webnovel

Retorno ao pó

Apertamos a dita campainha sem suspeitar de nada, na primeira vez que eu a apertei não ouve som algum, eu esperei por alguns segundos e a acionei novamente.

AAWWWWooooooohh!!

Assim que eu acionei a campainha pela segunda vez, os uivos e o rosnar de vários animais foram ouvidos.

"Isso foi só coincidência, ter acontecido quase ao mesmo tempo que acionamos a campainha não quer dizer nada, certo?" Baha pergunta para mim, com rosto perdendo tom de chocolate a cada segundo.

Apesar de eu querer dizer que não, é bem provável que seja relacionado.

Mal tendo se passado dois segundos desde que os uivos começaram, ouvimos o barulho de metal raspando contra metal.

"Não!!!" Um grito de uma voz feminina ecoou pelo andar, enquanto uma mulher de baixa estatura, 1,60 de altura vinha deslizando pelo corrimão surfando uma espada.

A mulher tinha cabelo castanhos curtos e nada arrumados, e usavas roupas que pareciam ser um tamanho maior do que o correto cheias de pelugem e para acabar óculos de lentes perfeitamente redondas que ficavam entre o grande demais e o tamanho que pareceria exato para ela.

"Droga eu sabia que algo estava errado." A mulher fala após quase tropeçar na aterrissagem.

"Vocês." Ela fala, apontando para mim e Baha e então pausa para recuperar o folego "Vocês, viram se alguém acionou essa campainha?"

Dito e feito.

"Nós." Eu falo, fazendo questão que cada maneirismo meu diga 'exausta'.

"O que?! Por que?" Eu é que quero te perguntar, se não era pra usa-la porque estava aqui?

"Não, isso não importa agora." Ela começa a andar de um lado para outro ruminando sobre contas e planos.

"Hhmn, com licença," Baha pede a mulher ao se colocar no caminho do andar ansioso dela "Sera que da pra explicar o que está acontecendo?"

"Há uma horda de bestas furiosas vindo em direção a Torre, porque o sinal que a campainha emite é similar a ressonância que um tesouro capaz de disparar o processo evolutivo delas." Ela para com olhos esbugalhados e responde em uma voz monótona mas com a cadência de uma metralhadora.

Então por que que raios isso está aqui?

"Por que deixar isso aqui?!" Baha pergunta o óbvio.

"Eu confundi as lapis dos meus experimentos pessoais com a as da manutenção da campainha." Ela responde da mesma forma que explicou a situação com as bestas.

"Porra." Precisava de um jeito de deixar vazar a minha frustração.

Que lugar relativamente seguro Kaz, não acabou o primeiro e dia já tem esse tipo de merda acontecendo.

"De qualquer jeito, já que vocês também tem culpa nisso, vamos até o térreo." Ela diz agarrando nossos pulsos, pula na espada que de alguma forma consegue andar para cima com velocidade o suficiente para que nenhum de nós dois encoste no chão, e só veja os degraus passarem como um borrão.

Chegamos ao térreo em segundos, pulando do corrimão montanha russa, com distinta falta de graça ao tropeçar e quase dar de cara com o chão.

Eu consegui recuperar meu equilíbrio e parar o tombo num 'quase' Baha já não conseguiu parar antes de bater no chão.

"Certo você nos arrastou até aqui, e agora?" Com descontentamento vazando pelos meus lábios eu pergunto a 'altura em contraste' eu ia chamar ela de cientista maluca, mas é muito obvio e eu to desconfiada que tem mais de um doido trabalhando aqui.

"Agora nos preparamos para interceptar as bestas antes que elas façam muito estrago, e também é melhor dar um jeito de isola-las ao redor da Torre não queremos problemas com as cidades vizinhas por deixar uma dessas escapar no meio das pessoas comuns." Ela responde com um pouco de preocupação pintando o tom antes monótono de quando falava.

Baha se levanta quando ela acaba de falar, e ela vai em direção à entrada sem olhar se estamos seguindo ela.

Não que um Synchroner seja dependente da visão pra saber o que acontece ao seu redor.

Penso nisso enquanto Baha e eu a seguimos.

"Quem esqueceu dos protocolos de segurança dessa vez?" O guarda desleixado pergunta olhando na nossa direção.

"Ao que parece fui eu," A mulher fala "agora Talavar, vamos pular o sermão e ir direto para a parte em que limpamos essa bagunça."

"Eu posso até concordar com isso mas, minhas habilidades não são boas para isolar o espaço, e se eu começar a lutar sem considerar isso nós vamos acabar tendo muitas bestas fugitivas." Talavar, o desleixado do portão fala.

Assim que ele acaba de falar, as bestas começam a entrar na nossa linha de visão, búfalos com as escalas de um komodo e os chifres de um alce são a linha de frente, seguidos por tigres gigantescos com asas plumadas negras e dois chifres curtos se estendendo das listras negras em suas cabeças.

Misturados entre as linhas de das duas criaturas, lobos cinzentos com os olhos reptilianos, as presas de uma serpente venenosa e um colar de escamas pouco visível por baixo dos pelos, vagavam esperando pela chance de dar um bote.

"Jill, tem alguém que consiga colocar uma barreira decente de forma rápida na Torre?" Talavar pergunta para a 'altura em contraste' o qual até o nome parece em contraste com ela.

"Não que eu saiba, e os dois assistentes que eu arrastei até aqui são de dantian singular ainda." Jill, responde a cada segundo perdendo a monotonia com a qual ela falava previamente.

"Porra." Talavar fala sem esforço para esconder o descontentamento dele com a situação.

**************

Um pouco depois de mandar os pirralhos para fora da minha sala, sinto uma estranha vibração, uma que é capaz de estimular o 'Olho de Seth'.

Por causa dessa estranheza paro de ler, e espalho minha percepção ao máximo, como não estou numa situação que ache um filtro necessário, acabo por usar nenhum.

Quando meu sexto sentido cobre toda área num raio de dez quilômetros 'vejo' a horda de bestas em marcha desenfreada que vem em direção a Torre.

Que tipo de malucos você vem recrutando Hwang?

A cena é tão absurda que me esqueço de chamar o Mestre Observador de Estrelas de velho.

Que seja, noto os pirralhos saindo junto com uma Synchroner do quinto estagio e param para falar com o vigia desleixado.

Parece que vão explicar alguma coisa as pirralhos.

Diminuo a área de cobertura do meu sexto sentido até encobrir somente a Torre e as quatro pessoas do lado de fora, e filtro reverberação do ar para ter uma ideia do que eles estão falando.

Honestamente nunca pratiquei muito isso então sempre acaba parecendo que meus ouvidos estão cheios de estática, mas ainda deu pra entender o que eles precisam: uma barreira.

Isso eu consigo fácil.

Ainda sentado de frente a minha mesa passo os dedos por um dos cantos que ainda tem pó e junto um pouco na minha frente.

Quando junto pó o suficiente para formar um pequeno círculo cinza na mesa posso começar a criar a dita barreira.

Estendo a minha mão com palma para baixo e acima do círculo de pó e ativo meu primeiro dantian com toda sua força.

*************

Assim que Talavar acaba de xingar a nossa sorte sentimos uma onda suave se espalhar pelo chão, então a poeira que o monte de bestas levanta começou a se mover que se estivesse viva.

Não isso não está certo, todo grão de poeira começou a se mover, se espalhando da direito para esquerda até que logo formou um anel giratório ao redor das bestas no começo o anel era raso, mal chegando a um metro e trinta de altura mas, a poeira continuava se juntar e subia centímetro por centímetro.

Um dos lobos com traços de serpente tocou no anel de poeira com a pata dianteira desconfiado, como um crocodilo que espera pela presa cair em sua boca a poeira se expandiu e engoliu o lobo, com uma aceleração súbita o anel de poeira começou a moer o lobo até torná-lo parte do pó que forma a a parede do anel.

Com a morte da primeira besta a parede pareceu ganhar vida e deu o mesmo destino para todas as bestas próximas das navalhas disformes que são suas fronteiras.

E no meio de tudo isso a parede de poeira continuava a subir cada vez mais rápido parecendo querer cobrir o sol, em minutos já havia alcançado cinco metros de altura e em poucos segundos a mais já havia crescido mais um metro.

Um dos tigres alados tentou voar acima da parede de pó e em resposta o topo do anel de pó começou a ondular de forma que certas partes alcançassem mais alto, em conjunto com as ondas de pó a aceleração que tornava a muralha um gigantesco moedor de carne também aumentou para mais de o dobro de quando começou.

Com essa combinação o tigre alado primeiro foi cortado ao meio pelo pico de uma das ondas mais altas, e antes que o sangue pudesse jorrar as outras ondas vieram, engoliram seu corpo em um ciclo de cortar e esmagar e assim como as outras criaturas que tocaram a parede foi feito em pó e se tornou parte da parede.

"Apenas que raio acabou de acontecer?" Talavar pergunta para ninguém em particular.

"Kaz." Baha responde pela primeira vez soando verdadeiramente chocado com nível de violência que foi exposto.

"E isso quer dizer o que?" Talavar pergunta dessa vez olhando na nossa direção.

"Que alguém fez a barreira que vocês precisavam." Respondo ao desleixado.

"Bem eu gostaria de mas informações antes de agir, mas parece que se perguntar mais a garota vai tentar me morder." Não tenha duvida. "Já que as bestas não podem fugir, posso começar o massacre."

Dizendo isso Talavar saca uma espada, uma jian para ser mais especifica, no entanto a espada não é aonde mora o poder dele, é na bainha, dela sai um feixe de luz prateada, que se divide em mil pontos de luzes cinza-prata e os pontos em seguida tomam a forma de uma cruz, não, espadas na verdade.

Talavar deixa as mil espadas de luz penderem sobre as bestas por um segundo, então balança a espada de cima para baixo junto se moveram as espadas de luz atingindo as bestas em suas cabeças, cada uma das mil matou uma besta.

Ele balança novamente a espada em mão e as de luz seguem seu movimento, como se ele fosse algum tipo de maestro das laminas, e voltam ao massacre.

"Jill." Talavar falou, ou melhor demandou que mulher conhecida com Jill fizesse algo.

Em resposta Jill cresceu vinte centímetros, a pele dela ganhou tom de verde pálido e claro, o cabelo cresceu até chegar as suas panturrilhas e do castanho mudou para um verde vibrante, e dai se tornou vinhas.

Por isso as roupas de tamanho maior que o necessário?

Me pego pensando nisso, e como o apelido de 'altura em contraste' acabou fazendo mais sentindo do que eu esperava.

Apesar dos meus devaneios as transformações de Jill ainda não acabaram, a esclera em seus olhos se tornou dourada, sua pupila se apagou, encoberta por uma iris esmeralda vibrante.

Talvez a parte mais sutil e estranha da transformação as mãos e pés dela ganharam um tom amadeirado e dobraram de tamanho.

Com os pés agora fora de proporção ela chutou o chão, em seguida raízes começaram a saltar do chão e se estender como serpentes gigantes. As raízes se espalharam prendendo as besta menores e derrubando as maiores como um jogo de domino sangrento.

E como um bônus de terror para as bestas, sempre que as raízes encontravam uma besta com qualquer tipo de ferimento novo ou velho, ela perfuravam o ferimento, penetravam na pele da besta e dai, só posso assumir que começavam a absorver a água e os nutrientes de suas vitimas pelo estado quase moribundo o qual deixavam as bestas antes partir para a próxima vitima.

"O que a gente tá fazendo aqui afinal?" Baha pergunta. "Parece que esses dois conseguem cuidar disso sozinhos."

"Vocês pegam os pequeninos que conseguiram passar por nós, só pra deixar claro vamos fazer o possível para não deixar passar nem uma besta se quer, mas se acontecer aí é com vocês." Jill fala com uma voz calma e aveludada.

Apesar de querer fazer outro comentário irônico dessa mudança, minha mente ficou presa nessa parte aqui:

Então a gente tem que limpar suas sobras.

Que merda.