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Life: Uma história, cinco personagens.

A estudante de classe alta, o advogado frustrado, a aspirante a compositora, o calouro de engenharia e a irresponsável vice-presidente. Conheça LIFE, um drama/comédia que acompanha um pouco da trajetória de cinco pessoas distintas, enquanto acertam e erram nesse jogo chamado vida. ATENÇÃO CONTEÚDO ADULTO! Esta história contém: palavras de baixo calão, ingestão de bebidas alcoólicas, prostituição, cenas de sexo e insinuação de sexo.

ordinary_writer · Urban
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10 Chs

Luciana

Olhava para as fotos no celular e para o pequeno apartamento sem conseguir achar qualquer semelhança.

— É... No anúncio dizia que ele tinha acabado de ser reformado — disse um pouco tímida para a proprietária do lugar, Marta.

— Quando eu coloquei o anúncio na internet, ele realmente tinha acabado de ser reformado — respondeu enquanto tentava abrir a janela da cozinha que estava emperrada.

— E quanto tempo faz isso? — perguntou olhando em volta sem acreditar que aquele apartamento tivesse sido algum dia reformado.

— Uns sete anos, eu acho... — disse depois de conseguir abrir a janela veneziana, tão antiga que já estava enferrujando em alguns lugares.

— Eu acho que não vou conseguir fechar ela depois — disse seguindo Marta, que já estava indo embora.

— Você dá um jeito — abriu a porta para sair.

— Espera! — Marta virou-se para encará-la. Era um pouco maior que Luciana e bem mais gorda, aparentava ter uns 50 anos, tinha um cabelo curto e preto com alguns fios brancos. — No anúncio dizia que o comércio embaixo do apartamento era uma sorveteria e não um... um...

— Um bordel? — perguntou rindo. — Novamente, eu coloquei o anúncio há 7 anos atrás, as coisas mudam, ok? Mais alguma coisa? — perguntou impaciente e Luciana apenas respondeu fazendo não com a cabeça. — Ótimo! Ah, e não esqueça de sempre manter essa porta trancada, não só com a chave, mas com os dois ferrolhos também, entendeu?

— Sim... Mas por quê? Aqui é muito perigoso? — perguntou e Marta só fez rir como se aquilo fosse a pergunta mais estúpida que já tivessem feito pra ela.

— Você irá descobrir... — disse saindo logo em seguida. O que fez Luciana trancar a porta rapidamente com ferrolho e tudo.

Agora sozinha, olhava em volta se esforçando ao máximo para se manter otimista.

— O que você achava? Que já ia chegar aqui e morar num apartamento de luxo? Mas é claro que não — disse para si mesma. — Todo mundo começa de baixo, daqui há algum tempo você vai lembrar disso e vai rir... Por mais que agora não tenha nenhuma graça.

O apartamento só tinha dois cômodos: a cozinha/sala e o quarto com suíte. As paredes de ambos os cômodos eram verde-claro, descascando em vários lugares, o apartamento era forrado, mas com enormes marcas de infiltração em todos os cantos do teto.

— Vai ser só por um tempo, só até eu me ajeitar — disse, pegando suas malas e levando-as para o quarto. Quando chegou lá, seu celular tocou, era sua mãe. — Oi, mãe! — tentou parecer animada.

— E aí? Como é o apartamento?

— É ótimo! — mentiu.

— Manda foto pra eu ver!

— Claro, mas é... A bateria do meu celular está acabando — respondeu inventando a primeira desculpa que apareceu em sua cabeça.

— Ah sim, então depois a gente se fala, beijos filha!

— Beijos, tchau — desligou.

Não queria ter mentido pra ela, mas também não queria preocupá-la. O apartamento podia ser uma bosta, mas era seu, sua responsabilidade, não havia saído de sua cidade do outro lado país para ficar choramingando pra mamãe na primeira complicação. Todos já haviam alertado das dificuldades, que a metrópole não era igual a sua modesta cidade, que ela estaria sozinha lá já que não teria nenhum parente por perto. Mas nada disso a fez mudar de ideia, precisava fazer aquilo, tinha um sonho.

Desde pequena sempre gostou de escrever músicas, guardava até um caderno com todas elas. Na adolescência havia aprendido a tocar violão e a ler partituras sozinha, estudou em uma escola de música por um tempo, mas como era a única escola desse tipo em sua cidade acabou sendo muito cara para seus pais pagarem, então, depois de 5 meses, teve de sair. Terminou o ensino médio e começou a fazer uma faculdade qualquer na tentativa de esquecer esse sonho impossível. Até o dia em que decidiu largar a faculdade e arrumar um emprego para juntar dinheiro. Tinha na sua conta poupança a quantia exata de 2 anos de trabalho, que teria que durar até que ela arrumasse outro emprego na nova cidade.

— Acho que as compras vão ficar pra amanhã... — pensou olhando o céu escurecendo da janela do quarto. Abaixou-se para abrir as malas e pegar shampoo, condicionador e uma toalha, precisava desesperadamente lavar o cabelo castanho-escuro e liso, que tinha passado o dia todo preso num coque.

Depois do banho de água gelada, pois o chuveiro elétrico não estava funcionando, decidiu ir atrás de uma lanchonete. Desceu as escadas já escutando a música eletrônica que vinha do bordel, e assim que abriu o pequeno portão de ferro deu de cara com uma fila gigantesca tanto de homens como de mulheres.

— Com licença — pediu para dois caras na fila sem olhá-los, passando por eles rapidamente assim que eles abriram espaço. Atravessou a rua tentando avistar alguma lanchonete. — Por favor, que eu não tenha saído de casa em vão — pensou e em seguida olhou para o fim da rua e viu uma placa de pizzaria. — Melhor do que nada.

Chegando na pizzaria, não quis demorar muito então pediu uma pizza grande e um refrigerante pra viagem. E fez questão de perguntar se eles faziam entrega e de pegar o cartão deles. Na volta pra casa, torceu para que aquela fila não estivesse mais em frente ao seu portão. E quando chegou lá, realmente não estava, mas o som estava mais alto do que nunca.

— Ei, você! — chamou uma mulher fazendo Luciana levar um susto. — Calma, princesa — riu aproximando-se. — Meu nome é Thalyta, você é a nova moradora, né?

— Sim... — respondeu desconfiada. — O meu é Luciana.

— Prazer — apertou sua mão. — Já tinha muito tempo que ninguém alugava aquele muquifo, eu mesmo já tive interesse, mas depois que entrei lá... — riu.

— Eu não sabia que ele estava naquele estado — disse um pouco nervosa. — Não sou daqui...

— Hum... Então a Marta te passou a perna? — riu novamente. Ela era mais alta e mais magra que Luciana, tinha um cabelo repicado que batia nos ombros, castanho-avermelhado. Usava uma mini saia cintura alta, colada e uma cropped de renda com alça. — Fica esperta com aquela velha — piscou para ela logo depois de uma caminhonete preta parar em frente ao bordel e buzinar. — A gente se vê por aí, vizinha — disse indo em direção à caminhonete. Luciana ainda ficou parada no mesmo lugar muito depois de Thalyta entrar na caminhonete e ir embora. Ela nunca havia conhecido ou visto nenhuma acompanhante em sua vida, aquela realidade era completamente nova para ela, o que a deixava um pouco nervosa, pois não sabia o que pensar a respeito. Mas havia gostado de Thalyta, por mais breve que tenha sido a conversa entre elas.

* * * * * *

O despertador de seu celular tocou às 7h da manhã, mas Luciana já estava acordada. Na verdade, nem tinha dormido, o som alto do bordel se estendeu até às 2h da manhã e quando pensou que finalmente teria paz, uma onda de gemidos e gritos começou e só parou umas 3 horas depois. Teria que conversar com o dono do local.

— Depois que eu voltar — decidiu levantando-se do chão, já que ainda não tinha cama, apenas forrou o chão com um pano e torceu para que aquela noite passasse depressa.

Chegou no ponto de ônibus e ainda esperou uns 10 minutos pelo ônibus. Assim que entrou pegou o dinheiro para entregar para o motorista.

— A gente não aceita dinheiro não, cadê o seu cartão? — perguntou o motorista sem olhá-la.

— Eu não tenho... Eu acabei de me mudar — disse olhando para os lados, percebendo que todos estavam olhando pra ela.

— Tá trocado? — gritou uma senhora sentada em uns dos bancos da frente.

— Não, mas pode ficar com o troco — respondeu e a senhora se levantou para passá-la com o seu cartão. Depois de agradecê-la andou com dificuldade até o final do ônibus onde conseguiu ver um banco vazio.

Conforme o tempo foi passando o ônibus foi enchendo cada vez mais e ainda não estava nem perto do centro da cidade. Luciana já estava ficando impaciente e arrependendo-se de ter ido com uma blusa de manga comprida, pois já estava bastante abafado lá dentro. Resolveu olhar para a janela tentando se distrair, mas acabou pegando no sono.

Acordou assustada levantando-se rapidamente e percebendo que só havia umas cinco pessoas dentro do ônibus. Perguntou para uma delas se faltava muito para chegar no centro.

— Centro? Nós já passamos de lá faz é tempo, moça — respondeu um senhor, fazendo Luciana entrar em pânico.

Desceu do ônibus logo depois, sem fazer a menor ideia de onde estava. Pegou o celular e viu que já passava das 10h.

— Ok, eu preciso ficar calma... Primeiro eu vou comer alguma coisa antes que eu desmaie — pensou já olhando para os lados procurando uma lanchonete. — E depois eu vou pedir informação.

Depois de muita procura, achou uma lanchonete onde descobriu que estava há meia hora do centro. Foi a pé até lá, sentindo sua blusa começar a ficar molhada de suor nas costas — Maldito bordel que não me deixou dormir! — xingou mentalmente.

Queria ir ao centro por dois motivos: para comprar os móveis que precisava para seu "novo" apartamento e para arrumar um emprego, pois não podia se dar ao luxo de pensar que já conseguiria logo de cara uma carreira como compositora assim que chegasse. Então, assim que começou a avistar algumas lojas de roupas, não perdeu tempo e saiu entregando seu currículo. Algumas aceitavam de bom grado, mas outras a olhavam com uma cara que Luciana sabia que iriam jogar seu currículo fora assim que ela virasse as costas.

Quando já estava morta de cansaço e sede, chegou onde queria. Passou por várias lojas de móveis procurando pelo menor preço até finalmente comprar alguma coisa. No final, havia comprado um fogão 4 bocas, uma geladeira de uma porta, um pequeno armário para a cozinha, uma mesa de jantar pequena e quadrada, um guarda-roupa de solteiro, uma máquina de lavar e uma cama de casal.

— Foda-se, eu mereço uma cama de casal — pensou enquanto escolhia a mais barata.

Pagou mais de 3 mil reais à vista com seu cartão poupança, quase chorando. — Eu preciso arrumar um emprego... — pensou indo até um ponto de ônibus com os pés doloridos de tanto andar. Mais vinte minutos até o ônibus chegar e quase duas horas dentro dele, em pé com ele mais lotado do que antes.

Quando desceu já estava escurecendo e já podia ouvir a música alta vindo do bordel. Apressou o passo e viu a longa fila lá novamente.

— Com licença, eu gostaria de falar com o dono do lugar — disse para o segurança que estava na porta do bordel.

— Vinte reais — respondeu encarando-a.

— O que? — perguntou sem entender.

— Pra entrar são vinte reais.

— Não... Você não entendeu, eu não quero entrar, eu quero conversar com o dono! — disse impaciente.

— Mas pra conversar com o dono você precisa entrar e para entrar são vinte reais — disse calmamente.

— Mas isso é ridículo! — aumentou o tom de voz. Estava esgotada, havia tido o dia mais cansativo de sua vida e estava completamente sem paciência para lidar com aquilo.

— Ei, vizinha! Relaxa, Robson, ela tá comigo — disse Thalyta, e o segurança a olhou por um tempo e se afastou. — Nossa, você tá com uma cara horrível, o que aconteceu?

— Eu tive que sair e... eu não sabia que aqui ficava tão longe do centro! — disse irritada. — Eu demorei um dia inteiro só pra ir até lá e voltar!

— Bem-vinda à cidade grande! — disse abrindo os braços sorrindo. — Meu conselho é compre um carro ou se mude para um lugar mais perto.

— E quando você não tem dinheiro para fazer nenhum dos dois? — perguntou frustrada.

— Então você se fode — riu.

— Enfim... Eu preciso falar com o dono daqui, ontem eu não dormi nada por causa dos... dos barulhos.

— É dona e eu te levo até ela... — pegou a mão dela e a levou para dentro do bordel.

* * * * * *

À primeira vista, o bordel lembrava uma boate comum, com a única diferença de que lá havia várias mulheres seminuas tanto desfilando pelo lugar quanto dançando pole dance num palco que ficava no centro do salão. Também havia um bar num canto e alguns sofás, além de mesas espalhadas. Luciana viu também algumas garotas levando caras para uma porta vai e vem que dava para um corredor com outras portas. — Provavelmente lá devem ser os quartos.

— Barbie, essa é a Luciana a nova vizinha, ela quer falar com você — disse Thalyta depois de parar em frente a uma das mesas.

— Luciana, é? — levantou-se analisando-a. Ela devia ter uns quarenta e poucos, tinha um cabelo loiro e olhos azuis. Usava um vestido vermelho colado e com um decote generoso. Era a única mulher da mesa onde estavam mais três homens sentados, todos de terno. - Corpo bom, morena... Esse seu cabelo é natural?

— Sim... — respondeu estranhando aquela situação.

— Quantos anos você tem? Já vou avisando que eu não contrato garotas com menos de 18!

— Peraí, o que? — perguntou alto enquanto Thalyta começava a rir.

— Se ela for de maior eu vou querer ser o primeiro a experimentar... — disse um dos caras piscando para ela fazendo-a ficar completamente vermelha.

— Não eu... eu não... — engasgou-se com as palavras de tão nervosa enquanto Thalyta tinha um ataque de risos. — Eu não vim aqui para virar... acompanhante!

— Tem certeza? — perguntou o mesmo cara.

— Tenho! — respondeu impaciente. — Eu vim aqui porque... o barulho que vocês estão fazendo aqui de madrugada está me impedindo de dormir!

— E o que você espera que eu faça a respeito? — perguntou Barbie ainda em pé.

— Alguma coisa! Você é a dona daqui! — irritou-se. — Existe uma coisa chamada Lei do Silêncio, e eu tenho certeza que você está infringindo-a!

— Ui! Viu só, rapazes? — virou-se pra eles. — Ela conhece as leis!

— Estou cada vez mais interessado... — disse o mesmo cara sorrindo pra ela que apenas o ignorou dessa vez.

— Olha, eu tive um dia péssimo hoje.... Então, se for pra você ficar me zoando eu vou sair daqui, porque eu tenho mais o que fazer! — disse querendo ir embora.

— Calma aí! — disse Barbie segurando o braço de Luciana. — Você tá muito estressada...

— Se me permitir, eu posso aliviar esse estresse — o cara novamente, fazendo Luciana não saber se ele realmente estava interessado nela ou só curtindo com a sua cara. Ele era o mais novo dos três, tinha um cabelo castanho-claro, liso e penteado pra trás.

— Não, obrigada — disse irritada, olhando para Barbie. — Você vai fazer alguma coisa ou não?

— Só porque eu gostei de você e pelo visto, um dos meus clientes também — disse dando uma olhada rápida no cara. — Eu vou começar a baixar a música a partir das 23h, pode ser?

— Ok... E quanto aos... — encarou Barbie esperando que ela entendesse.

— Ah, meu amor, aí você vai me desculpar, mas eu não posso fazer nada em relação a isso — sorriu. — Isso aqui é um bordel! Devia ter pensado nisso antes de ter se mudado pra cá... — piscou pra ela.

Oi, sumida!! kkkk

Desculpem a demora para postar os capítulos, final de ano foi meio corrido e em janeiro eu tive que arrancar meus 4 sisos :(

Mas eu estou de volta : D

Muito obrigada por esperarem até agora!

Bjs e até semana que vem <3 <3

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