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Resultado do concurso de beleza

Os alunos formavam filas indianas no pátio, separados de acordo com a turma parecendo uma tropa do exército. Em um palco montado, a coordenadora da escola fazia um discurso sobre o objetivo por trás do concurso de beleza. Theodore sentia-se ansioso de alguma forma olhando de relance para a fila do primeiro ano, onde podia enxergar Lilian. A garota acenava docemente de longe, aumentando o nervosismo de Theodore.

O objetivo do concurso era promover o time de vôlei durante as eliminatórias, mostrando para o público o quão divertido era estudar em Montreal. Uma propaganda gratuita basicamente. Quando Lilian havia comentado sobre um festival que sucederia o concurso, imaginava algo completamente diferente do que a festa junina aberta para o bairro.

De toda forma os objetivos foram concluídos. O primeiro ano realizou a torcida chamando atenção dos estudantes de outra classe, e quando acontecera as finais, Montreal dominara as arquibancadas. A coordenadora fazia extenso discurso em agradecimento, já que a escola continha uma fila de espera grandinha até.

— Muito bem, eu sei que vocês querem sabe o resultado ao invés de ficarem me ouvindo. — Ria a coordenadora, balançando o envelope lacrado com o nome do vencedor. Criando uma atmosfera de suspense, ela abria o envelope e lia o nome sorrindo amplamente. — E o vencedor masculino é... Do terceiro ano, Milles Mckenzie!

O suspiro de alívio que Theodore soltara fora acobertado pelas palmas e vivas que os estudantes davam ao vencedor. O ômega ria baixo se unindo aos demais ao bater palmas, assistindo o alfa subir até o palco e receber uma coroa de plástico na cabeça. Quando Milles virou-se comemorando explodindo de sua aura carismática, o fã clube dele logo respondera com gritinhos eufóricos.

Naquele quesito, nada havia mudado.

Apesar de Milles andar ao lado de Nicolas, o alfa continuava sendo popular e as garotas se mantinham fiéis na torcida. Ignoravam por completo a presença do capitão do time, até que alguma bola de vôlei escapasse na direção delas.

A única coisa que mudara fora... Sadie e Milles não se falavam. O castigo que a escola lhe dera fora abandonar o comitê organizacional da festa junina para dar aulas de reforço à alguns primeiranistas. Poderiam haver mais castigos dado a ela e Thunder, mas Theodore não conseguira descobrir por mais.

Além disso, a popularidade da garota desandara depois daquele dia. Muitas pessoas que costumavam estar se reunindo na fonte antes das aulas para bajularem a caçula dos Mckenzie mal lhe davam atenção. Em compensação, permaneciam os mesmos com Milles. Era um tanto quanto triste ver Sadie sozinha nos intervalos, sumindo para algum canto escondido da escola.

Parecia que até Thunder teria se afastado dela por causa de alguma briga. O jogador andava cabisbaixo nos últimos dias durante os treinos.

De toda forma o que aliviava era saber que para Nicolas e Milles as coisas não pareciam ter desandado. A vida continuava.

Depois que a vencedora feminina fora anunciada, a coordenadora anunciara o prêmio que era um televisão na sala de aula e um curso de informática para toda a turma pela qual representavam. Uma pena que sua turma não fora prestigiada também, mas Theodore não se abalara com o resultado.

Liberado os alunos do anúncio para realizarem os ensaios da quadrilha, Theodore assistia de longe encostado em uma parede junto de Lilian.

— Desculpa não ter vencido.

— Tudo bem, consegui o que queria. — Sorria a garota observando o ensaio de sua própria turma. — Quando entrei aqui fiquei muito feliz de te reencontrar, mas senti de cara que alguma coisa estava errada. Depois descobri que um colega era ômega... O problema que a escola tinha com a classe... Não consegui ficar calada.

Theodore soltava um riso baixo. Aquela garota era cheia de planos mirabolantes, da qual se esforçava ao máximo para cumpri-los. Era até impressionante o quanto Lilian criava estratégias para conseguir o resultado que queria.

— Se tivesse me dito isso antes, teria te ajudado com mais afinco.

— Nhé... Provavelmente você recusaria. Pra ser sincera eu estava esperando algo como um protesto. Mas aquela garota mudou meus planos.

— Você aproveitou que o Nicolas foi exposto?

Lilian erguia o indicador sobre os lábios em um pedido de silêncio, e Theodore ficara ainda mais chocado. Uma coisa ela tinha razão, se tivesse dito desde o começo que gostaria de mudar a cultura da escola sobre o modo de tratarem ômegas, ele não aceitaria. Pensaria que não daria certo, esforço jogado fora somado ao medo de ser ainda mais ridicularizado. Contudo Lilian fora sorrateira, aproveitando a oportunidade das partidas para criar uma torcida organizada e observar atentamente como Theodore se relacionava com outras pessoas.

No fim, a melhor chance pra causar uma revolução escolar caíra de paraquedas em suas mãos.

Certamente uma garota digna de ser do FBI americano.

— Então as coisas terminam desse jeito?

— Foi bom enquanto durou. — Se espreguiçava a garota. — Agora só nos resta observar como a banda vai tocar daqui em diante.

Theodore ouvia a música da quadrilha tocar pelos alto falantes. Assistindo os alunos seguirem a coreografia ficava a imaginar se no ano seguinte seria capaz de vir na festa junina. Quer dizer, não que fosse morrer ou algo assim. Estava imaginando com qual companhia contaria.

Ainda estaria com Gabriel?

Estaria junto de uma criança?

Umedecendo os lábios, Theodore balançava a cabeça desviando o olhar para seus pés. A última coisa que gostaria de pensar era algo assustador como aquilo.

— Querubim, você tem estado estranho ultimamente.

— É cansaço. — Dissera a mentira da qual se acostumara a contar nos últimos dias.

Lilian o encarara atentamente e então cruzara os braços ao virar-se para o ômega. Um espreitar de olhos digno de um felino, passando a sensação de estar sendo julgado por Lilian.

— Pode confiar em mim, sabe disso. Prometo que não vou te julgar.

O rapaz abria um sorriso leve ao escutá-la dizer aquelas palavras. Sabia muito bem que ela jamais o julgaria. Lilian escutava suas reclamações e sonhos sobre Gabriel desde que se conheceram. Ou melhor, desde que ela percebeu que Theodore estava afim de Gabriel.

Isso não seria uma prova de que ele não era capaz de mentir para Lilian?

Em um suspiro, Theodore logo começara a contar sobre a gravidez. Lilian arregalava os olhos apesar de não dizer uma palavra sequer. Só escutando, mais uma vez, as reclamações do ômega sobre as mudanças repentinas em seu corpo, dos seus receios e medos, das inseguranças... Mas principalmente do temor em que Gabriel perca o interesse em si.

— Por que ele deixaria te amar?

— Eu vou ficar gordo, já estou sensível demais isso é irritante até pra mim... E quando nossos pais souberem disso, com certeza vão brigar com a gente.

— É claro que vão brigar, eles são seus pais. A preocupação deles é genuína. Deveria ficar preocupado se eles batem palmas e dizem amém.

Theodore rira baixo concordando com a cabeça.

— Isso é verdade. Minha mãe me trata bem, mas quando começo a reclamar ela já fala que eu tenho que lidar com isso. É uma bronca, certo?

— Se dependesse dos adultos eles viveriam por nós, evitando os problemas que eles devem ter enfrentado em nossa idade. Pelo menos foi o que minha mãe disse um dia. — Sorria Lilian chutando uma pedrinha. — Acho que ficar ansioso demais por isso é perda de tempo. A única coisa que você tem garantido é um não. Tem coisa pior do que isso?

Theodore meneou a cabeça sem conseguir pensar em nada. Realmente, o máximo que receberia era uma negativa. Tal como da vez em que falara sobre sua orientação sexual pela primeira vez. Recebera um não, em forma agressiva de certo, mas ainda assim uma negativa. Independente da resposta que tivera, Theodore continuou sendo ele mesmo e até chegara naquele ponto. Um ômega gay.

Como foram as palavras de Nicolas no outro dia? Sou um ômega gay com orgulho, e daí? Theodore já havia vestido aquela camisa há tempos. Ainda assim o problema era outro.

— As vezes penso que quando os outros olham pra mim eles já sabem que estou grávido. Sinto o peso do julgamento deles me dando vontade de fugir, sabe? Tipo, que estou jogando minha vida fora, que fui precipitado. Não soube me cuidar... Que eu deveria ter vergonha.

— Hm... O medo do julgamento. Para alguém que passou um ano sendo julgado, você ainda tem medo.

— Justamente por saber que é horrível.

— Sabe Theo, isso não significa que você concorda com o julgamento dos outros?

Theodore erguera os olhos claros para a garota, percebendo sua serenidade sem qualquer rastro de malícia ou até mesmo de sermão. Por um instante tivera o lampejo de que uma ferida seria cutucada. Algo que o incomodava prestes a se tornar consciente.

— Como assim?

— Não tem como você saber o que os outros pensam. Então, se você teme o julgamento vindo dos outros, não seria um sinal de que concorda com isso? — Tendo os olhos claros da garota sobre os seus, Theodore sentira um arrepio passar pela espinha — Não seria você quem acha a sua situação vergonhosa?

Seu coração chegara a acelerar. O espanto era visível no rosto do ômega, que engolia em seco sentindo o nó formado na garganta.

Ele estava com vergonha?

Ele achava aquela situação vergonhosa?

Bem... Estava tentando manter em segredo sua gestação. E as blusas que pedia emprestado de Gabriel ficavam grandes o suficiente para que sua barriga não fosse notada. Desde então temia os olhares, querendo se manter escondido.

De vergonha.

Abrindo um sorriso nervoso, Theodore coçava a nuca ao se dar conta de que Lilian tinha razão. Tinha medo do que as pessoas iriam pensar, sendo que era ele quem estava pensando naquilo. Era ele quem estava se recriminando o tempo todo.

— Acho que tem razão... É confuso.

— Pessoas irão falar de você querendo ou não. Isso tá fora do seu controle. O único conselho que posso te dar é, faça aquilo que não se arrependa no futuro.

— Ei, Moss finalmente te achei — Gritava o professor Marcos, acenando de longe chamando o garoto. — Consegui informações sobre o time que vamos jogar semana que vem, pode vir aqui comigo por um instante?

Lilian empurrara o ômega em direção do professor, acenando docemente quando Theodore a olhara sobre o ombro. Apesar de todo o seu trabalho para que aquele ômega saísse do seu esconderijo, parecia que a gravidez fora o suficiente para destruir todo o seu empenho em ponderá-lo. O que era uma pena, pois ele estava prestes a se tornar uma pessoa gloriosa.

Tão vibrante quanto seu melhor amigo.

— Ei Lilian, o que estavam conversando? — Questionava Sam ao se aproximar da garota olhando em direção de Theodore.

— Nosso querubim estava tristonho por não ter ganho o concurso. Devo ter colocado muita pressão nele.

— Ah, mas o que vale é participar.

— Pois é. Bem, depois levanto sua moral. — Dissera Lilian prestes a se reunir com o restante de sua turma. Porém, Sam segurou seu pulso a impedindo de continuar.

Quando os olhos claros da garota viraram-se para o rapaz, ela percebia seu rosto avermelhado.

— É... Eu fiquei sem par na quadrilha. Você não quer fazer par comigo?

Lilian olhara para os estudantes que ensaiavam a quadrilha, depois olhava para seu pulso que ainda era segurado por Sam, em seguida fitara seu rosto. Abrindo um sorriso, ela concordava com a cabeça.

— Claro, o importante é participar, não é?