou perto da criatura que ele tinha acabado de esmigalhar na bala.

Observando a coisa de perto, ele apenas concluiu que aquilo era uma maquina de matar quase perfeita, pois ela não possuía 4 membros e sim apenas 3, faltando a pata direita, seus músculos eram forte e densos exaltando a força e agilidade da criatura, suas garras eram tão afiados quanto facas, sendo perfeitas para dilacerar suas presas, e a criatura não ser bípede ajudava e muito na impulsão dela, em resumo ele estaria com nenhuma chance de vitória em um confronto direto.

Joseph sabia quem sem sua magnum, quem estaria morto no chão seria ele e aquela garota, se ele não tivesse uma arma de alto calibre ..... ele balançou a cabeça com pensamentos desse tipo, e se levantou, não antes de acariciar sua arma como se a agradecesse.

Joseph pensou inconscientemente que se essa criatura tivesse 4 membros, essa garota já estaria morta, felizmente essas coisas parecem possuir apenas 3.

Com passos leves ele chegou perto da garota e ficou pacientemente a esperando, com uns 5 a 15 minutos, ela abriu os olhos e olhou para ele, instantaneamente ela ficou muito tensa, Joseph percebeu isso e a acalmou:

-" Fica tranquila garota .... só queria saber se estava bem."

-" ..... Sim, estou melhor agora." Ela parecia ainda tensa, apesar de estar um pouco mais calma.

-" Isso é bom ..... qual seu nome?" Foi uma forma de dizer que ele estava tentando parecer uma boa pessoa, e não um maluco que atira em qualquer coisa.

-" Meu nome é ... Juana!" Falou com certa hesitação a jovem.

( Juana ... misturado com um sotaque ... tal nome é estrangeiro ..... acho que ela não é americana.) Joseph pensou e decidiu não expressar nada sobre isso, e dai que ela era uma estrangeira? Ele não é uma nacionalista imbecil que acha que os imigrantes são um problema, além do fato que pela cara dela, a mesma devia ser uma estudante de intercambio aqui em Raccoon City ....

Ele apenas assentiu com a cabeça e esperou ela ter força para se levantar sozinha, enquanto isso ele observou ela, não com outras intenções e sim para memorizar o rosto dela caso fosse ... necessário.

Ela tinha pele clara, com cabelo moreno liso longo, um corpo bonito e sem mais, ele não olhou muito para essa parte, seu rosto era bonito e era isso, talvez alguém ache muito resumido, mas ele já tinha memorizado e não precisava descrever cada parte do corpo de uma possível menor de idade, isso seria muito estranho .....

Com mais poucos minutos ela se levantou e ficou ao máximo tentando não demonstrar atitudes rebeldes, então para tirar um clima de silencio desconfortável ela proferiu:

-" Q-qual seu nome .... se não for incomodo." Juana parecia suplicar por desculpas, seu medo ainda presente.

( Aquela coisa traumatizou ela ..... até eu estou um pouco ainda.) Um pensamento passageiro surgiu na mente de Joseph, essa mansão afetou ele e aqueles cães lá fora também.

-" Joseph Frost ..... sou da Stars, então não pense que sou um bandido!" Joseph falou de forma brincalhona, o que assustou e logo aliviou a garota.

Graças a fala dele da Stars, Juana estava mais calma em falar com ele, como todos de Raccoon City, ela conhecia bem a fama dessas pessoas, eles eram os melhores em resgate e em salvar as vidas dos civis, com sua reputação beirando as "estrelas", mesmo com a notável ascensão do vigilante de branco com os casos da seita de canibais.

-" Bom tenho que fazer essa pergunta .... o que você esta fazendo aqui?" Juana ficou tensa e tremeu visivelmente com a pergunta, cerrando os punhos ela ficou calada.

Joseph estava sem pressa e esperou ela soltar tudo para fora, com mais alguns segundos sua voz saiu de sua boca tremula:

-" Eu vim junto com mais 4 amigos ... nossa intenção era filmar fantasmas pela área assombrada que era ..... essa casa ..... estávamos vindo zoar e nos enaltecer como corajosos para nossos grupos da escola e faculdade ... quem diria que fantasmas e monstros são reais ....."

Joseph ouvia sem demonstrar qualquer reação, mas no interior ele borbulhava de pensamentos, ele como um homem estudado e um policial bem treinado, estava mais voltado a acreditar na ciência e tecnologia, mesmo olhando para essas coisas ele podia ver princípios científicos, contudo ele não descartaria o misticismo sem mais e nem menos, é que toda situação precisava ser analisada friamente e com métodos empíricos para um resultado mais preciso que puder.

-" Você disse que veio com 4 amigos ..... qual o nome deles?" Ele foi preciso na hora de desviar o foco, evitando ter que responder que concorda ou discorda dela.

-" Ah ..... eramos 3 mulheres e 2 homens, tinha o Max e Kenny, além de mim, a Vanessa e a Megan, eu junto a Megan e Kenny somos os mais velhos já que vamos completar 18 anos cada um, os mais novos são Max e Vanessa com 15 anos, Max é irmão mais novo de Kenny e Vanessa é uma das pessoas que me deixaram ficar em sua casa ..... E a Megan é minha amiga."

-" Hmmm ..... entendi." Joseph se levantou e olhou Juana com olhos semicerrados, e depois de um tempo com esse clima estranho, ele deliberou:

-" Eu não estou mais ficando nesse lugar .... você vem comigo ou vai ficar aqui? Como policial tenho o dever de te proteger, todavia respeitarei sua decisão nesse momento."

Juana prontamente aceitou ir com ele, ela era uma civil com nenhuma arma e sem qualquer treinamento em combate, ela devia seguir alguém que sabe fazer seu trabalho ou se aventurar no desconhecido sem saber como se proteger? Mesmo ela achando que essas criaturas são sobrenaturais, ela viu que uma arma ainda para eles, então ela escolheu a decisão mais lógica.

Joseph decidiu que ia pegar o caminho de onde Juana e a criatura tinham vindo, pois ela atestou a segurança de onde veio, mesmo não sendo muito confiável já que ela no fim encontrou aquela criatura ...

Antes de partir ele viu seu estoque de munições e a preocupação o atingiu, ele só tinha mais 3 balas, ele não pegou muitas já que foi considerado um grande exagero trazer uma Magnum para uma investigação, mas agora ele percebeu que pegou pouca munição, ele acreditava que aquela criatura não era a única pela mansão.... Frost sentiu que seu caminho seria perigoso ..... ainda mais sabendo que teria que proteger alguém que não consegue se defender eficazmente ... Mas era seu dever fazer, ainda que essa fosse a causa de sua morte .....