Quando as muralhas de pó, e vidas moídas, se levantou através da carnificina, acho que foi ai que entendi o que o Mestre Observador de Estrelas quis dizer com aquela lição.
Synchroners de alto nível de fato tem poucos motivos para se importarem com o bom senso.
O que fez que eu me pergunte o por que o mundo ainda não virou uma espiral de carnificina? A resposta pode ser inferida de simples lógica, eles não vivem em ilhas, cada um completamente isolado do outro, então as reações e considerações de outros Synchroners tem que ser levadas em conta antes de agir.
Minha epifania é interrompida pelas espadas de luz de Talavar, as quais matam as bestas com eficiência e simplicidade, e também algo que sou pessoalmente grato: não tem o mesmo impacto visual macabro das habilidades de Jill e Kaz.
Será que a minha habilidade seria parecida se eu pudesse sincronizar a luz? Provavelmente não já que as habilidades de um Ligverborge são descritas como 'melhorias'.
Ainda assim a habilidade de Talavar de controlar as mil espadas de luz me interessa.
Enquanto eu sonhava acordado Talavar e Jill continuaram a matança, um balançar de lamina e mil se seguiam, um gesto dos dedos e raízes e vinhas assaltavam as bestas, parecia que os dois de fato iam conseguir cuidar da horda sozinhos.
Até agora.
Escondido entre os tigres e búfalos, saltou um felino, um guepardo com duas caudas que terminavam em curtas laminas de ossos e cada pinta de sua pele era uma estaca, de sua boca era possível ver a linguá serrilhada quando ele rosnava.
Assim que o guepardo cheio de bordas tentou se afastar ainda mais do resto da horda, raizes saltaram do chão e tentaram agarra-lo mas o felino saltou ou cortou tudo que ficou em seu caminho, até que ele chegou a nós dois.
Ele salta e tenta nos atacar coma as garras, nós saltamos para os lados desviando de suas garras, em seguida as caudas fazem um semi circulo na horizontal uma para cada lado, desse ataque primeiramente nos abaixamos até que o guepardo tivesse que retrair a cauda e antes que ele pudesse reagir nos reunimos a esquerda dele.
"A gente não devia ficar só com os peixes pequenos?" Pergunto a Mingten de forma irônica para espantar um pouco do nervosismo.
"Se for comparar as outras bestas da horda, é pequeno, só falta ser um peixe." Que resposta. Eu não sei nem o que dizer.
Pelo menos eu não estou mais tão tenso.
"Qual é plano?" Eu pergunto me preparando mentalmente para quanto as coisas podem ficar doidas.
Quer dizer, mais doidas.
"Eu nunca vi uma besta dessas então, primeiro vamos testar as águas, se conseguirmos dar conta dele só com as nossas habilidades, ótimo." Mingten fala o que eu só posso assumir ser o método padrão para lidar com bestas desconhecidas.
O guepardo corre dessa vez ao invés de saltar, mas ele não corre diretamente para nós, não, ele corre em angulo e logo passa nos circundar.
"E se não dermos conta?" Confiro se temos algum plano B, se bem que eu não tenho certeza se eu chamaria o que estamos fazendo de plano A.
Está mais para o esboço de um plano.
"Atraímos essa coisa para o alcance da barreira, ou de volta para Jill e Talavar." Vai ter que servir.
O guepardo estende uma de suas caudas, Mingten bloqueia com a espada dela e eu aproveito o fato que ele está correndo em círculos e do meu anel atiro um jato de fogo a minha frente sem me importar em mirar.
Como a fera está correndo em círculos em alta velocidade ele vai acabar passando pelas chamas por conta própria e mesmo que ele tenha um jeito de desviar disso está condenado a ter que desacelerar para conseguir evitar o fogo.
O guepardo passa direto pelas chamas incendiado seus pelos, e a ponta das estacas, muda o curso vindo direto para mim, com o claro intuito de me fazer experimentar como é queimar vivo.
Não obrigado, eu já sei como é.
Estalo meus dedos e o fogo no corpo do guepardo se espalha repentinamente, infelizmente não o suficiente para mata-lo mas, o aumento repentino da dor foi o suficiente para parar seu avanço.
Por alguns segundos o guepardo fica ali se convulsionando de dor, mas por raiva ou instinto de sobrevivência ele logo volta a si mas, sua recuperação foi muito lenta.
Quando ele estava prestes a forçar o próprio corpo a se mover através da dor, Mingten já estava correndo até o guepardo com velocidade quase sobre-humana apesar de não se comparar a de besta que enfrentamos, é mais que o suficiente.
Segurando a espada com as duas mãos ela da uma estocada entre os olhos do guepardo, sinto uma vibração sinistra no meu sexto sentido, o guepardo treme e em sequencia sangue começa a escorrer de seus olhos, boca e ouvidos enquanto seu corpo escorre da lamina para o chão.
"Todos vocês de volta para a Torre! Agora!" A voz do Mestre Observador de Estrelas se espalhou pela área encoberta pela viciosa barreira de pó.
"Você tá pra lá de atrasado chefe." Ouço Talavar gritar e então o vejo saltar em cima de uma das espadas de luz e apontar a direção que ela deve seguir com a espada de metal.
"Vocês ouviram o Mestre podem correr pra dentro da torre, isso aqui vai acabar logo." Talavar grita na nossa direção enquanto estende uma mão para Jill que também sobe na espada de luz e em segundos estão do nosso lado.
"VÃO!" Você não precisa gritar de tão perto. "Estão esperando o que?"
"Bem..." Eu começo a falar.
"Era uma pergunta retorica!" Ohh, droga
"Vamos." Mingten diz isso e corre de volta para entrada da torre.
Ninguém vai cuidar das nossas costas enquanto fugimos? Isso parece uma má ideia.
Eu fazer isso? Uma ideia pior.
Yep, só me restou correr e rezar que ser ultimo da fila não me ferre.
Após minha mente refletir nas minhas possíveis escolhas, começo a correr com todas as minhas forças, jamais pensei que seria grato a corrida zumbi de Kaz, sinto que meu corpo continuaria correndo mesmo se eu desmaiasse.
Apesar de todos os meus esforços sem ninguém para segurar a horda é só uma questão de tempo antes que as feras me alcancem, bem, era. Antes que qualquer fera possa apresentar uma ameça para nós o Mestre Observador de Estrelas cai dos céus, entre nós e as bestas.
Não consigo conter minha curiosidade e acabo olhando para trás para ver que tipo de habilidade ele vai usar. Ele estende os dedos indicador e médio de ambas as mãos e um jato de, fogo? Um jato de uma energia azul-violeta que eu nunca vi se condensa na forma de longas laminas a milímetros dos dedos do Mestre Observador de Estrelas.
Ele acena os dedos da mão direita horizontalmente a sua frente, a lamina estende até alcançar as bestas e as corta como tofu enquanto cauteriza as linhas de corte sem dar chance de chamas se espalharem. E então a mão esquerda, e com esses dois golpes metade do que ainda havia da horda foi eliminada.
Após isso ele manteve os dedos da mão direita na mesma postura, enquanto fechava a esquerda em punho que logo começou a brilhar com a mesma cor das laminas de energia, ele abre o punho e dele vários pontos de luz começam a se espalhar e multiplicar até encher o espaço dentro da barreira de forma a se assemelhar a um céu estrelado quando visto de longe.
Com os dedos indicadores e médio da mão esquerda separados dessa vez ele desliza os dedos pelo ar de cima para baixo como se tentasse cortar alguma coisa.
Meu sexto sentido se ativa por conta própria, nele vejo os pontos de luz como estrelas reais, os traços de suas orbitas e...
As erupções de energia, que os pontos de luz estão sincronizando.
Entendendo o que está prestes a acontecer eu obviamente volto a correr.
Nem sequer um segundo depois, ouço o sibilo de ar superaquecido os grunhidos de feras morrendo, vejo os clarões intermitentes dos quais o brilho envolve tudo como o relâmpago numa tempestade.
Também quase consigo sentir a torção que havia me torturado antes, numa intensidade muito menor do que a que eu havia experimentado, mas sem duvida é mesma força que foi usada para me dar uma lição.
Gravidade, ele consegue simular orbitas ao redor de si o que bagunça o centro e a percepção de gravidade das coisas e pessoas ao redor dele.
Agora não é hora para analisar os poderes de alguém, especialmente não de tão perto, eu.
Após essa procissão de distrações que a minha mente fez questão de focar mais do que minha própria sobrevivência alcanço a entrada da torre, um pouco depois de Mingten.
Um bom pouco, mas, detalhes.
De dentro da Torre, ainda com as portas abertas, minha curiosidade vence o bom senso novamente e olho para a cena que o Mestre da Torre está fazendo.
No céu as falsas estrelas que ele criou giravam numa orbita circular bem ao centro da área delimitada pela barreira de pó, as estrelas atiravam raios de energia para fora de si mesmas que as vezes voltavam para si mesmas ou eram pegas na gravidade de outras estrela, enquanto uma quantia significativa dos raios de energia caiam entre as bestas encerrando a vida das mesmas.
Apesar de tudo isso só meus olhos ficaram fixados na mandala de luz que esse caos criou no céu.
"Você pode fechar a porta, o mestre não pode usar todo o seu poder se ele tiver que se preocupar com a gente." Talavar fala, me tirando do transe em que eu estava, e fecho a porta como ele sugeriu.
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"Bem, sem mais distrações, eu acho" Falo com um suspiro exasperado.
Olho para a barreira que cerca toda a área ao redor da torre, e me pergunto o que meu velho amigo está pensando.
Com leve sorriso pronuncio o que ele deve estar pensando vendo toda essa cena.
"Nós dois, pra essas bestas, é um exagero." Com aquele tom cheio de arrogância que ele tem em cada ação.
Infelizmente, ele está completamente certo, outro mau hábito dele, ele só se manifesta quando tem ao menos noventa e oito porcento de certeza sobre algo.
Começo a andar em direção a horda de bestas, que honestamente não representam muita de uma ameaça para mim. A maior preocupação que elas conseguem me causar é o fato que eu não quero acabar com ecossistema ao na área da torre, o que faz com que eu não acabe com todas de uma vez.
Bem, eu só tenho que acabar com poucos deles por vez, rapidamente, que vai dar na mesma.
Manifesto as laminas de plasma em ambas as minhas mãos, as estendo com como raios lasers saindo dos meus dedos até as feras, e torço a trajetória do plasma como um chicote balançado para o lado.
Cortando todas as bestas no meu alcance, mais uns três ou quatro ataques desse contando com a mandala de falsas estrelas e essa palhaçada deve acabar.
O que também quer dizer que vai ser hora de explicarem o que raios causou isso. Dependendo da resposta...
Kaz vai ser o encarregado da punição.