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No final do outono de 2001, um parque tranquilo em uma área residencial de New Jersey se transforma em um cenário encantador com o toque suave da neve recém-caída.
O manto branco cobre delicadamente o ambiente, criando uma atmosfera serena e pacífica. O ar gelado contrasta com o calor das casas próximas, criando uma sensação de aconchego.
Entre os bancos e árvores, algumas crianças aproveitam a neve para brincar. Seus risos e gritos de alegria ecoaram pelo parque, contrastando com a quietude do cenário.
Alguns fazem anjos de neve no chão macio, enquanto outros formam bolas de neve para uma batalha amigável. O ar está impregnado com a energia contagiante da infância, enquanto os pequenos exploradores criam memórias preciosas sob o manto branco do outono tardio.
Entre as crianças brincando no parque, uma se destaca imediatamente. Um garoto de cerca de oito anos chama a atenção com seus cabelos cinza platinado, uma característica incomum que contrasta com a paisagem branca ao seu redor. Sua aparência é cativante, emanando uma aura de quietude e maturidade em contraste com as demais crianças.
Apesar de estar apenas com agasalhos relativamente simples, quando comparados aos das outras crianças, ele não parece sentir o frio cortante do outono.O garoto parece estar em seu próprio mundo, desconectado com o clima ao seu redor.
Enquanto as outras crianças mergulham nas brincadeiras, esse garoto observa com uma calma distante, sua expressão quase impenetrável. Poucos sorrisos escapam de seus lábios, geralmente quando ele acena para duas garotas brincando um pouco distante das demais.
As duas garotas, com cerca de cinco anos de idade, chamam a atenção com seus cabelos negros adornados com mechas turquesa e carmesim, respectivamente.
Juntas, elas se divertem empilhando a neve e esculpindo pequenas obras de arte. De vez em quando, elas chamam o garoto para mostrar seus trabalhos.
Apesar de sua aparente indiferença, o garoto sorri carinhosamente cada vez que é convocado pelas meninas.
Ele elogia suas criações com sinceridade, demonstrando um cuidado discreto. Enquanto isso, seus olhos permanecem vigilantes, sempre atentos ao ambiente ao redor, garantindo a segurança das duas pequenas em meio à brincadeira.
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Com o som suave de passos se aproximando, o garoto vira ligeiramente a cabeça para o recém-chegado.
Um homem idoso chegou, seu sorriso gentil iluminando seu rosto marcado pelo tempo. Seus cabelos e barba brancos são como vestígios da sabedoria acumulada ao longo dos anos, enquanto sua postura um tanto curvada é compensada pela firmeza perceptível em seus passos.
Com um aceno caloroso e um sorriso, o homem se aproxima, irradiando uma presença reconfortante e acolhedora, como se já conhecesse o garoto desde sempre.
O garoto, visivelmente incomodado, estala a língua em aborrecimento ao ver o velhinho se aproximar. Sua expressão se fecha em descontentamento enquanto ele reclama: "Por que você está aqui de novo, velho? O que é agora? Já disse para me deixar em paz."
O idoso, longe de se ofender, parece se divertir com a reação do garoto. Seu sorriso permanece tranquilo e paciente enquanto ele responde: "Oh, estava apenas dando um passeio perto de casa e te vi por acaso. Não é como se eu estivesse te seguindo ou algo do tipo."
O garoto olha sem palavras para o senhor de idade, claramente sem levar a sério. O velho continua com um sorriso amigável, parecendo se divertir com a reação do garoto: "O que foi? Não é realmente difícil te reconhecer, não é todo mundo que tem cabelos grisalhos na sua idade. Você se destaca bastante com os cabelos brilhantes."
O garoto franziu a testa em descontentamento, cobrindo a cabeça com o capuz do agasalho enquanto murmurava suas reclamações, ainda não completamente convencido pelas palavras do velho.
O senhor observa a reação do garoto com serenidade, seu sorriso permanece inabalável. "Além disso, você é a única criança que eu conheci que não usa um casaco acolchoado em uma temperatura tão baixa."
A observação do velho parece tocar em algo profundo dentro do garoto, sua expressão vacilando entre a teimosia e frustração. O garoto se encolhe ligeiramente de frustração, suas mãos cerradas em punhos enquanto ele olha para o velho com olhos estreitos.
Sua expressão é uma mistura de raiva contida e desafio quando ele comenta, com um leve tom de provocação: "Tenho certeza que também sou o único garoto que pode quebrar um adulto forte na porrada, certo? O que acha?"
O velho tosse ligeiramente, um riso nervoso escapando de seus lábios enquanto ele desvia o olhar como se não desse muita importância ao comentário desafiador do garoto. "Com certeza, você precisa melhorar seu temperamento. Para que se estressar com um pobre velho que só veio conversar?"
O garoto, ainda sentindo a ira pulsar dentro de si, cerrou os punhos com mais força diante da resposta provocadora do velho. Um sorriso perigoso brinca em seus lábios enquanto uma veia pulsante surge em sua testa, indicando sua luta interna para conter sua raiva crescente. Por um momento, parece que ele está à beira de dar um soco.
Entretanto, o velho parece ser um Mestre na 'Antiga Arte da Dissipação de Conflitos'. Com uma habilidade sutil, ele desvia a atenção do garoto e muda o tom da conversa. "Bem, certo. Já que você parece com bastante energia e bom humor, por que não conversamos um pouco?" Sem esperar pela resposta do garoto, ele dá um passo ao lado e se senta em um banco do parque, direcionando seu olhar para a distância.
O garoto responde com uma firmeza inabalável: "Não estou interessado." Ele se senta ao lado do velho no banco, mantendo uma postura rígida, mas ainda assim, abrindo-se para a possibilidade de diálogo.
O velho, parece persistente a quebrar a barreira entre eles e insiste com um sorriso amigável enquanto olha para o parque com um sorriso: "Tem certeza? Pode ser divertido. Conheço um ótimo lugar por aqui perto que tem um chocolate quente muito bom, e o clima está perfeito para isso."
O garoto estava prestes a recusar a oferta do velho, mas algo o faz mudar de ideia. Seguindo o olhar do velho, ele volta sua atenção para as duas crianças brincando com a neve um pouco mais distantes.
As meninas, percebendo o olhar do garoto, pararam suas brincadeiras e acenam com sorrisos calorosos enquanto correm em sua direção.
"Irmão, a neve é muito divertida. Venha brincar também," diz uma das garotas, radiante de entusiasmo.
"Sim! E é muito fofa quando se faz um montinho. Vamos pular juntos!" complementa a outra, com um brilho de animação nos olhos.
A simples alegria e inocência das meninas são contagiantes, e o garoto sente seu coração se aquecer com o convite amigável.
Antes que pudesse responder a fala das suas irmãzinhas, o velho tomou a dianteira. "Eu estava conversando com seu irmão mais velho e decidimos levar as duas para tomar chocolate quente."
O garoto congela, surpreso com a declaração do velho. Ele fica sem palavras por um momento, pronto para recusar, mas é interrompido pelo entusiasmo das irmãs.
"Sim! Vamos, irmão, vai ser tão divertido!" exclama uma das garotas, com mechas turquesa sem seu cabelo, seus olhos brilhando de animação.
O garoto engoliu em seco, as palavras de negação presas em sua garganta. Ele olha para as duas pequenas, sentindo um misto de responsabilidade e carinho por elas.
Com um gesto silencioso, ele acena enquanto acaricia gentilmente a cabeça das meninas, resignando-se ao convite e à ideia de compartilhar um momento especial com as irmãs.
Mas mesmo o garoto concordando com o pedido das pequenas, seu olhar para o senhor de idade carrega uma leve ameaça. O senhor de idade, por sua vez, simplesmente ignora o olhar do garoto, respondendo com um sorriso gentil enquanto começa a falar sobre a cafetina com entusiasmo.
"Esta é a minha cafeteria favorita em toda a região", diz o velho, com uma ponta de nostalgia na voz. "Eles têm o melhor chocolate quente da cidade, tenho certeza de que vocês vão adorar."
O garoto responde com um aceno silencioso, ainda mantendo uma postura um tanto rígida. No entanto, ele permite que sua curiosidade se sobreponha à desconfiança enquanto segue o velho, acompanhado pelas duas irmãs, até a cafeteria que não está tão longe dali.
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Depois de algum tempo eles chegam na cafeteria, que recebe o grupo com uma atmosfera acolhedora e convidativa. As duas garotas, radiantes de entusiasmo e curiosidade, observam o ambiente novo com olhos brilhantes.
Elas apreciam cada detalhe, desde a decoração aconchegante até o aroma tentador de café recém-preparado. Seus sorrisos contagiantes refletem a excitação de explorar um novo lugar.
Enquanto isso, o garoto de cabelos grisalhos parece adotar uma postura mais reservada. Seus olhos, ligeiramente frios e investigativos, percorrem o ambiente com um olhar de julgamento. Nenhum detalhe passa despercebido por sua análise meticulosa, sua expressão revelando uma mistura de cautela e desconfiança.
O senhor de idade, no entanto, parece completamente à vontade. Com um gesto casual, ele indica uma mesa no canto da cafeteria para o grupo se acomodar. Em seguida, ele se encaminha para os fundos da cafeteria com uma naturalidade serena, chamando alguém em voz alta.
"Ei! Aster! Tem ilustres convidados na sua cafeteria! Venha recebê-los rapidamente!" - Sua voz ressoa com uma mistura de entusiasmo e autoridade, ecoando pelo espaço enquanto ele aguarda a chegada de Aster, presumivelmente o proprietário ou alguém importante na cafeteria.
O chamado do velho é interrompido por uma resposta fervorosa de Aster, quebrando abruptamente a atmosfera tranquila da cafeteria. Seu grito ressoa pelo ambiente, desafiador e cheio de energia.
"Ah! Richard! Cale essa sua boca e pare de gritar na minha cafeteria!" retorquiu o velho, com uma mistura de irritação e exasperação em sua voz.
Mas antes que a discussão possa continuar, outro grito ecoa, desta vez vindo de Richard. Sua voz é carregada de uma mistura de sarcasmo e impaciência enquanto ele desafia o velho.
"Você é o único que está gritando aqui! E venha logo, velhote! Se você ficar parado por mais tempo, seus ossos vão colar!"
O velho Aster responde com igual vigor, seu tom carregado de autoridade e indignação. "Cale-se! Você é mais velho que eu!"
"Mas não tenho dor nas costas, nem ando de muletas. Agora pare de discutir e venha logo antes que eu te arraste da cadeira!"
A troca de palavras acaloradas entre os dois é interrompida pelos suspiros cansados dos funcionários e os sorrisos divertidos dos clientes.
Parece que todos na cafeteria estão acostumados com essa dinâmica peculiar entre o dono da cafeteria e Richard, que, apesar de suas discussões constantes, parecem compartilhar um vínculo de respeito e camaradagem.
Depois de algum tempo, a agitação e o burburinho na cafeteria começam a diminuir gradualmente, voltando a uma calma reconfortante. No entanto, a voz insistente e animada de Richard ressoa novamente pelo ambiente, seguida pela voz irritada de Aster, sugerindo que a paz recém-encontrada pode não durar muito.
Pouco depois, os dois homens chegam à mesa onde as três crianças aguardam, seus passos ecoando pelo ambiente agora tranquilo. Richard, com seu entusiasmo contagiante, assume a liderança, apresentando as crianças para Aster com uma mistura de orgulho e amizade.
"Aster, velho amigo, deixe-me apresentá-lo a esses jovens aventureiros," diz Richard, com um gesto amplo em direção ao garoto de cabelos grisalhos e às duas garotas ao seu lado. "Estes são os nossos convidados especiais de hoje."
Aster, embora inicialmente irritado pela interrupção, acolhe os pequenos convidados com um sorriso caloroso e um aceno de cabeça cortês.
Era um senhor de idade com poucos cabelos na cabeça e uma aparência rabugenta, se aproximando da mesa com passos firmes, sua expressão séria e um tanto estóica contrastando com a animação de Richard.
Seus olhos, apesar de transmitirem uma certa dureza, também carregam uma gentileza escondida, revelando um homem que, por trás de sua aparência áspera, possui um coração bondoso.
Ele cumprimenta as crianças com um aceno de cabeça cordial, seu sorriso revelando uma pequena brecha na fachada de seriedade. Aster se comunica com as crianças de maneira gentil, oferecendo-lhes chocolate quente para aquecer seus corpos enquanto eles desfrutam da companhia um do outro na cafeteria.
As duas garotas olham para o irmão mais velho, buscando sua aprovação antes de aceitarem o convite.
Com um aceno de cabeça tranquilo, o garoto de cabelos grisalhos confirma, e um brilho de felicidade se espalha pelo rosto das meninas.
O senhor de idade, mesmo em meio à sua ocupação, sorri para as crianças, indicando uma mesa mais adequada para a altura delas.
Sua gentileza contrasta com seu tom de voz ríspido enquanto ele se vira para Richard, expressando sua insatisfação pelo descuido anterior. Richard, com seu jeito descontraído, parece não se abalar com as reclamações de Aster, respondendo com um sorriso brincalhão.
Tal sorriso só irritava ainda mais Aster, que bufa novamente e murmurava de irritação antes de se dirigir à cozinha para preparar o chocolate quente.
Enquanto isso, as crianças se acomodam na nova mesa, ansiosas pela promessa de uma bebida quente e deliciosa em um ambiente acolhedor.
A tensão momentânea entre os adultos é rapidamente substituída pela alegria contagiante das duas meninas, que aguardam com expectativa o prometido chocolate quente.
Não demora muito para que o aroma reconfortante do chocolate quente preencha a cafeteria, anunciando que a bebida está pronta. Aster emerge da cozinha, carregando uma bandeja repleta de xícaras fumegantes, seu rosto iluminado por um sorriso satisfeito ao ver a alegria estampada nos rostos das crianças.
Com elogios e comemorações, as três crianças aceitam as xícaras oferecidas por Aster, agradecendo calorosamente pela gentileza do anfitrião. O menino de cabelos grisalhos e as duas garotas saboreiam o chocolate quente com prazer, suas mãos envolvendo as xícaras para sentir o calor reconfortante irradiado pela bebida.
Além do chocolate quente, Aster também presenteia as crianças com lanches deliciosos, complementando a experiência divertida.
Enquanto desfrutam de suas bebidas e lanches, a cafeteria se enche de uma atmosfera de alegria e contentamento, proporcionando um momento de alegria e conforto em meio à agitação do dia a dia, não só para as crianças mas também para as pessoas que eram contagiadas pela sua atmosfera.
Enquanto as crianças se deliciaram com os lanches e o chocolate quente, Aster faz um gesto discreto para um dos funcionários, instruindo-o a entreter as crianças enquanto ele se retira com Richard para o escritório no andar de cima da cafeteria.
O garoto de cabelos grisalhos observa a saída dos dois homens, mas sua atenção está principalmente voltada para suas irmãs mais novas, preocupadas em garantir que elas estejam bem cuidadas e se divirtam.
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Enquanto isso, Aster e Richard se retiram para discutir assuntos que parecem mais sérios e privados, deixando as crianças imersas em sua própria bolha de alegria e diversão na cafeteria.
Assim que a porta do escritório se fecha, Richard quebra o silêncio com uma expressão séria. "Preciso que me ajude com uma coisa", diz ele, direto ao ponto.
Aster responde com um toque de sarcasmo, servindo café para ambos enquanto se senta à mesa. "Sabia que tinha algo mais nessa sua visita. Se precisava de algo, por que resolveu trazer aquelas crianças? Você não poderia, só uma vez, vir ver como está seu amigo? Sem gritaria e algazarra, de preferência."
A troca de palavras revela uma dinâmica intrigante entre os dois homens, sugerindo uma história compartilhada e uma relação que vai além das aparências.
Enquanto Richard parece cheio de energia e entusiasmo, Aster parece expressar um certo descontentamento com a maneira impulsiva de seu amigo, insinuando um desejo por uma visita mais tranquila, longe da agitação trazida por problemas desnecessários.
"Na verdade, é sobre aquelas crianças que preciso de ajuda", diz Richard, adotando uma postura séria e concentrada, diferente de sua atitude habitual. Ele ignora a provocação de Aster, demonstrando a importância do assunto em questão.
Aster franze a testa, demonstrando surpresa com a seriedade de Richard. "O que quer dizer? Você pode conseguir uma informação assim sem problema algum", responde ele, ainda incerto sobre o motivo pelo qual Richard precisa de sua ajuda para investigar as crianças.
"Não encontrei nada, sem fotos, parentes, nem registro de nascimento. O único registro que foi achado é um vídeo de câmeras de segurança no Texas, de três meses atrás", revela Richard, entregando um documento envelopado para Aster.
Aster observa os documentos com uma expressão desconfiada, seus olhos percorrendo o conteúdo enquanto ele os examina minuciosamente. Ele permanece em silêncio por um momento, processando as informações apresentadas por Richard.
Depois de alguns momentos de exame dos documentos, Aster joga-os sobre a mesa com um suspiro de frustração. - "Não posso te ajudar muito com isso. Estou sem tempo ultimamente e não tenho trabalhado nesse ramo a algum tempo."
Richard suspirou e insistiu: "Eu entendo, Aster, mas você sabe como é importante para mim. Por favor, apenas dê mais uma olhada nos documentos. Eu realmente preciso da sua ajuda nisso."
"Eu sei como você é persistente, Richard.. Tudo bem, vou dar uma olhada. Mas quero saber por que de repente você está tão interessado nessas crianças."
"É uma longa história, Aster. Prometo explicar tudo. Essas crianças precisam de ajuda, e eu não posso fazer isso sozinho."
"Espero que você saiba o que está fazendo, Richard. Tudo bem, vamos ver o que posso fazer. Mas você ainda me deve uma explicação detalhada de tudo isso."
"Estou pensando em cuidar daquelas crianças, Aster. Você deve ter percebido que já passaram por muita coisa," diz Richard, com seriedade em sua voz."
Aster baixa os olhos e toma um gole de café antes de responder: "Os olhos daquele garoto... me assustam um pouco. Não parece normal, isso com certeza... Qual o nome dos três?"
"As garotas se chamam Ruby e Sapphire, acho que dá para saber qual é qual pelas mechas coloridas no cabelo. Quanto ao garoto... não acho que tenha um nome," explica Richard, enquanto observa Aster com uma expressão pensativa.
Aster ouve a resposta do amigo e assente, porém, franzindo a testa com dúvidas diante do comentário sobre o garoto. Ele pergunta: "O que quer dizer com isso?"
"Bom, ou não tem ou não gosta de falar... Sinceramente, é difícil dizer com o jeito do garoto," admite Richard, com um leve sorriso. "Quando perguntei a ele da última vez, ele finalmente respondeu, mas só disse 'ZX'."
"'ZX'? Como 'Zayex' ou algo assim? Esse garoto não sabe ler ou foi apenas para tentar te enganar?" pergunta Aster, após engasgar com o café.
Richard: "Não faço ideia... por isso preciso de sua ajuda. Esses três moram sozinhos em uma pequena casa que comprei para eles. Quero apenas uma ajuda com as informações dos três."
Aster assente, compreendendo a gravidade da situação. "Certo, não precisa me dizer mais nada. Vou procurar saber sobre isso. Vou te contatar se encontrar algo," diz ele, indicando sua determinação em ajudar, mesmo que não esteja mais interessado nas palavras de Richard.
"Hahaha! Sabia que poderia contar com você! Estou te devendo uma, Aster!" ri Richard, brincando enquanto dá um tapa amigável no ombro de Aster, que não aprecia muito o gesto.
"Cale-se! Já disse para parar de fazer isso toda vez! Além disso, você já está me devendo muito mais favores! Eu deveria ter começado a cobrar há muito tempo..." responde Aster, com uma mistura de irritação e brincadeira.
"Ainda dá tempo de cobrar. Talvez eu deva te levar para uma caminhada, seus ossos vão esfarelar se continuar parado por muito tempo, sabia?" provoca Richard, com um sorriso travesso nos lábios.
"Minha saúde está em perfeito estado! Você que é o anormal aqui, não consegue ficar quieto nem por um momento!?" retruca Aster, levando a discussão para um tom mais sério.
"Só não quero parecer um velho como você", rebate Richard, provocando Aster com um sorriso zombeteiro.
"Pare de me chamar de velho! Sou mais novo que você!" exclama Aster, enquanto a discussão entre os dois amigos continua, revelando a dinâmica única de sua amizade baseada em brincadeiras e sinceridade de ambos os lados.
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Depois de um tempo, Richard e Aster desceram as escadas da cafeteria, o som abafado de suas vozes se misturando ao ambiente alegre e acolhedor. Ao se aproximarem das crianças, viram que elas já haviam terminado de comer e estavam conversando animadamente, sorrisos brincando em seus rostos.
Aster se aproximou das crianças com um sorriso gentil, enquanto Richard observava com uma expressão de gratidão nos olhos. "Espero que tenham gostado do chocolate quente," disse Aster, sua voz calma e reconfortante.
As crianças assentiram entusiasticamente, expressando sua gratidão pelas delícias que haviam saboreado. "Muito obrigado, senhor Aster!" exclamou Ruby, com os olhos brilhando de alegria.
Depois de trocarem mais algumas palavras amigáveis, as crianças se despediram, cada uma expressando sua gratidão de maneira única. Richard acompanhou-as para fora da cafeteria, seu coração repleto de esperança pelo futuro das crianças.
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Algumas semanas depois, na véspera de natal.
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Caminhando lentamente em direção à casa, as garotas Ruby e Sapphire brincavam na neve, suas risadas cristalinas ecoando pelo ar gelado. Corriam em volta do irmão mais velho, ZX, que observava com ternura a diversão de suas irmãs, cuidando para que não se colocassem em perigo.
O cenário era pitoresco, com flocos de neve caindo suavemente ao redor deles, transformando o bairro em um verdadeiro paraíso de inverno. ZX caminhava com passos calmos e firmes, seus olhos atentos às travessuras das garotas enquanto ele as seguia de perto.
À medida que se aproximavam da casa modesta que agora chamavam de lar, o calor do lar começava a acenar para eles, prometendo abrigo e conforto após um dia de brincadeiras na neve.
Richard acompanhava as crianças em silêncio ao lado de Zyex enquanto sorria observando a interação dos três pequenos. Ele lembrava das informações que recebeu de Aster recentemente.
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Esses três irmãos foram vistos pela primeira vez depois de uma grande tempestade na costa oeste próxima a Califórnia.
Não se sabe nada sobre seu passado ou se os pais eram turistas que acabaram perdendo a vida no desastre, mas uma coisa é certa: em menos de um ano essas três crianças sobreviveram cruzando o país inteiro de oeste a leste sozinhos, uma viagem que muitos não conseguiriam fazer em toda sua vida.
Tal informação deixou Richard e Aster tanto impressionados quanto preocupados com as duas crianças. Só elas mesmas podem saber a dor das marcas do passado que carregaram durante toda a jornada.
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Quando chegaram em casa, a modesta residência parecia grande o suficiente para abrigar uma família de cinco pessoas com tranquilidade, com suas paredes de madeira pintadas de branco refletindo a luz do sol da tarde.
Sapphire e Ruby entraram primeiro, ansiosas para se aquecerem e compartilharem suas aventuras do dia, deixando Richard a sós com ZX. Richard fez um gesto para ZX, convidando-o a se sentar ao seu lado no banco da varanda, onde pudessem conversar em paz.
ZX acenou com a cabeça em concordância e sentaram-se lado a lado, envolvidos pelo ambiente tranquilo e pelo crepitar suave da lenha na lareira próxima. O silêncio entre eles era confortável, carregado com a promessa de uma conversa significativa prestes a começar.
Richard olhou para ZX com ternura, consciente da responsabilidade que assumiria ao cuidar dessas crianças. Sabia que precisava ser delicado ao abordar certos assuntos, mas também estava determinado a oferecer a ZX todo o apoio e orientação que pudesse. Com um suspiro tranquilo, ele começou a falar
"Bom, deixe-me ver por onde começo..." Richard ponderou por um instante, refletindo sobre como abordar aquele momento especial. Com um gesto suave, ele tirou uma pequena caixa do bolso do casaco antes de continuar. "Aqui. Lembra disso? São as pedras que você havia pego antes, eu mandei fazer um pingente com elas. Podem servir de presente de Natal para suas irmãs."
Com cuidado, Richard abriu a caixa e retirou dois pingentes, cada um feito de uma pedra preciosa: Rubi e Safira. As gemas brilhavam suavemente à luz do sol poente, suas cores vibrantes e profundas capturando a essência das próprias crianças.
Os pingentes estavam lindamente lapidados em um formato de prisma hexagonal, um pouco menor que um polegar, mostrando o cuidado e a habilidade artesanal investidos em sua criação. Richard olhou para ZX com um sorriso suave, esperando ver qual seria a reação do garoto.
Ouvindo atentamente as palavras de Richard, ZX pegou os pingentes com cuidado, segurando-os antes de colocá-los de volta na caixa. Com um olhar sincero, ele expressou sua gratidão pelo gesto de Richard.
Enquanto observava os presentes, ZX foi transportado de volta no tempo, lembrando-se do dia em que conheceu Richard, algumas semanas atrás.
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Naquele momento, ele e suas irmãs haviam vagado por muito tempo, sem um lar verdadeiro para chamar de seu.
Recordava-se das noites frias em que se abrigavam em porões abandonados ou aceitavam a hospitalidade de estranhos generosos que lhes ofereciam um quarto para passar a noite. Mas também havia os momentos em que ZX precisava usar sua força para proteger suas irmãs dos perigos das ruas, enfrentando bandidos e pessoas mal-intencionadas que cruzavam o caminho deles.
Apesar das dificuldades e dos desafios que enfrentavam, ZX sempre encontrava uma maneira de cuidar de suas irmãs, usando o dinheiro que conseguia das situações perigosas e das brigas para comprar alimentos e roupas para eles.
ZX amadureceu significativamente durante esse período turbulento de suas vidas. Enquanto aprendia as nuances e as regras do novo mundo ao seu redor, ele se esforçava ao máximo para manter suas irmãs mais novas seguras e providenciar tudo o que precisavam para sobreviver.
Mas essa tarefa se tornou ainda mais desafiadora quando o clima começou a esfriar, trazendo consigo novas preocupações para a família. No entanto, um encontro de sorte com Richard durante uma briga de rua mudou o curso de suas vidas. O velhinho não apenas o ajudou a lidar com as consequências do confronto, mas também ofereceu uma mão amiga ao encontrar um lugar seguro para ZX e suas irmãs se abrigarem.
Grato pela ajuda e pelo apoio inesperado, ZX decidiu expressar sua gratidão. Entre as muitas coisas que havia coletado durante suas viagens pelas ruas da cidade, havia essas pedras preciosas, ele não conhecia a origem das pedras nem seu real valor naquele momento. No entanto, sabia que eram valiosas e esperava estar retribuindo o favor de alguma forma.
Para sua surpresa, as pedras que entregou como um gesto de agradecimento agora voltavam para ele na forma de pingentes preciosos.
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Enquanto ZX refletia sobre as reviravoltas de suas vidas e o gesto de Richard, o senhor pegou um novo pingente do bolso, desta vez com uma pedra negra lapidada de forma simples, mas elegante, com a aparência semelhante a um prisma triangular.
Richard estendeu o pingente para ZX com um sorriso gentil. "Este presente aqui é para você. Achei que você iria gostar, vai combinar com os das suas irmãs."
ZX olhou para o pingente por um momento, seus pensamentos tumultuados enquanto absorvia o gesto de Richard. Depois de hesitar por um instante, ele finalmente pegou o pingente, segurando-o com cuidado em suas mãos. Num tom suave, quase hesitante, ele perguntou: "Ei, velho, por que você está nos ajudando tanto?"
A pergunta repentina pegou Richard de surpresa, mas ele respondeu com sinceridade, dando de ombros levemente. "Não tenho certeza, só me pareceu natural."
ZX ponderou sobre a resposta por um momento, mergulhado em seus próprios pensamentos. Ele assentiu simplesmente, reconhecendo a sinceridade nas palavras de Richard.
Em seguida, os dois ficaram em silêncio, o estalar suave da lareira preenchendo o ambiente com uma sensação reconfortante de calor e tranquilidade.
"Já que você fez sua pergunta.. posso fazer a minha?" - o ancião foi o primeiro a quebrar o silêncio, sua voz calma e serena preenchendo o espaço entre eles. Ele observou atentamente a expressão de ZX antes de continuar. - "Quando nós nos falamos pela última vez, você disse que seu nome era Zyex.. esse é realmente seu nome?"
"Meu… nome?" - A expressão de ZX refletia uma mistura de surpresa e confusão diante da pergunta de Richard. Durante todo esse tempo, ele nunca havia se dado ao trabalho de pensar em algo como um nome para si mesmo. Desde que pudesse lembrar, sempre foi chamado assim, ZX.
No entanto, agora, diante da insistência de Richard, ele começa a questionar o significado por trás dessas duas simples letras.
Richard fez uma pausa, permitindo que suas palavras ecoassem no ar, antes de prosseguir. "Não precisa responder se não quiser, é apenas que minha curiosidade foi despertada pelo seu nome incomum. Afinal, você deu o nome para suas irmãs com base nessas pedras preciosas, certo? Então, e você? De onde veio seu nome?"
Foi apenas recentemente que ZX começou a entender que o que ele acreditava ser um nome era, na verdade, apenas uma combinação de letras, uma numeração, um código que o ligava a um passado que ele preferia esquecer. Essas duas letras eram uma lembrança constante de um tempo que ele desejava deixar para trás.
Diante desse dilema, ZX encontrou conforto em chamar suas irmãs de Sapphire e Ruby, atribuindo a elas nomes que refletiam sua beleza e a pureza de seus corações. No entanto, ele mesmo não sabia o que fazer com seu próprio "nome". Era uma questão que o assombrava, uma incerteza que ele preferia não confrontar.
O tempo parecia se arrastar lentamente enquanto a expressão de ZX refletia uma crescente confusão e perplexidade. Desde que se viu longe do que o prendia antes, sua mente estava completamente dedicada ao bem-estar e segurança de suas irmãs.
Não havia espaço para mais nada em seus pensamentos, ou talvez ele simplesmente tenha escolhido esconder qualquer outra preocupação no fundo de sua mente, enterrando-as sob o peso do cuidado por suas irmãs.
Foi somente após a pergunta de Richard que ZX se viu confrontado com a dura realidade de que, apesar de todos os seus esforços para deixar o passado para trás, ainda estava preso a ele de alguma forma. A pergunta simples, mas profunda, de Richard havia ressuscitado memórias e sentimentos há muito enterrados, forçando ZX a confrontar uma verdade desconfortável: ele ainda não havia se libertado completamente do que o prendia.
Richard, por algum motivo, sentiu-se desconfortável com a situação de ZX e não pôde deixar de expressar sua preocupação. "O que há de errado? Você não se sente bem?" sua voz carregava um tom de ansiedade, refletindo a confusão que tomava conta do ambiente.
ZX, por sua vez, falou de forma intermitente, sua voz soando tão confusa quanto sua expressão. "Eu.. eu não.. Eu acho que nunca tive um nome..." As palavras saíam hesitantes, revelando a profundidade de sua desconexão com a ideia de identidade e pertencimento.
Ao ouvir isso, Richard congelou, sua própria expressão refletindo a confusão e a perplexidade do momento. No entanto, ele optou por guardar seus próprios pensamentos para si quando viu ZX cabisbaixo, os olhos perdidos fixados no chão.
ZX continuou lentamente, sua voz carregada com um peso que não deveria ser suportado por alguém de sua idade. "Sempre que falavam comigo só diziam 'ZX', chamavam de 'garoto' ou me gritavam de alguma coisa… Ruby e Sapp.. elas sempre me chamam de 'irmão' desde que aprenderam a falar.." Sua voz tremia ligeiramente, revelando o vazio que ele sentia em relação à sua própria identidade.
No entanto, uma faísca de conforto brilhava em seus olhos quando ele mencionava suas irmãs. Essa simples lembrança era uma âncora de estabilidade em um mar de incertezas para ZX.
O ambiente ficou envolto em um silêncio carregado de emoções, enquanto Richard parecia ponderar suas palavras por um momento antes de começar a contar sua história. "Sabe... eu tinha um filho, ele se chamava Russell. Ele tinha um pouco da sua semelhança, mas era muito mais animado." Um sorriso nostálgico se formou nos lábios de Richard, sua voz carregada de uma mistura de saudade, alegria e tristeza.
"Ele se casou com uma linda esposa. Eles eram mais felizes do que qualquer um. O sonho deles era construir uma grande família, com muitos filhos e filhas. Planejaram tudo meticulosamente, desde roupas até a cor das fraldas dos bebês... mas, como sabemos, acidentes acontecem às vezes." A voz de Richard vacilou ligeiramente, enquanto ele revivia as memórias de um passado cheio de promessas e tragédias.
ZX, embora confuso, ouvia atentamente a história contada por Richard, capturando cada palavra carregada de nostalgia. As lembranças pareciam ecoar no ar, envolvendo-os em um manto de emoção compartilhada, ligando-os por meio das histórias que contavam.
"E foi isso... um acidente aconteceu... Heloise, minha esposa, ela... também se foi pouco tempo depois." Richard respirou fundo, como se carregasse o peso do mundo nos ombros, antes de continuar. "E junto com eles, bom, todos os planos também se foram."
ZX ouviu as palavras de Richard com um misto de compaixão e perplexidade. Tantas informações, tão profundas e pessoais, chegavam de maneira inesperada, inundando sua mente já confusa com uma enxurrada de emoções e pensamentos confusos. Ele se viu incapaz de formular uma resposta coerente, sem saber como processar todas essas revelações.
"Naquela época, eu estava tão perdido quanto você está agora. 'Quem eu sou de verdade? O que devo fazer a partir de agora? Será que tudo o que tenho feito foi em vão?' Todas essas perguntas me assombraram naquele momento..." Richard falou com sinceridade, suas palavras ecoando no silêncio da varanda como um eco das próprias dúvidas de ZX.
Richard fez uma pausa, permitindo que tanto ele quanto ZX absorvessem as informações compartilhadas, antes de seu tom ganhar um leve brilho de otimismo. "Mas então, anos depois, eu conheci você. Você me perguntou mais cedo por que eu ajudo tanto, certo? Bem, agora eu acho que tenho a resposta."
ZX permaneceu em silêncio, sua mente repleta de dúvidas e incertezas, aguardando ansiosamente pela conclusão do pensamento de Richard.
"Lembra que eu disse que meu filho e minha nora haviam planejado tudo para a nova família? Talvez... não tenha sido feito em vão, afinal." Richard olhou para ZX com um sorriso sereno, sua expressão carregada de significado, enquanto ele desviava sutilmente da pergunta anterior, deixando ZX ainda mais confuso com sua resposta enigmática.
"O que quer dizer? Não entendi." ZX replicou, buscando esclarecimento diante da resposta enigmática de Richard.
"Antes de eu responder, preciso saber de uma coisa. Garoto, você se importaria se eu... te desse um nome?" As palavras de Richard ecoaram no ar, deixando ZX perplexo e intrigado.
"Me... dar um nome?" ZX repetiu, sua voz carregada de surpresa e incredulidade diante da proposta inesperada.
"O nome que seria do meu primeiro neto, do primogênito do meu filho. Por ironia ou destino, ficou vago até agora, e eu quero saber... você aceitaria esse nome?" Richard explicou calmamente, sua voz carregada de emoção e uma certa expectativa palpável.
"O nome que era para seu primeiro neto? Mas... mas então...?" ZX mal conseguia articular suas palavras, seus pensamentos em um turbilhão sem saber como a situação chegou nesse ponto.
"Sim... quero que seja meu neto, você e suas irmãs. Juntos, como uma grande família. Então, o que me diz?" A voz de Richard tremia ligeiramente, carregada de emoção e esperança, enquanto aguardava ansiosamente pela resposta de ZX.
Sem saber o que dizer ou como reagir diante da magnitude da proposta, ZX apenas balançou a cabeça em concordância, seu corpo tenso e sua mente inundada por uma mistura de emoções e pensamentos confusos. Ele estava paralisado pela enxurrada de informações que invadia sua mente, deixando-o atordoado e incapaz de formular uma resposta adequada.
Richard riu com alegria e se aproximou de ZX. Ele pegou um pingente simples do bolso e o prendeu na pedra negra que havia dado de presente anteriormente, transformando-o em um colar que pendia dos ombros de ZX. Em seguida, Richard se ajoelhou diante dele, colocando-se ao seu nível, e acariciou gentilmente sua cabeça antes de prosseguir com um sorriso radiante.
"Hahaha! Que notícia maravilhosa! Então, vamos lá. Para seguir os desejos do meu filho, seu nome de agora em diante será Ethan. Espero que honre esse nome e seu significado."
"Ethan..? Eu tenho um nome agora? Ethan... Ethan.." A voz de Ethan soava suave, quase como um sussurro, enquanto ele repetia em transe o nome que lhe foi dado, como se estivesse testando sua sonoridade, sua textura, a sua própria realidade.
Uma mistura de emoções tomava conta dele. Era alegria? Alívio? Esperança? Talvez fosse pertencimento, a sensação de finalmente ter encontrado uma parte de si mesmo que estava perdida por tanto tempo.
Os cantos de sua mente, outrora repletos por dúvidas e incertezas, pareciam agora ser banhados por uma luz compreensão. Ethan sentia como se uma névoa densa começasse a se dissipar, revelando um caminho claro à sua frente, dando um passo em direção a um futuro que antes parecia distante e inatingível.
Enquanto Ethan mergulhava nesse novo sentido de identidade, ele percebeu que não estava mais sozinho. Agora, ele tinha uma família, um lar e um nome que o ligava a ambos. E com essa nova compreensão, veio uma determinação renovada de enfrentar os desafios que o aguardavam, confiante de que agora, finalmente, ele estava completo.
Uma única lágrima solitária deslizou dos olhos de Ethan, seguida por outras, que rapidamente se transformaram em um pequeno riacho de emoções. Ele olhou para a gota que molhou a palma de sua mão, confuso e intrigado com a intensidade de suas próprias emoções.
"O que é isso?" Ele perguntou, sua voz um sussurro embargado pela emoção que transbordava em seu peito.
"Ei, Ethan... você não vai me dizer que nunca chorou, não é?" Richard tentou animar Ethan com um sorriso gentil, mas havia um toque de tristeza em seus olhos enquanto pensava no quanto o garoto deveria ter suportado até chegar a esse momento.
"Não... Eu nunca.. Porque estou assim?" Ethan respondeu com sinceridade, sua voz tremendo ligeiramente.
"Não é 'porque'" O ancião corrigiu com um tom leve, mas reconfortante, enquanto envolvia Ethan em um abraço acolhedor. Ethan permaneceu em um estado de choque meio estático, suas lágrimas fluindo silenciosamente, enquanto ele se permitia mergulhar nas profundezas de suas emoções.
"É simplesmente 'estar', apenas... relaxe e siga seus sentimentos. Você é meu neto, e não está sozinho, lembre disso." As palavras de Richard ecoaram suavemente nos ouvidos de Ethan, trazendo um senso de pertencimento e segurança que ele nunca tinha conhecido antes.
Lentamente, Ethan retribuiu o abraço do seu novo avô, quase inconscientemente, suas lágrimas se misturando com a neve que caía lá fora. Enquanto eles se abraçavam, Ethan sentiu um calor reconfortante irradiar de dentro dele, dissipando todas as dúvidas e medos que o assombravam até então.
Ele ainda não sabia, mas esse momento seria lembrado como um dos maiores presentes de Natal que ele receberia em toda a sua vida.
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V_ Z_X_
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