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Uma descoberta surpreendente

_ Estou emocionada! É uma pena que já não tenha mais uma vida para ser trocada, pois poderia pensar no assunto...

_ Me odeia tanto a ponto de jamais me perdoar?

_ Olha, toda vez que te vejo, me lembro que é a responsável por estar aqui e no primeiro momento te odeio sim, afinal estava determinada a lhe odiar para sempre, mas do que ia me servir? Estamos em situações parecidas... E depois que a vi morrer, para salvar uma vida que me era muito importante...

_ De que vida está falando? Não estou aqui por ter salvado...

_ Foi em uma de suas vidas passadas. Não deve ter se lembrado ainda.

_ Teve autorização para conhecer meu passado?

_ Só à parte em que me dizia respeito. Já nos conhecíamos de outras vidas.

_ Mas porque tem permissão e eu não?

_ Só tive, porque eles queriam que a perdoasse...

_ Eles quem?

_ Os... Ainda irá conhecê-los.

_ Então estou perdoada.

_ Está sim.

_ Então me diga... Porque não posso tocá-la?

_ Ninguém pode. Estou presa ao lar terreno e respiro com ajuda de máquinas...

_ Em outras palavras, está em coma.

_ É.

_ Meu Deus!!! Que tipo de ser humano, eu sou? Interrompi a vida de uma pessoa e vivia como se nada estivesse acontecendo!

_ Também pensava assim, mas quer saber de uma coisa? Não adianta nada ficar se questionando. As coisas aconteceram de forma que não há nada há ser feito para ser mudado.

_ Agora entendo seu ódio...

_ Não a odeio, não mais.

_ Não entendo mamãe... Como pôde mentir? Deixar-me acreditar que estava tudo bem?

_ Ela fez o que achava que devia ser feito. Até hoje me visita. Fica lá chorando... Ela me contou que você morreu.

_ Mamãe é uma boa alma. Tomou para si a responsabilidade que me pertencia, para não me ver sofrer. Acho que não quero mais falar nesse assunto, porque posso sentir a dor de mamãe. Mas me diga, Vai ficar aqui? Não quer mais voltar para o lar terreno e retomar sua vida?

_ Tenho vontade de pertencer a um ou outro lugar... Desde que não fique presa aos dois. Assim, como estou, prefiro morrer de uma vez.

_ Não gosta daqui?

_ Gosto, mas há tantas coisas que gostaria de fazer ainda no lar terreno! Sabe, sempre fui muito reservada e não aproveitei as chances que tive... Queria ter curtido mais os amigos, ter arrumado namorado, ser feliz, dizer para as pessoas que me rodeiam o quanto às amo.

_ Então, se puder escolher, voltará?

_ Não sei... Prefiro que decidam isso por mim.

_ Não encontrou nada de bom aqui? Nada que á fizesse querer ficar aqui? A escola, por exemplo.

_ Claro! Dar aulas é o que faço de melhor. Antes do acidente, também dava aulas... Talvez possa retomar... E tem Antonio também, jamais conheci alguém como ele...

_ E o que ele diz disso? Ficará aqui até que seu corpo envelheça naquela cama de hospital?

_ Esse assunto me preocupa, mas ainda esta em processo de decisão. Nada foi decidido ainda.

_ E enquanto não resolvem, fica por ai, indo e vindo...

_ É. Não é uma situação agradável.

_ E se voltar, vai se lembrar de tudo que está vivendo aqui?

_ Infelizmente não. Antonio me disse que não lembrarei nem do meu nome. Isso tem que acontecer para que minha memória tenha tempo de apagar a vida que existe aqui.

_ Pensei que era interesse deles, provar que existe vida após a morte.

_ Não precisam provar nada. As pessoas têm que procurar as escrituras sagradas e encontrar apoio lá. Já pensou que bagunça ficaria o mundo, se todos pensassem que podiam fazer o que bem entendessem pois teriam outra chance?

_ Mas os espíritas...

_ São mentirosos. Querem iludir as pessoas, para que não leiam a Bíblia. E Deus é muito claro na sua desaprovação desses atos de espiritismo.

_ Olha a conversa está boa, mas tenho que ir. Gabriel pode estar preocupado.

_ Tudo bem. Adeus.

_ Se, voltar ao lar terreno, espero que não se esqueça de me perdoar.

Ela sorriu e as palavras foram desnecessárias. Não ia se esquecer, porque em seu coração, já havia me perdoado.

_ Sempre que puder vá lá onde moro. Será muito bem vinda.

_ Obrigada. – Ela disse e se afastou com um aceno.

Ali mesmo fiz uma oração para que seu sofrimento tivesse fim. Uma mão pousou em meu ombro e assustada, me virei rapidamente, para saber de quem se tratava. Fiquei muito feliz. Era Antonio! Senti até meu coração batendo mais rápido. Um sorriso sincero aflorou em meus lábios. Fiquei tão feliz em revê-lo que em um desses impulsos que não podemos explicar, abracei-o forte.

_ Antonio... Que bom vê-lo! Que bom mesmo!

_ Também estava com saudades.

Separei-me do abraço.

_ Então porque não foi me visitar?

_ Estava esperando passar o período de adaptação.

_ Antonio... Estive com ela...

_ Eu sei. Espero que tenham se entendido.

_ Sim, nos entendemos... Mas como sabe que estive com ela? Não o vi por aqui.

_ Estava as observando da sala de televisão.

_ Sala de televisão?

_ É. Quer conhecê-la?

_ Claro.

Seguimos por um lugar parecido com essas praças de bairro. Havia muitas delas e muitos casais namorando nos banquinhos. Gostaria de estar com Gabriel, namorando naqueles banquinhos... Meus pensamentos foram interrompidos pela surpresa de me deparar com um lindo casarão, no centro de uma das praças. Era toda coberta com um tipo de trepadeira com flores brancas, que jamais vi igual. Parecia uma obra prima muita bem detalhada. Nem um pintor conseguiria reproduzir com justiça a beleza daquele lugar.

Entramos. Lá dentro também era muito bonito. Não como uma dessas casas que estamos acostumados a ver. Seu padrão diferia de qualquer recinto que já tenha entrado em toda minha vida. Essa foge as convenções. Nem acreditei quando vi as paredes e o chão todo forrado de espelhos e os móveis eram todos de cristal. Antonio explicou que aquele cristal era especial, pois era inquebrável.

Aproximei-me da parede e percebi a ausência de minha imagem.

_ Porque esse espelho não reflete imagens?

_ Refletem nossa alma. Para poder se ver, precisa estar com o coração puro e sincero. Mas venha! Vamos lá em cima!

_ Espere Antonio! Há um jovem refletido no espelho... Uau! È você! E como é lindo...

_ Obrigado.

_ Porque sua imagem ali é diferente?

_ Porque alcancei a pureza de coração.

_ Sinto uma bondade tão grande emanando de você... Isso é ser puro de coração?

_ Não exatamente. Quando alguém sai à busca da pureza de coração, o que existe dentro dela, sai. Uma pessoa pura de coração, não é necessariamente boa. Pode ser má.

_ Estranho... Sempre associei pureza com coisa boa, limpa...

_ Muita gente pensa assim. Mas pureza, significa ser o que é, sem máscaras.

_ Entendi, mas se já é completo, porque ainda não passou para o outro plano?

_ Espero alguém...

_ Sua alma-gêmea. Ainda não a encontrou?

_ Na verdade já a encontrei, mas ela ainda não se encontrou... Além do mais, há pessoas que precisarão de mim quando chegar à hora, e pretendo estar aqui, para ajudá-las.

_ Sua alma-gêmea não sabe de você?

_ Não. Ainda não sabe nem o que quer. Não sabe se quer ficar aqui ou voltar, e acaba cativa de sua própria indecisão.

_ Por acaso, estamos falando de Giovana?

_ Sim, mas ela não deve saber, certo?

_ Ela tem esperanças de voltar ao lar terreno...

Antonio abaixou a cabeça, mas não a tempo de não deixar que percebesse a dor em seus olhos. Senti-me a última das criaturas. Que insensibilidade! Que falta de tato! Não tinha o direito de fazê-lo sofrer!

_ Não se preocupe,Liza. Precisava mesmo saber... Ela não está feliz aqui.

_ Sinto muito...

_ Não sinta. Quando descobrimos o amor espiritual, descobrimos, então, o verdadeiro amor. A recompensa por saber esperar, é o amor eterno. Esse amor é capaz de transpor todas as barreiras, e vence o tempo. Não deixa espaço para sentimentos negativos e possessivos como o ciúme, ou a aniquilação do outro ser, pois temos a certeza de pertencermos um ao outro. É um amor que se divide, compreende. Quando descobri-lo, saberá do que estou falando. É impossível descrevê-lo com palavras, pois fora feito, apenas para ser sentido.

_ Está parecendo um poeta...

Rindo nos demos as mãos e subimos a escada, mas no meu coração escondia uma verdade. No fundo também amava da forma que Antonio descreveu, com a ressalva, que não era correspondida.

Pensei que o andar de cima, seria igual ao outro, mas me enganei completamente. Era um ambiente comum, só que repleto, com muitas tevês tamanho gigante. Paramos em frente uma delas . Antonio a sintonizou e providenciou uma cadeira e me entregando o controle e um papel com o nome de todas as pessoas que conheci em vida, me deixou sozinha.

No controle havia botões de zero a nove. A principio, não percebi seu significado. Apertei o número dezoito, que estava em frente o nome de minha mãe e resolvi o mistério. Ela apareceu na grande tela. Fiquei emocionada. Ela estava colocando roupas no varal. Era tão melhor poder observá-la dali. Era mais cômodo mandar vibrações boas para seu coração.

Vi também, meus irmãos, meu ex-noivo, alguns amigos. Depois, curiosa, apertei o botão de número que estava em frente a Lembranças e apareceu um espelho. Fiquei intrigada com o significado daquilo... Olhando mais atentamente, reconheci o lugar. Era o bosque onde Gabriel havia me levado e revelado que finalmente veria minha família...

Procurei por Antonio para suprir minha curiosidade, como não o encontrei me determinei a ir até onde estava o espelho. Chegando lá o encontrei sem dificuldades. Quando já ia tocá-lo, uma voz como de um trovão me assustou e recuei imediatamente.

_ Não!!!

Reconhecendo a voz de Gabriel temi ter feito algo muito errado.

_ Não deve tocar nesse espelho!

_ E porque não?

_ Ainda não é hora.

_ Hora de quê?

_ Pare de me questionar!- Ele se aproximou e me agarrou pelos ombros.- Sua louca! Onde esteve?

_ Não lhe devo satisfações!

_ Não?

_ Não!

_ Se não me disser logo, onde esteve,a levarei de volta ao hospital e nunca mais permitirei que saia.

Fiquei furiosa com a ameaça, mas como sabia que ele não pensaria duas vezes, em cumprir o que disse, indignada resolvi que tinha de lhe responder.

_ Fui visitar a sala de televisões.

_ Como soube da existência dela?

_ Antonio me levou.

_ E estava lá até agora?

_ Sabe onde estava!

_ É de lá mesmo que estou perguntando. Diante do espelho.

_ Me perdi...- Menti.

_ Sei...- Ele me fitou como se me dissesse que sabia da mentira.

_ E como me encontrou?

_ Quando percebi que demorava, me guiei pela sua áurea.-Ele respondeu furioso, mas me soltou.

_ Não quero, que saia nunca mais, sem me dizer para onde esta indo. Estamos entendidos?

_ Além de detestável, é um tirano. Um ditador.

Ele riu.

_ Então vamos, que parece cansada e precisada de um banho.- Ele disse me puxando. Chegando em casa a banheira já estava preparada ele começou a tirar minhas roupas. E a cada peça que tirava, suas mãos faziam caricias na pele. Depois de despida, me pegou e colocou na banheira, sem deixar de me fitar com olhar febril e cobiçoso. A urgência com que se aproximou da banheira, me fez desejá-lo com impaciência e ardor. Quando chegamos ao clímax, me levou para o quarto, onde mais uma vez, nos amamos.

Passaram-se alguns dias. Todos descontraídos e em clima de amor. Gabriel, como sempre, parecia indiferente, mas não mais me rejeitava quando lhe procurava. Só isso, já me deixava feliz.

Nesses dias, recebemos as visitas de nossos amigos e minha família. Aos poucos, ia me acostumando com minha nova vida. Às vezes, nem me lembrava que já não estava mais no lar terreno, que não tinha mais um corpo de carne e osso, que agora era um espírito. Eu e Gabriel, saiamos todas as tardes para passear. Algumas vezes, fizemos amor na grama verde, próximo do bosque onde havia a cachoeira.. Gabriel me tratava com tanta frieza, que me cortava o coração. Estava sempre tentando fazê-lo sorrir, ou pelo menos tirar aquele ar carrancudo que não abandonava seu belo rosto. Sua expressão só suavizava quando fazíamos amor. Sabia que para ele, eu não passava de um objeto. Que ele só se lembrava quando queria usá-lo, e depois largava de lado, só pegando novamente na hora de usá-lo.

No começo, tentei me convencer que ele mudaria com o tempo, mas o tempo passava e a cada dia ficava pior. Às vezes ficava revoltada ao pensar que ele fazia de tudo para que o odiasse. O porque, estava para descobrir, mesmo, sem querer saber .

Um certo dia em que havíamos brigado, ele me levou de novo á cachoeira. Mas algo ali havia mudado. No momento não soube direito o quê, mas depois percebi que o clima que sentia ali, era de uma imensa paz, tranqüilidade e harmonia. E agora era um ar carregado, tenso, que lembrava medo. Tudo estava deserto. O silêncio era horripilante. O sol se escondeu de repente e em seu lugar surgiram nuvens escuras, denunciando uma tempestade que se aproximava. O vento passou a soprar velozmente e seu uivo parecia um mau agouro. Gabriel parecia um anjo. Forte, vigoroso... Os cachos de seu cabelo se balançavam ao vento e um sorriso diabólico surgiu em seus lábios, quando pressentiu meu medo. Tentando ignorar o quanto me magoava, vê-lo se divertindo as custas de meu desespero, chamei-o para irmos embora.

_ Porque?- Ele perguntara com falso olhar inocente.

_ Não vê que uma tempestade se aproxima? É melhor procurarmos abrigo!

Ele soltou uma gargalhada que se espalhou com o vento. Pareceu soar como uma ameaça. Estava cada vez mais apavorada.

_ Essa...- Ele começou a dizer e fez um gesto abrangendo a tempestade.- Essa tempestade está dentro de mim! Esse é o fruto do que plantou! Representa tudo que fez.

Não entendi o que quis dizer. Ele parecia tão indestrutível... Parecia um pirata que subia na proa sem temor e deixava que o vento acariciasse seu rosto, como se fosse algo com que lhe dava todos os dias e se acostumara a ela. Era como se desafiasse à fúria da tempestade a o derrubar, se pudesse. Estava totalmente indiferente, como se só eu percebesse que a tempestade se aproximava cada vez mais furiosa. Apesar de ser tardezinha, estava escuro como a noite. Gabriel começou a caminhar em minha direção, com um brilho assassino nos olhos. Assustada, me pus a correr, sabendo-o, atrás de mim. Corri tanto e a uma certa altura, não ouvi mais seus passos pesados e parei de correr. Neste instante, gotas grossas começaram a cair. Olhei em volta e percebi que não sabia onde estava. Minhas lágrimas se misturaram com a chuva que em segundos me deixou ensopada. Recomecei a caminhar e notei uma caverna que poderia me servir de abrigo. Não tive medo de entrar lá, pois não havia animais ali. Pelo menos, nunca tinha os visto. Exausta e ensopada, sentei no fundo da caverna, encostando a cabeça na parede. Não conseguia acreditar no que estava acontecendo comigo. Fechei os olhos e pedi a Deus, que alguém me encontrasse ali. Parei minha oração ao ouvir passos. Abri os olhos já com medo do que veria. Mesmo pressentindo de quem se tratava me assustei quando vi Gabriel parado na entrada da caverna com os braços cruzados. Trazia um sorriso maldoso nos lábios e o mesmo brilho nos olhos. Olhei para os lados. Não havia como fugir. Estava encurralada. Fiquei mais assustada, quando ele começou a se aproximar devagar.

_ Porque me trouxe aqui?- Perguntei tentando ganhar tempo.

_ Não é obvio? Para um passeio...

_ O que quer de mim?- Não permitiria que me tocasse. Não dessa Vez! Não me usaria depois de me ter feito passar por tanto medo.

_ Não seja tola! Se quisesse fazer algo com você, não precisaria trazê-la aqui. Ou se esqueceu que o que passou por essa linda cabecinha, não preciso obter a força? Tenho-a sempre que quero.

Antes de pensar, me levantei como um raio e ergui a mão para esbofeteá-lo, mas não consegui meu intento, pois suas garras de aço já seguravam firme meu pulso.

_ Não tente isso de novo, pois posso lhe garantir que se arrependeria mais tarde. Além do mais nada do que disse foge a verdade.- Ele disse com falsa doçura e galanteio.

_ Você é um arrogante! Um porco! Um sujo!

_ Seus elogios carinhosos não irão te ajudar agora. Pois nem me tocam.

_ Não sei se algo é capaz de tocá-lo! Tem o coração de pedra!

Ele me apertou o pulso com raiva. Tentei me libertar, mas foi em vão. Seus dedos se fecharam como algemas.

_ Um coração não nasce de pedra. Se assim se tornou, pode apostar que algum motivo muito forte obrigou-o a endurecer!- Ele disse entre dentes, parecia tentar conter a fúria que existia dentro dele.- Mas não se importa certo?

O ar ali dentro parecia mais carregado que a tempestade que caia lá fora.

_ Não sei do que esta falando! E me solte, que está me machucando!

_ Essa é a intenção. Mesmo sabendo que nenhuma dor que causar a ti, se comparará com o que me impôs. Nada seria tão grande, quanto à dor que me fez viver.- Seus olhos estavam inundados, mas não sabia se eram lágrimas ou se era a água da chuva que escorria de seus cachos dourados.

_ Mas do que esta falando? O que posso ter feito para feri-lo tanto?

_ Há é. Você não sabe. Pois então, venha. Está na hora de saber.

Ele disse já me arrastando para fora da caverna.

_ Mas, Gabriel, está caindo uma tempestade!

Ele parou e voltou-se.

_ Essa tempestade que vê, na verdade é o que estava escondido dentro de mim. E essa chuva grossa é meu pranto há tempos reprimido e contido. Eis o fruto que o seu amor deixou em mim. Espero que aprecie. É obra sua.

E sem mais cerimônia, saiu me arrastando em meio ao temporal. Quando chegamos à cachoeira ele me soltou, me empurrando violentamente para o lado dela.

_ Beba da água.

_ Mas, foste tu mesmo que disseste para não ...

_ Beba, agora!

Abaixei-me e pondo as mãos em concha tirei um pouco e bebi. A água era fresca e deliciosa, mas me senti um pouco zonza.

Gabriel veio até mim e me levou aos empurrões até o espelho e mandou que o tocasse. Obedeci. Olhei novamente para Gabriel, mas, não o enxergava mais. As lembranças de outras vidas eram claras e dançavam em minha frente.

Gabriel era um príncipe. Um rapaz na casa de dezoito ou dezenove anos.Apesar de ele estar com cabelos negro e muito diferente do Gabriel de agora, Tinha certeza que era ele. E apesar de ser apenas uns três anos mais velha, era bem mais vivida. Era uma pirata.

Nos conhecemos numa festa, onde o pai do príncipe era o anfitrião.(Há essa altura já sabia de todo o enredo daquela história. Já sabia tudo que havia acontecido. Quis parar, mas era impossível. As imagens continuavam claras, como uma acusação e estava obrigada a rever tudo de novo.) .

M e encantei pelo príncipe e ele também parecia encantado. Ninguém naquela recepção poderia imaginar que era um andarilha do mar. Uma fiel pirata. Somente, É claro, meu pai. Meu pai era um duque. Alguém importante na sociedade. Mas secretamente se divertia assaltando barcos que aumentaram sua riqueza, que já era grande. Minha mãe morreu, quando ainda era uma criança e fui criada assim. Em meio a aventuras no meio do oceano. Não me queixava. Amava aquela vida tanto quanto meu pai. Nem tinha recordações de mamãe, nem sequer quis guardar um retrato. Não gostava de pensar ou me lembrar de nada que me parecesse com infortúnio.

Durante a festa, Gabriel, que era na época Tiago, tirou-me para dançar, e mesmo sabendo que não era de bom tom, ficamos juntos a festa inteira. Ao nos despedir, trocamos juras de amor eterno,prometendo que seriamos um do outro para todo o sempre e nunca nos trair, ficaríamos sozinho se não pudéssemos ficar juntos. E acabou que durante alguns anos, nunca mais o vi. Cheguei a procurá-lo em seu palácio, mas seus pais me informaram que havia partido para estudar em outro país.

Decepcionada, voltei ao mar. Fui fiel á ele e jamais namorei alguém, pois tinha esperanças de reencontrá-lo um dia. Mal sabia, que naquele dia, após sete longos anos de separação, ia finalmente o rever, mas não do jeito que sonhava. Não do jeito que o esperava.

_ Barco a vista!- Alguém gritou. Procurei pela luneta e observei feliz que se tratava de um navio de cruzeiro. Provavelmente, haveria muitas riquezas ali. Ganharia a aposta que fizera com meu pai de quem levaria mais riquezas para casa. Foi com essa convicção que mandei que se aproximassem. Armados, com espadas em punho subimos ao convés do outro navio e teve inicio a batalha sangrenta, da qual minha equipe fora vencedora. Enquanto eles saqueavam os vários compartimentos do navio, desci, e enquanto passava por uma das cabinas, ouvi um ruído que me chamou a atenção. Abri violentamente a porta de espada a postos e qual não foi minha surpresa ao descobrir ali, os pais de Tiago. Havia também um outro casal que não conhecia e uma linda jovem vestida de noiva. Fiquei parada e boquiaberta.

_ Débora?

Era a voz de Tiago. Ele me reconheceu, ao passo que sua família não deu sinais de se lembrar... Claro! Eles se lembravam da menina bem vestida e bem educada e bem comportada que usava vestidos caros, não uma moça que assaltava navios e usava calças masculinas.

_ Quem são essas pessoas? – Perguntei com voz firme, me referindo ao casal e a noiva, mas por dentro estava feliz. Havia encontrado meu porto seguro!

_ Esses são meus pais.- Tiago disse apontando o casal de um canto.

_ Esses eu sei! E aqueles?- Perguntei, já imaginando que fossem os pais da noiva.

_ Aqueles são meus sogros, pais de Lúcia... –Ele revelou de cabeça baixa.

Olhei totalmente incrédula para a moça. Ela, ergueu o queixo, desafiadora, me dando mais um motivo para odiá-la. Tiago começou a se aproximar, mas quando percebi que chegava perto levantei a espada em sua direção. Estava em estado de choque. Como ele pôde?! Quebrou o juramento!

_ Porque não me disse que era uma ... Pirata?- Ele perguntou acusador, enquanto parava ante a ameaça da espada.

_ Não lhe devo satisfações! E não se aproxime!- Disse quando ele dava mais um passo em minha direção e ele parou imediatamente.

Apontei a espada para a jovem. Todos permaneciam em absoluto silencio.

_ Casou-se com ela?

_ Sim. Casei-me.

Senti uma dor atravessar meu coração.

_ Você me traiu...- A voz saiu distante.

_ Não.

_ Como pôde quebrar o juramento? Por causa de uma bonequinha de porcelana?

_ Não sou uma bonequinha de porcelana!

_ Cale sua maldita boca, ou a corto e jogo aos tubarões!

_ Débora, éramos muito jovens...

_ Traidor!

_ Precisa entender... Nunca mais apareceu. Procurei-a durante anos, mas não sabia onde achá-la. Precisava me casar. Não podia mais esperar. Como futuro rei, preciso ter um herdeiro. É minha obrigação. Além do mais, a essas alturas, pensei que já estivesse casada e com filhos. Pensei que havia me esquecido...

_ Jamais te esquecerei...- Uma lágrima rolou involuntária por meu rosto, mas minha expressão permanecia impenetrável.

_ Sinto muito.- Ele disse sincero e outras lágrimas caíram.

_ Irá sentir! Sentirá muito mais! Se arrependerá de sua traição! Essa é uma promessa, Tiago. E ao contrário de "vossa majestade", cumpro minhas promessas.